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4 de Março, 2005 Palmira Silva

Os protocolos de Sião

Dia 7 do corrente mês é publicado um livro que desmistifica uma das lendas urbanas mais trágicas da história da humanidade, montada e usada ainda hoje para justificar a perseguição aos judeus. «The Protocols of the Elders of Zion» escrito por uma das mais prestigiadas juízas israelitas, Hadassa Ben-Itto, que representou Israel na Assembleia Geral das Nações Unidas, investiga as origens de uma mentira que foi usada como justificação da morte de milhões de judeus na Rússia e na Alemanha nazi. E que ainda hoje é um argumento recorrente do anti semitismo. No passado dia 20 de Fevereiro, o mufti de Jerusalém, Ikrima Sabri, afirmou na televisão Al-Majd, no seu comentário ao assassínio de Rafik Hariri, o primeiro ministro libanês, que «Todos os que estudam os protocolos de Sião e o Talmud especificamente descobrirão que um dos objectivos destes protocolos é causar confusão no mundo e minar a segurança globalmente».

Os protocolos de Sião, que viram a luz do prelo em 1905 como apêndice ao livro «The Great and the Small» do escritor russo Sergei Nilus, pretendendo ser as minutas de um grande encontro de líderes judeus, descrevem os meios tortuosos pelos quais, supostamente, os judeus pretendiam causar um colapso político e económico global de forma a facilitar o seu domínio do mundo.

A investigação desenvolvida por Hadassa Ben-Itto ao longo de mais de uma década e apresentada no livro permitiu-lhe estabelecer que os Protocolos foram escritos em Paris cerca de 1895 por instrução de Piotr Ivanovich Rachkovskii, um agente secreto russo, para sustentar as políticas anti-semitas da dinastia Romanov. Após a publicação do livro de Nilus foram amplamente divulgados e lidos como sendo de facto transcrições da 1ª Conferência do Sionismo, realizada em 1897 em Basileia.

Na realidade, já em 1921 o correspondente da Times Philip Graves tinha sido informado por um exilado russo de que os Protocolos se basearam numa sátira banida (e queimada posteriormente) do autor francês Maurice Joly intitulada «Diálogos no Inferno», uma crítica ao governo de Napoleão III conseguida através de diálogos imaginários entre Niccolo Machiavelli e Charles de Secondat, Barão de Montesquieu, o filósofo francês célebre pela sua teoria da separação dos poderes. Aliás extensas passagens dos Protocolos são cópia integral dos Diálogos, escritos em 1864, isto é, 33 anos antes da Conferência de Basileia.

Esperemos que com a publicação deste livro as teorias da conspiração sobre as pretensões judaicas de dominar o mundo caiam por terra!

4 de Março, 2005 Palmira Silva

Censura Cristã

Um grupo de pressão evangélico manifestou-se ontem em frente da Broadcasting House em Londres, destruindo um televisor como forma de protesto contra o que consideram obsessão da BBC em estilos de vida «alternativos».

O Congresso Cristão para os Valores Tradicionais exige da BBC um ênfase na santidade do matrimónio e vida familiar em todos os seus programas, sejam eles filmes, documentários ou noticiários. Caso a BBC não ceda às suas exigências ameaçam recorrer a uma série de iniciativas de grande visibilidade até o conseguirem.

Este grupo fundado por Garry Selfridge, um consultor de relações públicas, formado após a emissão pela BBC do programa «Jerry Springer – The Opera» é independente do grupo Voz Cristã, também muito condenatório do mesmo programa e da BBC (entre muitas outras blasfémias e profanações) e que agora se propõe a atacar as clínicas de interrupção voluntária de gravidez.

Parece que todas as confissões cristãs na Europa seguem a mesma cartilha totalitária e censória, no caso da católica resumida na recente Carta Apostólica de João Paulo II dirigida aos meios de comunicação social.

3 de Março, 2005 Carlos Esperança

Correio dos leitores – Ancora il cappuccino oscuro…

Ancora il cappuccino oscuro…

Não são os padres quem pode dizer quando e onde começa a vida. Isso é, aliás, coisa que ainda ninguém sabe.
Cada vez mais se começa a perceber que a Vida é um valor absoluto, o único absoluto que existe, e que existiu sempre. Não teve princípio. Não acabará nunca.

Em todas as manifestações de vida, está presente o antecedente vivo causal dessa outra que desponta, e quando o organismo assim gerado se «desorganiza», ainda aí a vida das partículas, de que era feito, se mantém e gera ou se incorpora noutros organismos igualmente vivos. E assim indefinidamente… Por isso, quando se discute qual o momento em que a vida humana, já organizada, surge no feto, deverão ser os cientistas a determiná-lo. Não serão os padres! Quando esse novo organismo passa a ser sujeito de direitos e de protecção jurídica, e em que termos, também deverão ser os juristas e legisladores a ocupar-se, com maior rigor do que qualquer outrem, dessa magna tarefa.

O padre Serras Pereira, está visto, anda confuso, ou confundiram-no os amigos que lhe deram dinheiro para gastar nos jornais com ameaças aos correligionários. Fez mal, pois claro! e agora tem os bispos à perna e é bem feito! É que, sendo ele franciscano? ai S. Francisco S.Francisco, o que andam alguns a fazer em teu nome!? não tinha nada que andar a esbanjar dinheiro em disparates e esquecer-se assim dos pobrezinhos e das regras da Ordem! Arrisca-se a ir para o Inferno… Eu, cá por mim, não me importo nada, e até acho que deve ir.

Pois então que vá, que vá para o Inferno…e se faça por lá santo.
Que vá, que vá… pronto!
Albertino Almeida

3 de Março, 2005 Carlos Esperança

O padre Serras Pereira

O anúncio pago (1386 euros) do padre Nuno Serras Pereira já fez correr imensa tinta e, tão cedo, não se apagarão os ecos da devota catequese do santo asno franciscano. Os dislates eram canónicos, a intolerância obedecia à mais sã tradição católica, a ignorância era adequada ao múnus e a intenção era pia.

Então o que levou alguns meios eclesiásticos a reagir com incómodo e fingida vergonha a um texto cuja ortodoxia é inatacável e que faria as delícias do Papa JP2? Não foi o português rudimentar em que se exprimiu, a pontuação anárquica que usou ou a ignorância de quem chama «crio perseveração» à «crio-preservação». Também não foi certamente o ataque às leis da República quando a ICAR aconselha os seus membros a revoltarem-se contra a democracia sempre que esta desobedeça à lei de Deus, seja isso o que for.

O que exasperou a hierarquia eclesiástica foi o facto de semelhantes despautérios serem um direito episcopal, usurpado por um simples padre, a publicidade escrita substituir o que se deve dizer nos confessionários e nas missas, na ausência da comunicação social, e o exagero da retractação pública pelas mulheres que tomam a pílula, usam DIU ou praticam a contracepção. Não que lhes não desse gozo ver as mulheres humilharem-se em público, não que não fosse uma prática com excelentes tradições católicas, não que os não excitasse, sob o manto da sotaina, a confissão pública dos pecados e a sua descrição pormenorizada. O problema de tal prática é o efeito contraproducente e o estímulo sexual que produz em vez da castidade que pretende.

Com a eucaristia em queda, as legítimas exigências canónicas podem tornar-se um prejuízo para o negócio e afastar a clientela. É por isso que, nos próximos dias, vamos assistir à suavização da doutrina e à insinuação de que o padre Serras Pereira vai ser admoestado.

A ICAR está disposta a sacrificar algumas verdades com receio de fechar as portas.

3 de Março, 2005 Palmira Silva

Atentado de Bali

Um tribunal indonésio considerou o líder religioso radical Abu Bakar Ba’asyir culpado de conspiração no atentado de Bali, em 2002, que causou a morte a 202 pessoas.

Ba’asyir, condenado a dois anos e meio de prisão, negou todas as acusações e vai apelar da sentença.

O grupo radical islâmico Jemaah Islamiah, com presumíveis ligações à Al-Qaeda, é considerado pelas autoridades indonésias como responsável não apenas do atentado de Bali mas também de outros atentados como o de 2003 no hotel JW Marriot em Jacarta. Ba’asyir é considerado o líder espiritual deste grupo terrorista.

Em 2002 Abu Bakar Ba’ayir tentou processar a revista Time por esta ter publicado vários artigos que apontavam a ligação entre o clérigo e não só o Jemaah Islamiah mas também com Omar al-Faruq, da al-Qaeda.

Ba’ayir dirigia a escola islâmica Solo em Java e integrava o Conselho Mujahideen que pretende transformar a Indonésia num país islâmico, estritamente sujeito à Sharia. O clérigo fez vários apelos neste sentido assim como declarou o seu apoio a Osama Bin Laden, mas nega qualquer relação pessoal com este último e com o terrorismo em geral.

2 de Março, 2005 jvasco

Blasfémia na Blogosfera

Ontem e hoje alguns artigos do Barnabé foram muito comentados: um artigo sobre a forma como a Igreja Católica tem explorado a condição débil do Papa, e outros sobre os comentários a este artigo, um do autor do mesmo (Nuno Sousa), outro do Rui Tavares e outro do João MacDonald.

Verifica-se o mesmo que cá no Diário Ateísta já conhecemos: existem muitos crentes intolerantes para quem admitir a existência de ateus e agnósticos já é cedência suficiente: desde que eles se mantenham bem silenciosos. Qualquer argumentação por parte de não-crentes é considerada proselitismo (mesmo que feita em espaços próprios como o nosso blogue, onde só vai quem quer); qualquer texto humorístico é considerado falta de respeito.
Até no blogue de nome Blasfémias vários leitores e autores se indignaram quando um dos autores se limitou a colocar uma carta do cardeal Cerejeira na qual este escrevia que a irmã Lúcia tinha dito que Salazar havia sido escolhido por Deus para guiar os destinos de Portugal.

Mas, felizmente, a Blogosfera Portuguesa não é a Grécia. O nosso blogue continua a aumentar o número de visitas, e, de vez em quando, ainda vamos sendo agraciados por diferentes textos interessantes que, de uma perspectiva céptica, falam sobre religião. O artigo «Um estado totalitário» do Blogo logo existo é um excelente exemplo. Este blogue também comentou aquilo que se passou no Barnabé.

2 de Março, 2005 Carlos Esperança

Da parte de «Nosso Senhor JC»

PARTICIPAÇÃO AOS INTERESSADOS

Na impossibilidade de contactar pessoalmente as pessoas envolvidas o padre Nuno Serras Pereira, sacerdote católico, vem por este meio dar público conhecimento que, em virtude do que estabelece o cânone 915 do Código de Direito Canónico,

está impedido de dar a sagrada comunhão eucarística a todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes

quer através de diversas pílulas, do DIU, da pílula do dia seguinte – ou outras substâncias que para além do efeito contraceptivo possam ter também um efeito letal no recém concebido; quer por meio das técnicas de fecundação extra-corpórea, da selecção embrionária, da crio perseveração (sic), da experimentação em embriões, da investigação em células estaminais embrionárias, da redução fetal, da clonagem…; quer através da legalização do aborto (votar ou participar em campanhas a seu favor), o que inclui a aceitação ou concordância com a actual «lei» em vigor (6/84 e seus acrescentos); quer ainda pela eutanásia.

O respeito pelo culto e pela reverência devida a Deus e a Seu Filho sacramentado, o cuidado pelo bem espiritual dos próprios, a necessidade de evitar escândalo, e a preocupação pelos sinais educativos e pedagógicos para com o povo cristão e para com todos são razões ponderosas que, seguramente, ajudarão a compreender a razão de ser deste grave dever que o cânone 915, vinculando a consciência, exige dos ministros da Eucaristia.

Da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo convida todos ao arrependimento e à retractação pública, para que refeita a comunhão com Deus e a Sua Igreja possam receber digna e frutuosamente o Corpo do Senhor.

a)_________________________
Pe Nuno Serras Pereira

Nota: Anúncio do «Público», de hoje, pg. 16

1 de Março, 2005 Ricardo Alves

Ensinar o ateísmo?

O padre António Rego defende (na Agência Ecclesia) que a religião continue a ser ensinada na escola pública, e justifica-o afirmando que «o religioso não é um elemento recôndito ou clandestino do ser humano». O editorialista da Ecclesia destaca, aparentemente como exemplares, as declarações de um ministro dinamarquês que afirmou «[preferir] uma escola multi-confessional que aceite, no mesmo grau, os símbolos muçulmanos, a uma escola que interdite as religiões» (do último caso serão exemplos, horrendamente jacobinos, as escolas da França e da Turquia). António Rego não resiste sequer a classificar como coisa de «regimes totalitários e repressivos» a ausência de ensino da religião nas escolas públicas.
Situemo-nos. Na ocidental República portuguesa, o ensino da religião católica a expensas do Estado está garantido, e mesmo salvaguardado por um tratado internacional (a Concordata) que só poderá ser alterado com o consentimento de ambas as partes. A lei dita «da liberdade religiosa» regulamenta as condições em que algumas igrejas, escolhidas a dedo, podem ensinar a sua religião na escola pública. Se alguma opção filosófica não está contemplada com uma disciplina própria no ensino que todos pagamos, é o ateísmo.
Em boa lógica, António Rego deverá concordar comigo quando acrescento que o ateísmo também não é um «elemento recôndito do ser humano». É uma opção tão legítima como a crença, católica ou outra. Defenderá portanto António Rego que o ateísmo e os seus símbolos estejam presentes nas escolas públicas portuguesas, retirando assim esta opção historicamente tão reprimida da situação em que actualmente se encontra, e que António Rego classificará sem dúvida de «clandestina»? Considerará o actual regime «totalitário» por não permitir o ensino do ateísmo?
Pessoalmente, dispenso favores do Estado para a difusão da minha opção filosófica. Prefiro uma escola laica em que a crença, ou a sua ausência, fique com o íntimo de cada um. Talvez isto seja jacobinismo, mas justamente por não vivermos num Estado totalitário é que cada um é livre de se organizar para difundir as suas ideias. Mas estas organizações deveriam ficar à porta da escola de todos.
28 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

«Memória e Identidade»

As preocupações do Diário Ateísta com a ofensiva reaccionária e antidemocrática dos meios religiosos começam a ser partilhadas por diversos cidadãos que já se deram conta do perigo do proselitismo exacerbado, da defesa de valores anacrónicos e da exaltação dos próceres eclesiásticos. Está em curso uma escalada clerical de forma metódica e concertada.

Surpreendentemente, até hoje, não houve da parte do Vaticano uma condenação do fascismo islâmico (não há outro nome para definir as teocracias árabes) pela pena de morte contra Salman Rushdie ou pela criminosa aplicação da charia. No entanto, grasna e crocita contra o laicismo e as decisões democráticas dos países livres.

O livro «Memória e Identidade», atribuído a JP2, é um vómito contra a liberdade expelido pela Cúria romana, um labéu contra o laicismo e um convite à revolta dos crentes contra as democracias laicas e liberais.

O Editorial do «Público» de hoje, assinado por Manuel Carvalho, com o título «O Papa e a Democracia» é um libelo acusatório contra o fundamentalismo católico e uma denúncia implacável das posições ideológicas do livro papal e do desejo manifesto de provocar um retrocesso civilizacional na sociedade.

O mundo confundiu o anticomunismo de João Paulo II com espírito democrático e o seu sorriso com bondade. Hoje, a popularidade do déspota é uma arma contra a liberdade. A beatificação de Pio IX e outros algozes que nos remetem para o passado negro da ICAR devia ter-nos alertado para as alfurjas do mal que medram no Vaticano.

28 de Fevereiro, 2005 Ricardo Alves

A Comissão Europeia prefere a Cientologia aos Humanistas

No dia 16 de Novembro, a Comissão Europeia reuniu com representantes de várias igrejas, desde a Igreja Católica Apostólica Romana até à Igreja da Cientologia. Não foi convidado qualquer representante das organizações laicas, humanistas ou ateístas. Respondendo a perguntas de deputados ao Parlamento Europeu, José Barroso afirmou há poucos dias que este tipo de reunião pode ser encarada efectivamente como um prenúncio do «diálogo aberto, transparente e regular» previsto no artigo I-52 do projecto de Tratado da União Europeia, e não foi claro quanto à inclusão futura de organizações não confessionais neste tipo de diálogo.
(Informações da Federação Humanista Europeia).