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18 de Junho, 2005 Palmira Silva

O regresso do Malleus Maleficarum

Algumas das práticas de tortura preconizadas pelo Santo Ofício da Inquisição. Entre outras não representadas pode-se observar na gravura, de cima para baixo, para além da morte na fogueira ou por enforcamento, técnicas como exposição das vísceras, quebra e fractura de ossos, açoitamento, decapitação e amputação das mãos.

A polícia inglesa têm as mãos cheias de casos de abuso e tortura de crianças relacionadas com exorcismos de supostos feiticeiros/bruxos.

Ontem foi revelado oficialmente que a polícia e os serviços sociais investigam mais cinco casos de abuso de menores relacionados com práticas de exorcismo. Uma fuga de informação revelou ainda dados de um relatório da polícia metropolitana que investiga tortura de menores por razões religiosas. O relatório, obtido por um jornalista da BBC, indica que há inúmeros pastores e igrejas, em Inglaterra, na Europa e em África, a explorar e potenciar de forma abjecta a superstição dos crentes. Superstição encorajada pelas autoridades eclesiásticas de todas as confissões cristãs!

Nomeadamente revela a existência de uma rede de tráfico de crianças com um fim abominável: são trazidos de África rapazes não circuncidados para serem sacrificados em altares de seitas que acreditam conseguirem «magias» poderosas com o assassínio destas crianças.

O relatório, despoletado pelo assassínio de outra bruxa de oito anos, Victoria Climbié, identifica ainda inúmeros casos de exorcismos de menores realizados por sectos cristãos fundamentalistas, exorcismos estes que resultam na tortura e muitas vezes morte das infelizes crianças consideradas possuídas pelo demo. Igrejas fundamentalistas como a Igreja do Combate Espiritual, envolvida recentemente num caso de tortura de uma «bruxa» de oito anos.

O espírito cristão medieval tão exaltado pelo finado João Paulo II e pelo actual papa regressa em todo o seu «esplendor». Aparentemente muitos cristãos consideram ainda em vigor a bula Summis Desiderantes, que «constatando» que «muitas pessoas de ambos os sexos abandonaram a fé e se entregaram aos demónios, incubi e succubi» «decretamos que os ditos inquisidores tenham poder de para proceder à justa correcção, apresamento, e castigo de qualquer pessoa.»

18 de Junho, 2005 jvasco

O Reino dos Céus

Tal como o «Código da Vinci», o filme «O Reino dos Céus» também é uma obra massificada que feriu muitas susceptibilidades cristãs.
Vi este filme pouco depois de ter estreado.

Centrado no século XII, e na época das cruzadas, «O Reino dos Céus» conta a história de um simples ferreiro que se torna cavaleiro e herói, salvando a população de Jerusalém de uma pilhagem que poderia ser devastadora.

Antes de ver o filme, sabia que o realizador era o Ridley Scott (não é propriamente um dos meus realizadores favoritos), que a temática era medieval (umas das minhas temáticas favoritas) e que era uma grande produção.

Tendo visto o filme verifiquei que, não sendo propriamente um marco «na história do cinema», é um filme agradável e interessante. Recomendo que, depois de ver o filme, se veja este artigo da wikipedia ou se faça alguma pesquisa na internet, para verificar que partes do argumento do filme são fiéis à história, e que partes surgiram apenas da fértil imaginação dos argumentistas

Como vêem, as conclusões são muito semelhantes às relativas ao «Código da Vinci», mas as parecenças não terminam aí…

E sobre o ateísmo?
O filme está muito longe de ser uma perspectiva ateia sobre o que nos rodeia. O filme parece imerso num apelo à espiritualidade, e embora não ataque directamente qualquer posição mais materialista ou racionalista, entendemos facilmente que os argumentistas pretendem transmitir um sentimento, de alguma forma, religioso.

No entanto, procurando opiniões sobre o filme, facilmente constatamos que muitos cristãos sentiram que o filme era um verdadeiro ataque que lhes era dirigido. Um dos casos com mais relevo terá sido o da CBN (Christian Broadcast Network), com mais de 2000 estações de rádio e 36 canais televisivos cristãos. Na página da rede que dedicaram à crítica do filme, é possível textos como este (do qual dei conta via Barnabé):

Se a Igreja se deixar enganar […] vamos voltar ao velho problema de estarmos cheios de ódio por nós mesmos; de toda a gente ter de viver em harmonia; de toda a gente ter de se esquecer das suas raízes religiosas; e temos de parar de tentar evangelizar e parar de tentar mudar os muçulmanos e temos de lhes pedir desculpas. Chegados a esse ponto vamos pelo cano abaixo e caímos nos braços de uma religião corrompida e demoníaca.» [in “Thoughts on ‘The Kingdom of Heaven’: A Discussion with Dr. Ted Baehr by Craig von Buseck”]

E porquê toda esta histeria? Porque as várias acusações (por parte de várias fontes diferentes) do filme «atacar o cristianismo»? Ser «contra a Igreja»?

A crença, por parte de vários cristãos, de que «O Código da Vinci» e «O Reino dos Céus» são ataques à Igreja, é preocupante e assustadora. Não pela susceptibilidade que revela, mas pela estreiteza de perspectivas, pelo horror à pluralidade.
Depois de ver algumas críticas furiosas a este filme, é mais fácil ter noção da quantidade de gente que considera ofensivo relembrar o passado; e da quantidade de lavagens revisionistas que por aí polulam.

18 de Junho, 2005 Carlos Esperança

Exorcismo que correu mal

Um sacerdote ortodoxo crucificou uma freira romena, com a ajuda de outras três freiras, por estar possuída pelo demónio.

Durante o exorcismo, terapêutica corrente para tal moléstia em várias religiões cristãs, a crucificada Maricica Cornici, do mosteiro de Tanacu, no nordeste da Roménia, não resistiu ao tratamento.

A religiosa, antes de entregar a alma, foi amarrada a uma cruz, privada de água e comida durante três dias e amordaçada.

O pio sacerdote declarou à polícia que, sob o ponto de vista religioso, tinha procedido correctamente. Até missas rezou para salvá-la.

Desconhece-se se o demo abandonou a freira com tão vigoroso exorcismo ou se sobreviveu às pias intenções que puseram termo à vida da jovem de 23 anos.

A polícia, pouco dada à cultura bíblica, acusa o padre e as freiras de crime, enquanto o Patriarcado romeno se mantém em silêncio até conhecer melhor o facto.

Coisas do demo.

17 de Junho, 2005 Carlos Esperança

Manifestação em Espanha

Uma manifestação organizada sob os auspícios do Partido Popular e ds bispos espanhóis vai ter lugar amanhã em Madrid, da Praça Cibeles à Porta do Sol, sob o slogan «pelo direito a uma mãe e um pai».

É uma luta que tem o apoio do Papa e de numerosas sucursais do Vaticano entre as quais a Associação Portuguesa de Famílias Numerosas e o Fórum da Família de Portugal.

É uma manifestação contra as medidas legais em relação ao divórcio e à legalização dos casamentos homossexuais.

É surpreendente que uma Igreja, que nunca fez manifestações contra os assassinatos perpetrados por Francisco Franco, apareça agora na rua contra os homossexuais, uma igreja onde os bispos e os padres ainda se vestem como os travestis.

Talvez seja o ódio ao divórcio que leva o Papa B16, à semelhança dos antecessores, a opor-se ao casamento das freiras e dos padres.

Quem não casa jamais se divorcia.

Fico perplexo com esta sanha à homossexualidade e este radicalismo por um determinado modelo de família, alheio ao fundador da religião cristã, filho de uma virgem e de uma pomba, com um pai desinteressado do sexo que, em muitos anos de casado, manteve virgem a mulher. Abençoada pomba.

17 de Junho, 2005 Mariana de Oliveira

Doutrinar embaixadores

O Papa Ratzinger-B16, no discurso ao embaixador maltês, teve a oportunidade de sublinhar a importância das «raízes cristãs da Europa». «Os malteses, coerentes com o seu património cristão, apercebem-se da importância da sua missão nesta fase da história europeia e mundial», disse. Bento XVI reiterou ainda que «Malta deve esforçar-se para que a União Europeia do terceiro milénio não esqueça o património de valores religiosos e culturais do seu passado». Valores religiosos que se opõem ao divórcio, à liberdade sexual, ao casamento de pessoas do mesmo sexo ou à investigação de células estaminais.

Por sua vez, ao embaixador da Nova Zelândia, B16 falou dos problemas da laicidade e da secularização das sociedades modernas, lembrando que «onde as raízes cristãs da sociedade são cortadas, a tarefa de manter a dimensão transcendente presente em cada cultura torna-se difícil». Claro que se esqueceu que os valores da laicidade e do secularismo existe para que as dimensões transcendentes de cada cultura não se sobreponham umas às outras no domínio público e que, assim, não se beneficiem certos grupos de indivíduos apenas por serem desta ou daquela cultura transcendental.

Ratzinger teve ainda tempo para afirmar que «para o bem da comunidade, é necessário que a liberdade religiosa seja garantida como um direito fundamental, protegido por um robusto sistema legal que respeite a vida e as regras próprias das comunidades religiosas». Claro que ele se refere ao seu – e apenas ao seu – conceito de vida e de respeito pelas regras de cada comunidade religiosa.

16 de Junho, 2005 Carlos Esperança

Exposição ao M .A. I.

Sr. Ministro de Estado e da Administração Interna
Dr. António Costa — Lisboa

Excelência:

Carlos Esperança, residente na Freguesia de Santo António dos Olivais, em Coimbra, eleitor n.º 1675, vem expor e solicitar o seguinte:

1 – Grassa na cidade de Coimbra uma onda de tal santidade que levou o presidente da Câmara, Carlos Encarnação, a baptizar a Ponte Europa com o nome de Rainha Santa Isabel;

2 – Uma procissão católica recente (creio que do Corpo de Deus) contou com a presença e terminou com uma homilia do dito autarca, temendo eu que, de futuro, em vez da gestão do Concelho, que lhe cabe, passe o pio edil a dedicar-se a tarefas religiosas e à salvação da alma;

3 – Nada tenho contra a presença particular nos actos litúrgicos mas vejo a laicidade do Estado ameaçada quando o autarca participa na qualidade das funções que exerce;

4 – Agora, a Junta de Freguesia passou a exibir um imenso painel na ampla parede que dá para a via pública com uma enorme imagem de Santo António e encimada com os seguintes dizeres: «António, cidadão de Coimbra». Ao fundo destacam-se as letras garrafais de «Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais».

Em face do exposto, venho solicitar a V. Excelência, senhor ministro António Costa, o seguinte:

a) Que peça à diocese de Coimbra para colocar numa das paredes da Igreja de Santo António, sita no lado oposto do largo que a separa da Junta de Freguesia, um painel de dimensões equivalentes onde se leia: «Afonso Costa, Lente da Universidade de Coimbra», com a foto de igual tamanho à do santo.

b) Na impossibilidade de se prestar homenagem ao antigo primeiro-ministro nas paredes da Igreja, que seja mandado retirar o painel do Santo, da Junta de Freguesia, para evitar a promiscuidade entre a autarquia e a sacristia.

Certo de que o País não deve menos ao estadista do que ao Santo, confio no ministério da Administração Interna para exigir o respeito pela laicidade do Estado e preservar o pudor republicano.

Apresento-lhe respeitosos cumprimentos e saudações laicas e republicanas.

16 de Junho, 2005 Carlos Esperança

O funeral de um ateu

O criador e produtor do Licor Beirão faleceu ontem na Lousã aos 89 anos.

Segundo informa o «Diário as Beiras», de hoje, na secção «Notas do Dia», o industrial José Carranca Redondo era « republicano, ateu e anti-clerical», virtudes que não o livraram da afronta de se encontrar na Capela Mortuária da Igreja Matriz da Lousã, até às 17h00 de hoje, onde os vivos lhe desrespeitaram a memória com uma missa de corpo presente.

A ICAR, sempre que arranja pretexto para celebrar uma missa, é como um proxeneta a explorar uma prostituta. Não tem piedade.

Em 1951, perante a aldrabice do Diário de Notícias que, na primeira página, noticiava a presença de mais de um milhão de pessoas em Fátima, para assinalar o ano santo, Carranca Redondo escreveu ao DN uma carta que nunca seria publicada.

Vale a pena recordar, a argumentação do saudoso ateu:

«Eram precisos por exemplo 50 mil automóveis para transportar 200 mil pessoas e não havia esse número de veículos em Portugal. Para transportar as mesmas 200 mil pessoas eram necessários cinco mil camionetas de 40 lugares cada uma para os transportar, e não havia esse número em Portugal. O mesmo acontecendo com os comboios, por exemplo.

Se o recinto do santuário tem 250 metros de largura por 400 metros de cumprimento não podem concentrar-se mais de 200 mil pessoas em movimento».

Fonte: Diário as Beiras

16 de Junho, 2005 Palmira Silva

41 anos depois

O pastor segregacionista Edgar Ray Killen foi finalmente acusado da morte de três defensores dos direitos civis da comunidade negra do Mississipi, cometidos no longínquo ano de 1964. O devoto membro do Ku Klux Klan, que se considera em paz com Deus, foi a julgamento em 1967, com mais 17 réus, acusados de violar os direitos dos três acusados. Sete dos réus foram à época condenados a penas até seis anos de prisão. Edgar Ray Killen foi considerado não culpado. O elemento do júri que votou pela inocência do réu confessou mais tarde ser incapaz de condenar um devoto pastor.

De facto, Killen e outros pastores cristãos usavam os púlpitos para recrutar membros para a sinistra ordem, os cavaleiros «místicos» que hoje recolhem fundos para o auxiliar, afirmando que Deus sancionava as suas acções.

16 de Junho, 2005 Palmira Silva

A pequena pedra

O fundador do culto apocalíptico cristão a Ordem de Santo Charbel, William Kamm, que reclama uma linha directa com o panteão católico, Maria, José, Cristo e, em algumas ocasiões, vários anjos e demais criaturas celestiais, estabeleceu a sua autoridade com profecias sortidas transmitidas por estas divindades cristãs, com especial incidência pela «virgem» Maria.

Como em tantos outros cultos apocalípticos estas profecias referem-se ao fim do mundo, com referências ao estado deplorável da Igreja católica actual e à sua «liberalização». Aliás, William Kamm, ou a pequena pedra, pretende que a «Virgem» lhe anunciou ser ele o sucessor de João Paulo II, não o oficial, que seria o anti-Cristo, mas o espiritual. Com uma missão delicada divinamente predestinada: ser o pai da humanidade que sobreviverá ao apocalipse (que ele já previu por diversas ocasiões…) por intermédio da sua progenitura com 12 rainhas e 72 princesas.

A explicação de como a «Virgem» suspendeu as leis normais católicas, nomeadamente as respeitantes ao adultério e à (hiper)abundância de consortes, por mor da sua missão sagrada foi transmitida pela televisão nacional australiana em Novembro de 1997, (no programa 60 Minutes, TCN Channel 9), e, em 1 de Janeiro de 1998, reafirmou a sua obediência aos preceitos católicos numa carta pública que afirmava ser o seu adultério permitido pelo papa Inocêncio III.

Aparentemente a justiça australiana não reconheceu as revelações divinas e a pequena pedra está a ser julgada por crimes sexuais, nomeadamente acusado por uma das «escolhidas» para tão honrosa distinção, que tinha 15 anos à altura da benesse. Embora não seja a primeira vez que a pedra vai a julgamento por casos semelhantes, espera-se que desta vez seja condenado!

Já desde 2000, data do massacre em Kanungu, se suspeita que a pequena pedra foi o inspirador do líder desse outro culto apocalíptico, o Movimento para a Restauração dos Dez Mandamentos de Deus, o actualmente em parte incerta Joseph Kibwetere.

15 de Junho, 2005 Palmira Silva

O Exorcista

Aparentemente os exorcismos eufemisticamente descritos como envolvendo contacto físico com o possuído são mais universais do que pensaríamos. Esta semana foi presa uma californiana de Sacramento que optou por uma forma radical de exorcizar o «demónio» que possuía a sua filha de seis anos, decapitando-a e atirando o corpo ao rio. O ano passado outra criança de seis anos foi brutalmente assassinada pelos pais em Atlanta e coberta com páginas da Bíblia num exorcismo que estes alegam divinamente ordenado. Em 2004 o pastor Ray Hemphill foi condenado por abuso físico, que resultou em morte, de uma criança autista de 8 anos, considerada possuída, e sujeita a um «vigoroso» ritual de exorcismo.

Dir-se-ia que no século XXI as «possessões» pelo demónio seriam reconhecidas como o disparate que constituem, mas as pretensões das religiões cristãs sobre a existência «real» do Diabo e de possessões demoníacas são um efectivo obstáculo a que estas crendices supersticiosas, que podem ter efeitos muito nefastos, sejam definitivamente erradicadas!

Nomeadamente a Igreja Católica reafirmou a sua posição neste assunto quando reviu em 1999 o seu «manual de exorcismo», cuja versão anterior datava de 1614, da autoria de Paulo V. Neste novo manual pode-se ler que «A Sagrada Escritura ensina-nos que os espíritos malignos, inimigos de Deus e do homem, desenvolvem a sua acção de diversas maneiras; entre elas está a obsessão diabólica chamada também possessão diabólica.». E também não ajuda a desfazer estas crendices que o falecido papa tenha reconhecido ter «exorcizado» uma «possuída» pelo demo…