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16 de Julho, 2005 fburnay

O que a História devia ensinar

É de tempos de crise que os tiranos se servem para impôr as suas doutrinas,as soluções que os que os seguem vêem como as únicas disponíveis para pôr termo ao caos que assola a sociedade.

Em 1994 a Rússia atacou um país separatista. A Chechénia viu assim começar uma guerra que ainda não terminou.

Nos três anos que se seguiram ao cessar fogo de 1996, eis que do cadáver da decadência civilizacional se vem servir o habitual abutre: o fanatismo religioso. Apesar de contrárias à identidade chechena, começaram a alastrar a sharia, as flagelações públicas e a jihad. Da Arábia Saudita importou-se o wahhabismo para as mentes dos jovens chechenos. O separatismo sempre foi visto como uma oportunidade para os proselitistas do terrorismo, que encontraram em Shamil Basaiev um móbil para crimes como o da Ossétia do Norte.

As religiões sabem como e quando devem servir-se da miséria humana. Os fiéis, habituados a vê-las como sinónimo de paz, é que por vezes não se apercebem.

16 de Julho, 2005 Ricardo Alves

Pode a ICAR aceitar a evolução?

O arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, escreveu um artigo («Finding Design in Nature»; New York Times, 7 de Julho) negando a teoria da evolução. Nesse artigo, Schönborn afirma: «A evolução no sentido de ascendência comum pode ser verdade, mas a evolução no sentido neo-Darwiniano – um processo não guiado e não planeado de variação aleatória e selecção natural – não o é». Schönborn afirma ainda que «Qualquer sistema de pensamento que nega ou tenta ignorar a evidência esmagadora a favor do desígnio em biologia é ideologia e não ciência» e conclui que «Teorias científicas que tentam ignorar a aparência de desígnio como um resultado do “acaso e da necessidade” não são científicas de todo». O artigo é totalmente baseado em textos catequéticos, e aplica-se a demonstrar que a «evidência» de um desígnio (inteligente) na natureza é um ensinamento dogmático da ICAR.

Schönborn já confessou que o seu artigo foi despoletado por uma conversa, em Abril, com o então Cardeal Joseph Ratzinger, que o terá encorajado a pressionar no sentido de obter da ICAR um pronunciamento mais claro sobre a teoria da evolução. Na frente oposta, estes desenvolvimentos preocupam alguns cientistas católicos, que decidiram escrever uma carta a Joseph Ratzinger pedindo-lhe que clarifique se a posição da ICAR se alterou.

Deve notar-se que Schönborn está a tentar obter um recuo relativamente às declarações de Karol Wojtyla em 1988 (quando este pedia o «diálogo» entre a ciência e a religião) e 1996, em que o Papa anterior parecia disposto a aceitar que a teoria da evolução era «mais do que uma hipótese» embora «incompatível com a verdade sobre o homem» se afirmasse que «a mente evoluíra a partir da matéria viva». Karol parecia disposto a aceitar que a teoria da evolução seria válida para todos os animais à excepção do homem; Schönborn pretende colocar toda a teoria da evolução em causa.

As últimas notícias indicam portanto um recuo dos mais altos responsáveis da ICAR no estatuto que conferem à teoria da evolução. No actual papado, a ICAR parece prestes a mergulhar, agora sem cautelas, nas trevas do obscurantismo e do dogmatismo anti-científico.
15 de Julho, 2005 Carlos Esperança

O cãozinho e a confirmação

O homem chegou à Igreja com seu cachorrinho e pediu ao padre:

– O senhor poderia crismá-lo?
– Está louco?! – explodiu o outro.
– Sabe? É que eu adoro o meu cãozinho… Quando ele nasceu, resolvi batizá-lo. Levei-o à igreja ali de baixo e paguei ao padre quinhentos euros. Depois, quando completou um ano, paguei mil euros para que fizesse a primeira comunhão…

Então o padre imediatamente interrompeu:
– Bolas! Por que não me disse logo que o bichinho era católico?

15 de Julho, 2005 Carlos Esperança

Depois do fundamentalismo islâmico, o cristão

O leitor Filipe Castro alerta-me para um dos últimos números da revista semanal americana «New Yorker» que – segundo me diz – traz um artigo sobre um colégio privado para fundamentalistas cristãos que está a treinar «a futura geração de políticos» e que já tem uma quota garantida de estágios na Casa Branca.

A Bafafá Online, do Rio de Janeiro, refere um Encontro Ecuménico para discutir o fundamentalismo religioso, encontro que nasce da preocupação com a tendência actual em todas as confissões cristãs, tendo como objectivo «discutir a função social da teologia e os riscos do fundamentalismo religioso.

O Encontro, que reúne «católicos, metodistas, baptistas, luteranos, presbiterianos e leigos de todo o mundo», terá lugar em Mendes, interior do Rio, de 26 a 30 de julho para o 1º Fórum Internacional de Teologia Contemporânea.

O facto de reunir nomes como Leonardo Boff, Rubem Alves, D. Pedro Casaldaglia, o espanhol Xabier Pikaza Ibarrondo, o americano Harvey Cox, e outros «proscritos» de várias religiões, leva-me a confiar na bondade das intenções já que duvidando do seu Deus, acredito nas suas preocupações.

Finalmente, leio na «red voltaire.net» que o decano do Senado dos EUA, Robert Byrd, comparou Bush a Hitler tendo justificado a afirmação com as alterações ao funcionamento do Senado, empreendidas por Bush, que permitirão encher os tribunais de juizes de extrema-direita.

E explicou que «Hitler nunca renunciou a adornar-se com a legalidade pois percebia o valor psicológico que revestia ter a lei do seu lado».

Estamos a viver tempos maus. O mundo está cada vez mais perigoso porque os padres estão cada vez mais poderosos.

14 de Julho, 2005 Carlos Esperança

Os padres e as eleições autárquicas

Os motivos infamantes que levaram o capitão Valentim Loureiro à expulsão das Forças Armadas Portuguesas (F.A.P.) impedi-lo-iam, noutro país europeu, talvez com a excepção da Itália, de prosseguir qualquer carreira pública.

Foi a situação de desespero económico da viúva e de filhos menores de outro capitão, expulso por iguais mesmos, que deu origem a um acto de misericórdia que levou à reintegração do referido oficial a título póstumo, com uma pena mais suave, situação que foi sancionada pelo gen. Eanes, então CEMGE.

Foi esse esmola à família do camarada falecido que Valentim Loureiro reivindicou para exigir a reintegração e ascender ao posto de major que a antiguidade entretanto permitia.

Depois disto, só a falta de vergonha do próprio e do PSD, em que um protegeu o outro, mútua e reciprocamente, permitiu ao oficial que recebia uma comissão nas batatas compradas para as Forças Armadas, atingir os altos cargos que desempenhou.

Só um eleitorado que não castiga o carácter venal dos seus eleitos e um partido que se conforma com o passado inquietante dos seus quadros, puderam permitir que Valentim Loureiro ocupasse os mais altos cargos da hierarquia partidária, presidisse a uma Câmara, colocasse homens da sua confiança no Governo, incluindo um seu vereador, dirigisse o futebol nacional e presidisse à Empresa do Metro do Porto em representação dos autarcas.

O gesto corajoso e nobre de Marques Mendes, de lhe retirar a confiança política, não o impede de apresentar de novo a sua candidatura à Câmara de Gondomar no próximo dia 22.

Antes disso, «assinou ontem um protocolo com os párocos de 14 freguesias do concelho de Gondomar, com vista à distribuição de uma verba camarária de cerca de 136.500 euros» – segundo revela o Correio da Manhã de 13 do corrente.

«Valentim Loureiro distribui dinheiro por párocos». É a apoteose do caciquismo no seu máximo esplendor.

13 de Julho, 2005 Ricardo Alves

Copiai dez vezes e meditai no sentido

O presidente da Câmara Municipal de Barcelos copiará, no dia 16 de Julho, uma frase da Bíblia. Este acto, integrado na campanha de propaganda «Bíblia Manuscrita», não terá lugar nem na residência deste senhor nem numa igreja, mas sim no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Barcelos.
Conforme se verifica pelo exposto, o senhor Presidente da Câmara de Barcelos necessita de copiar dez vezes a frase:
«As igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado»
E, já agora, o preceito §1 do artigo 4º da Lei da Liberdade Religiosa:
«O Estado não adopta qualquer religião, nem se pronuncia sobre questões religiosas».
Seria também avisado meditar no sentido destas frases.
13 de Julho, 2005 Palmira Silva

Ratzinger critica Harry Potter


Ainda na pele de Joseph Ratzinger, Prefeito Emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, ex-Santo Ofício da Inquisição, o actual Papa teve ocasião de criticar os livros da série juvenil de culto Harry Potter, que considerou «seduções subtis» capazes de corromper jovens e inocentes cristãos.

De facto, foram hoje publicadas online as cartas, datadas de Março de 2003, em que B16 expressa o seu desagrado em relação a tão perversa literatura. As cartas elucidam as dúvidas angustiantes de uma devota alemã (certamente bávara como Ratzinger) que inquiria o guardião da pureza da fé sobre a corrupção dos corações dos jovens infligida pela série, o seu efeito nocivo sobre a relação destes com Deus e a distorção da noção de bem e mal provocada pelas tropelias de Harry, Hermione e Ron em Hogwarts e pela respectiva luta para derrotar o malévolo vocês-sabem-quem.

Aparentemente a reprovação papal, quiçá por só agora ter o destaque que tão meritória censura merece, não parece ter afectado o lançamento do novo livro, Harry Potter and the Half Blood Prince, que chega às livrarias no próximo sábado. Na realidade, parece que existe mesmo um clube de fãs de Harry Potter no Vaticano já que a Amazon declarou ter pré-encomendas do livro provenientes de 90 países nos quais está incluído… o Vaticano! Bem, e Portugal também, pelo menos graças à minha encomenda, há muito processada e confirmada!

12 de Julho, 2005 Carlos Esperança

As multinacionais da fé

Deus é uma perigosa ficção que conquistou, no início, gente primária e supersticiosa. Umas vezes extinguiu-se rapidamente, outras fez uma carreira gloriosa até atingir as classes mais poderosas que o confiscaram e transformaram em instrumento do seu próprio poder.

Se escasseiam os sócios, Deus dá origem a uma seita. Quando se espalha, esmaga a concorrência e combate os indiferentes, passa a religião. Então, cria-se uma hierarquia, impõem-se regras, organizam-se as finanças e reduz-se a escrito a tradição oral sob os auspícios de um iluminado a quem Deus dita um livro, normalmente num sítio ermo.

As religiões do livro já foram a sofrida aspiração de quem tinha o medo e a fome como horizonte. O Paraíso tornou-se o bálsamo para o desespero, a aspiração inconsciente de uma sociedade sem classes, o desejo de pobres e infelizes se tornarem iguais aos ricos e poderosos, renunciando à luta.

A correlação de forças impôs em cada lugar a hegemonia de uma religião e definiu qual era, ali, o Deus. O Deus único e verdadeiro é o Deus de quem detém o poder, onde outro qualquer é pertença de quem não preza a vida. Muitas vezes foi expulsa a concorrência, com persecução e brutalidade.

Foi então que se deu o salto dialéctico. A ficção institucionalizou-se, a vontade de Deus sobrepôs-se à dos Homens, a fé venceu a razão, o medo impediu o pensamento.

As religiões dividiram o mundo, de acordo com a sorte das armas, e nunca renunciaram ao proselitismo que impusesse o seu Deus ao crentes de outro Deus e, sobretudo, aos ateus. A distribuição de religiões tem áreas definidas, zonas de influência demarcadas que a globalização pôs em causa. Rompido o equilíbrio, acossadas pelo medo, algumas religiões entraram em histeria. Há o fantasma da extinção e do domínio de uma só.

O cristianismo, apoiado na cultura judaico-cristã, no poder económico e na força militar, partiu em vantagem para o ajuste contas com o islão fanático. A ICAR pressentiu o perigo de o Vaticano se reduzir a um museu, subalternizado pelos protestantes, e tem tentado a fusão das várias correntes cristãs sob a hegemonia papal.

No seu proselitismo à escala planetária veio à tona o anti-semitismo secular, o pasmo pela fé islâmica, a sedução pela intolerância e o fascínio pelo fanatismo, a acordar na ICAR a memória das Cruzadas e o entusiasmo do Santo Ofício.

O próprio Opus Dei, uma espécie de Al-qaeda do Vaticano, por ora sem recorrer ao terrorismo armado, não hostiliza o islão, com quem partilha ideias ultra-reaccionárias, e recuperou o medo de uma alegada conspiração judaico-maçónica, a quem atribui, em delírio, a responsabilidade pelo agnosticismo, a laicidade e o ateísmo.

O Vaticano faz pressão para impor anacrónicas concepções aos Governos e ONGs e aguarda que se decida a correlação de forças para se empenhar na batalha final.

Cabe aos livres-pensadores impedir que as religiões sepultem a liberdade e corroam as democracias. A laicidade não é só uma exigência moral é uma questão de sobrevivência da democracia.

12 de Julho, 2005 jvasco

A Omnipresença e o Inferno

Se Deus é omnipresente, terá de estar também no Inferno.
Mas o Inferno não é a ausência de Deus?

E o mal, não é ele a ausência de Deus?
Deus está em todo o lado, mas não em «doses iguais»?