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4 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Senhor, dai-lhe a morte

«Crescem as rezas entre os colonos judeus extremistas da Faixa de Gaza para que Ariel Sharon morra ou seja morto» – lê-se hoje em «A Capital», (site indisponível).

É preciso muita fé para tanto ódio. A oração é um placebo mas os crentes não sabem. Deus é uma criação humana mas os fanáticos não acreditam. A morte é um crime ou uma fatalidade biológica mas os devotos julgam-na uma prerrogativa divina.

É nestas alturas que recordo o ódio fanático das doces catequistas da minha infância, a instilar piedosamente o ódio contra judeus, maçons e comunistas. Os primeiros por terem matado Cristo, os segundos porque eram inimigos da ICAR, único veículo homologado para a salvação eterna, e os últimos porque eram ateus e matavam criancinhas.

Desejar a destruição de alguém é um sentimento perverso que se insere na cultura da morte. É um ímpeto totalitário que começa com orações e, em caso de fracasso, passa à bala. Foi o que aconteceu a Yitzhak Rabin. É a orgia da fé no seu máximo esplendor.

Vejam lá, leitores, se encontram diferença entre os radicais islâmicos, estes exaltados judeus, os cristãos evangélicos que assassinam médicos e enfermeiros nos EUA, nas clínicas onde se fazem abortos, ou os católicos que em Timor ameaçam o Palácio do primeiro-ministro que pretende tornar facultativa a aula de religião católica?

Por todo o lado, piedosas cavalgaduras encontram na morte e no ódio a exaltação da fé e a forma de agradarem ao seu Deus.

4 de Maio, 2005 Palmira Silva

Bispos de Timor ensandeceram!

As palavras não são minhas mas podê-lo-iam ser: na página «Notícias Lusófonas» onde tenho recolhido boa parte das notícias do comportamento aberrante, anacrónico e anti-democrático da Igreja católica em Timor, que transcreve notícias da Lusa na sua maioria não utilizadas pela nossa imprensa nacional pode ler-se: Igreja Católica quer que o caos passe ao Poder em Timor-Leste
«Novas exigências da igreja católica timorense inviabilizaram hoje o fim da manifestação anti-governamental que há 16 dias mantém o país em suspenso. Exorbitando todas as suas funções num Estado de Direito, a Igreja parece apostada em levar o país para o caos, indiferente aos apelos do Vaticano e das instituições internacionais. Pediram a mão e o Governo cedeu, agora querem o braço, e depois se verá…»

A situação em Timor parece o proverbial barril de pólvora prestes a explodir a qualquer faísca. E o o porta-voz do Episcopado, padre Domingos Soares, bem se esforça por «incendiar» os ânimos dos manifestantes, sendo certamente um dos visados pela declaração do superintendente-chefe da Polícia Nacional de Timor-Leste de que «alguns padres querem que algo corra mal, para atirarem a culpa para cima da PNTL e do Governo». O piedoso prelado tenta acirrar os ânimos da multidão de fanáticos que arregimentou explicando-lhes como devem actuar no caso de a Polícia utilizar gás lacrimogéneo, bem como a forma de a enfrentar caso os tente dispersar pela força.

O primeiro ministro Alkatiri já fez cedências «importantes» à Igreja, um erro estratégico, e assim a saga continua. E a História permite prever que continuará até ao estabelecimento de uma teocracia se as cedências face à despótica Igreja se mantiverem. Não obstante fontes religiosas sugerirem que os bispos de Timor estão a ser pressionados pelo Vaticano para uma mudança do rumo das reivindicações, cada vez mais claramente de índole política. Sugestão pouco credível já que o Núncio Apostólico esteve recentemente em Díli a apoiar os protestos e subscreve as reinvidicações dos bispos timorenses.

Aliás, a Igreja timorense segue ipsis verbis o preconizado pelo finado Papa, expresso no seu best-seller, «Memória e identidade» em que João Paulo II diz claramente que «Parlamentos que criam e promulgam essas leis devem estar conscientes de que transgridem os seus poderes e se colocam em conflito aberto com a lei de Deus e a lei natural». Aliás em consonância com a encíclica «O Evangelho da Vida» (1995), em que João Paulo pedia a desobediência pública a César em nome de Deus «Quando uma lei civil legitima o aborto ou a eutanásia», escreveu, «deixa de ser, por essa mesma razão, uma verdadeira lei civil, e por isso moralmente obrigatória… Está inteiramente privada de autêntica validade jurídica». Aliás o próximo santo no panteão católico nunca aceitou sem reservas a democracia, a que chamou «uma liberdade que cria escravos», uma nova serpente biblíca a tentar com o fruto do conhecimento populações que certamente preferiria, tal como o actual Papa, manter simples e longe da influência de intelectuais…

4 de Maio, 2005 Mariana de Oliveira

Malditos amuletos

Um homem de cerca de trinta anos chamado, Mamadou Obotimbe Diabikile, tentou assaltar o Banco de Desenvolvimento do Mali convencido de que estava sob a protecção de um feitiço que o tornaria invisível (A Cabra, ed. nº 132, ano XIV, pág. 23). O ladrão foi preso, tendo sido alvejado antes da detenção pelas forças policiais.

De acordo com fonte policial, o homem trazia consigo «cerca de quinze quilos de amuletos» e possuía mais em casa.
Mamadou declarou às autoridades que queria «vingança» e parecia pertencer a uma seita. No entanto, não foi capaz de dar uma explicação coerente para a tentativa de assalto.

A religião e a superstição podem conduzir a estes comportamentos estranhos e absurdos para qualquer um que consiga articular um raciocínio mais ou menos lógico.

4 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Deus e os padres

Deus criou o Mundo e emigrou. Não fez obra asseada nem mostrou regular bem da cabeça, mas não faltam voluntários a enaltecer a obra nem candidatos a testamenteiros da vontade divina.

Quem se julga feito à imagem e semelhança de Deus tem direito a essas e outras tolices. Mas não tem o direito de impor a vontade à força, de converter incréus pela violência, de purificar os pecadores pelo fogo, lapidação e outras formas de pedagogia de que as religiões gostam.

O clero é uma classe parasitária que vive da venda de uma mercadoria cuja existência não pode provar, que exerce poder e influência graças a truques de utilidade duvidosa, que promete o Paraíso a preços insuportáveis com o alibi de que tem o monopólio da verdade e o alvará da única agência de transportes.

O que me surpreende é a clientela que mantém, a fidelidade dos fregueses e a sua dedicação.

Há dias, o Grande Oriente Lusitano – Maçonaria Portuguesa entregou na Torre do Tombo um dossiê de 121 folhas, em papel almaço dactilografado, com agentes daquela organização fascista que recolhia informações sobre os democratas. Ora, na cáfila de delatores e gente de mau porte, havia duas páginas de párocos. Acontecia, aliás, o mesmo na PIDE onde piedosos bufos de sotaina denunciavam democratas antes ou depois da confissão.

Como cidadão lamento que os esbirros não tenham sido julgados e os crimes da PIDE e da Legião Portuguesa tenham ficado impunes mas, como ateu, – e é isso que interessa aqui -, fico perplexo com a boa fé dos crentes que se genuflectem aos pés de primatas tão abjectos. Sempre me enojou a subserviência de quem é capaz de beijar a mão de um padre, a fragilidade de quem é capaz de confessar actos cuja indignidade uma recta consciência devia impedir de cometer.

Claro que não são todos. Pudera! Mas alguém duvida da poderosa arma que constitui a confissão e das numerosas vezes que foi, é e será usada para benefício da santa cáfila que se dedica aos negócios de Deus e à conquista metódica e persistente do poder?

Comemora-se ente ano, em França, o centenário da separação do Estado e da Igreja. Esta, sem a laicidade comportar-se-ia em Portugal de forma diferente do que em Timor? Em Espanha a ICAR respeita o Governo e a legalidade democrática?

Esperem que em Portugal os temas do aborto, da eutanásia e das uniões homossexuais se encaminhem para a regulamentação legal e verão, caros leitores, os uivos, as injúrias e os anátemas com que a ICAR nos vai brindar. O clero não muda, tal como o camaleão apenas se adapta ao meio para melhor nos confundir.

4 de Maio, 2005 Palmira Silva

Desenvolvimentos em Timor

O Comando-geral da Polícia Nacional de Timor-Leste, pela pena do seu superintendente-chefe, Paulo Martins, solicitou por escrito aos responsáveis da Igreja Católica timorense que ponham fim à manifestação que se desenrola há quinze dias a 150 metros do palácio do Governo. Evidenciando o carácter ilegal da mesma e a violência infligida pelos manifestantes a quem tivesse comportamento «diferente», a PNTL pôs como prazo para a desmobilização da manifestação o final do dia de ontem, terça-feira.

«Face à violência que perturbou a ordem pública, o Comando- Geral da PNTL ordena que esta manifestação acabe terça-feira, dia 03 de Maio» pode ler-se na carta enviada à residência oficial do bispo de Díli, onde está instalado o «tribunal popular» que «julgou» os dois portugueses que foram agredidos pelos católicos manifestantes.

Uma vez que a Igreja de Timor não desiste do seu propósito de derrubar o governo democraticamente eleito a resposta do padre Apolinário Guterres, Vigário-geral da Diocese de Díli, foi simplesmente o reinstar da supremacia da Igreja em relação à lei afirmando que a manifestação ilegal «acaba quando tiver que acabar, e não com ultimatos da polícia».

Uma vez que a manifestação decorre no coração da cidade onde estão instalados diversos organismos internacionais, nomeadamente os escritórios do Banco Internacional, para além do Banco Central timorense, fechados desde segunda-feira, e o clima de tensão vivido no local tem conhecido uma escalada devido à existência de um «sentimento de provocação» por parte dos manifestantes, já que «alguns padres querem que algo corra mal, para atirarem a culpa para cima da PNTL e do Governo», a polícia timorense propôs hoje à igreja a mudança do local da manifestação após uma reunião promovida pelas Nações Unidas.

O padre Filomeno Jacob, secretário do bispo de Díli, não se quis comprometer com qualquer resposta a esta proposta para recuar 200 metros da localização actual, sem antes consultar a hierarquia da igreja.

Esperam-se novos desenvolvimentos da situação em Timor, que de momento não parece estar a desenrolar-se muito favoravelmente para a delegação timorense da Igreja liderada por Bento XVI, o Papa anteriormente conhecido como o inquisidor-mor Joseph Ratzinger.

4 de Maio, 2005 Palmira Silva

Miami vices

A Flórida, governada pelo mui religioso irmão do ainda mais devoto presidente dos Estados Unidos, ambos defensores intransigentes da vida, como tivemos oportunidade de apreciar durante o caso Terry Schiavo, é um estado de profundas contradições.

Um mês depois de aprovada uma lei que permite que qualquer cidadão possa matar um potencial agressor na rua (anteriormente já o podia fazer em casa, no carro ou local de trabalho) e que os opositores garantem ir transformar as ruas da Flórida em versões modernas do velho Faroeste, Jeb Bush afirmou-se novamente um «cruzado» pela vida, ou, como ele próprio se descreveu, o governador mais pró-vida da História.

Em causa estava a gravidez de uma criança de 13 anos confiada à guarda do Estado e que o Estado pretendia ser demasiado «imatura» para acatar a sua decisão de terminar essa gravidez que, de acordo com idade de consentimento expressa na lei da Flórida, é resultado de uma violação. Assim o estado da Flórida tentou impedir a adolescente de efectuar uma interrupção voluntária da gravidez.

A ACLU (American Civil Liberties Union) interpôs um recurso em nome da adolescente e segunda-feira o juíz Ronald Alvarez que apreciou o caso decidiu que a esta poderia realizar o aborto.

O estado decidiu, quiçá recordando o desfecho do caso Terry Schiavo, desistir da sua intenção de impedir a livre escolha da adolescente.

O governador Jeb Bush vai certamente continuar a trabalhar na sua defesa intransigente da vida, tal como esta defesa é entendida pela esmagadora maioria dos cristãos americanos, ou seja, a defesa de embriões, espermatozóides, óvulos e células estaminais embrionárias. Porque como disse a senadora da Carolina do Norte Elizabeth Dole na convenção do Partido Republicano em Setembro do ano transacto «A protecção da vida não é algo que os republicanos inventaram mas é algo que os Republicanos defenderão». Para além, claro, da famosa afimação de que «A Constituição garante liberdade de religião não liberdade DA religião (The Constitution guarantees freedom of religion, not freedom from religion)».

3 de Maio, 2005 Palmira Silva

Oxy-morons

Galileu enfrentando a Inquisição, Cristiano Banti (1857)

Como já tive oportunidade de escrever, a disputa do cristianismo contra a Ciência pela posse da verdade é História antiga. No Ocidente, o embate mais mediático e conhecido foi o caso Galileu. Essa batalha foi vencida pela Igreja, que obrigou Galileu a renegar as suas teses para não sofrer o destino de Giordano Bruno: ser imolado pelo fogo em nome da pureza e verdade da fé.

Outra disputa mediática entre ciência e fé pela explicação do mundo aconteceu há oitenta anos com o julgamento de John Scopes (o famoso «Monkey Trial»), o professor que ousou ensinar a teoria da evolução num liceu do Tennessee. Neste século XXI em que paira sobre a humanidade a ameaça dos fundamentalismos religiosos, que tentam recuperar o integrismo religioso medieval, a evolução volta ao banco dos réus, desta vez no estado do Kansas. De facto, o oxímoro(n) Conselho de Educação do Kansas começa esta quinta-feira em Topeka um julgamento de seis dias em que o réu é a evolução, ou, mais propriamente, o ensino da evolução.

O defensor da evolução, o advogado Pedro Irigonegaray, já afirmou o absurdo deste julgamento e considera que «debater a evolução é similar a debater se a Terra é redonda». Os cientistas americanos parecem partilhar desta opinião, para além de considerarem que o pretenso julgamento é apenas uma farsa que encenaram para proibir o ensino da evolução em favor do criacionismo.

São cada vez mais preocupantes os sinais do fundamentalismo cristão no outro lado do Atlântico. Como nos informa o Filipe Castro, «a Harper’s deste mês traz mais informações sobre os tais 30.000.000 (um terço do eleitorado americano) de Evangélicos/Baptistas que querem fazer dos EUA um estado religioso. Uma das coisas pelas quais eles se batem com vigor é a instituição da pena de morte para os crimes de apostasia, blasfémia e sodomia». Para além de existir uma «proposta em cima da mesa para instituir a pena de morte por crimes de bruxaria».

Não é de estranhar que muitos americanos considerem que a democracia americana está sob assalto destes fundamentalistas que pretendem instalar uma teocracia nos Estados Unidos, já que consideram que a laicidade é um «mito socialista».

2 de Maio, 2005 Mariana de Oliveira

Fitas e água benta

A Bênção das Pastas é uma cerimónia religiosa católica, presidida pelo Bispo de Coimbra, que se realiza todos os anos em que em que são abençoadas as Pastas com as Fitas dos Quintanistas.

Este ritual pretende «pretende simbolizar, de certo modo, o fim da vida académica do Estudante, traduzindo-se num ritual de passagem que marca a entrada no mundo do trabalho. No compromisso, feito pelos Fitados, parte central da Bênção, estes propõem-se participar na construção duma sociedade mais justa e fraterna».

Esta é uma entre muitas tradições da Praxe que se vive na Academia Coimbrã. Como estudante da Universidade de Coimbra, Quintanista Fitada, e como ateia, não me repugna a existência de uma cerimónia organizada pelos colegas católicos e a eles destinada assim como não me repugnaria uma bênção das pastas budista ou de qualquer outra religião. O que me repugna, isso sim, é o fenómeno de «carneirização». Passo a explicar: há uma semana que amigos me questionam se vou ou não àquela cerimónia sendo a resposta, obviamente, negativa. Ora, muitos se espantam por isso pois, de acordo com eles, é um evento da Praxe ao qual se vai porque sim.

Este espírito de «carneirada» acrítico potencia uma posição de hegemonia da Igreja Católica no panorama universitário. Para além desta cerimónia, a Universidade de Coimbra é acompanhada por diversas instituições religiosas católicas: Serviço Pastoral do Ensino Superior, o Centro Universitário Manuel da Nóbrega, o Centro Académico de Democracia Cristã, uma residência de estudantes da Opus Dei – a Residência de Estudantes da Beira – e um Lar Universitário das Irmãs Doroteias. É contra estas demonstrações de poder e de organização que nós, livres pensadores, devemos lutar com um olhar crítico e perscrutador.

2 de Maio, 2005 André Esteves

Um obituário para dois modestos gigantes

Dois dos homens que mais influência tiveram nas nossas vidas, morreram nos últimos dias.

Um deles carregava com o fardo de ter construido as primeiras bombas atómicas e foi o primeiro observador informado no local, da destruição atómica em Hiroxima e Nagasaki. Foi um dos primeiros homens a propor o controle dos arsenais nucleares e a propor a observação do espectro dos microondas à procura de sinais de vida extraterrestre. O outro, sobrevivente de uma família destroçada pela pobreza e pelas doenças infecto-contagiosas, ao descobrir uma cópia escondida da «Origem das espécies» de Charles Darwin, encontrou o estímulo para estudar e tornar-se um dos maiores microbiologistas do século XX.

Falo de Phillip Morrison e Maurice Hilleman.

Talvez o leitor não os conheça, mas o facto de hoje estar vivo talvez se deva aos dois.

Phillip Morrison iniciou a crítica inteligente e informada dos cientistas atómicos (os mesmos que construiram a bomba) ao complexo político-religioso-militar-industrial americano que via a bomba como uma benção de Deus à américa e assim ajudou a afastar o espectro da guerra nuclear global. Maurice Hillerman criou mais de 20 vacinas ao longo da sua carreira como microbiologista. Salvaram, não-linearmente, centenas de milhões de pessoas ao longo da segunda metade do século XX.

Eu conheci Phillip Morrison a partir das páginas da Scientific American, e tive a oportunidade de seguir a sua excepcional série de divulgação científica, «The Ring of Truth».

Numa altura em que se glorifica e mistifica a imaginação do público pela ciência com a última masturbação da física teórica, Phillip Morrison conseguia tornar entusiasmantes e óbvios conceitos e experiências basilares da física.

É inesquecível o episódio em que o átomo é nos revelado. Como usando um lago e uma colher de óleo de cozinha conseguimos obter uma estimativa do tamanho dos átomos e sempre insatisfeitos, vamos de descoberta em descoberta até vermos, literalmente, os átomos á nossa frente.
Ou outro episódio, dedicado à natureza do método científico em que nos são apresentadas as duas faces da mesma moeda: a percepção e a ilusão. Recorrendo à magia e ao ilusionismo somos introduzidos à teoria dos erros e aos cuidados que temos que ter ao percepcionar o mundo que nos rodeia. Ainda hoje, a maioria dos divulgadores científicos foge desse assunto com preconceito, tratando-se na verdade, uma das maiores lições de vida que a ciência nos pode dar.

Apesar de ter passado a vida diminuído pela doença e preso a um carrinho de rodas, Phillip Morrison transbordava de uma sede de conhecimento e felicidade em explorar tudo, que lhe preenchia a vida e contagiava quem o podesse ouvir e conhecer.

Maurice Hilleman nunca se alardeou dos frutos do seu trabalho. Fazia-o porque estava apaixonado por ele. Criou as técnicas modernas de produção de vacinas em massa, bem como a forma liofilizada das vacinas modernas que podem ser guardadas durante longos períodos de tempo em segurança.
Em 1957, antecipou e eliminou uma pandemia global de gripe, tornando-se o primeiro homem a criar uma vacina para uma forma mutante futura de um vírus. Estima-se que o último surto equivalente, a gripe espanhola, matou pelo menos 100 milhões de pessoas.

Hoje, estamos vivos graças ao seu trabalho.
Vivos porque, algures em Montana, uma biblioteca salvou uma cópia da «Origem das Espécies» de Charles Darwin das leis de censura da cidade, fundamentalista cristã. O então adolescente Maurice Hilleman encontrou aí a sua paixão pela biologia, ao descobrir uma outra maneira de ver o mundo com que lidava como míudo do campo. E utilizou o que aprendeu com Darwin para prever e antecipar a evolução de vírus e salvar vidas.

Sem seguidores, crentes e máquinas de propaganda para enganar os homens, sem báculos e tiaras, eram luzes na escuridão. Modestos gigantes desconhecidos.

Humanos como nós, eu vos saúdo.

Links:
– Obituário no The Guardian de Hilleman
– Obituário no MIT de Morrison
– Morrison na Wikipedia
– Hilleman na Wikipedia