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21 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Resposta a um fundamentalista

O «Diário as Beiras» não pode assumir a responsabilidade pelos despautérios dos seus colaboradores. Não acusarei, pois, o simpático diário de cúmplice na campanha de terrorismo que grassa em certos meios. É até um sinal de pluralismo que pode provocar justa repulsa pelas posições defendidas.

Em 19 de Maio, o pio colaborador Joaquim Cardozo Duarte (JCD) faz a apologia dos dislates do padre Domingos de Oliveira que na paróquia de Lordelo do Ouro, no Porto, vocifera contra o preservativo e o aborto.

No seu artigo «Aborto e infanticídio» afirma: «O que o padre Domingos disse está certo e mais não é do que aplicar a uma situação concreta o que o Evangelho da Vida, a Encíclica de 1995 de João Paulo II, propõe, sobre a inviolabilidade da vida humana, desde o momento da concepção até à morte natural» [sic].

Acontece que o padre que mereceu a total concordância de JCD afirmou textualmente: «matar uma criança no seio materno ainda é mais grave do que matar uma menina de 5 anos». Para cúmulo, tão iníqua afirmação foi proferida na homilia da missa do 7.º dia, mandada celebrar pela mãe de Vanessa, uma menina de 5 anos assassinada com rara crueldade pelo pai e pela avó e lançada ao rio Douro.

O padre disse com toda a clareza que é menos grave matar cruelmente a menina de 5 anos do que interromper uma gravidez de um embrião de 5 semanas. Isto é terrorismo a que a benevolência do Diário as Beiras deu guarida. JCD solidarizou-se com uma campanha que prima pela baixeza e grosseria.

O padre Domingos Oliveira trouxe-me à memória Frei Gaspar da Encarnação a quem Camilo designava por «santa besta». Claro que eu não me atrevo a usar tal epíteto para o pároco de Lordelo do Ouro, por três razões: porque não o conheço, não quero ser deselegante e ele pode não ser santo.

Obs.: Este texto foi ontem enviado ao jornal onde JCD, sacerdote católico, é colaborador habitual.

21 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Notas piedosas

Irão – A conversão de Hamid Pourmand ao cristianismo, tornando-se pastor protestante, é um acto que a bondade religiosa do Islão não digere. O réprobo arrisca a morte por enforcamento. O Islão é uma religião de paz, como diz o xeque Munir da comunidade islâmica de Lisboa.

Bento XVI – O Papa Ratzinger assegura que «Deus está próximo da humanidade, sobretudo dos pequenos e indigentes para levantar o pobre e levar conforto aos necessitados e aos que sofrem». Sabendo nós o sofrimento por que o Mundo está a passar, podemos imaginar os horrores se, em vez de estar próximo, Deus morasse no planeta Terra.

Católicos e anglicanos – As duas sucursais do cristianismo estão em vias de realizar um acordo sobre a Virgem Maria.(1)

– O dogma católico da Imaculada Conceição, segundo o qual Maria foi preservada , depois da sua concepção, do pecado original, vai ter uma nova redacção que contente as duas filiais.
– A Assunção, um mito católico que garante «a subida de Maria ao Céu, em corpo e alma», após a morte, leva uns retoques para que seja digerido pelos anglicanos.

– O culto da Virgem, um dos mais lucrativos negócios da ICAR, contestado por anglicanos e, sobretudo, protestantes, vai ser objecto de um arranjo entre teólogos para que a aproximação se torne possível.

Os avanços da ICAR para a absorção da Igreja Anglicana vêm de há muito e o Papa conta com a adesão dos anglicanos mais reaccionários à Cúria romana.

Fonte (1): A Agência Ecclesia só manteve a notícia durante algumas horas. O «Público» de ontem deu a notícia, pg. 32.

20 de Maio, 2005 fburnay

Errata por outrém

A agência Ecclesia, numa notícia de há uns dias atrás a respeito da homilia do sr. Jorge Ortiga, deixou passar um erro que, humildemente, me presto a corrigir.

Onde se lê: «Igreja responde com amor aos ataques do laicismo»,
deve ler-se: «Igreja responde com Timor aos ataques do laicismo».

20 de Maio, 2005 jvasco

Vamos supor…

Vamos supor que, numa determinada mitologia religiosa, se poderia provar logicamente (por A+B) que o mítico Deus seria extremamente cruel.

Vamos supor que, de acordo com a mesma mitologia, esse Deus poderia castigar quem sequer pensasse que ele é cruel com sofrimento eterno.


o resto da imagem
Imagem gentilmente cedida pelo Luís Miguel e João Félix, a quem agradeço

Não seria normal que quem acreditasse nessa mitolgia tivesse tendência a não querer encarar o raciocínio a partir do qual se provaria a crueldade desse tal Deus?

Não seria normal que quem acreditasse nessa mitologia reagisse a tal raciocínio com respostas evasivas ou refutações assentes em falácias?

Não seria normal que, esgotadas, por força das circunstâncias, as refutações falaciosas, ou as evasões descaradas, os crentes dessa mitologia apelassem para a trancendentalidade, princípio segundo o qual a lógica humana valeria pouco para entender tais questões?

Enfim…
Não existindo Deus, o mundo deveria ser exactamente como é. O mundo, as pessoas, as crenças, os argumentos dos crentes.

20 de Maio, 2005 Ricardo Alves

Três bispos em «jihad»

A decisão da Ministra da Educação de fazer cumprir a lei, terminando quer com a presença de crucifixos nas salas de aula, quer com os rituais religiosos nas escolas públicas, conseguiu irritar três bispos católicos no espaço de uma semana.
O sinal de partida foi dado por Jorge Ortiga (o presidente da CEP) na sua homilia de domingo, transmitida pela TVI, quando este fez alusões algo cifradas dirigidas a quem «queira retirar os sinais exteriores reveladores da cultura cristã da sociedade». A Ecclesia descodificou diligentemente essas alusões, colocando como subtítulo da notícia: «indirectas à intenção do Governo em retirar crucifixos das escolas».
Na terça-feira, o outro bispo de Braga, Dias Nogueira, no semanário O Diabo, acusou a Associação República e Laicidade de «xenofobia», de «combater a liberdade e a vontade da maioria» e acrescentou algumas insinuações extravagantes sobre teocracias islâmicas em que os cristãos, se «fizessem qualquer campanha para retirar o crescente das escolas (…) eram queimados (…) até poderiam ser condenados à morte», numa diatribe que pode ser lida como pretendendo ameaçar os laicistas com as fogueiras do Santo Ofício.
Finalmente, na quinta-feira entrou na luta política o bispo de Aveiro, António Marcelino, num editorial do Correio do Vouga. Com as boas maneiras e o rigor histórico que lhe advêm da sua formação católica, este bispo não hesita mesmo em lançar atoardas ordinárias sobre a «família laica (…) gente de que ninguém conhece nem pai nem mãe», atreve-se a ironizar com um «regime pidesco» que a ICAR historicamente apoiou e ameaça com uma «guerra religiosa».
Resumindo: estalou o verniz aos senhores bispos, por o Ministério de uma República que eles reconhecem ser laica ter decidido retirar os crucifixos de uma casa que não é deles. Mas já que de boas maneiras e rigor histórico estamos conversados, vamos lá a recapitular o que diz a lei…
  1. «O ensino público não será confessional» (artigo 43º da Constituição da República de que eu e os senhores bispos somos cidadãos);
  2. «Ninguém pode ser perguntado por qualquer autoridade acerca das suas convicções ou prática religiosa» (artigo 41º da mesma CRP);
  3. «Ninguém pode (…) ser obrigado a professar uma crença religiosa, a praticar ou a assistir a actos de culto, a receber assistência religiosa ou propaganda em matéria religiosa (…)» (artigo 9º da Lei da Liberdade Religiosa).

Chega, senhores bispos? Se não chega, podemos discutir a questão no plano dos princípios. Eu estou pronto a defender o direito de qualquer católico a que não lhe seja imposto o crescente islâmico, durante a escolaridade que é obrigatória e paga por todos. Do mesmo modo, defendo que o muçulmano não deve ser obrigado a conviver com símbolos de outra religião nesse mesmo espaço. As escolas não são igrejas, nem são propriedade da ICAR. As escolas são para aprender, não são para rezar. Rezem nas vossas igrejas, dêem a catequese a quem o desejar, tenham crucifixos nas igrejas ou nas vossas casas. Os senhores bispos pretendem que a adesão à vossa religião seja livre, ou que resulte da imposição sistemática de símbolos e rituais? Se querem a segunda resposta, a «guerra», caros senhores, não é apenas com os laicistas, é com o regime democrático. Meditai nisso. Portugal não é Timor. E finalmente, se quereis ser referências éticas, deveis abster-vos de palavras belicosas e de mau gosto…

19 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Fascismo e catolicismo

A entusiástica aliança entre o clero católico e uma das mais ferozes ditaduras do século XX é uma evidência que envergonha e causa repulsa. Todavia, o episcopado espanhol ainda hoje sente uma enorme nostalgia.

Essa criminosa e recíproca promiscuidade produziu centenas de milhares de assassinatos e numerosos santos. O mais conhecido destes é Escrivá de Balaguer.

Serão os dignitários católicos da fotografia uma montagem para embaraçar o Bernardo Motta do «Afixe»?

Post scriptum – Além da ICAR, Franco contou com a ajuda de Hitler para derrubar o Governo republicano eleito.

19 de Maio, 2005 Carlos Esperança

A fé é incompatível com a verdade

O «Afixe» cujo rigor intelectual se pauta pela intransigente defesa das malfeitorias da ICAR e cujos colaboradores estão mais interessados na salvação da alma do que na defesa da verdade histórica, usam várias tácticas:

1 – negar as evidências;

2 – branquear os crimes da ICAR;

3 – dar por adquirido que os dogmas são para ser levados a sério;

4 – ignorar «milagres» da ICAR por fazerem corar de vergonha qualquer ser pensante;

5 – Não dar publicidade ao milagre que JP2 fez, a dar a eucaristia – curar um tumor cerebral. (Não se sabe se a hóstia foi usada como bisturi ou como quimioterapia).

Em face da foto que se encontra no Diário Ateísta, no artigo «Vicissitudes da fé», o Afixe tece uns comentários sob o título «A mentira vende» assinado pelo inefável prosélito Bernardo Motta. Esqueceu-se apenas de dizer se os dois bispos que aparecem a fazer a saudação nazi são dois coronéis das SS, disfarçados de clérigos, para sujarem a imaculada reputação da ICAR.

Adenda – Após a publicação deste texto tive conhecimento de que o trogloditismo primário do Bernardo Motta não é apanágio de todos os colaboradores do «Afixe». Do facto peço desculpa aos que a religião não tolheu o entendimento. 19-05-2005 22:51:40

18 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Os padres e o IRS

O dinheiro das missas fica isento de IRS, de acordo com o estipulado numa circular do director-geral dos Impostos, Paulo Moita Macedo ? anuncia hoje o «Público».

Não se vê por que razão as conferências pagas a eminentes professores não tenham um tratamento igual.Talvez porque a ciência deva ser tributada e a fé mereça ficar isenta.

Por esta lógica, enquanto as consultas médicas são tributadas – e bem – as consultas das quiromantes e as receitas das bruxas devem merecer igual isenção.

No IRS, como no resto, todos os cidadãos são iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.

18 de Maio, 2005 Palmira Silva

De Rerum Natura

No século XXI, o extraordinário progresso da biologia e da medicina alterou radicalmente as condições de vida e de morte da humanidade. Este progresso científico reflectiu-se na alteração de alguns conceitos morais e sociais, e na necessidade de actualização da ordem jurídica face a questões novas.

Mas este progresso científico não foi interiorizado pela sociedade na sua globalidade e nomeadamente na questão do aborto assistimos por parte dos que se denominam pró-vida -subentendida humana claro- a um esgrimir de argumentos supostos científicos misturados com outros de natureza moral/religiosa, sempre numa óptica redutora e maniqueísta.

O aborto clandestino e as mulheres mortas ou com problemas de saúde em consequência das deficientes condições em que esses abortos clandestinos se realizam são realidades incontestáveis. Legalizar o aborto é a única forma de diminuir a violência contra as mulheres e a própria sociedade no seu conjunto. E não implica a defesa incondicional ou leviana do aborto, apenas a possibilidade de humanizar e dar condições a uma prática que, queiramos ou não, é uma realidade.

E a questão a que devemos tentar responder neste tema deve ser: qual o estatuto moral do embrião? Ou por outras palavras, em que altura do desenvolvimento desta nova forma de vida humana a consideramos uma pessoa, com pleno direito à vida?

Pessoalmente atribuo ao embrião apenas o valor biológico que lhe é devido, sem qualquer valoração metafísica nem sacralidade. Porque a concepção não é um momento sagrado nem absoluto. Há um contínuo de vida desde os gâmetas (espermatozóide e óvulo) zigoto, entidade multicelular, embrião, feto e criança recém-nascida. Não há nenhum momento em que a vida «começa» porque ela nunca acabou, e certamente ninguém tenta chamar crime à menstruação ou à masturbação masculina. Assim como não é crime dispôr dos embriões excedentários da fertilização in vitro. Qual a razão porque deve ser criminalizada a disposição de óvulos fertilizados in vivo indesejados?

Porque a ciência não indica referenciais para o começo de vida. Indica apenas referenciais para a distinção entre um monte de células e um ser que começa a exibir uma forma de consciência – a consciência nuclear – que é comum a humanos e outros animais e não está dependente das capacidades cognitivas. Consciência nuclear que surge quando se começam a estabelecer as sinapses neuronais que permitem ao feto ter consciência de si e do meio exterior e que, em especial, lhe permitem sentir dor. No terceiro trimestre de gravidez!

Há assim várias concepções sobre o início de uma nova pessoa. Religiosas, científicas e filosóficas. Não cabe ao Estado nem a um determinado grupo escolher uma delas como a única credível e impô-la a toda a sociedade!