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17 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

The three little shepherds

Descobri n’ A Ilha do Dia Antes que, depois de «A paixão de Cristo», em que Mel Gibson passa duas horas inteiras a mostrar aquela personagem a ser espancada e brutalizada das mais variadas formas (nunca vi um uso tão abusivo de molho de tomate), o realizador está a planear a realização de um filme sobre Fátima.

Parece que Mel Gibson ficou muito bem impressionado com a falecida vidente de Fátima, já para não falar que a sua morte renovou um certo interesse do público pela estória.

Ficamos ansiosamente à espera de mais notícias sobre um eventual «casting» de Catarina Furtado, actriz que já tem experiência neste assunto.

17 de Março, 2005 Ricardo Alves

Mitos americanos

(1) Sempre houve tolerância religiosa nos EUA
No século XVII, os Puritanos do Massachusetts enforcaram dois «quakers» que se recusavam a deixar a província. No mesmo século, os católicos estavam proibidos de praticar a sua fé em todas as colónias com as excepções de Rhode Island e da Pensilvânia, e o Massachusetts ameaçava executar todos os padres (católicos) que passassem pela colónia mais de uma vez. Apesar disto e das perseguições às bruxas de Salem, não falta quem acredite que os EUA, mesmo antes da independência, eram um paraíso de tolerância religiosa.
(2) A separação destinava-se a proteger as igrejas do Estado
A separação entre igreja e Estado conferida pela célebre «primeira emenda» não se destinava a proteger as igrejas do Estado (conforme afirmam alguns americanófilos menos informados), mas sim a proteger as igrejas umas das outras. O risco, à data da independência, era a predominância que uma igreja pudesse vir a ter sobre as outras usando o Estado.
(3) A população dos EUA sempre foi muito religiosa
A religiosidade da população dos EUA é um fenómeno posterior à independência, que atingiu o seu máximo no século XX. Na época da independência, apenas 17% dos habitantes dos EUA pertenciam a uma igreja. Por volta de 1950, esse número tinha subido para 60%.
(Publicado originalmente no blogue «Esquerda Republicana».)
16 de Março, 2005 Carlos Esperança

A ICAR actualiza o Índex


O Vaticano há muito que deixou de actualizar a lista dos livros proibidos. Condena, para não perder a vocação censória, desaconselha, para fingir autoridade, uiva, para impressionar os espíritos mais timoratos.
A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, submetida ao pulso férreo do cardeal Joseph Ratzinger, piedoso inquisidor que se esforça para que o progresso e a liberdade não façam perigar o destino das almas, é uma pálida amostra do Santo Ofício, que a precedeu.

Agora, deu-lhe para embirrar com o «Código Da Vinci» do escritor Dan Brown, e inclui o interessante romance policial, que pisca o olho aos eruditos, na lista das obras a «não ler, nem comprar». O apelo foi feito pelo cardeal Tarcísio Bertone, aos microfones do Radio Vaticano, uma emissora do bairro com potência para ser ouvida através do planeta, mas cujas vozes não chegam ao Céu.

O que incomoda este santo cardeal, além das manipulações da ICAR que o romance desmascara, é a possibilidade de Jesus Cristo ter sido pai de uma filha de Maria Madalena, o que pressupõe o pecado da fornicação cometido pelo impoluto e casto fundador da ICAR.

Assim, ainda que a execração do livro e a proibição da compra contribuam para a sua difusão, a Cúria não pode deixar de actualizar o Índex dos livros interditos sob pena de conferir ao acto sexual a dignidade que a prática divina lhe outorgava. Deste modo, o «Index librorum prohibitorum» da Igreja Católica fica enriquecido com um novo título e a sexualidade de novo anatematizada.

16 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

Uma esmolinha, por favor

O reitor da Universidade Católica Portuguesa, ontem, disse esperar «que este novo Governo, que faz da liberdade o seu apanágio, olhe sem receio para a liberdade de ensino, enquanto liberdade de ensinar e de aprender». Numa cerimónia daquela instituição, agradeceu às famílias dos alunos a «coragem que tiveram em exercer o direito à liberdade de ensino», o que «implicou que tivessem de pagar duplamente, primeiro enquanto contribuintes do Estado e depois através das propinas».

A Universidade Católica Portuguesa é uma instituição de ensino superior privada. Por isso, deve encontrar meios para o seu próprio financiamento em nome dessa sua autonomia privada. Para além disso, a Universidade Católica é isso mesmo: católica. Ao pretender um estatuto de financiamento diferente das outras universidades privadas, está a entrar em rota de colisão com o princípio da igualdade e com o princípio da laicidade.

E há um outro factor a considerar: se o Estado não tem verbas para financiar os seus próprios estabelecimentos de ensino superior, como é que irá arranjar fundos para os privados?

16 de Março, 2005 Carlos Esperança

Momento Zen da Segunda

O sexo dos anjos e dos outros

Deixando o Domingo para o inefável padre Lereno Dias, o casto sacerdote que despreza a Constituição da República e adverte os fiéis sobre os partidos em que os católicos devem votar, João César das Neves (JCN) voltou às homilias da segunda-feira no seu artigo «o sexo dos anjos e o dos outros» – D. N de 13-03-05.

Apesar do título, não se deteve no sexo dos primeiros, quiçá por respeito, nem sobre as eventuais orgias em que possam envolver-se no espaço celestial. Foi sobre o «sexo dos outros» que concentrou o seu beato horror e manifestou a repugnância que lhe merece, salvo se o destino for a prossecução da espécie com activo repúdio do prazer ou qualquer manifestação de carácter libidinoso. Ele julga que Deus fica de mau humor sempre que os seres humanos procuram outro êxtase para além do místico.

JCN mereceria a simpatia dos espécimes em vias de extinção se o fanatismo não o tornasse tão abominável. Afirma que a Igreja é desprezada, o que é verdade e merece, mas acrescenta que é perseguida, quando, através da história, as grandes perseguições foram sempre entre bandos de fanáticos que se reclamam do mesmo Deus ou outros que acham o seu mais verdadeiro que o alheio.

JCN arremessa-nos com os evangelhos, os salmos, as epístolas, os profetas e demais fontes de idoneidade duvidosa para nos convencer do sofrimento da sua igreja e da bondade dos seus ensinamentos. Diz que a ICAR é acusada de ter sobre o sexo uma posição extremista e doentia o que, no seu piedoso entendimento, é injusto. Ora a posição da ICAR é abertamente demente e terrorista como o comprova à saciedade a sua posição em relação à contracepção, à SIDA, à homossexualidade, ao aborto e, inclusive, em relação a quaisquer relações sexuais onde o sacramento do matrimónio e a intenção reprodutora estejam ausentes.

JCN odeia o prazer, vê-o como pecado e toma-o como ofensa a Deus. Socorre-se da escritura, do catecismo, dos documentos pontifícios e de outras fontes, igualmente suspeitas e pouco recomendáveis, para provar a bondade da intolerância que exibe, a santidade da abstinência que recomenda, a superioridade moral do cristianismo que prega.

JCN talvez não saiba o que é amar. Se um dia sentir a divina consolação de um orgasmo, talvez abandone o proselitismo e se dedique à realização sexual sem a qual nunca mais o abandona esse rancor que lhe tolda a inteligência e embota a sensibilidade. Nesse dia deixará de importar-se com as pessoas da Santíssima Trindade, com o destino da alma e com as susceptibilidades do troglodita do seu Deus.

15 de Março, 2005 Carlos Esperança

Simplesmente Mulher…

No Dia Internacional da Mulher

Até Deus, logo que te viu,
no breve enlevo do paraíso,
te amaldiçoou com o pecado original…
E o Homem, através dos tempos,
imitando o poder que esse Deus lhe deu
nunca te perdoou o encantamento
da bíblica árvore em que se perdeu…

Jeová e Alá
Cristo e Maomé
cristãos, muçulmanos e judeus,
erguendo aos céus os sagrados livros,
impuserem o silêncio do teu corpo,
riscaram a tua existência, a tua voz…
E a tua vida, separada da tua pujança,
foi apenas uma sombra esquecida…
Benzeram-te com a peçonha
da vergonha
de teres nascido mulher…
E os homens ungiram a tua vagina
para aquecerem a sua volúpia,
dilataram o teu vigoroso útero,
que pariu a humanidade inteira,
esquecendo-se sem remorsos
da tua dimensão verdadeira…

Eras apenas mãe, esposa ou irmã,
na simples serventia de parideira, vivendo
ao ritmo das mamadas dos teus filhos…
E quando o vento mudava de feição
eras serpente, bruxa e feiticeira,
desgraçada e perdida rameira…
Mulher sem condição…

E tu eras simplesmente Mulher
(e não um objecto qualquer,
escondido na burka, no hábito ou no véu)…
Nem mesmo eras aquela outra Maria
que as asas de um arcanjo cobriu
E que, mesmo chamada virgem, pariu…

Lisboa, Março de 2005
Alexandre de Castro

15 de Março, 2005 Carlos Esperança

Publicidade blasfema (2)


Como já foi assinalado pela Mariana no seu artigo «Publicidade blasfema», o fundamentalismo católico, representado por uma associação episcopal francesa, conseguiu que o Tribunal da Grande Instância de Paris interditasse uma campanha publicitária que fazia alusão à Última Ceia (um quadro referente à suposta reunião de Cristo com os 12 apóstolos, à volta de uma mesa recheada de vitualhas.

O blogue «o uno e o múltiplo» reproduz o cartaz que aqui deixamos à consideração dos leitores do Diário Ateísta.

A vocação censória da ICAR reaparece no seu máximo esplendor, mesmo em França. Os parasitas de Cristo querem rivalizar com os mullahs islâmicos. A religião é uma maldição em permanente luta contra a liberdade.

Se permitirmos que a ICAR se aproprie do aparelho do Estado ou que exerça aí a sua influência deletéria, é a liberdade, a democracia e os direitos humanos que ficam em causa. O cadáver de um Deus não pode asfixiar os direitos, liberdades e garantias que os Estados laicos têm obrigação de garantir aos cidadãos.

A blasfémia era um crime medieval que julgávamos erradicado.

15 de Março, 2005 Ricardo Alves

«A Laicidade em Espanha» em debate

No dia 22 de Março (terça-feira), às 21 horas, haverá um debate sobre «A Laicidade em Espanha» no Centro Escolar Republicano Almirante Reis (Rua do Terreirinho nº77, na Mouraria, em Lisboa).
O debate contará com a presença de Juan Barón, da Asociación Europa Laica, e de Luis Mateus e Ricardo Alves, da Associação República e Laicidade.
Será uma ocasião única para debatermos a progressão recente da laicidade num país próximo do nosso e onde a situação (ensino da religião nas escolas, financiamento da ICAR, casamento civil) tem evoluído rapidamente.
(Marquem nas agendas e compareçam!)
14 de Março, 2005 Ricardo Alves

Juramento religioso em tomada de posse

Na Grécia, os seis deputados do Synapismus (um pequeno partido de esquerda) e dois do PASOK (socialista) ausentaram-se do parlamento durante a cerimónia de tomada de posse do novo Presidente da República, Carolos Papoulias, em protesto contra a oração que é tradicionalmente proferida nesta ocasião pelo líder da igreja grega, o arcebispo Christodoulos.
Segundo um comunicado do Synapismus, «as instituições religiosas são legitimadas pelo povo e não pelos dirigentes religiosos» e os juramentos religiosos «conduzem ao modelo teocrático de Estado».
A Igreja Ortodoxa Grega (IOR) tem estado envolvida, nos últimos meses, em vários escândalos de corrupção, que têm atenuado a tradicional complacência popular com a igreja do Estado. Num desenvolvimento indubitavelmente positivo, o PASOK aprovou recentemente, em congresso partidário, uma resolução prevendo a separação da Igreja do Estado. Em 2001, quando estava no poder, este partido rejeitara uma emenda constitucional nesse sentido.
Deve recordar-se que, com a possível excepção de Malta, a Grécia é o país mais clerical da União Europeia. A IOR é um ramo do funcionalismo público, a criação de novos locais de culto «heterodoxos» depende da autorização da IOR, e existe uma lei contra a blasfémia que ainda é usada (como notou o João Vasco). A Igreja que a Constituição considera «predominante» foi afrontada pelo poder político uma única vez, quando em 2001, sob pressão da União Europeia, os bilhetes de identidade emitidos a partir dessa data deixaram de referir a religião de origem do seu portador. Sendo estes documentos de identificação vitalícios, a esmagadora maioria da população grega ainda possui documentos de identificação oficiais referindo a religião.
Esperemos que os políticos gregos tenham a coragem de empreender a indispensável laicização do Estado grego.