Loading
26 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Homo-reprovação

A Conferência Episcopal Espanhola divulgou um documento, redigido aquando da «Jornada de Familia y Vida 2004» e das comemorações do dia da Sagrada Família, onde, uma vez mais, reprova o «comportamento homossexual» e pede aos católicos que se posicionem claramente contra o projecto de lei do governo que aprova os casamentos homossexuais.

Os sacerdotes espanhóis, desta forma, continuarão a sufragar a doutrina da hierarquia católica que diz, por exemplo, que «a inclinação homossexual, ainda que não seja em si mesma pecaminosa, deve ser considerada como objectivamente desordenada».

A nota episcopal afirma que a homossexualidade «é uma tendência, mais ou menos forte, para um comportamento intrinsecamente mau do ponto de vista moral. É o comportamento homossexual o que é de per si eticamente reprovável». Mas os bispos acalmam as hostes dizendo que «haverá de julgar com prudência a sua culpabilidade». Entretanto, há que notar que a ICAR entende que o pecado se faz por actos ou pensamentos portanto, a não ser que os homossexuais não pensem a sua sexualidade, não têm salvação possível.

Apesar da Conferência Episcopal considerar que estes indivíduos «têm os mesmos direitos que as demais pessoas», continua a entender que, no que diz respeito à equiparação da união homossexual ao casamento, «a duas pessoas do mesmo sexo não lhes assiste nenhum direito de contrair matrimónio entre elas». Portanto, descodificando, os únicos direitos que são comuns a todos são o direito à castidade e à abstinência.

Ora bem, se a Igreja não quer que os homossexuais se casem de acordo com os seus ritos, o problema é com aquela instituição e com os seus membros. O que a ICAR não deve fazer é impor as suas convicções e a sua moralidade a um Estado laico e à lei. Não é de estranhar, então, que se diga que «não se pode praticar o catolicismo e a homossexualidade ao mesmo tempo». Ah, e não nos podemos esquecer do que diz Levítico acerca dos sodomitas.

26 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Por que rezam os que sofrem?

O sudoeste asiático foi hoje assolado por um violento sismo, seguido de gigantescos maremotos que já mataram mais de 4 mil pessoas.

Faz hoje um ano que um terramoto devastou a cidade iraniana de Bam que provocou, oficialmente, a morte de 31.884 pessoas e fez cerca de 18 mil feridos, muitos deles estropiados, e cinco mil órfãos.

Todos os dias as catástrofes assolam a humanidade, umas vezes por causas naturais, muitas outras pela incúria dos homens, pelo modelo de desenvolvimento errado e pela explosão demográfica.

É preciso não ter sentimentos para viver indiferente aos dramas que diariamente afligem a humanidade, ser completamente insensível para ignorar as tragédias que se abatem sobre o Planeta, quase sempre sobre os mais pobres e tementes a Deus. Só um egoísmo feroz permite alhear as pessoas das soluções que possam minorar os horrores que batem à porta de milhões de desgraçados que, segundo o cinismo eclesiástico, são a vontade de Deus.

É com respeito e revolta que vejo hoje as imagens dos sobreviventes do terramoto de Bam, dos infelizes que, todos os dias, por todo o mundo, choram a tragédia que lhes bateu à porta e permanecem em longas orações a um Deus cruel e vingativo, como quem agradece o mal que lhe fizeram, como quem teme que lhes faça ainda pior.

O negro que esconde os corpos que sofrem, os corpos dobrados, os joelhos magoados, os rostos doridos, são uma dolorosa metáfora de quem se cansou de olhar para o Céu e vê como único destino da sua pobre condição prostrar-se de joelhos, rojar-se no chão, debitar orações e continuar refém do constrangimento social e do poder do clero que em todas as religiões se alimenta do medo, da ignorância e do sofrimento.

Às vezes penso que a oração é a blasfémia dos cobardes e a blasfémia a oração de quem não teme a liberdade.

Apostila – (17H00). Já estão contabilizados mais de 8.000 mortos, incluindo dois portugueses.

26 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Cunhas a JC

A ICAR marcou indelevelmente a sociedade portuguesa cujo atraso é, em boa parte, obra sua. Já Antero de Quental definiu de forma notável as «Causas de decadência dos povos peninsulares», decadência que parece acentuar-se na faixa mais ocidental.

JP2 ao pedir a Cristo «que não abandone o Homem» está convencido de que a cunha subserviente é útil ou comporta-se com hipocrisia para se dar ares de uma influência que não tem, para impressionar os fregueses espalhados pelo mundo. No pedido, JP2 aproveitou para informar JC de que a humanidade precisa dele. No seu peculiar jargão disse «Recordai-vos de nós, Filho eterno de Deus. A humanidade inteira, marcada por tantas provas e dificuldades, necessita de Ti». Ou Cristo não sabe disso, e precisa que o Papa o lembre, ou sabe, e não o leva a sério. Para os ateus é ponto assente que um cadáver não vê, não ouve, não sente e, sobretudo, não aceita cunhas.

Mas o mais surpreendente foi o pedido à entidade patronal para as igrejas do Oriente e Ocidente e os seus líderes, «para que a luz que receberam, a comuniquem com liberdade e com valor a todas as criaturas». Este acto, de quem disputa o mercado das almas à concorrência, só pode ser encarado como profundo cinismo e fingimento de uma bondade que dois mil anos de proselitismo desmentem.

Os apelos à paz e os pedidos pelos doentes, crianças da rua e outros desgraçados bem sabe JP2 e o seu séquito que são inúteis e que não se resolvem com orações ou apelos públicos a JC, durante a missa, apesar dos meios técnicos usados, incluindo telefones de última geração que, pela primeira vez, transmitiram a Missa do Galo.

JP2 deve lembrar-se de que, segundo a sua superstição, Deus faria bem melhor em evitar as desgraças do que esperar que o Papa lhe peça para as tornar um pouco menos obscenas. Evitava o espectáculo deprimente de enganar os simples com promessas que não pode cumprir, pedidos a quem não ouve e a criação de expectativas vãs a quem já tem do sofrimento um razoável quinhão.

O resto são as habituais lamúrias pela protecção da vida, desde a concepção, obsessão doentia de quem se desinteressa da explosão demográfica que ameaça o Planeta e sabe que quanto maior for a miséria mais a devoção se acentua.

25 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

O Patriarca de Lisboa e o Vaticano

A diocese de Lisboa é, pelo número de habitantes e pela sua importância política, a principal filial do Vaticano em Portugal, conferindo ao seu titular o título de «Cardeal», cujo barrete é concedido no primeiro consistório a ter lugar após a nomeação para o cargo. O actual feitor, José Policarpo, é um bispo inteligente e bem preparado que, segundo o último «EXPRESSO», terá sido indigitado para integrar o governo central da ICAR, com sede no Vaticano. Fala-se mesmo na possibilidade de suceder a Karol Vojtyla, conhecido pelo pseudónimo de João Paulo II, cujo prazo de validade se aproxima do fim.

A forma como se organiza o único Estado totalitário da Europa é um assunto de reduzida relevância para o ateísmo, mas o modo como parasita os países que procura reduzir à condição de protectorados é um problema de cidadania que, no caso de Portugal, interessa aos portugueses. A suspeita de que a carreira profissional do patriarca Policarpo possa ter sido feita à custa da capitulação do Estado português perante o Estado do Vaticano é uma probabilidade a merecer profunda reflexão e repúdio.

No mesmo número do EXPRESSO (site indisponível) lê-se que no art. 23.º da Concordata ficou acordado a criação de uma comissão bilateral que compromete o Governo português a «proceder às acções necessárias para a identificação, conservação, segurança, restauro e funcionamento» dos bens culturais da Igreja, «em igualdade de oportunidade com os bens do Estado». Ou seja, o Governo português converte-se na companhia de seguros que cobre os riscos do património imobiliário da ICAR, à custa do erário público.

Não sabemos se há algum pacto secreto em que a ICAR se compromete a proceder às anunciadas beatificações e canonizações de defuntos autóctones, prescindindo dos dispendiosos emolumentos que costuma cobrar. De qualquer modo, os privilégios de que goza a ICAR são indignos de um Estado laico, vergonhosos para quem capitulou perante um Estado estrangeiro – o Vaticano -, escandalosos para quem os reivindicou e aceita.

Todas as Igrejas estão no direito de exigir tratamento igual e a futura Associação Ateísta Portuguesa não deixará de o fazer em relação à sua sede e em apoio das outras religiões.

24 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

ENA3 – Notícia da «LUSA»

RELIGIÃO – Ateus vão criar associação

«CERCA de três centenas de ateus vão criar uma associação nacional em Janeiro para defender o seu pensamento, apologista da liberdade religiosa, mas avesso a todas as Igrejas que consideram «violentas e falsas».

A oficialização da associação surge na sequência da aprovação dos seus estatutos durante o 3.º Encontro Nacional de Ateus, que decorreu no domingo em Coimbra, revelou ontem à Lusa Carlos Esperança, da organização.

O grupo tem vindo a formar-se desde há cinco anos, para debater o pensamento ateísta – que nega a existência de Deus – em encontros nacionais e no site www.ateismo.net, «aberto à reflexão de todos os quadrantes ideológicos». Carlos Esperança sublinhou que os ateus portugueses «defendem a liberdade religiosa e o direito de se praticar qualquer religião ou até nenhuma», ressalvando, no entanto, que a intenção da associação «não é converter ninguém». «A religião é uma droga, que contém em si um espírito de violência, demonstrado nos próprios livros, ditos sagrados, como a Bíblia ou o Alcorão», sustentou, acrescentando que o fundamentalismo religioso «está normalmente associado à luta pelo poder». Carlos Esperança criticou, em particular, o Governo português por ter assinado este ano uma nova Concordata com o Vaticano, um acordo que, na sua opinião, viola os princípios de laicismo previstos na Constituição e «prevê certos privilégios para a Igreja Católica». Diário as Beiras, 24/12/04

A mesma notícia aparece noutros diários, nomeadamente no Jornal de Notícias.

23 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Há 50 anos – o primeiro transplante

Faz hoje 50 anos que o cirurgião americano Joseph Murrey realizou o primeiro transplante humano – um rim doado por um irmão gémeo a outro que estava a morrer de doença renal. A generosidade fraternal foi compensada com mais de 8 anos de vida do irmão transplantado que constituiu família e havia de gerar duas filhas.

Os crentes mais devotos de então consideraram que se tratou de uma profanação do corpo e que os médicos interferiram numa prerrogativa de Deus. Nesse dia os homens deram mais um pequeno passo para a sua emancipação e Deus um enorme trambolhão para o seu descrédito.

O êxito da operação foi também uma vitória sobre a omnipotência e a omnisciência divina cuja credibilidade sofreu um rude golpe. E, a partir daí, milhares e milhares de vidas puderam ser prolongadas graças à ciência.

Para os que acreditam na vida eterna e na ressurreição da carne, deve dar-lhes volta à cabeça, no caso de a terem, o que acontecerá no vale de Josafat (entre Jerusalém e o monte das Oliveiras), no dia do Juízo Final. O Deus deles, cruel e medonho, lá estará a julgar os vivos e os mortos, perante uma enorme confusão em que à gravidade dos problemas logísticos se junta a berraria de quem pede a devolução do fígado, dos milhares que reclamam os rins próprios, daqueles que exigem de volta o coração ou procuram o esqueleto dividido por centenas de próteses após o acidente rodoviário.

Deus começa a ter problemas complicados. O melhor é desistir dessa ideia maluca da ressurreição e manter-se na clandestinidade a que se remeteu após o género humano ter decidido pensar.

23 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Terror nas escolas tailandesas

Milhares de professores estão em greve no sul da Tailândia, reinvidicando das autoridades mais protecção contra ataques de militantes muçulmanos. Na realidade, desde o ressurgimento do conflito entre budistas e muçulmanos nesta zona da Tailândia as escolas têm sido um alvo privilegiado, tendo sido queimadas centenas de escolas e assassinados muitos professores. Esta greve nas províncias de Pattani, Narathiwat e Yala foi decretada depois de dois professores terem sido assassinados no mesmo dia.

Os lideres das comunidades muçulmanas tentam justificar os ataques a escolas queixando-se que os curricula escolares forçam as suas crianças a seguir os princípios budistas.

À Associated Press um responsável escolar Pattani afirmou que «Professores e estudantes estão demasiado assustados para ir à escola».

23 de Dezembro, 2004 jvasco

ENA3 – como decorreu

Devo ser franco: não começou bem. Eu e alguns amigos meus chegámos com mais de uma hora de atraso, o que atrasou o almoço de toda a gente.

Mas o agradável ambiente (e comida), cedo fez esquecer essa questão (espero…).

Seguiu-se o debate, o qual começou com o anúncio, por parte de um dos incritos que era meu amigo, de que ele era católico. Perguntou se a sua presença incomodava algum dos presentes, os quais apenas manifestaram preocupação que o evento incomodasse a sua pessoa.

Resolvida esta questão, falou-se muito sobre a futura Associação Ateísta Portuguesa (AAP), sobre como já estão resolvidas algumas questões logísticas que nos impediam de avançar (morada para a sede, etc…); sobre qual o valor da quota mínima a ser cobrada; sobre as actividades a ser desenvolvidas pela associação; sobre os estatutos, os objectivos, a inclusão de agnósticos que queiram pertencer; o símbolo; a existência de cartão; algumas pessoas a contactar; a criação de uma rede de informação e denúncia; e muitas outras questões.

No fim, com um sentimento de que a AAP será imparável, tirámos todos uma foto de grupo. Cá está ela:

23 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Arte debaixo de fogo

Depois de o presépio do Museu de Cera de Madame Tussaud, em Londres, onde o casal Beckham representava S. José e a Virgem Maria, ter sido destruído, a galeria de arte Elsi del Río, em Palermo, foi atacada uma semana depois do seu director, Fernando Entín, ter recebido ameaças de adolescentes furiosos. De acordo com Entín, as montras foram despedaçadas em represália pela exposição das obras de María Belén Lagar, uma artista de vinte e dois anos, que apresentou uma combinação de imagens de virgens com bonecos intituladas «Proyecto Uquilín».

Em Córdova, a abertura de uma mostra sobre o Natal foi suspensa pelo município depois de um grupo de católicos, liderados pelo padre Julián Espina, que se apresentou como membro da Igreja tradicionalista, ter impedido a inauguração por a considerarem blasfema. O quadro que mais feriu as susceptibilidades destes crentes é da autoria de Roque Fraticelli e mostra uma mulher, que seria a suposta virgem Maria, a fazer amor com um homem com cabeça de pássaro que representaria o espírito santo.

Estas manifestações de intolerância – a que se juntam a queixa apresentada contra uma cadeia de transmissão dinamarquesa pela transmissão do filme «Submissão», de Theo van Gogh, o projecto de lei do governo britânico que pretende punir a blasfémia – são sintomáticas de que algo está mal no mundo religioso. As religiões, quando têm uma posição de supremacia e a vêem ameaçada quer pela laicidade quer pela concorrência de outras crenças, tendem a embarcar em actividades censórias e violentas. É por isso que devemos pugnar pela tolerância e pelo diálogo.

22 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

O bispo e a co-incineração

D. Albino Cleto, bispo de Coimbra, sucessor do casto e piedoso bispo resignatário D. João Alves, lamentou ontem que surgisse «de novo a co-incineração» para eliminar os lixos e resíduos tóxicos. Acrescentou ainda que «a solução não pode ser política, tem que ser científica e com respeito pelas populações».

Que eu saiba a co-incineração era a solução mais correcta em termos ambientais e a mais económica quando, por motivos políticos, foi recusada por todas as bancadas da oposição, incluindo os deputados do PS por Coimbra. Três anos depois nada se fez para resolver um gravíssimo problema de saúde pública – a eliminação dos lixos e resíduos tóxicos.

Durante este tempo não vi Sua Excelência Reverendíssima preocupado com os lixos, talvez ocupado com o destino das almas. Fico sem saber se a posição do bispo se deve a uma forte convicção com apoio científico ou se a co-incineração lhe desagrada pelo facto de a ICAR ter maiores tradições na incineração dedicada…ao castigo de relapsos, blasfemos, judeus, bruxas e outros.