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7 de Junho, 2005 Palmira Silva

Teoria da causalidade

Para além de Portugal a seca assolou este ano outras zonas do globo. Numa vã tentativa de influenciar o que é determinado por causas naturais assistimos cá no burgo a uma sucessão de rezas e procissões.

Na Índia, Bangladesh e Nepal, países invadidos por uma onda de calor que já matou uma centena de pessoas nas últimas semanas e em que a monção tarda a sua aparição, as tentativas de intercessão junto aos deuses assumem outros contornos. Assim numa aldeia nepalesa, Darbang, a cerca de 280 quilómetros da capital, Kathmandu, cerca de 100 mulheres dançaram nuas para agradar ao deus hindu Mahadev e este enviar a tão esperada chuva.

Em Khochakandar, Índia, os habitantes da aldeia na província de Bengala realizaram uma cerimónia hindu tradicional para unir pelos sagrados laços do matrimónio… dois sapos gigantes. Porque, como explicou uma das organizadoras do evento, Konica Mandal, «Os nossos antepassados costumavam organizar casamentos de sapos para terem chuva suficiente para a agricultura. Nós esperamos que a chuva caia muito em breve».

Certamente que algumas pessoas, que discordam que a ciência deva fornecer apenas explicações naturais para o que observamos no mundo à nossa volta, pensarão que a teoria da causalidade inferida pelos aldeãos que os levou a tais manifestações, «o chamado conhecimento sintético a priori, que não é falsificável no sentido popperiano do termo» é uma teoria «científica» legítima…

7 de Junho, 2005 Carlos Esperança

Há hereges em Taveiro

Quem o diz é o padre José Matos que há mais de uma dezena de anos exerce o múnus nesta paróquia dos arredores de Coimbra e que agora anda de candeias às avessas com os aproquianos.

Na base do litígio está a crescente má vontade da população que acusa o padre de se recusar a celebrar casamentos ao domingo. Mas a gota de água que fez trasbordar o copo do anticlericalismo foi a recusa da entrega da bandeira à presidente nomeada para as próximas «Festas de Nossa Senhora da Conceição», no fim da procissão deste ano.

O padre tem dúvidas em reconhecer a presidente porque – alega – «não sei como decorreu o processo nem acompanhei as coisas». A comissão de festas acusa o padre de exigir o sorteio na Igreja, na sua presença, e Helena Rebelo, da organização das festividades, diz que «a igreja não pode virar casa da sorte para andar a fazer sorteios».

Nestas coisas de Deus há sempre um grande potencial de conflito que os leitores podem aprofundar na leitura do artigo do «Diário as Beiras».

No entanto o Diário Ateísta não pode deixar de registar a acusação de Helena Rebelo que critica a alegada exigência do pio sacerdote José Matos de que os pagamentos da festa – 275 euros – fossem feitos «em dinheiro vivo, sem recibo».

A ser verdade, é uma tentativa de fuga ao fisco, pecado que há tempos a ICAR incluiu no seu catálogo e que, após a última revisão da Concordata, ficou ao alcance do clero católico.

7 de Junho, 2005 Carlos Esperança

Pais multados na Índia

Os pais de um bebé que urinou no colo da mãe, enquanto esta rezava, foram multados no equivalente a 37 euros ( uma quantia exorbitante para trabalhadores na Índia) pois a urina profanou o templo.

O templo hindu Thrissur que multou os pais do bebé de seis meses foi obrigado a devolver o dinheiro, por ordem do Governo.

Agora, depois da profanação do templo com a mijadinha de um bebé de seis meses, os sacerdotes realizam cerimónias especiais de orações, para purificar o templo.

Se outras correntes teológicas concluírem que essas orações profanam o templo, ainda vão pedir aos pais que lhe emprestem o bebé para o purificar de novo.

Há mais pureza no xixi de um bebé de seis meses do que nas orações de uma multidão de sacerdotes.

Fonte: «Público» de hoje, pg. 42.

6 de Junho, 2005 Palmira Silva

O Martelo das Bruxas

Os veneráveis e mui reverendos Padres e professores de teologia sagrada, Henry Kramer, da ordem dos pregadores, inquisidor da depravação herética, e James Sprenger, abade do convento dominicano de Colónia, autores daquele que é certamente um dos livros mais infames alguma vez escritos, o Malleus Malleficarum, ou o manual de caça à bruxas, usado pela Inquisição durante mais de trezentos anos, ficariam certamente muito contentes por saberem que os seus ensinamentos não foram esquecidos pelos cristãos. Não só o exorcismo continua uma prática florescente e acarinhada pelo Vaticano, em menor medida pela Igreja Anglicana, como nalgumas igrejas são recomendadas formas agressivas de exorcismo que seriam certamente do agrado de tão veneráveis cristãos: exorcismo envolvendo contacto físico (um eufemismo para tortura) com o possuído.

Uma dessas igrejas é a Igreja do Combate Espiritual, em Dalston, Londres. A Igreja, um ramo cristão fundamentalista como vemos recrudescer por esse mundo fora, nomeadamente em Inglaterra onde se acredita existirem pelo menos 300 congéneres, serve especialmente a comunidade negra oriunda da África Ocidental. Na sexta-feira três membros da Igreja foram condenados por perpetração e colaboração de abusos físicos numa menina de 8 anos, sobrinha de uma das acusadas. A pobre criança foi acusada de bruxaria e no decurso dos exorcismos foi espancada, esfaqueada, foram-lhe esfregadas malaguetas nos olhos e foi deixada à fome para exorcizar o «mafarrico» que nela se albergara.

Este não é o primeiro caso em Inglaterra de abuso físico de crianças consideradas bruxas ou possuídas. Em 2000 uma «bruxa» de oito anos morreu de subnutrição e hipotermia, com sinais claros de maus tratos físicos, que incluíam marcas de queimaduras de cigarros. Este caso levou à criação de um projecto, o Projecto Violeta, que pretende prevenir abusos físicos de crianças relacionados com a religião.

Porque como disse Debbie Ariyo, directora da organização Africanos Unidos Contra o Abuso de Crianças, parte da culpa nos maus tratos destas crianças reside nas igrejas que propiciam e encorajam crenças em bruxarias e possessão: «Se uma criança é acusada de bruxaria e a acusação é suportada pela igreja isso dá margem de manobra para a perpetração de abusos contra essa criança. Quer directamente quer indirectamente se a igreja confirma as acusações de bruxaria está a aprovar o abuso».

6 de Junho, 2005 Carlos Esperança

Campanha de terços

«Campanha de Terços a favor da Vida em Portugal»

Sob este título corre um abaixo-assinado pelo País, com o seguinte teor:

«Ajude Nossa senhora a que a liberalização do aborto não passe em Portugal.
Ofereça no mínimo um terço diário só por esta intenção até ao dia do referendo.
Escreva aqui o nome e no dia do referendo estas listas serão entregues na Capelinha das Aparições a Nossa Senhora de Fátima. [sic]
Ofereçamos milhares de Terços por dia com esta intenção.
Convide os seus irmãos a colaborar nesta campanha de Terços.»

(seguem-se linhas)

Depois de preenchida, enviar p.f. para Canção Nova, Apartado 199, Cód. Postal 2496-908 Fátima.

5 de Junho, 2005 Palmira Silva

Serendipidade II

Dotados de uma insaciável sede de explicações, desde o início da história que os homens procuram explicações. As religiões pretendem ter explicações para tudo desde cosmologia, biologia, origem da vida a razões para a existência. Assim não é de espantar que as primeiras explicações adoptadas para os fenómenos físicos fossem teológicas, por exemplo, e voltando à meteorologia, a tempestade seria explicada como um capricho do(s) deus(es) dos ventos. Mais tarde, os deuses foram substituídos por forças abstractas, a teologia pura e dura por uma versão mais palatável, a metafísica, e a tempestade explicada pela «virtude dinâmica» do ar. Finalmente, e muito recentemente na história, surge a explicação científica, que não pretende propor «causas finais», limitando-se a descrever as leis naturais invariantes às quais estão sujeitos estes fenómenos. Ora a linguagem científica de eleição para descrever essas leis é a matemática. Reivindicando para a matemática um estatuto metafísico há quem considere metafísica a ciência que a utiliza como linguagem. Esquecendo que a matemática é uma linguagem sintética e «elegante» para descrever um fenómeno, mas a matemática em si não é o fenómeno que descreve.

De acordo com a denominada (e muito contestada, pelo menos na sua versão «forte») «hipótese de Sapir-Whorf», a representação do mundo e a cultura de uma comunidade são organizadas em estreita união com a língua dessa comunidade. Ou seja, há de certa forma uma determinação linguística do pensamento. Tal como parece sugerir a citação de Wittgenstein utilizada por Godard, tal indicaria que a nossa compreensão do mundo é limitada pela linguagem com que o pensamos e descrevemos. Pessoalmente considero a formulação whorfiana demasiado redutora embora também não subscreva a versão «cor-de-rosa» da mentalese, a linguagem do pensamento, suposta universal e sem palavras, uma espécie de código máquina para o homem, proposta por Jerry Fodor nos anos setenta e desenvolvida mais recentemente por Steven Pinker.

Mas esta hipótese de Sapir-Whorf, de certa forma, aplica-se à ciência. Ou seja, a sociedade em geral não é permeada pela ciência mais formal matematicamente, como a mecânica quântica, relatividade geral ou super-cordas, porque esta expressa-se numa linguagem que não é acessível a todos e explicações que são claras em matemática são incompreensíveis em qualquer outra linguagem.

Por outro lado, a representação de um fenómeno é limitada pela linguagem usada para o descrever. Por exemplo, a mecânica quântica pode ser formulada matematicamente usando quer a mecânica ondulatória de Schrödinger quer a mecânica matricial de Heisenberg.

Só depois da publicação, em 1932, do livro «The Mathematical Foundations of Quantum Mechanics» de John von Neumann, se estabeleceu a base matemática rigorosa da teoria quântica. Neumann, considerado o mais brilhante matemático europeu, decidiu desenvolver a sua própria versão da mecânica quântica após ter assistido a uma conferência de Heisenberg sobre mecânica matricial. No livro, Neumann descreve a teoria de operadores (álgebra de Neumann) «inventada» para explicar determinados aspectos da mecânica quântica. Em grande parte devido ao seu trabalho foi provada a equivalência matemática entre o formalismo de Schrödinger e de Heisenberg.

A mecânica ondulatória de Schrödinger tornou-se a descrição mais popular por ser menos «hermética» matematicamente, mais «visualizável» e consequentemente mais fácil de entender que a mecânica matricial de Heisenberg. Usamos as funções de onda que são solução própria da equação de Schrödinger para descrever os electrões, por exemplo num átomo ou molécula, mas poderíamos usar o formalismo de Heisenberg. E isso não implica que as orbitais sejam entidades metafísicas! São apenas a representação dos electrões na linguagem de Schrödinger!

O mesmo se poderia dizer sobre a formalização matemática/geométrica de Einstein da relatividade geral que corresponde à acção da gravidade, tal como a apercebemos e descrevemos, de curvar o espaço-tempo.

Ou seja, confundir a linguagem com o fenómeno em si, o fenómeno com a sua representação e afirmar que os cientistas optam pelas explicações mais simples ou mais fáceis por razões metafísicas, que, por exemplo, a quarta dimensão do espaço-tempo é uma teoria metafísica, é um absurdo que espero ter ajudado a desmistificar!

5 de Junho, 2005 Palmira Silva

Serendipidade I

«Os limites da minha linguagem são os limites da minha mente. Tudo o que sei é aquilo para que tenho palavras» e «Os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo»

Ludwig Wittgenstein in Tractatus Logico Philosophicus

Ontem à noite tive um momento de serendipidade sobre algumas dúvidas transcendentes entre ciência e metafísica que começaram a invadir a blogoesfera. Enquanto revia um clássico de Jean-Luc Godard, Duas ou três coisas que eu sei dela, mais concretamente a cena fabulosa em que Juliette observa um jovem casal, com grandes planos de uma chávena cheia do negro luminoso do café com galáxias rodopiantes de natas, ilustrada pelas elucubrações da voz off do próprio Godard:

«Mas onde começar? Mas onde começar com quê? Deus criou o céu e a terra. Claro, mas essa é a saída fácil. Deve existir uma melhor forma de explicar tudo… Nós poderíamos dizer que os limites da linguagem são os limites do mundo… que os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo. E a esse propósito, qualquer coisa que eu diga deve limitar o mundo, deve fazê-lo finito».

A palavra metafísica foi cunhada casualmente por Andrónico de Rhodes, ao classificar a obra completa de Aristóteles em: lógica, física, metafísica (o que vem depois da física), moral e política. No que da obra aristotélica foi catalogado como Metafísica ou Filosofia Primeira distinguem-se ainda três subcategorias: o estudo dos primeiros princípios e das primeiras causas; o estudo do divino ou Teologia e o estudo do ser enquanto ser ou Ontologia.

As causas primeiras e princípios primeiros das coisas são quatro: causa material – matéria de que é feita uma coisa; causa formal – forma ou essência das coisas; causa eficiente ou motora; causa final – tudo no mundo se move para preencher uma necessidade. Entre as várias causas que determinam um acontecimento, a final é a mais importante, por exemplo, a causa final da chuva não é física, chove porque os seres vivos precisam de água.

As diversas ciências que se confundiam com a filosofia foram-se emancipando gradualmente da filosofia inicialmente considerada como saber universal. Primeiro a matemática, com a geometria de Euclides e a mecânica de Arquimedes, depois a física, com Galileu e Newton, libertaram-se da tutela metafísica de que dependiam. A química, separou-se da metafísica alquimia com Lavoisier. Finalmente, no século XIX, a biologia iria conquistar a sua independência, anunciada por Lamarck, desde 1802, e realizada por Claude Bernard. Hoje da Filosofia Primeira parece-me consensual que a metafísica se reduz a pouco mais que a ontologia, eventualmente a teologia e a metafísica transcendente ou das causas finais.

Qualquer confusão blasfema entre ciência e metafísica é assim ou um problema de demarcação de filosofia da ciência ou uma confusão linguística. Quiçá inspirada pela «viragem linguística» em Metafísica, expressa de modo claro por Davidson, no seu ensaio «The Method of Truth in Metaphysics», em que este afirma que uma investigação da realidade só pode ser alcançada através da investigação da linguagem.

Na realidade a linguagem, tal como o movimento, são desde sempre objecto da filosofia. Já Aristóteles, na Política caracteriza o homem, o zoon politikon (animal político), como sendo «o único entre os animais que possui o dom da linguagem». Martin Heidegger faculta à linguagem um sentido ontológico (principalmente em A caminho da linguagem, Unterwegs zur Sprache, Pfullingen, 1959). Ou seja, o fulcro da reflexão heideggeriana centra-se no ser, no sentido do ser e na linguagem: a linguagem é a porta do ser, a sua percepção do mundo, em resumo, o meio privilegiado de apropriação do real.

Ou, como tão bem o coloca Vergílio Ferreira em «Invocação ao meu corpo», a realidade e o mundo são «uma proposta muda para que falada exista».

(continua)

5 de Junho, 2005 Palmira Silva

O Morgado

O post do Carlos Esperança fez-me lembrar umas certas noites longas no Botequim, o bar da saudosa Natália Correia. Mais especificamente declamações do seu poema em «honra» do deputado João Morgado, outro parlamentar do CDS, que teve uma intervenção histórica durante o debate do aborto, em que afirmou «O acto sexual só é legítimo tendo em vista a procriação».

Já que o coito – diz o Morgado
Tem como fim cristalino
Preciso e imaculado
Fazer menina e menino,
E cada vez que o varão
Sexual petisco manduca
Temos na procriação
Prova que houve truca-truca.

Sendo pai de um só rebento
Lógica é a conclusão
De que o viril instrumento
Só usou – parca ração! –
Uma vez. E se a função
Faz o órgão – diz o ditado –
Consumada essa operação
Ficou capado o Morgado.

5 de Junho, 2005 jvasco

Código Da Vinci

Finalmente li.

Antes de ler, sabia algumas coisas sobre esse livro: que a ICAR o tinha colocado no «índex» (muito auspicioso, tendo em conta a enorme quantidade de obras literárias de referência que lá foi parar…); que o Umberto Eco o tinha classificado como «lixo literário» (mau prenúncio, visto que tenho uma ideia muito positiva a respeito de Umberto Eco); que era um gigantesco sucesso de vendas (embora ainda longe de superar o verdadeiro best seller – a Bíblia); e que alguns amigos mo aconselharam com vivacidade.
Sabia também que o livro deveria ser lido com um olhar crítico, pois muitos dos factos «históricos» mencionados não são necessariamente verídicos.

E lendo concluí o seguinte:

a) Não é propriamente um «marco incontornável da literatura universal»

b) Também não me parece «lixo literário» – ainda para mais tendo em conta que eu até já li um livro de Paulo Coelho e de Margarida Rebelo Pinto

c) Lê-se com prazer e facilidade

d) Recomendo a quem tiver curiosidade e tempo livre

e) Recomendo cepticismo na leitura. Convém ir procurar algumas críticas que foram feitas ao livro, para não se ficar com uma ideia distorcida de alguns factos históricos.

E sobre o ateísmo?
O livro está muito longe de ser uma perspectiva ateia sobre o mundo que nos rodeia. O autor afirma-se cristão, mas, pela leitura do livro, dá a impressão de ser alguém que aprecia o esoterismo e o misticismo «new-age». O livro não contém qualquer espécie de ataque ao racionalismo ou às posições racionalistas, mas ficamos com a impressão que não estamos propriamente perante um paladino da frieza do empirismo e da lógica cartesiana…

Quanto a ataques à Igreja Católica… quase nada. E aí reside em grande parte a força da sua ameaça para a ICAR.
O livro apresenta uma perspectiva do cristianismo muito diferente daquela que decorre dos dogmas da ICAR, mas, apesar de uma crítica ou outra que qualquer pessoa razoável considerará pertinente (a dominância masculina da condução dos destinos da ICAR, por exemplo), no geral, evita em absoluto demonizar a ICAR. Pelo contrário: os personagens da ICAR são retratados como pessoas de Fé, de valores, dispostas a sacrificar-se por aquilo que acreditam, dispostas a seguirem o que consideram ser o bem; dispostas a compreenderem os seus erros e a arrependerem-se sinceramente por estes.
Com esta postura de compreensão face à ICAR, é muito mais difícil que o leitor católico demonize o livro. E se o leitor não rejeita o livro com nojo e repulsa, pode encarar as perspectivas do livro… e questionar a forma como encara a Fé.
E é o que tem acontecido: jovens nas igrejas, nos seminários, nos confessionários, na catequese, foram relatando aos sacerdotes e professores as suas dúvidas e angústias.

E a reacção foi a que conhecemos: um ódio profundo ao livro. Acusa-se o livro de falta de respeito, acusa-se o livro de «atacar a igreja», acusa-se o livro de «enganar as pessoas», acusa-se o livro de ser uma ferramenta do Diabo. Procurem. Vão encontrar todas estas acusações e muitas outras mais que nem consigo começar a imaginar. E quando lerem o livro e virem os «ataques» à ICAR, vão provavelmente desatar-se a rir.
«Aquilo» é um ataque? Quer dizer que um crente não pode sequer conceber essas possibilidades? Não pode sequer ser sujeito àquelas dúvidas? Não pode sequer pôr isto ou aquilo em questão?

Quando a ICAR proibiu aos seus fiéis a leitura do «Código da Vinci» eu entendi isso como um sintoma de que não evoluíram tanto quanto deviam com os tempos, no sentido de conviver com a liberdade de pensamento. Agora que li o livro entendo que nem sequer «sabia da missa a metade».

4 de Junho, 2005 Carlos Esperança

Às crianças por nascer

O «Dia nacional da criança por nascer» foi uma piedosa proposta do CDS feita pelo porta-voz do partido, Paulo Núncio. (Núncio é apelido e função).

A criança por nascer
É o orgasmo reprimido
Um óvulo por haver
Ou sémen por escorrer

A criança não nascida
É a cópula frustrada
Gravidez interrompida
Ou a trompa laqueada

CDS quer castidade
Fora da reprodução,
Horror da sexualidade
Nojo da ejaculação

É o ódio que rebenta
Pelas costuras da Igreja
Sem borrifos d´água benta
Na cópula benfazeja

O Papa abomina o DIU,
Pílula, preservativo,
Condena quem não pariu
Por usar um abortivo

O sexo sem procriação
É luxúria, um pecado
Que conduz à danação
E deixa Deus chateado.

Amar, amar, ver estrelas
Barra a via à salvação
Não vale a pena pôr velas
Nem terços sobre o colchão.