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30 de Maio, 2005 André Esteves

Vocações, cerveja e uma garrafa de rum!!

Pela BBC, chega-nos a notícia de que o cardeal Cormac Murphy-O’Connor preocupado com a crise das vocações na Inglaterra, irá propor em carta apostólica, a colocação de publicidade às vocações nos panos que cobrem as mesas dos pubs.

Sua Apostólica Excelência demonstra assim uma enorme perspicácia na dinâmica das vocações. Quem é que quer vestir o capelo e agitar o hissope quando encontra uma maior satisfação espiritual numa borcada de ambrósia escura e enlevada, como uma Guiness?!

No entanto na minha perspectiva, os perigos são maiores que os benefícios nesta cruzada espiritual. Os leais frequentadores de pubs e crentes nas virtudes medicinais da fermentada cevada celta poderão se encontrar a si próprios, depois de uma noite bem regada, a ressacar num qualquer seminário, pois terão sentido o chamamento divino entre o vigésimo copo de cerveja e a ida á casa de banho. Resumindo: uma ressaca dos diabos!!

Um facto curioso são as semelhanças entre esta proposta de «Marketing» e as estratégias de recrutamento que os antigos bucaneiros ingleses, irlandeses e americanos usavam. Um recrutador com um estômago do caraças embebedava uma sala inteira enquanto embelezava as maravilhas de um emprego em alto-mar a bordo do navio do empregador. Quando os convivas já tinham alcançado o coma alcóolico, levavam-se os então «recrutados» para bordo…

Mas longe de mim comparar os seminários a barcos de piratas, o que me preocupa é se os abençoados com a vocação não perderão o seu quinhão de rum! É que era a única maneira de manter os marinheiros a bordo desses navios e parece-me que o mesmo se arrisca a acontecer nos seminários…

29 de Maio, 2005 fburnay

George Orwell II

3 = 1

Sendo reputadíssimas escolas de como acreditar em algo e no seu oposto ao mesmo tempo, as religiões merecem certamente um diploma em Doublethink.

Seguindo o exemplo da ICAR, não vou mencionar as inúmeras contradições bíblicas já que o comum católico não lê a Bíblia. Em vez disso talvez seja mais interessante pegar naquilo que a maioria dos crentes assimila na sua formação religiosa.

A ICAR apresenta-nos uma divindade única e tríplice. Esse deus é o criador de tudo. Mas Jesus, filho de Deus, não foi criado, foi gerado. Jesus, igual em tudo aos homens excepto no pecado, nasceu de uma virgem, é capaz de realizar milagres, subiu aos céus e, aparentemente, ainda não morreu. Jesus é certamente daqueles homens mais iguais do que os outros.

Na doutrina catecista da ICAR encontram-se vários exemplos de doublethink: «Não matarás», reza o mandamento. Nada de aborto, nada de eutanásia, presume-se. Mas a pena de morte, estranhamente, já faz sentido. Tal como a guerra pode ser justa.
Também a superstição é condenada no catolicismo. A prática de magia, a idolatria, adivinhações e afins são crendices pecaminosas. Ao mesmo tempo o clero transforma água da companhia em água benta, vinho em sangue, pão em carne, limpa os pecados das almas dos seguidores e prega em templos pejados de ídolos – as divindades multiplicam-se segundo a latitude – advertindo a multidão para o tempo que há de vir.

Isto para não falar da misoginia do clero que diz respeitar muito o género feminino, apontando como prova Maria, Mãe de Jesus, auto-proclamada Escrava do Senhor. Homossexualidade é uma atitude sexual contra-natura por não preceder «de uma complementaridade afectiva e sexual verdadeira». Com o celibato não se passa a mesma coisa.

Acreditar que o mundo não tem criador é impossível para o crente. Acreditar que esse criador nunca foi criado nem espanto causa.
A vida depois da morte é garantida no catolicismo mas a crença em vidas passadas é descabida e supersticiosa.
Chamar um crente à razão é vê-lo, se for esperto o suficiente, declarar que Deus está para além da lógica humana. Crimestop, diria Orwell…

29 de Maio, 2005 Carlos Esperança

O ateísmo e o «Público»

Depois do massacre mediático a que a lenta agonia de um papa e a rápida eleição de outro deram origem, seis páginas sobre ateísmo, da Revista XIS (integrante do «Público» de 28 de Maio, com chamada de 1.ª página) pareceu-me uma auspiciosa compensação para ressarcir os incréus das duras provações a que foram condenados.

Foi, pois, com entusiasmo que me atirei à leitura. Em vez do almejado prémio, saiu-me uma penitência pior do que ir a pé a Fátima. Em vez de uma entrevista a ateus que dessem uma visão da vida sem borrifos de hissope nem odores de incenso, apareceram dois crentes a falar do ateísmo.

A jornalista Inês Menezes começou por ouvir Michel Renaud, «professor catedrático, membro do Instituto de Bioética da Universidade católica Portuguesa e um dos mais ilustres e eloquentes pensadores da actualidade». [sic]

Arredado dos caminhos da santidade, não estranhei a lacuna cultural, ignorando o autor famoso, mas conhecendo os enciclopedistas franceses e numerosos existencialistas e marxistas ateus, aceitável a quem prefere uma biblioteca a uma sacristia. Acrescentei um pio pensador aos conhecimentos e à penitência.

Após tão rude prova, julguei que o outro entrevistado fosse um ateu respeitado, alguém indiferente a que as pessoas da Santíssima Trindade fossem três ou trezentas, que não distinguisse a água benta da outra e que estivesse desinteressado da salvação da alma.

Nada disso. Saiu-me de novo um crente de alto gabarito, Vasco Pinto Magalhães, «jesuíta, licenciado em Filosofia e Teologia e co-fundador do Centro de estudos de Bioética. Actualmente é responsável pela formação inicial dos jesuítas e autor de vários livros sobre a fé».

Agora, espero que no próximo número da «Revista XIS» apareça, para compensar o «dossier ateísmo», um dossiê sobre a fé e que convidem dois ateus para esclarecerem o que leva pessoas inteligentes a acreditar que a sua religião é a única verdadeira e que há mais vida para além da morte.

Na minha opinião, não há a mais leve suspeita da existência de Deus nem ele faz algo para o provar. Contrariamente ao que afirma Inês Menezes, não «andamos todos à procura de outros deuses, capazes de responderem aos nossos anseios», quando não temos um deus por conta.

Eu, pelo menos, não ando. Pergunte a outros ateus.

Nota: Este texto foi enviado ao «Publico», com cópia para a jornalista Inês Menezes.

28 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Oriana Fallaci

Um juiz italiano pretende julgar Oriana Fallaci, conhecida jornalista que vive actualmente em Nona York, por difamação do Islão, para gáudio dos islamistas, em geral, e dos mullahs, em particular.

O juiz acusa o seu livro «A força da razão», de 2004, de incitamento ao ódio religioso pois a autora escreveu que o islão «semeia o ódio no lugar do amor e escravidão no lugar da liberdade».

O juiz António Grasso, de Bérgamo, considera que algumas palavras da jornalista são «sem dúvida ofensivas para o islão e para os que praticam essa fé».

O Juiz tem toda a razão. Eu li o livro e verifiquei que Oriana Fallaci ofendeu o islão. Conta a forma demente como a mulher é tratada nos países islâmicos, fala do ódio que o Corão prega, reproduz os abjectos ensinamentos e corrobora tudo o que sabemos sobre o desrespeito do islão pelas mais elementares liberdades e pelos direitos mais sagrados da democracia.

Porventura o islão não ofende a razão e a liberdade? Acaso os clérigos muçulmanos estão disponíveis para abdicarem da pena de morte em relação à apostasia, à blasfémia e ao adultério? Reconhece o islão o direito à liberdade e à democracia? Não é, por acaso, o Corão o instrumento do ódio aos infiéis, da repressão das mulheres e da alienação dos crentes?

A simples tentativa de julgar quem denuncia a iniquidade de uma forma vigorosa é uma ofensa à liberdade, uma perversão da democracia, um atentado contra a civilização.

O multiculturalismo, desejável e louvável, tem de terminar onde começam os direitos consagrados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem. Proceder de forma diferente é regressar à barbárie, abrir o caminho à substituição da democracia pela loucura teocrática, substituir o sistema representativo, que resulta de eleições livres, pelas determinações dos livros sagrados. É, em suma, substituir os defeitos dos homens pela loucura de Deus.

Fonte da notícia: Público de 27-05-2005

28 de Maio, 2005 Palmira Silva

Afeganistão libertado dos talibãs?

Shaima Rezayee, apresentadora do equivalente afegão da MTV, foi assassinada a tiro em sua casa por um desconhecido. A polícia acredita que o assassínio está ligado ao seu anterior trabalho como «veejay» no programa Hop, da estação privada Tolo TV.

Há cerca de dois meses a apresentadora de 24 anos, que conquistara as novas gerações afegãs no programa com o maior índice de audiências no Afeganistão, foi despedida por pressão dos mullahs que a acusavam de transmitir valores não islâmicos. Não só pela música em si mas também pelo facto de ser uma mulher, numa profissão que os talibãs queriam exlusivamente masculina, que ainda por cima rejeitara o shalwar kameez e a burka.

Em Março último o Conselho nacional dos Ulema, um painel governamental de religiosos, emitiu uma declaração acusando a estação e, principalmente, o programa Hop, de transmitir conteúdos que são contra o Islão e os valores nacionais do Afeganistão.

Shaima Rezayee esperava que o seu comportamento pouco tradicional encorajasse mais mulheres a desafiar as regras impostas pelos talibãs. Um fanático fundamentalista cortou cerce essa e todas as esperanças da jovem afegã. No Afeganistão as mulheres continuam reféns da religião e dos talibãs que a impõem…

27 de Maio, 2005 Palmira Silva

Ameaça IDiota na Europa

O director de uma escola protestante na Holanda foi aconselhado a «descansar» uns dias em casa depois de vigorosas argumentações com os docentes do Augustinus College, em Groningen, para que estes aderissem ao criacionismo cristão.

Peter Boon,vice-presidente do CDA (partido democrata cristão) , declarou numa entrevista ao jornal Dagblad van het Noorden que não podia tolerar que um dos seus professores se declarasse aos alunos como um seguidor da teoria da evolução.

Boon afirmou ainda que continuará, quiçá menos vigorosamente, as discussões sobre o tema com os docentes da escola e que «Estou convencido que encontraremos o caminho para a sabedoria».

Quiçá espere contar com a ajuda da ministra holandesa da Educação Cultura e Ciência, Maria Van der Hoeven, que anunciou recentemente ser favorável à realização de um debate sobre os méritos relativos do desenho inteligente (ID) versus evolucionismo. Porque não acredita em «coincidências», acha que o evolucionismo não é uma «teoria completa» e gosta da ideia de que a vida na Terra foi «planeada»! Felizmente que, por agora, nem os seus colegas de partido subscrevem a ideia!

Portanto quem acha que as IDiotias se restringem ao Novo Continente deveria reconsiderar… Depois de Silvio Berlusconi, que queria retirar o evolucionismo dos curricula escolares e só cedeu depois de uma semana de protestos massivos e da ministra da Educação da Sérvia, Ljiljana Colic, que suspendeu o ensino da evolução e apenas o permitia se em paralelo fosse ensinado o criacionismo, o fundamentalismo criacionista ataca agora a Holanda!

27 de Maio, 2005 Palmira Silva

IDiotas: metereologia o próximo alvo?

Galileu marcou o nascimento não somente de uma nova física mas também de uma nova concepção do mundo. O conflito cosmológico foi na realidade um conflito ideológico cujas implicações de poder/política determinaram as posições dos envolvidos, nomeadamente da Igreja Católica. Com efeito, qual seria o poder dos príncipes, (vide o livro de Maquiavel do mesmo nome), sejam estes príncipes da Igreja ou governantes por direito divino, se a ordem das coisas fosse regida por leis simples e materialistas e não por vontade divina? Se os fenómenos terrestres forem rigorosa e naturalisticamente determinados, não é apenas Deus que está em causa mas especialmente os seus «representantes» na Terra, sejam governantes ou membros das hierarquias religiosas. Que deixam de ser credíveis para interceder junto a Deus pela concessão de «milagres» sortidos!

Como tal, não percebo porque os defensores do desenho inteligente (ID) têm como alvo da sua sanha persecutória apenas o evolucionismo. Philip Johnson, um dos fundadores do movimento ID, explica as suas razões numa entrevista ao Washington Post:

«Compreendi que… se uma explicação Darwinista pura fosse correcta e a vida não passasse de um processo material não desenhado então a metafísica e crenças cristãs são fantasias».

Ou seja, não percebo porque razão Philip Jonhson e seus correligionários afirmam apenas em relação ao evolucionismo que este é na realidade uma forma de disseminaçao do ateísmo por ser uma filosofia ateísta, materialista e naturalista. Porque todas as ciências são naturalistas e materialistas, caso contrário não seriam ciências, logo, de acordo com os ilustres IDiotas, todas elas deveriam tornar «fantasias» «a metafísica e crenças cristãs». Não percebo assim por que os que se afrontam com o «ateu» evolucionismo não assestam baterias noutras ciências, francamente mais atentórias da «verdade» da Bíblia. Por exemplo a medicina, geologia, física, química ou a meteorologia! Afinal até ao século XVIII os cristãos acreditavam que os relâmpagos, dilúvios, terramotos e outras catástrofes climáticas naturais eram retribuição divina aos pecados dos homens! Porque na Bíblia há mais «evidências» que Deus controla o clima do que a biologia:

Génesis 7:4 «Em apenas mais sete dias farei chover sobre a terra por quarenta dias e quarenta noites.»
Deuteronómio 11:14 «Então darei certamente chuva à vossa terra no seu tempo designado, a chuva outonal e a chuva primaveril.»
Samuel 12:18 «Samuel clamou a Deus e Deus passou a dar trovões e chuva naquele dia, de modo que todo o povo ficou com muito temor de Deus e de Samuel.»
Marcos 4:39 «Ele [Jesus, com o poder de Deus], acordando, censurou o vento e disse ao mar: ‘Silêncio! Cala-te!’ E o vento cessou, e deu-se uma grande calmaria.»

O controlo absoluto de Deus sobre o clima é ainda evidenciado em, por exemplo, Êxodo 10:13; Isaías 11:15; Jeremias 4:12 e 10:13; Ezequiel 13:13; Zacarias 10:1; Lucas 8:25; Jonas 1: 4 e 4:8.

Não serão as previsões metereológicas, que nunca mencionam «vontades divinas» «Deus» ou quaisquer causas não naturais, tão «ateístas» (isto é, materialistas/naturalistas) como a evolução? Ou será a medicina ateísta por não contemplar causas não naturalistas ou sobrenaturais para uma doença?

Muitos cristãos ainda rezam por chuva ou pela saúde própria ou de um ente querido mas seria absurdo querer transpôr para as salas de aula «teorias» alternativas de «intervenção divina» à «naturalista meteorologia» pelo facto de que há alguns fenómenos climatéricos que ainda permanecem inexplicados ou de que os cientistas ainda não preveêm correctamente o clima. O mesmo em relação à medicina!

Assim não percebo porque razão para os iluminados criacionistas o evolucionismo promove o ateísmo e deve ser ensinado «equilibrado» com a necessidade de um criador e a metereologia não. Ou será que a metereologia já está inscrita na lista das ciências a precisar de redefinição por «virar inúmeras mentes contra o evangelho de Cristo e a autoridade das Escrituras»?

27 de Maio, 2005 Palmira Silva

Museu da criação ou Museu do Disparate?

«O museu da Criação proclamará ao mundo que a Bíblia é a autoridade suprema em todas as matérias de fé e práticas e em todas as áreas que toca. Este museu «passeando pela História» será uma maravilhosa alternativa aos evolucionistas museus de História Natural que estão a virar inúmeras mentes contra o evangelho de Cristo e a autoridade das Escrituras.»

O mentor do Museu da Criação, o pastor Ken Ham, afirma que o museu é uma forma de fazer chegar a mais pessoas a «verdade», em conjunto com o site Respostas no Génesis que reinvidica 10 milhões de visitas por mês e o programa de rádio «Respostas com… Ken Ham», transmitido em todo o mundo por mais de 725 estações de rádio.

Este monumento ao disparate criacionista, cuja inauguração está prevista para 2007, mostra nas suas instalações de 25 milhões de dólares que a Terra tem apenas 6 000 anos, que Deus criou o mundo em seis dias (de 24 horas), que foi o grande dilúvio em alguns dias e não a erosão ao longo de milhões de anos que originaram o Grand Canyon, que os dinossauros foram transportados por Noé na sua barca e outras idiotias semelhantes. Por exemplo, de acordo com o movimento «Respostas no Génesis» a tragédia no liceu de Columbine deve-se ao ensino da evolução nesse liceu, já que segundo os iluminados fundamentalistas os dois adolescentes acreditavam na sobrevivência do mais apto de Darwin. Algumas idiotias exibidas são francamente perigosas como as que representam tragédias da humanidade, como doenças e fome, que são atribuídas aos pecados da humanidade. Nomeadamente uma das exibições culpa os homossexuais pelo flagelo da SIDA.

Numa «Sala da autoridade da Bíblia» os visitantes são avisados de que «Todos os que rejeitarem esta história, incluindo a criação em seis dias e os dinossauros na barca de Noé, são ignorantes por vontade própria». Claro que devem ser encorajados a nem sequer aflorarem o que têm a dizer sobre o nonsense criacionista a Scientific American ou a American Association for the Advancement of Science, simplesmente a associação de ciência com mais prestígio a nível mundial!

Como afirma o próprio devoto pastor com a inauguração deste museu «A elite evolucionista receberá uma chamada de despertar.»

Será que este e outros disparates cada vez mais abundantes dos fundamentalistas cristãos não são suficientes para nos acordar da complacência em relação às religiões?