19 de Julho, 2023 João Monteiro
Futebol e Fé
Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.
Os meus amigos sabem da minha falta de interesse pelo Futebol, o qual, não me seduzindo como desporto, me preocupa enquanto fenómeno social de massas… tal como me preocupa a fé religiosa em demasia. Fé que também pode ser encontrada no Futebol, porque isto anda tudo ligado.
Num dos últimos Campeonatos Europeus de Futebol, correu na imprensa uma foto de uma jovem, no meio da bancada de um estádio, com uma expressão de sofrimento e cara pintada de verde e rubro, agarrada a uma imagem da Senhora de Fátima envolta num cachecol da equipa de Portugal. Aquela jovem adepta de Futebol e de Fátima, não sabia o papel ridículo em que resultava aquela sua postura.
Na verdade a jovem tentava interferir no resultado do jogo a seu contento, esperando que a imagem da santinha da sua perdição conseguisse, de Deus, o golo da vitória para o seu clube… prejudicando o outro com quem a equipa de Portugal disputava aquele campeonato!…
É a velha história do “eu quero o melhor resultado para mim… o outro que se dane” … mas com ajuda divina!
Este egoísmo é a característica forte de qualquer religião quando o interesse do crente é conseguir a entrada no céu depois de se finar. Para isso tem que comprar o ingresso celestial em vida e a prestações, ouvindo missas, tomando hóstias e depositando moedas nas ranhuras das caixas de esmola dos santinhos nos altares das igrejas, ou nas mãos dos gurus das seitas (mas estes não querem moedas… preferem notas, em forma de dízimo).
Quanto ao respeito devido ao outro… isso é ficção!… A realidade do crente é a existência de Deus que pede o seu sacrifício personalizado na assistência de missas e no número de hóstias tomadas… o outro não existe!… Haverá excepções como em todas as regras… mas o que o crente típico quer é ter os seus interesses em recato!
O católico (refiro o Catolicismo por ser a religião maioritária em Portugal e fazer parte da minha cultura. Não tenho nada contra a Religião Católica, até porque sendo ela a pedra basilar da sociedade que me formatou… ela sou eu… e eu sou ela… embora não alinhe na fé em Deus porque em criança me recusei a beber da taça religiosa até ao fim, e tive um pai republicano e anti-clerical que, secundado pela minha mãe, me soube transmitir valores reais em substituição de fantasias religiosas).
Dizia eu que o católico tem, em Jesus Cristo, o expoente máximo dos ícones religiosos igualando-o a Maria. E esta pode, a todo o momento, tomar importância superior a Jesus, porque no contexto católico é importante adorar uma mulher sofredora e consensual. Maria não se meteu em lutas políticas, ao contrário do seu filho, o “Homem-Deus”, que militava num agrupamento de Esquerda… e se vivesse hoje até podia ser comunista!…
Aliás, por aquilo que pode ser percebido nos registos cristãos, acredito que, se em vez de Palestino, Jesus Cristo fosse Sul-Americano e vivesse na década de 1960, tinha sido camarada de Fidel Castro e de Che Guevara, e seria assassinado a tiro numa selva da Bolívia em emboscada organizada pelos EUA… que o adora!
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
OV