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22 de Maio, 2005 jvasco

Religião e obscurantismo III

Já tinha abordado por duas vezes a relação peculiar que por vezes ocorre entre religião e obscurantismo (ver Religião e obscurantismo I e Religião e obscurantismo II).
Esta notícia sobre a proibição do ensino da teoria da selecção natural no Kansas fez-me voltar a pensar nesse assunto, principalmente quando li este trecho da notícia: «para fazer desaparecer a teoria da evolução, as escolas vão ser desencorajadas a ensinar botânica, anatomia e fisiologia».

Torna-se curioso, porque ainda hoje tive acesso a esta referência: uma obra bastante completa sobre a constante batalha que ocorreu ao longo da história ocidental entre teologia cristã e ciência. Dêem uma espreitadela!

21 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Não há Esperança para o Carlos

Ontem, sob o título em epígrafe, o «Afixe», para além do panegírico a um dos mais fundamentalistas católicos da blogosfera, zurziu um escrevinhador do Diário Ateísta, «com idade suficiente para saber e poder medir as palavras e aparentemente imputável» – eu próprio.

Em vez do bem-aventurado Bernardo Motta, quiçá ausente em retiro espiritual ou a ensinar o catecismo na paróquia, apareceu o vigoroso plumitivo Monty para me zurzir com a sanha cristã digna dos tempos em que o JC empunhava o azorrague para expulsar do templo os vendilhões.

O desvelo posto na lavagem da honra ferida do prosélito católico faz-me pensar que são amigos do peito ou da missa, e que a raiva é fruto da síndroma de privação da hóstia e não de um acesso de mau humor.

A táctica para a desforra foi a vitimização, depois de eu ter apresentado desculpas, por julgar erradamente que no «Afixe» vagueava um bando de beatos da laia do Bernardo, o que sei agora não ser verdade, embora o consumo de hóstias seja no «Afixe» infinitamente maior do que no Diário Ateísta.

Quanto ao inefável Bernardo que frequentemente me refere, com a benevolência que os católicos dispensam aos ateus, e cuja tolerância conheço de sobra, mantenho a impressão, quiçá benévola, de que é um talibã da ICAR. Quanto aos outros autores não os conheço, de facto, e seria estultícia pronunciar-me sobre eles.
Apenas o Monty se me afigurou ungido para dilatar a fé e crente na palavra do mestre.

Eis alguns pensamentos do Bernardo da Motta:

– Qualquer pessoa deveria poder abandonar o Islão se o quisesse fazer. Contudo, nesse caso, eu concordo que tal pessoa deveria também abandonar fisicamente o local e a cultura onde o Islão fosse tradição.

– A mulher não é discriminada no Corão.

– A poligamia é uma característica intrínseca ao Islão, e vem referida e legislada no Corão. É uma característica da cultura islâmica, e é óbvio que nos é estranha, a nós, ocidentais, que temos outra cultura. Chamar de «anacronismo» algo que não se conhece não me parece correcto.
Repito, a genuína tradição islâmica, por muito que esteja em vias de extinção como as restantes tradições espalhadas por esse mundo fora, nada tem de anacrónico, visto que é uma via de Verdade, uma Verdade revelada.

Quanto à minha idade, 62 anos, lembro aos devotos de S.S. Bento XVI que sou mais novo 16 anos do que o ex-inquisidor que o Opus Dei, o Espírito Santo e um bando de cardeais fizeram Papa.

21 de Maio, 2005 jvasco

O Afixe, o Bernardo e nós

Nos últimos dias ocorreu uma troca de mensagens entre alguns autores do blogue Afixe e o Carlos Esperança. Independentemente da resposta que sei que ele não deixará de dar, gostaria de partilhar a minha perspectiva sobre tudo isto.

O Bernardo, um dos autores do Afixe, escreveu um artigo no qual acusava o Carlos de «vender a mentira». O artigo era um conjunto de insultos paternalistas, sem qualquer tipo de argumento: o Bernardo dizia que «qualquer estudante de história do 1º ano» poderia refutar facilmente o Carlos, embora pelos vistos ele não se desse ao trabalho de o fazer. Numa troca de comentários subsequente, o Bernardo veio a admitir que não havia qualquer erro nos factos a que o Carlos aludia. Considerava que a opinião deste é que era ilegítima: as Igrejas não tendiam a apoiar as ditaduras que lhes ofereciam o respectibvo quinhão de poder.

Para mim ambas as opiniões, a do Bernardo e do Carlos merecem o seu quinhão de respeito. E mesmo sabendo que o Bernardo tem opiniões com as quais tanto discordo (acreditar em teses que afirmam que a inquisição não foi «tão má como a pintam» – recomendou publicamente esta referência de um revisionismo que muitos classificariam de criminoso – tal como as cruzadas; acreditar que a selecção natural é uma teroria errada, e que apenas o criacionismo explica o começo da vida; acreditar que a teocracia é uma forma de organizar o poder tão legítima como a democracia, etc…) respeito sempre aquilo que escreve e pensa: leio com atenção, e tento ter o máximo de abertura de espírito.

O Bernardo não é, para nós, um autor qualquer. Foi dos primeiros a descobrir o nosso blogue, foi dos primeiros a criticar os nossos artigos. Conhecemo-lo desde o início. Eu gostei das discusões travadas, e sei que me deram algum ânimo para continuar a escrever.

Quando o Bernardo começou a falar de nós no Afixe, comecei a ler esse blogue com regularidade. Acabei por gostar do estilo e prosa de vários autores. O João Garcez, o João Pedro Costa, a Isabel, a Emiéle são, penso eu, os meus favoritos. Lamento por isso, que o Afixe seja um blogue que apenas se refere ao «Diário Ateísta» com uma opinião negativa a nosso respeito.

Será merecido? Não creio.

PS- A referência que o Bernardo apresentou a propósito da inquisição encontra-se agora indisponível. Pode ser que o próprio nos indique onde encontrar novamente a mesma informação noutro local.

21 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Resposta a um fundamentalista

O «Diário as Beiras» não pode assumir a responsabilidade pelos despautérios dos seus colaboradores. Não acusarei, pois, o simpático diário de cúmplice na campanha de terrorismo que grassa em certos meios. É até um sinal de pluralismo que pode provocar justa repulsa pelas posições defendidas.

Em 19 de Maio, o pio colaborador Joaquim Cardozo Duarte (JCD) faz a apologia dos dislates do padre Domingos de Oliveira que na paróquia de Lordelo do Ouro, no Porto, vocifera contra o preservativo e o aborto.

No seu artigo «Aborto e infanticídio» afirma: «O que o padre Domingos disse está certo e mais não é do que aplicar a uma situação concreta o que o Evangelho da Vida, a Encíclica de 1995 de João Paulo II, propõe, sobre a inviolabilidade da vida humana, desde o momento da concepção até à morte natural» [sic].

Acontece que o padre que mereceu a total concordância de JCD afirmou textualmente: «matar uma criança no seio materno ainda é mais grave do que matar uma menina de 5 anos». Para cúmulo, tão iníqua afirmação foi proferida na homilia da missa do 7.º dia, mandada celebrar pela mãe de Vanessa, uma menina de 5 anos assassinada com rara crueldade pelo pai e pela avó e lançada ao rio Douro.

O padre disse com toda a clareza que é menos grave matar cruelmente a menina de 5 anos do que interromper uma gravidez de um embrião de 5 semanas. Isto é terrorismo a que a benevolência do Diário as Beiras deu guarida. JCD solidarizou-se com uma campanha que prima pela baixeza e grosseria.

O padre Domingos Oliveira trouxe-me à memória Frei Gaspar da Encarnação a quem Camilo designava por «santa besta». Claro que eu não me atrevo a usar tal epíteto para o pároco de Lordelo do Ouro, por três razões: porque não o conheço, não quero ser deselegante e ele pode não ser santo.

Obs.: Este texto foi ontem enviado ao jornal onde JCD, sacerdote católico, é colaborador habitual.

21 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Notas piedosas

Irão – A conversão de Hamid Pourmand ao cristianismo, tornando-se pastor protestante, é um acto que a bondade religiosa do Islão não digere. O réprobo arrisca a morte por enforcamento. O Islão é uma religião de paz, como diz o xeque Munir da comunidade islâmica de Lisboa.

Bento XVI – O Papa Ratzinger assegura que «Deus está próximo da humanidade, sobretudo dos pequenos e indigentes para levantar o pobre e levar conforto aos necessitados e aos que sofrem». Sabendo nós o sofrimento por que o Mundo está a passar, podemos imaginar os horrores se, em vez de estar próximo, Deus morasse no planeta Terra.

Católicos e anglicanos – As duas sucursais do cristianismo estão em vias de realizar um acordo sobre a Virgem Maria.(1)

– O dogma católico da Imaculada Conceição, segundo o qual Maria foi preservada , depois da sua concepção, do pecado original, vai ter uma nova redacção que contente as duas filiais.
– A Assunção, um mito católico que garante «a subida de Maria ao Céu, em corpo e alma», após a morte, leva uns retoques para que seja digerido pelos anglicanos.

– O culto da Virgem, um dos mais lucrativos negócios da ICAR, contestado por anglicanos e, sobretudo, protestantes, vai ser objecto de um arranjo entre teólogos para que a aproximação se torne possível.

Os avanços da ICAR para a absorção da Igreja Anglicana vêm de há muito e o Papa conta com a adesão dos anglicanos mais reaccionários à Cúria romana.

Fonte (1): A Agência Ecclesia só manteve a notícia durante algumas horas. O «Público» de ontem deu a notícia, pg. 32.

20 de Maio, 2005 fburnay

Errata por outrém

A agência Ecclesia, numa notícia de há uns dias atrás a respeito da homilia do sr. Jorge Ortiga, deixou passar um erro que, humildemente, me presto a corrigir.

Onde se lê: «Igreja responde com amor aos ataques do laicismo»,
deve ler-se: «Igreja responde com Timor aos ataques do laicismo».

20 de Maio, 2005 jvasco

Vamos supor…

Vamos supor que, numa determinada mitologia religiosa, se poderia provar logicamente (por A+B) que o mítico Deus seria extremamente cruel.

Vamos supor que, de acordo com a mesma mitologia, esse Deus poderia castigar quem sequer pensasse que ele é cruel com sofrimento eterno.


o resto da imagem
Imagem gentilmente cedida pelo Luís Miguel e João Félix, a quem agradeço

Não seria normal que quem acreditasse nessa mitolgia tivesse tendência a não querer encarar o raciocínio a partir do qual se provaria a crueldade desse tal Deus?

Não seria normal que quem acreditasse nessa mitologia reagisse a tal raciocínio com respostas evasivas ou refutações assentes em falácias?

Não seria normal que, esgotadas, por força das circunstâncias, as refutações falaciosas, ou as evasões descaradas, os crentes dessa mitologia apelassem para a trancendentalidade, princípio segundo o qual a lógica humana valeria pouco para entender tais questões?

Enfim…
Não existindo Deus, o mundo deveria ser exactamente como é. O mundo, as pessoas, as crenças, os argumentos dos crentes.

20 de Maio, 2005 Ricardo Alves

Três bispos em «jihad»

A decisão da Ministra da Educação de fazer cumprir a lei, terminando quer com a presença de crucifixos nas salas de aula, quer com os rituais religiosos nas escolas públicas, conseguiu irritar três bispos católicos no espaço de uma semana.
O sinal de partida foi dado por Jorge Ortiga (o presidente da CEP) na sua homilia de domingo, transmitida pela TVI, quando este fez alusões algo cifradas dirigidas a quem «queira retirar os sinais exteriores reveladores da cultura cristã da sociedade». A Ecclesia descodificou diligentemente essas alusões, colocando como subtítulo da notícia: «indirectas à intenção do Governo em retirar crucifixos das escolas».
Na terça-feira, o outro bispo de Braga, Dias Nogueira, no semanário O Diabo, acusou a Associação República e Laicidade de «xenofobia», de «combater a liberdade e a vontade da maioria» e acrescentou algumas insinuações extravagantes sobre teocracias islâmicas em que os cristãos, se «fizessem qualquer campanha para retirar o crescente das escolas (…) eram queimados (…) até poderiam ser condenados à morte», numa diatribe que pode ser lida como pretendendo ameaçar os laicistas com as fogueiras do Santo Ofício.
Finalmente, na quinta-feira entrou na luta política o bispo de Aveiro, António Marcelino, num editorial do Correio do Vouga. Com as boas maneiras e o rigor histórico que lhe advêm da sua formação católica, este bispo não hesita mesmo em lançar atoardas ordinárias sobre a «família laica (…) gente de que ninguém conhece nem pai nem mãe», atreve-se a ironizar com um «regime pidesco» que a ICAR historicamente apoiou e ameaça com uma «guerra religiosa».
Resumindo: estalou o verniz aos senhores bispos, por o Ministério de uma República que eles reconhecem ser laica ter decidido retirar os crucifixos de uma casa que não é deles. Mas já que de boas maneiras e rigor histórico estamos conversados, vamos lá a recapitular o que diz a lei…
  1. «O ensino público não será confessional» (artigo 43º da Constituição da República de que eu e os senhores bispos somos cidadãos);
  2. «Ninguém pode ser perguntado por qualquer autoridade acerca das suas convicções ou prática religiosa» (artigo 41º da mesma CRP);
  3. «Ninguém pode (…) ser obrigado a professar uma crença religiosa, a praticar ou a assistir a actos de culto, a receber assistência religiosa ou propaganda em matéria religiosa (…)» (artigo 9º da Lei da Liberdade Religiosa).

Chega, senhores bispos? Se não chega, podemos discutir a questão no plano dos princípios. Eu estou pronto a defender o direito de qualquer católico a que não lhe seja imposto o crescente islâmico, durante a escolaridade que é obrigatória e paga por todos. Do mesmo modo, defendo que o muçulmano não deve ser obrigado a conviver com símbolos de outra religião nesse mesmo espaço. As escolas não são igrejas, nem são propriedade da ICAR. As escolas são para aprender, não são para rezar. Rezem nas vossas igrejas, dêem a catequese a quem o desejar, tenham crucifixos nas igrejas ou nas vossas casas. Os senhores bispos pretendem que a adesão à vossa religião seja livre, ou que resulte da imposição sistemática de símbolos e rituais? Se querem a segunda resposta, a «guerra», caros senhores, não é apenas com os laicistas, é com o regime democrático. Meditai nisso. Portugal não é Timor. E finalmente, se quereis ser referências éticas, deveis abster-vos de palavras belicosas e de mau gosto…

19 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Fascismo e catolicismo

A entusiástica aliança entre o clero católico e uma das mais ferozes ditaduras do século XX é uma evidência que envergonha e causa repulsa. Todavia, o episcopado espanhol ainda hoje sente uma enorme nostalgia.

Essa criminosa e recíproca promiscuidade produziu centenas de milhares de assassinatos e numerosos santos. O mais conhecido destes é Escrivá de Balaguer.

Serão os dignitários católicos da fotografia uma montagem para embaraçar o Bernardo Motta do «Afixe»?

Post scriptum – Além da ICAR, Franco contou com a ajuda de Hitler para derrubar o Governo republicano eleito.