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27 de Março, 2005 Carlos Esperança

A ICAR nos EUA e a pena de morte

Hoje não é a fábula de Deus que me inspira, é a identidade de uma posição dos bispos católicos dos EUA com as minhas convicções e os meus desejos mais profundos. Deus não passa a existir por isso, a religião não se torna menos perniciosa, mas os bispos da ICAR, nos EUA, passam a defender uma atitude justa, digna e de grande humanismo – a luta contra a pena de morte.

Num país onde o fundamentalismo metodista atinge desvarios intoleráveis, onde o ódio e a violência contra a civilização trazem a marca genética de um cristianismo arcaico e rancoroso, a condenação da pena de morte, lançada pelos bispos católicos, é uma lufada de ar fresco que os ateus saúdam e aplaudem.

Sabemos dos erros judiciários que levaram inúmeras vítimas à cadeira eléctrica, estamos convictos da falsidade do carácter dissuasor da pena de morte em relação ao crime, aflige-nos a crueldade das execuções e o espírito vingativo subjacente. Uma campanha contra a pena de morte, venha donde vier, é um acto de profundo humanismo contra uma prática bárbara que urge erradicar.

Ao solidarizar-me com os bispos americanos, manifesto os melhores votos no êxito dos seus esforços e espero que a maldade de Deus deixe de repercutir-se nos que andam pelo mundo a espalhar a fábula e a promover o pior desse indivíduo que os homens criaram quando o atraso, a ignorância e a crueldade eram apanágio da época.

27 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

Momento de humor

Num autocarro, um padre senta-se ao lado de um sujeito completamente bêbado, que tenta, com muita dificuldade, ler o jornal.
Logo, com uma voz empastada, o bêbado pergunta ao padre:
– O senhor sabe o que é a artrite?

Irritado, o pároco respondeu:
– É uma doença provocada pela vida pecaminosa e desregrada: Mulheres, promiscuidade, farras, excesso do consumo de álcool e outras coisas que nem digo!

O bêbado calou-se e continuou com os olhos fixos no jornal. Alguns minutos depois, achando que tinha sido muito duro com o bêbado, o padre tenta amenizar a situação dizendo:
– Há quanto tempo o senhor está com artrite?
– Eu? Eu não tenho artrite! Segundo este jornal, quem tem é o Papa…

26 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

Vícios privados

José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, disse que «cada um na intimidade da sua consciência» deve examinar a sua capacidade para receber a comunhão. No entanto, nos casos em que «a situação de pecado é pública, tornando-se então o acesso à eucaristia numa profanação pública da santidade desse sacramento», a comunhão não deve ser dada aos crentes. Aqui, «compete à Igreja defender, também publicamente, a santidade da eucaristia, não admitindo à comunhão eucarística aqueles que se mantêm publicamente numa situação moral, claramente definida nas normas morais, incompatível com a santidade deste sacramento».

Portanto, depreendemos que, para aquele membro da jerarquia da ICAR, uma pessoa pode levar uma existência o mais debochada possível desde que isso não transpareça para o público em geral. É, no mínimo, uma atitude hipócrita mas nada a que não estejamos habituados.

26 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

História interminável

Depois de assinada a lei que obriga os médicos da Florida a manterem o estado vegetativo de Terri Schiavo, de um juiz federal ter decidido contra a reinserção do tubo de alimentação, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos rejeitou analisar o recurso, apresentado pelos pais de Terri Schiavo, que contestava a decisão judicial que autorizou a remoção do tubo digestivo que alimenta artificialmente a doente.

Com esta decisão, aos pais só resta a intervenção do irmão do mui religioso presidente Bush, o governador da Florida, Jeb Bush, que já assegurou que «continuará a explorar todas as possibilidades legais para manter Terri viva».

No Diário de Notícas, novo órgão informativo da ICAR, Luís Delgado grita e exorta: «Que mundo é este, meu Deus? Gritem, enviem apelos, cartas, e-mails, tudo o que for possível para salvar Schiavo!». Mas salvá-la de quê? De uma não-existência?

26 de Março, 2005 Carlos Esperança

Timor – Um protectorado do Vaticano

Quem julga que o desatino místico é um exclusivo dos mullahs, arredado dos hábitos católicos, ou pensa que a violência religiosa é um impulso dos ayatollahs de que os bispos católicos se curaram, crê que só o islão cria talibans e esquece a abominável máquina do Vaticano onde medram parasitas da fé e inquisidores fanáticos.

O ar civilizado que os bispos e padres ostentam na Europa que se emancipou dos desvarios papais não aparece na América do Sul ou em países cujo nível de desenvolvimento consente a prepotência eclesiástica e o fundamentalismo da fé.

Em Timor Leste a decisão do Ministério da Educação de passar a disciplina de Religião de obrigatória a facultativa, com carácter experimental, em 32 escolas, sofreu duras críticas dos bispos católicos. Alberto Ricardo, de Dili, e de Basílio do Nascimento, de Baucau, acusaram o Governo de «falta de sensibilidade e preconceito» e exigem a Religião como cadeira obrigatória na escola.

Por sua vez, o núncio apostólico, Malcolm Raanjif, que se deslocou a Timor para presidir à cerimónia do Domingo de Ramos, afirmou que a decisão ia contra os interesses do povo timorense. Mas este déspota foi ainda mais longe ao encorajar os autóctones a «confrontarem os que tentam destruir a Igreja». Pretenderá uma guerra religiosa ou o assassinato dos governantes?

É a Rádio Vaticano, uma emissora ao serviço da última ditadura europeia, que afirma, sem vergonha, que o episcopado timorense exige o ensino obrigatório da religião na escola pública. Que diz a isto o clero português? A vocação totalitária devora os católicos, o ódio à liberdade alimenta-os, a gula desenfreada assalta-os na defesa de um monopólio que fere os mais elementares direitos humanos e ataca um Governo democraticamente eleito.

Bem sabemos que para os padres só Deus conta e eles andaram a estudar a vontade de Deus durante numerosos anos de seminário e de recalcamento sexual. São agentes comerciais do seu Deus e não abdicam do regime de monopólio. Alguém tem de os travar.

25 de Março, 2005 Carlos Esperança

Diário Ateísta – 100 mil visitas

Em 30 de Novembro de 2003 alguns ateus lançámo-nos na aventura de um diário, num espaço sem a censura de Deus e dos seus lacaios – a blogosfera. Estávamos longe de prever o futuro embora soubéssemos, como disse um poeta espanhol, que «o caminho se faz caminhando».

Menos de 16 meses volvidos foram muitos os que desprezaram as penas do Inferno para fruírem o nosso convívio enquanto alguns (poucos) vieram insultar-nos na convicção de ganhar indulgências fáceis e outros chegaram para nos estimular com o seu apoio e solidariedade. Ao todo são já cem mil as visitas que o Diário Ateísta vai hoje registar, quase sempre de visitantes emancipados do divino, sem temerem a Deus ou ao Diabo, sem acreditarem na Igreja ou nos seus padres.

Só Deus se abstém de visitar-nos, por não existir, enquanto alguns beatos se inquietam com a nossa persistência. As religiões continuam a sua acção deletéria na sociedade, multiplicam números de ilusionismo para convencer os incautos e aumentam a repressão para segurar a clientela; fazem guerras na disputa do mercado da fé, inventam milagres para convencer os simples e perpetuam o embrutecimento colectivo onde medra a superstição e o medo; combatem o progresso, sabotam os direitos humanos e lutam contra a democracia.

O Diário Ateísta está, e continuará, ao lado das causas que promovem o progresso, a liberdade e a emancipação da humanidade. Defendemos a democracia, batemo-nos pela aplicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, combatemos o racismo, a xenofobia, as teocracias, a homofobia, as ditaduras e o poder clerical. Combatemos no campo das ideias, só nesse, Deus por não existir e os seus padres por existirem, sem pôr em causa o direito de ter e o de não ter religião.

A vitória final, estamos certos, é a do ateísmo. É a vitória da ciência contra a fé, o triunfo do progresso contra o obscurantismo, o êxito da laicidade contra o poder clerical.

As Igrejas pensam que iluminam a humanidade com a luz mortiça das velas, o cheiro enjoativo do incenso e o torpor das orações. As religiões confundem a claridade do crepúsculo com o fulgor da aurora.

Viva o ateísmo.

25 de Março, 2005 Carlos Esperança

Blasfémia – pecado ou crime?

O Supremo Tribunal de Justiça do País Basco absolveu Arnaldo Otegi, porta-voz da ilegalizada Batasuna, por ter chamado a Juan Carlos, rei de Espanha, «chefe dos torturadores.
O tribunal considerou tais declarações «reprováveis, ofensivas, impróprias, injustas, motivo de opróbrio e alheias à realidade», mas absolveu o autor com base no facto de a crítica a uma instituição constitucional não estar excluída do direito à liberdade de expressão.

Entretanto, na Grécia, o cartoonista alemão Gerhard Haderer foi condenado a uma pena suspensa de seis meses de prisão, por um tribunal grego, devido ao «carácter blasfemo» do seu livro de cartoons «A vida de Jesus». Segundo o «Público» de hoje (site indisponível) os desenho de Jesus como um bêbado amigo de Jimi Hendrix e a fazer surf nu após fumar cannabis causaram agitação na Grécia e o artista, que foi condenado à revelia, poderá ver a sua pena aumentada até dois anos se o seu apelo for rejeitado.

Haderer é o primeiro artista a ser apanhado pela lei de mandado de captura europeu, instituída em Junho de 2002 e esta questão levanta graves questões de liberdade artística na Comunidade Europeia – ainda segundo o «Público».

Em 20 anos, foi o primeiro livro a ser banido na Grécia. Dado que não consta que JC se tenha queixado ou sentido ofendido, espero ler em breve a «A Vida de Jesus» de Gerhard Haderer com quem o Diário Ateísta, desde já, se solidariza.

Apostila – Este assunto já deixou o João Vasco de boca aberta, como revelou no seu artigo «Blasfémia – vejo-me grego para entender isto». Volto ao assunto por entender que a blasfémia é um crime de ofensas pessoais e só o próprio (Deus, Jesus, Maomé ou outro espécime do mesmo bando) tem legitimidade para propor a acção nos tribunais.

24 de Março, 2005 Palmira Silva

Morreu Gregório XVII, o papa alternativo

Igreja de Gregório XVII

Clemente Dominguez, ou Gregório XVII, o líder de um culto católico que pretendia ter sido coroado Papa pela virgem Maria após a morte de Paulo VI em 1978, morreu anteontem na cidade onde se baseava o culto, El Palmar de Troya, na Andaluzia.

A carreira religiosa do papa alternativo teve início em mais um episódio tipo Fátima: quatro raparigas afirmaram que a Virgem lhes aparecera num arbusto quando apanhavam flores. Como habitual nestes fenómenos uma série de peregrinos inundou o local, entre eles Dominguez, que exibia o que pretendia serem stigmata, ou os estigmas da crucificação, e que rapidamente se tornou uma figura de culto.

Dominguez durante o seu «papado» canonizou Franco, pela sua defesa do catolicismo durante a Guerra civil espanhola, e Cristovão Colombo. Talvez por ter excomungado a família real espanhola Palmar não tenha conhecido a história de sucesso económico de Fátima. A ordem fundada por Dominguez, Carmelitas da Face Sagrada, tem um património estimado nuns modestos 90 milhões de euros.