Loading
1 de Maio, 2005 Palmira Silva

Inquisição em Dili

De acordo com o Diário de Notícias, que cita uma testemunha que pede o anonimato (pelas razões óbvias) os dois portugueses que foram agredidos pelos fanáticos católicos que se concentram em frente à residência do primeiro-ministro timorense foram sujeitos a um «tribunal popular na casa do bispo de Díli e maltratados durante quatro horas».

A testemunha acrescenta que «Os dois estavam sentados num canto, todos escavacados, num pequeno anexo, insisti para que os levassem a um hospital, mas diziam que não, que ‘eles tinham de ser julgados, num tribunal à maneira’, com jurados e tudo». Os dois portugueses, um professor e um funcionário de uma empresa de construção, só foram libertados deste reviver da boa tradição inquisitorial quando outro português decidiu ficar como refém dos tresloucados e prepotentes delegados da Igreja de Roma em Timor, certamente para permitir tratamento médico às primeiras vítimas desta tentativa de golpe de estado teocrático.

Segundo o Diário de Notícias, o português que testemunhou o «tribunal popular» disse ainda que numa tentativa de menorizar o sequestro de dois cidadãos estrangeiros em casa do Bispo, o porta-voz do Episcopado, padre Domingos Soares, terá dito que «também temos aqui jovens timorenses que não se portaram bem, não são só os portugueses».

O mesmo padre Domingos Soares acabaria por reconhecer os acontecimentos ao jornalista da RTP/Antena 1 em Díli «Todas as pessoas de quem desconfiamos, e cuja atitude é diferente, são levadas para o centro de investigação para esclarecer as suas atitudes». Ou seja, admite que há um «tribunal popular» em casa do Bispo. Como nos «saudosos» tempos da Inquisição, a Igreja Católica timorense arroga-se ao direito de julgar cidadãos, crentes ou não crentes, por atitudes «diferentes» das preconizadas pela «santa» Igreja!

1 de Maio, 2005 jvasco

Aspiração clericalista

Não só em Timor, mas em muitas partes do mundo, vários crentes de diferentes religiões lutam para conseguirem concretizar as suas aspirações…

1 de Maio, 2005 Mariana de Oliveira

A luta continua

De acordo com o presidente da FRETILIN, Francisco Guterres «Lu-Olo», a Igreja Católica mantém cárceres privados na residência do bispo de Díli e que cidadãos se encontram lá detidos.

Esta notícia surge depois de doze dias de manifestação, organizada pela ICAR, contra a decisão do governo timorense de tornar o ensino da religião facultativo e pago por aquela confissão religiosa, em 32 escolas nacionais.

Não se ficando pela tentativa de invasão do Palácio Governamental, censura de jornalistas e de pressões várias, cidadãos portugueses foram agredidos pelos protestantes.

De acordo com o artigo 12º Constituição da República Democrática de Timor-Leste, «o Estado reconhece e respeita as diferentes confissões religiosas, as quais são livres na sua organização e no exercício das actividades próprias, com observância da Constituição e da lei». Ora, a Lei Fundamental, no artigo 16º, consagra o princípio da igualdade e da universalidade, ou seja, «todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres» e, assim, «ninguém pode ser discriminado com base na cor, raça, estado civil, sexo, origem étnica, língua, posição social ou situação económica, convicções políticas ou ideológicas, religião, instrução ou condição física ou mental». Conjugando estes dois preceitos, temos que o Estado Timorense é laico e que, ao entender que a disciplina de religião e moral, no ensino público, deve ser facultativa e financiada pela confissão religiosa em causa, está apenas a observar os princípios constitucionais mais básicos.

Para além disso, apesar da liberdade de reúnião e de manifestação estar assegurada no artigo 42º, esta implica que seja «pacífica e sem armas». Não parece que o incitamento ao derrube de um governo e a agressão a cidadãos estrangeiros se insira na definição de «pacífico».

Em suma, a Igreja Católica, ao tentar um golpe de Estado – por uma bagatela, diga-se de passagem – está a imiscuir-se nos assuntos de Estado de uma jovem República de forma injustificável e inadmissível numa Democracia civilizada.

30 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Fanatismo católico em Timor

A legitimidade eleitoral do Governo de Timor, presidido por Mari Alcatiri, tem sido desafiada pelos dois bispos católicos do jovem País que há pouco se libertou do jugo da Indonésia.

Todos reconhecem a importância decisiva da Igreja católica na independência do povo maubere mas é inaceitável a sua obsessão em substituir o despotismo anterior pela tirania religiosa protagonizada pelo clero, em que pontificam Alberto Ricardo da Silva e Basílio do Nascimento, respectivamente bispos de Díli e Baucau.

A fazer lembrar o miguelismo trauliteiro do séc. XIX, em Portugal, os padres de Timor incitam as populações do interior da ilha a deslocar-se com imagens da Virgem e terços para exigirem a demissão do Governo legal. Ao som de cânticos religiosos e orações desafiam o Governo a demitir-se.

O padre Domingos Soares, porta-voz do episcopado autóctone não se conforma com as regras democráticas e constitucionais ao abrigo das quais o Governo decidiu, a título experimental, tornar facultativa a aula de religião católica em 32 escolas oficiais. Na opinião dos padres, o carácter facultativo da disciplina ou a redução da carga horária é uma manifestação ditatorial.

Os bispos, com base na absoluta hegemonia católica, contestam um muçulmano na chefia do Governo e defendem o carácter obrigatório da disciplina de religião católica nas escolas públicas. O contágio dos países islâmicos é uma realidade e a simpatia por um Estado confessional uma evidência.

Habituados a deter o poder absoluto, cientes do prestígio conquistado no combate à ocupação indonésia, os padres não aceitam que o poder democrático se exerça ao arrepio da vontade divina interpretada por eles próprios. Há uma atracção mimética pelo totalitarismo islâmico, uma indisfarçável sedução por um regime autoritário em que o Estado seja o braço armado da Igreja católica.

Timor está sob tensão na iminência de um golpe de Estado. A água benta, as orações e os rosários são, por enquanto, as munições usadas pelo clero católico. Há uma trágica similitude entre a intolerância dos mullahs islâmicos a debitar o Corão e os padres católicos a recitar a Bíblia. O proselitismo e a ânsia de poder são iguais.

Portugal, o país doador mais importante, à frente do Japão e da Austrália, tem cumprido a sua obrigação e o dever de solidariedade para com o povo maubere. Tem obrigação de usar a via diplomática para garantir a liberdade religiosa no território de Timor Leste. O Vaticano não pode ficar indiferente às manifestações de intolerância dos seus padres nem ser cúmplice do terrorismo eclesiástico em Timor.

Neste momento dramático deve ser posto à prova o Papa Bento XVI. Tem aqui a oportunidade para mostrar que não é um papa medieval, que a imagem de inquisidor não lhe assenta, que o respeito pelo pluralismo é uma virtude adquirida pela igreja de Roma, que a democracia é uma instituição compatível com o catolicismo romano.

Ao Governo português cabe, sob pena de se desprestigiar, mostrar que é um país laico e que os princípios que o informam são os mesmos que quer ver respeitados nos países amigos. Sócrates e Freitas do Amaral têm uma tarefa a desempenhar ao serviço da paz, da liberdade religiosa e do laicismo.

Obs.: Este assunto já foi tratado por mim em «Timor – um protectorado do Vaticano» 1 e 2 (site indisponível) e pela Palmira nos artigos «Tolerância Cristã» e «Terrorismo em Timor Leste». A gravidade e desfaçatez da ICAR exige que volte ao tema. Urge conter o fundamentalismo católico.

29 de Abril, 2005 Carlos Esperança

João Paulo II – um santo papa

A devota subserviência e o benevolente esquecimento sobre os pesados pecados de JP2 são o prenúncio da reabilitação do cardeal Ratzinger de que o Opus Deis, a Comunhão e Libertação e os Legionários de Cristo se esforçam por levar a cabo. Estas instituições pouco recomendáveis lembram-me – não sei porquê – a PIDE, a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa na defesa do salazarismo e da figura sinistra que o inspirava.

Sabe-se que a manifestação organizada no funeral de JP2 a exigir a rápida canonização, «santo súbito», foi organizada por um padre polaco e por membros da igreja do seu país natal, que distribuíram os cartazes e orquestraram os slogans.

JP2 considerou Pinochet e a amantíssima esposa como «casal cristão exemplar», ministrou-lhes embevecido a eucaristia e apareceu à varanda do Palácio La Moneda com o frio torcionário para ser ovacionado pelos devotos, sem se lembrar de que, naquele palácio, se tinha suicidado Salvador Allende, presidente eleito, deposto pelo golpista seu amigo.

JP2 intercedeu pela libertação de Pinochet quando foi detido em Londres, por crimes contra a humanidade, por ordem do juiz Baltasar Garzon, usando argumentos jurídicos. Pediu a sua libertação, alegando que os crimes foram cometidos quando gozava da imunidade de Chefe de Estado. No entanto nunca censurou a sentença islâmica que condenou à morte Salmon Rushdie ou intercedeu por ele.

JP2 não se limitou a apoiar as ditaduras fascistas da América do Sul, empenhou-se em derrubar os governos democráticos de esquerda numa cegueira insana de quem confundiu sempre as ditaduras estalinistas com o socialismo democrático resultante de eleições livres e submetido à alternância democrática.

Em 23 de Fevereiro de 1981, quando o grotesco tenente-coronel Tejero Molina tentou restabelecer a ditadura, deu-se a coincidência de estar reunida a Conferência Episcopal Espanhola. Nem o Papa, nem os bispos nem o seu núncio apostólico condenaram a tentativa de golpe de Estado, limitaram-se a recomendar aos espanhóis o piedoso exercício da oração.

Em relação à SIDA o defunto Papa portou-se como um verdadeiro criminoso. Não se limitou a aconselhar a castidade como propalam os seus sequazes, foi cúmplice da mentira que atribuía ao preservativo «minúsculos orifícios» permeáveis ao vírus e promoveu a informação sobre a sua inutilidade em países africanos onde o flagelo está sem controlo. O arcebispo de Nairobi foi ainda mais longe atribuindo aos preservativos responsabilidade pela SIDA sem ter sido desautorizado pelo Papa, apesar do ruído mediático feito à volta da boçal declaração.

Muitas violações de crianças se teriam evitado se em vez de um silêncio cúmplice, exigindo discrição à ICAR sobre os casos de pedofilia dos padres americanos, apesar das repetidas chamadas de atenção que lhe foram feitas, tivesse mandado comunicar os casos às autoridades dos EUA.

Mas que poderia esperar-se de um admirador de Josemaria Escrivá de Balaguer, a quem fez santo, esse admirador de Franco que mandou assassinar centenas de milhares de adversários políticos mas nunca faltou à missa e à eucaristia?

29 de Abril, 2005 Ricardo Alves

O catolicismo é uma doutrina relativista

Não falta quem, na sequência da entronização do «anti-relativista» Ratzinger (e movido mais por razões políticas do que teológicas), elogie a ICAR como um baluarte de «verdades intemporais» que supostamente «atravessam o tempo» e pretensamente se opõem ao «relativismo» que atribuem à época contemporânea. Em boa verdade, esta visão simplista esquece que o catolicismo romano, como a generalidade das doutrinas humanas, é relativista.

Efectivamente, a ICAR justificou doutrinariamente, durante a maior parte dos últimos quinhentos anos, a perseguição e o genocídio de minorias religiosas e filosóficas. Hoje, os católicos declaram, e com uma veemência tal que eu sou levado a assumir que estão de boa fé, que essas práticas foram condenadas doutrinariamente. Relativizaram-se portanto os argumentos genocidas e anti-semitas da doutrina católica, relativização essa que foi imposta de fora, mas que nem por isso deixa de ser de saudar.

Outro exemplo do relativismo católico é a defesa supostamente inflexível de uma (vaga) «lei natural», que hoje nos dizem proscrever a homossexualidade, mas que até ao ano muito recente de 1878 não impedia a ICAR de encorajar as castrações praticadas em crianças com o objectivo de fazer eunucos que abrilhantassem, em tons agudos, os coros do Vaticano. Uma castração parece-me uma violação da «lei natural» (entendida, por mim, como o respeito pelas características inatas do animal humano) muito mais óbvia do que a homossexualidade. Novamente, a ICAR aproximou-se neste caso de um princípio ético, a integridade da pessoa humana, que se afirmara em oposição ao catolicismo.Deve acrescentar-se que ainda em 1866 Pio 9º defendia que a escravatura «de forma alguma é contrária à lei natural e divina» e que a liberdade de culto devia ser negada aos não católicos. Também aqui a ICAR relativizou a doutrina, principalmente a partir do Concílio Vaticano 2º.

Um assunto de grande importância dogmática e no qual a relativização da doutrina católica é flagrante é o dogma da Imaculada Concepção de Maria. Trata-se de uma invenção modernista com uns meros 150 anos, que reflecte a adaptação ao papel das mulheres nas sociedades pós-rurais, em que estas deixaram de viver em meios fechados e passaram a ser submetidas às tentações pecaminosas das praças urbanas.

Conclui-se portanto que a ICAR é relativista na doutrina ética e mesmo nos dogmas, ou seja, adapta-se aos tempos e aos costumes, no que não difere, aliás, de outras instituições humanas.
Formalmente, é claro que a ICAR não é relativista quando afirma que a origem da sua doutrina é divina e portanto exterior ao mundo a que todos temos acesso pelos sentidos e pela razão, e neste aspecto assemelha-se ao Islão. No entanto, as únicas «verdades intemporais» que a ICAR verdadeiramente perpetua (no sentido de as manter quase inalteradas desde a concepção, histórica e culturalmente relativa, da doutrina católica) limitam-se a extravagâncias como a «ressurreição» de JC, a presença «real» de JC no pão e no vinho da missa e a imortalidade da «alma». Todas estas «verdades intemporais» são disparates evidentes que qualquer adolescente com um mínimo de formação científica percebe que não passam, numa visão benigna mas herética, de metáforas. No entanto, ao manter estes dogmas a ICAR procede a outro tipo de relativização, a relativização da realidade física. Acontece que a realidade material, o mundo físico, não é de todo relativizável, ao contrário do que argumenta a ICAR (aqui, apoiada pelo pós-modernismo)(*).

Pelo contrário, os princípios éticos podem e devem evoluir, e têm-no feito quase sempre contra a doutrina católica que, como vimos, mantém hoje muito pouco daquilo que defendeu na maior parte dos últimos 1700 anos. O papel da ICAR, historicamente, tem sido de resistência ao progresso político, científico e ético, e por isso a instituição romana é uma favorita dos conservadores políticos e dos obscurantistas. Com Ratzinger, é-o sem ambiguidades.
(*) A ciência permite compreender e descrever a realidade, mas por métodos que tentam (e, geralmente, conseguem) ultrapassar os relativismos culturais, por serem acessíveis a todos independentemente da cultura de origem.
29 de Abril, 2005 Palmira Silva

E mais tolerância cristã…

As declarações do Cardeal espanhol Ricardo Maria Carles estão a levantar ondas de indignação em Espanha já que este compara a decisão do governo espanhol em permitir o casamento de homossexuais às decisões do governo de Hitler, considerando que seguir a nova lei em vez da consciência «conduzirá a Auschwitz».

Reiterando a objecção de consciência preconizada pelo «intelectual» Trujillo, o tal que exigia terem os preservativos avisos sobre a sua «insegurança» já que supostamente deixariam passar o HIV, o cardeal afirmou numa entrevista à TV3 que «os que fizeram Auschwitz não eram delinquentes, mas pessoas que foram obrigadas, ou pensavam que deviam obedecer às leis do governo nazi, e não à sua consciência»!

É caso para perguntar por que razão a Igreja Católica que tanto apela à consciência dos seus crentes sempre que estão em causa privilégios da Igreja ou os seus dogmas, se cala ensurdecedora e sistematicamente quando os direitos humanos são atropelados por quem mantem esses privilégios ou permite a imposição desses anacrónicos dogmas!

28 de Abril, 2005 Carlos Esperança

O papa anti-semita

A ICAR sempre tentou apagar o passado para melhor convencer os incautos da sua bondade. Parece ter esquecido o zelo posto na perseguição dos judeus com os reis católicos de Espanha e com D. Manuel I, em Portugal, zelo que se acentuou sob os auspícios da Inquisição com D. João III, rei que devia pouco à inteligência mas se dedicava profundamente à devoção religiosa. E foi assim em todos os países submetidos à influência de Roma.

O anti-semitismo da ICAR atingiu o apogeu da demência com Pio IX, que chamava «cães» aos judeus, o que não o prejudicou na beatificação com que JP2 havia de distingui-lo depois de lhe ter aprovado um milagre. Ultimamente há uma tentativa para reabilitar Pio XII, outro anti-semita com provas dadas. Não vale a pena falsear a história do Papa de Hitler. É fácil perceber que bastava ter aconselhado os católicos a não colaborarem com o nazismo para que o ditador não tivesse êxito.

Pelo contrário, Pio XII mancomunou-se com Hitler e ordenou à ICAR alemã que renunciasse à acção social e política, que extinguisse os partidos políticos católicos e silenciasse os seus próprios jornais. Seria o Führer a reconhecer essa ajuda como uma grande vitória e um enorme êxito na « luta contra o judaísmo internacional».

Sem a cobarde colaboração da ICAR teria sido impossível a eficácia e rapidez na «certificação racial» de todos os alemães.

Nem quando os judeus de Roma foram enviados para os campos de concentração e extermínio ergueu a voz para denunciar o crime, preocupado que andava com a exiguidade dos trajes femininos que corajosamente vituperava em piedosas homilias.

Por mais lixívia que os panegiristas de serviço usem será impossível desencardir a nódoa Pio XII caída no pano da ICAR, pano conspurcado por demasiadas nódoas acumuladas ao longo de vinte séculos.

Apostila – Mas que poderia esperar-se do sucessor de Pio XI que apoiou activamente a subida ao poder de Benito Mussolini e que, numa missa grandiosa em sua honra, declarou que «Mussolini é um homem que a Divina Providência nos enviou»? A troco dos bons serviços o ditador assinou os Acordos de Latrão que restituiram os Estados Pontifícios à Santa Sé e reconheceu a doutrina católica como primordial em Itália.

28 de Abril, 2005 Palmira Silva

Tolerância cristã

Continua o terrorismo da Igreja Católica timorense para derrubar o governo democraticamente eleito de Mari Alkatiri. Pelo único motivo de este ter decidido fazer uma experiência em 32 escolas do país, nas quais o ensino da religião seria facultativo e, a pior afronta, pago pelas Igrejas.

Depois de verem goradas as expectativas de golpe de estado, já que só conseguiram convencer cerca de cinco mil fanáticos a invadir o palácio governamental e derrubar o governo, a táctica da Igreja Católica passa por exigir ao Presidente da República, Xanana Gusmão, que demita o primeiro-ministro «para assegurar o funcionamento normal das instituições democráticas».

Como a única instituição que pode ser afectada pela decisão do primeiro-ministro é a Igreja Católica, que é a antítese de uma instituição democrática, não se percebe muito bem o fundamento da pretensão da delegação em Timor da opulenta Igreja de Roma. Está certo que vai ter de desembolsar mensalmente 32 salários de professores mas instalar um clima insurreccional por causa desta mísera quantia, especialmente quando pensamos nos milhões de euros que foram gastos na preparação deste último conclave, parece-me demasiado fútil. Porque não pode ser o carácter facultativo da disciplina que indigna os bispos, já que se de facto os timorenses são tão católicos como vociferam os Bispos então todos vão optar livremente por serem proselitados. Claro que a expensas da Igreja e o lema da Igreja sempre foi «Venha a nós o vosso reino»…

De realçar também a reacção do Bispo resignatário de Díli e prémio Nobel da Paz, Ximenes Belo, cuja fantástica e tolerante mediação para a paz passa por aconselhar o governo a desistir da proposta sobre o carácter facultativo da disciplina de Religião e Moral.

«Aconselho as duas partes a resolverem este problema. Ao governo, solicito que arquive aqueles decretos e aos bispos que pautem pelo diálogo», declarou Ximenes Belo à Lusa.

Este conselho é o ex-libris da tolerância cristã: façam como nós queremos, sigam o que mandamos e nós seremos … tolerantes?

Claro que outro «conselho» não se esperaria do ilustre dignitário da Igreja Católica que pediu a expulsão de Timor do jornalista da Lusa António Sampaio por este se ter atrevido a escrever num artigo que Ximenes Belo era conservador!