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7 de Maio, 2005 pfontela

Os amigos de Ratzinger

Não é novidade que Bento XVI não desperta muitas simpatias fora dos círculos (neo)conservadores, mesmo entre católicos. Entre os católicos que não estão muito felizes com esta escolha do espirito santo parece existir uma solução comum para o problema: pura negação, que se traduz na afirmação que: Ratzinger não é Bento XVI. Claro que como todas as ilusões, esta mais tarde ou mais cedo vai ser quebrada (se é que ainda não foi). Mas mesmo sem o apoio entusiástico de parte dos crentes não se pense que Bento XVI anda sozinho pelos corredores do Vaticano. Longe disso, o que não faltam são organizações que são tão fanáticas e fundamentalistas como o próprio papa.

Entre o rol de aliados de Ratzinger encontram-se grupos como: Focolare, Comunhão e libertação, Neocatechumenate, Renovação Carismática. Embora esta explosão de movimentos tenha ocorrido em grande parte com JPII foi sem dúvida Ratzinger que assegurou o seu lugar permanente dentro da ICAR através de duas coisas: conseguir aprovação papal e criar um nicho teológico onde elas se encaixassem – isto foi feito com a defesa da co-essencialidade das dimensões carismática e institucionais da Igreja, sendo que a primeira deve a sua autoridade, prática e teológica, à sua defesa do primado do papado. Mas não é só por partilharem as mesmas posições que o novo papa gosta deles, muitas destas organizações respondem apenas ao seu líder carismático e estão baseadas em Roma (ou perto) o que significa que podem ser mobilizadas, e controladas, directamente do Vaticano (enquadrando-se maravilhosamente no esquema de centralismo que o papado deseja).

Mas é claro que entre o rebanho as coisas não são nada pacíficas, sendo que muitos dentro da ICAR acusam estes grupos de terem uma visão rígida e monolítica, usarem tácticas de recrutamento coercivas, possuírem uma convicção absoluta de estarem a agir sob um mandato directo de deus, agirem sempre em segredo, usarem controlo mental e de promoverem anti-intelectualismo. Mas mais uma vez (e ao contrário do que os católicos gostam de dizer) as suas vozes não tiveram nem têm qualquer peso. Ratzinger não só aprova entusiasticamente este modelo como afirmou que: «é nestes vários movimentos espirituais que a inserção do leigo na Igreja é realizada».

É com estes actores que se vai desenrolar o próximo capitulo do conflito entre a ICAR e o mundo secular, e quem sabe se mesmo entre facções antagónicas dentro da organização. Tenho a esperança que a Europa seja forte o suficiente para se manter firme na caminhada para uma sociedade mais livre mas devo dizer que vislumbro a sombra do clericalismo cada vez mais próxima.

7 de Maio, 2005 Palmira Silva

Desobediência civil

«Por definição, toda religião – toda fé – é intolerante, pois proclama uma verdade que não pode conviver pacificamente com outras que a negam.» Mario Vargas Llosa

A conferência Episcopal espanhola publicou ontem uma nota em que, se tal é possível, exponencia a rejeição da Igreja ao estado de direito, concretizada na reacção à lei que contempla a possibilidade de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. De acordo com estes «peritos» em Direito esta não é uma «verdadeira lei» e exigem aos católicos que se oponham de forma «clara e incisiva» a esta lei iníqua.

Têm sido inúmeros os apelos da hierarquia católica à desobediência civil para, como diz o Bispo de Segorbe-Castellón, Juan Antonio Reig Pla, a actuação dos católicos não ir «contra a sua consciência rectamente formada». Reig Pla, afirmou ainda que um católico «tem que obedecer a Deus antes que aos homens, pois, de contrário, pode-se chegar a um Estado totalitário». O que me induz em dúvida sobre o que o ilustre prelado entende por totalitarismo, já que este é, por definição, o poder de uma doutrina, de uma ideologia, de uma «verdade» indiscutível. Ou seja, um estado democrático nunca pode ser totalitário mas as religiões são inerentemente totalitárias e intolerantes!

Já o Arcebispo de Génova, Cardeal Tarcisio Bertone, opinou que José Luis Zapatero, foi demasiado impulsivo no que considera ser o seu afã de «dar uma bofetada na Igreja» comparando algumas promessas eleitorais de Zapatero, sufragadas em eleições democráticas e livres, à «promessa de Herodes», aludindo à passagem mítica de Herodes e Salomé. «Depois de excitado pela dança da sua enteada (e sobrinha) Salomé, Herodes Antipas lhe disse: ‘peça-me o que quiser, que te darei’. E acrescentou sob juramento: ‘Dar-te-ei o que me pedires, embora seja metade de meu reino’». Do mesmo modo, «há governantes veleidosos que, a fim de arrecadar uns quantos votos, são capazes de dar de presente um reino que nem sequer lhes pertence. Não creio que, chegado o momento, estes governantes tenham incómodo em oferecer numa bandeja a cabeça da Igreja, para manter-se no trono». Certamente que este outro ilustre prelado prefere as monarquias teocráticas, como a dos reis católicos, ou o totalitarismo de Franco (posto no poder com o auxílio do Vaticano) que dominaram durante séculos a Espanha e que ofereceram à Igreja, sem quaisquer incómodos, as cabeças dos que ousaram contrariar os ditames desta.

Para além das habituais tácticas de vitimização que são lugar comum na actuação da Igreja de Roma, os últimos tempos têm sido palco de exibições de totalitarismo muito preocupante por parte da Igreja católica. Tentativas de recuperação do integrismo católico que se manifestam um pouco por todo o globo mas com especial visibilidade em Timor e em Espanha. Como o Diário Ateísta vem alertandomuitos meses a Igreja Católica encontra na conjuntura actual as condições necessárias para restaurar a antiga ordem, fundada no casamento (incestuoso) do poder político com o poder clerical. Com uma integração de todos os elementos da sociedade sob a hegemonia do «poder espiritual» representado, interpretado e proposto pela Igreja Católica, mais uma vez com o seu expoente máximo no Papa, não mais um primum inter pares.

Reitero as minhas expectativas já expressas de que a História recente nos tenha despertado da atitude complacente em relação às religiões e acordado para a ameaça latente que estas constituem para o modelo de sociedade que queremos construir, preconizado na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Que ameaça ruir se não pusermos um freio aos ensejos totalitários e intolerantes das religiões, nomeadamente da Igreja de Roma, e se cedermos às chantagens sob a forma da desobediência civil, tão queridas aos Papas do século XXI, que se vão expectavelmente repetir onde o catolicismo é a religião dominante.

6 de Maio, 2005 jvasco

Preso número três da Al-Qaeda

O alegado número três da rede terrorista Al-Qaeda, Abu Faraj al-Libbi, está sob custódia das forças de segurança paquistanesas, soube-se ontem de fonte oficial em Islamabad, a capital do Paquistão.

A Al-Qaeda, sob a liderança de Bin Laden, é mais do que uma organização terrorista e odiosa. Ela é o símbolo do mal que pode advir do fanatismo e fundamentalismo religiosos. Ela simboliza aquilo que a alienação, obscurantismo e demência associados a este fanatismo podem causar.

Como inimigos do fundamentalismo religioso que os ateus em geral combatem, esta notícia é para nós um forte motivo de alegria.
Todas as vitórias contra o fundamentalismo religioso são de louvar.

5 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Timor, meu amor

Os católicos afirmam que Deus castiga os que mais ama. Se Deus existisse e o sadismo que lhe atribuem se confirmasse, não restavam dúvidas de que Timor Lorosae tinha sido a escolha para a malfeitoria.

Primeiro foi o colonialismo português, depois a ocupação indonésia, agora o despotismo da Igreja católica. Em Timor Lorosae as homilias transpiram ódio, as orações alimentam a intolerância, a eucaristia promove a cegueira. A fé está ávida de sangue, o clero busca o martírio e o poder. Os bispos promovem o obscurantismo e os padres e freiras adubam o fanatismo.

Quem sente o ódio do clero não pode acreditar na bondade do seu Deus. A liberdade é um perigo a esconjurar e a democracia uma criação demoníaca a erradicar. Em Timor Lorosae a teocracia avança alimentada a hóstias e regada a água benta, ao som de cânticos e orações. A volúpia do poder retira a máscara aos bispos e à religião.

Nas trevas da fé medra a aversão à modernidade. A liberdade religiosa é um perigo que pode lançar dúvidas e libertar pessoas. A pílula e o preservativo são invenções satânicas que urge esconjurar. O planeamento familiar é uma ofensa que põe Deus de mau humor. A liberdade e a democracia não vêm na Bíblia. A ICAR amaldiçoa o progresso.

A detenção e agressão a dois portugueses na residência do bispo de Díli, vítimas de julgamento popular por manifestantes católicos, são um crime que fica impune, um acto de violência gratuita, uma manifestação eloquente do que a ICAR é capaz, quando pode. O catolicismo combate e subverte o Estado de direito. Os timorenses continuam reféns da cáfila clerical e das alfurjas diocesanas onde medra o ódio e a intolerância.

Quem sabe se as torpes manifestações de fé, trogloditas e agressivas, não esconde, para além da vocação totalitária da ICAR, uma chantagem pelo dízimo a que se julga com direito – a comparticipação nas receitas da exploração do petróleo no mar de Timor!?

De qualquer modo, a democracia está em perigo como alertou Vital Moreira no artigo «Escalada teocrática», no «Causa Nossa».

5 de Maio, 2005 Palmira Silva

Yom Hashoah

Hoje 5 de Maio de 2005 ou 26 de Nisan no calendário judaico, celebra-se o Dia de Lembrança do Holocausto. Em que se recordam os seis milhões de mortos judeus para que nunca mais seja possível o horror que aconteceu há 60 anos. Para perpetuar a memória e as lições do Holocausto para as futuras gerações e para que imagens como estas nunca mais se repitam!

Mas o Yom Hashoah é também um dia de esperança em que simultaneamente se celebra a revolta heróica no ghetto de Varsóvia em 1943. Assim como as acções dos «Justos entre as Nações». Porque há sempre esperança se todos repudiarmos tiranos em nome de uma ideologia, religião ou do que quer que seja…

5 de Maio, 2005 Ricardo Alves

O padre bom é o padre que se cala e obedece

Segundo a Agência Ecclesia, o teólogo brasileiro Leonardo Boff foi insultado pelo presidente da Conferência Nacional de Bispos do Brasil, Geraldo Majella Agnelo, que afirmou que Boff «não é uma pessoa de fé» e lhe chamou «ingrato».
Estas críticas acontecem após Boff ter declarado que o Papa Bento 16º seria «difícil de amar». Deve notar-se que foi Ratzinger, enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que reduziu Leonardo Boff ao silêncio, proibindo-o de escrever e falar.
Agnelo recordou ao «católico progressista» Boff que outras pessoas foram condenadas ao silêncio e que «nunca abriram a boca para denegrir a Igreja, o Evangelho e o Papa». Por outras palavras, mandou Leonardo Boff calar a boca. A ICAR é, antes de tudo, obediência. A liberdade de expressão não é um valor católico, como todos os católicos, «progressistas» ou não, têm obrigação de saber.
4 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Senhor, dai-lhe a morte

«Crescem as rezas entre os colonos judeus extremistas da Faixa de Gaza para que Ariel Sharon morra ou seja morto» – lê-se hoje em «A Capital», (site indisponível).

É preciso muita fé para tanto ódio. A oração é um placebo mas os crentes não sabem. Deus é uma criação humana mas os fanáticos não acreditam. A morte é um crime ou uma fatalidade biológica mas os devotos julgam-na uma prerrogativa divina.

É nestas alturas que recordo o ódio fanático das doces catequistas da minha infância, a instilar piedosamente o ódio contra judeus, maçons e comunistas. Os primeiros por terem matado Cristo, os segundos porque eram inimigos da ICAR, único veículo homologado para a salvação eterna, e os últimos porque eram ateus e matavam criancinhas.

Desejar a destruição de alguém é um sentimento perverso que se insere na cultura da morte. É um ímpeto totalitário que começa com orações e, em caso de fracasso, passa à bala. Foi o que aconteceu a Yitzhak Rabin. É a orgia da fé no seu máximo esplendor.

Vejam lá, leitores, se encontram diferença entre os radicais islâmicos, estes exaltados judeus, os cristãos evangélicos que assassinam médicos e enfermeiros nos EUA, nas clínicas onde se fazem abortos, ou os católicos que em Timor ameaçam o Palácio do primeiro-ministro que pretende tornar facultativa a aula de religião católica?

Por todo o lado, piedosas cavalgaduras encontram na morte e no ódio a exaltação da fé e a forma de agradarem ao seu Deus.

4 de Maio, 2005 Palmira Silva

Bispos de Timor ensandeceram!

As palavras não são minhas mas podê-lo-iam ser: na página «Notícias Lusófonas» onde tenho recolhido boa parte das notícias do comportamento aberrante, anacrónico e anti-democrático da Igreja católica em Timor, que transcreve notícias da Lusa na sua maioria não utilizadas pela nossa imprensa nacional pode ler-se: Igreja Católica quer que o caos passe ao Poder em Timor-Leste
«Novas exigências da igreja católica timorense inviabilizaram hoje o fim da manifestação anti-governamental que há 16 dias mantém o país em suspenso. Exorbitando todas as suas funções num Estado de Direito, a Igreja parece apostada em levar o país para o caos, indiferente aos apelos do Vaticano e das instituições internacionais. Pediram a mão e o Governo cedeu, agora querem o braço, e depois se verá…»

A situação em Timor parece o proverbial barril de pólvora prestes a explodir a qualquer faísca. E o o porta-voz do Episcopado, padre Domingos Soares, bem se esforça por «incendiar» os ânimos dos manifestantes, sendo certamente um dos visados pela declaração do superintendente-chefe da Polícia Nacional de Timor-Leste de que «alguns padres querem que algo corra mal, para atirarem a culpa para cima da PNTL e do Governo». O piedoso prelado tenta acirrar os ânimos da multidão de fanáticos que arregimentou explicando-lhes como devem actuar no caso de a Polícia utilizar gás lacrimogéneo, bem como a forma de a enfrentar caso os tente dispersar pela força.

O primeiro ministro Alkatiri já fez cedências «importantes» à Igreja, um erro estratégico, e assim a saga continua. E a História permite prever que continuará até ao estabelecimento de uma teocracia se as cedências face à despótica Igreja se mantiverem. Não obstante fontes religiosas sugerirem que os bispos de Timor estão a ser pressionados pelo Vaticano para uma mudança do rumo das reivindicações, cada vez mais claramente de índole política. Sugestão pouco credível já que o Núncio Apostólico esteve recentemente em Díli a apoiar os protestos e subscreve as reinvidicações dos bispos timorenses.

Aliás, a Igreja timorense segue ipsis verbis o preconizado pelo finado Papa, expresso no seu best-seller, «Memória e identidade» em que João Paulo II diz claramente que «Parlamentos que criam e promulgam essas leis devem estar conscientes de que transgridem os seus poderes e se colocam em conflito aberto com a lei de Deus e a lei natural». Aliás em consonância com a encíclica «O Evangelho da Vida» (1995), em que João Paulo pedia a desobediência pública a César em nome de Deus «Quando uma lei civil legitima o aborto ou a eutanásia», escreveu, «deixa de ser, por essa mesma razão, uma verdadeira lei civil, e por isso moralmente obrigatória… Está inteiramente privada de autêntica validade jurídica». Aliás o próximo santo no panteão católico nunca aceitou sem reservas a democracia, a que chamou «uma liberdade que cria escravos», uma nova serpente biblíca a tentar com o fruto do conhecimento populações que certamente preferiria, tal como o actual Papa, manter simples e longe da influência de intelectuais…

4 de Maio, 2005 Mariana de Oliveira

Malditos amuletos

Um homem de cerca de trinta anos chamado, Mamadou Obotimbe Diabikile, tentou assaltar o Banco de Desenvolvimento do Mali convencido de que estava sob a protecção de um feitiço que o tornaria invisível (A Cabra, ed. nº 132, ano XIV, pág. 23). O ladrão foi preso, tendo sido alvejado antes da detenção pelas forças policiais.

De acordo com fonte policial, o homem trazia consigo «cerca de quinze quilos de amuletos» e possuía mais em casa.
Mamadou declarou às autoridades que queria «vingança» e parecia pertencer a uma seita. No entanto, não foi capaz de dar uma explicação coerente para a tentativa de assalto.

A religião e a superstição podem conduzir a estes comportamentos estranhos e absurdos para qualquer um que consiga articular um raciocínio mais ou menos lógico.