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28 de Agosto, 2005 pfontela

Filhos e enteados

Quando se deram os trágicos atentados em Londres eu estava lá a viver e pude testemunhar e participar na recusa em deixar o terror dominar a civilização e sinto orgulho por ter feito parte desse momento. Independentemente da reacção do cidadão comum surgiram logo pessoas que perceberam que deixar os terroristas colocar propagandistas no coração do nosso mundo não é grande ideia e Tony Blair afirmou mesmo que «as regras do jogo mudaram».

As propostas em termos de mudanças de lei devem ser sempre encaradas com muito cuidado para não se cair no erro de injustiças baseadas em generalizações ou isolar e alienar ainda mais os grupos afectados. Mas o que parece ser senso comum é que não podemos continuar a permitir que os pregadores de ódio espalhem o seu veneno impunemente. Existe um limite à liberdade de expressão e esse limite é claramente ultrapassado quando se apela à violência contra terceiros (a derradeira violação da liberdade individual).

Mas existe entre os países ocidentais uma estranha dualidade de critérios quanto à definição de terrorismo e tudo o que lhe é associado. Se é verdade que os imãs muçulmanos anti-ocidentais foram banidos e se persistirem no seu crime correm o risco de ser presos e acusados de traição (ou extraditados imediatamente) a verdade é que nada se fez em relação aos seus equivalentes cristãos (Phelps, Robertson …).

Será que por mudar o nome do livro que seguem isso lhes confere impunidade para fazer o que quiserem? Que critérios são esses que são tão rigorosos para uns e tão escandalosamente permissivos para outros? O que torna o ódio de um fanático cristão diferente do seu equivalente muçulmano?

Seja qual for o tipo de fanatismo ou ideologia que promova o ódio ele deve ser parado sem dar qualquer valor à sua origem ou aos seus seguidores. Só assim se pode impedir que situações horrendas como o terrorismo, a teocracia ou qualquer tipo de totalitarismo se tornem realidade.

28 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Universidade da Califórnia não admite criacionistas

A rede de Universidades públicas americanas mais prestigiada, a Universidade da Califórnia, UC, compreendida por 10 universidades que incluem a Universidade pública mais bem classificada no ranking das Universidades americanas Berkeley, a UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles) e a UCSD (Universidade da Califórnia, San Diego), apresenta padrões elevados de admissão aos excelentes cursos que ministra, requerendo que os candidatos tenham completado no liceu diversas disciplinas em ciência, matemática, história, literatura e artes.

Critérios de admissão que não são satisfeitos pelos alunos das escolas cristãs da Califórnia, que não ministram algumas das disciplinas obrigatórias para a UC ou só as ministram nominalmente. Seguindo a boa tradição cristã da mania da perseguição, ou seja, fazendo publicidade com muitos gritos de perseguição e acusações de discriminação sempre que os seus anacrónicos ditames não são universalmente aceites, na sexta-feira uma associação de escolas secundárias cristãs representando 800 escolas e a Escola Cristã do Calvário acusaram a Universidade da Califórnia de discriminação contra as escolas que ensinam o criacionismo e outros pontos de vista cristãos e interpuseram uma acção contra a UC. Na acção são citadas cartas que o conselho de admissão da UC escreveu à Escola do Calvário dizendo, como seria de esperar, que algumas das disciplinas que esta ministra são demasiado pouco abrangentes para serem aceitáveis. Informando ainda a escola cristã que não aprovaria disciplinas de biologia e ciência assentes em livros de duas editoras cristãs, cujo conteúdo é mais cristão que científico.

O conselho de admissão da UC instruiu ainda as escolas para «submeter à aprovação da UC um curriculum secular de ciência com textos e orientação dos cursos que abordem conteúdos e conhecimento aceite pela comunidade científica». Instruções que as escolas não seguiram e de que só agora se queixam, provavelmente porque os seus alunos não conseguiram entrar na UC.

Patrick H. Tyler, o advogado da associação Advogados para a Fé e Liberdade (um oxímoro) que ajuda os queixosos, afirmou que «Parece que a UC está a tentar secularizar as escolas cristãs e impedir que estas ensinem a partir de um ponto de vista cristão».

Por sua vez a porta voz da UC, Ravi Poorsina, informou não poder comentar os detalhes da acção legal uma vez que a UC ainda não a tinha recebido. Mas disse que a Universidade tinha direito, legalmente reconhecido, a determinar quais os critérios de admissão para os candidatos à UC em termos das disciplinas efectuadas. E referiu que «O que fazemos de facto é para benefício dos estudantes. Estes critérios de admissão foram estabelecidos cuidadosamente pela faculdade e corpo docente para assegurar que os estudantes que cá chegam estão completamente preparados com o conhecimento de espectro largo e as capacidades de pensamento crítico necessárias para terem sucesso». E «Embora as escolas privadas tenham o direito de ensinar o que quiserem, os estudantes dessas instituições podem ser admitidos na UC completando as disciplinas obrigatórias em instituições comunitárias».

Ravi Poorsina declarou ainda que os estudantes das escolas cristãs podem ser admitidos com base apenas nos seus resultados nas provas nacionais SAT (o equivalente aos nossos exames do 12º ano). Mas, quiçá porque os curricula das escolas cristãs não propiciem bons resultados nas provas nacionais, na acção interposta é dito que por esta via de acesso os alunos cristãos têm muito poucas hipóteses de admissão.

Pessoalmente acho que é precisa muita desfaçatez para querer impor às Universidades critérios de admissão que satisfaçam as IDiotias cristãs. E considero que as Universidades americanas de mais prestígio brevemente seguirão o exemplo da UC. Porque alunos que acreditam que a Terra tem menos de 10 000 anos, que o Grand Canyon foi formado num dia pelo grande dilúvio, que Deus «criou» todas as espécies que existem na Terra em seis dias sem margens para evoluções ateias, isto para não falar na total ausência de espírito crítico, não têm lugar numa Universidade séria e digna do nome. Quiçá os delírios criacionistas que infestam os Estados Unidos sejam refreados quando os pais se aperceberem que os filhos tão cristãmente educados só têm lugar em Universidades de 2ª e 3ª categorias.

27 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Mais um pregador do ódio

O fanático pastor da Igreja Baptista de Westboro, Kansas, vai a caminho da odiada Suécia, terra dos sodomitas, «caçar» o respectivo rei, que Phelps considera ser mais um dos odiados homossexuais.

Esta igreja, que afirma ser a homossexualidade um pecado merecedor da morte, é apenas um exemplo dos extremos a que a agenda dos teocratas pode chegar.

Certamente que se o Deus a que Phelps agradece pelos atentados em Londres fosse o Deus cujas «leis» estão expressas no Corão e não na Bíblia alguma medida já teria sido tomada contra ele!

27 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Venezuela aperta regras sobre pregadores

Os prosélitos da fé podem agradecer às piedosas palavras do ícone evangélico Pat Robertson o recente anúncio restringindo a actividade de pregadores religiosos na Venezuela.

O director dos assuntos religiosos do Ministério da Justiça venezuelano, Carlos González, informou ontem que estão suspensas as autorizações para missionários enquanto o governo trabalha em legislação que visa apertar a regulamentação sobre pregadores da «verdadeira» fé, qualquer que ela seja, na Venezuela.

O anúncio surge quatro dias depois de Robertson ter pedido o assassinato de Chávez, pedido transmitido em directo para o mundo inteiro pela cadeia televisiva que preside, a CBN (Christian Broadcast Network). As palavras de Robertson foram classificadas ontem pelo presidente venezuelano de «puro terrorismo». Chávez afirmou ainda que o ex-candidato presidencial republicano«expressava os desejos da elite dos Estados Unidos».

27 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

O perigo vem do Vaticano

A aproximação da ICAR à seita extremista de Mons. Lefebvre, Fraternidade Sacerdotal S. Pio X, (FSSPX), de que Ricardo Alves nos dá conta no seu artigo «Ratzinger abre-se à extrema-direita», é uma notícia assustadora.

O Papa Ratzinger é, pelo seu passado e pela actual conduta, um intelectual extremista, defensor do absolutismo católico. Já o finado JP2 assistiu com mágoa à dissidência do bispo Lefebvre e à separação do magistério pontifício do seminário de Ecône, na Suiça. Nessa altura, a correlação de forças dentro da ICAR não favorecia a extrema-direita.

Dito de outra forma, a memória do concílio Vaticano II estava fresca e a existência de cardeais nomeados por João XXIII não permitiam o regresso à ortodoxia do concílio de Trento, nem era prudente lembrar o conluio do catolicismo com os regimes fascistas.

Calculo a mágoa JP2 a excomungar o bispo de Ecône, adversário do Vaticano II, essa «renovação diabólica» em direcção ao «liberalismo, protestantismo e a revolução».

Este encontro fraterno entre os sucessores de Marcel Lefebvre e B16 é o retorno à Igreja pré-conciliar que o extremismo do Vaticano advoga com o apoio material e espiritual da mais tenebrosa e opaca das suas seitas – o Opus Dei, prelatura pessoal dos dois últimos Papas e um alfobre de santos, banqueiros, políticos e falsários.

João XXIII deixa de ser desculpa para a reconciliação com a modernidade, a tolerância democrática e a condescendência com outras religiões. Quem não estiver de acordo sai. Alguns vão afastar-se, mas o espírito do Vaticano I e do concílio de Trento ressuscitará no seu máximo esplendor, com o clericalismo no seu apogeu, regressando as purgas e as perseguições.

Vêm aí os talibãs da ICAR. O grande inquisidor B16 tentará ajoelhar o mundo a seus pés. Tem um exército «mais poderoso e até mais rico do que muitos Estados do Terceiro Mundo» – o Opus Dei.

«O Mundo Secreto do Opus Dei demonstra que esta sociedade secreta é, no mais ínfimo detalhe, tão implacável para atingir os seus objectivos como os apoiantes mais fanáticos do Islão. (…) e desenvolve as suas influências tentaculares pelos quatro continentes» – lê-se em «O Mundo Secreto do OPUS DEI», de Robert Hutchison, que tem o subtítulo premonitório:

«Preparando o confronto final entre o Mundo Cristão e o Radicalismo Islâmico».

26 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Teoria da Queda Inteligente

O jornal satírico «The Onion» publicou mais uma peça deliciosa, obviamente destinada a ridicularizar os argumentos IDiotas dos criacionistas que pululam até nesta Europa supostamente mais livre dos fundamentalismos obscurantistas cristãos.

Simplesmente de leitura imprescindível, como estes excertos hilariantes demonstram:

Enquanto continua o debate acerca do ensino da evolução nas escolas públicas, uma nova controvérsia acerca dos curricula de ciência surgiu esta segunda-feira neste (Kansas) estado em guerra. Cientistas do Centro Evangélico para a Explicação Baseada na Fé, ECFR, afirmam que a há muito aceite «teoria da gravidade« tem falhas e respondem a esta teoria com uma nova teoria da Queda Inteligente.

«As coisas não caem porque são actuadas por uma qualquer força gravitacional, mas porque uma inteligência superior, ‘Deus’ se quiserem, as puxa para baixo» afirmou Gabriel Burdett, graduado em Educação, Escrituras Aplicadas e Física da Universidade Oral Roberts.

Burdett acrescentou: «A gravidade- que é ensinada às nossas crianças como uma lei – assenta em enormes falhas de conhecimento. A lei prevê uma força mútua entre todos os corpos com massa mas não se consegue explicar essa força. O próprio Isaac disse ‘Suspeito que as minhas teorias podem depender de uma força pela qual filósofos procuraram em vão na natureza’. Claro que ele alude a um poder superior»

Fundada em 1987, a ECFR é a instituição líder a nível mundial da Física Evangélica, um ramo da Física baseada na interpretração literal da Bíblia.

De acordo com um artigo da ECFR publicado simultaneamente no International Journal Of Science e na revista juvenil «A palavra de Deus para adolescentes» há muitos fenómenos que não podem ser explicados apenas pela gravidade secular, incluindo mistérios como voam os anjos, como ascendeu Jesus ao Céu e como Satã caiu quando foi expulso do Paraíso.
(…)
Os proponentes da Queda Inteligente afirmam que as diferentes teorias utilizadas pelos físicos seculares para explicar a gravidade não são internamente consistentes. Mesmo os críticos da Queda Inteligente admitem que as ideias de Einstein sobre a gravidade sao irreconciliáveis matematicamente coma mecânica quântica. Este facto, afirmam os proponentes da Queda Inteligente, prova que a gravidade é uma teoria em crise.
(…)
«Os defensores da gravidade de mentes fechadas não conseguem arranjar forma de fazer corresponder a teoria da relatividade geral de Einstein com o mundo sub-atómico» afirmou a Dra. Ellen Carson, uma das principais peritas em Queda Inteligente conhecida pelo seu trabalho com o Ministério da Juventude do Kansas. «Têm tentado fazê-lo quase há um século e, apesar de todas as suas observações empíricas e dados compilados cuidadosamente ainda não sabem como fazê-lo»

“Os cientistas tradicionais admitem que não conseguem explicar como funciona a gravitação,» disse Carson. «O que é necessário que os cientistas em defesa da agenda da gravidade percebam é que ‘ondas gravitacionais’ e ‘gravitões’ são apenas palavras seculares para ‘Deus pode fazer o que quer que queira’»
(…)

Esperemos que nenhum alucinado cristão depare com a notícia e pense que é verdade, como aconteceu com os livros Harry Potter, em que uma mentecapta, a fazedora de opinião cristã Helen Makkai, acreditou sem pestanejar na notícia obviamente falsa e deu origem ao movimento que vilifica os livros de J. K. Rowling, nos quais se inclui o «santo» e esclarecido Bento XVI.

26 de Agosto, 2005 Ricardo Alves

Ratzinger abre-se à extrema direita

Joseph Ratzinger estará disposto a reintegrar na ICAR a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), uma seita integrista que reune dissidentes de extrema direita da ICAR e que foi fundada por Marcel Lefebvre. Um primeiro sinal será dado na próxima segunda-feira em Castelgandolfo, quando o líder actual da FSSPX, Bernard Fellay, for recebido pelo Papa da ICAR (a notícia em Português; a notícia em Inglês). Em cima da mesa estará a reconciliação da ICAR com estes «católicos tradicionalistas», que colocam como condições para a reunificação a revogação da excomunhão de Lefebvre e dos seus bispos e o poderem celebrar a missa latina sem autorização escrita.

Recorde-se que a FSSPX se separou da ICAR em 1988, na sequência da nomeação, por Marcel Lefebvre, de quatro bispos que foram considerados «cismáticos» por carecerem da autorização de JP2 e que foram portanto excomungados em conjunto com Lefebvre. À época, Joseph Ratzinger serviu como mediador e tentou evitar a ruptura dos tradicionalistas com a ICAR. Lefebvre fundara a FSSPX em 1970 com outros padres fundamentalistas desgostados com o Concílio Vaticano 2, cujas conclusões rejeitavam, e que mantiveram a «missa tridentina» (em latim). A FSSPX tem conexões com sectores fascistas em vários países: em Portugal, alguns dos seus membros estiveram ligados à fundação do PNR, enquanto em França estão ligados à Frente Nacional de Le Pen, tendo sido num convento de Nice pertencente à FSSPX que foi detido, em 1989, o criminoso de guerra Paul Touvier. Lefebvre, ele próprio, lançou um livro na sede do partido (franquista) de Blas Piñar e apelou ao voto em Le Pen em 1985. A FSSPX contará, hoje, com sete seminários e quase 500 padres em cerca de 40 países.

Conforme se pode ler no último boletim da FSSPX, os seguidores de Lefebvre encaram B16 com uma expectativa positiva, devido à desconfiança deste pelo diálogo inter-religioso (afirmam que terá apresentado a sua demissão a JP2 aquando do primeiro encontro de Assis) e devido ao facto de a sua eleição ter sido feita contra os «progressistas» (aliás, o boletim da FSSPX é muito rico em detalhes sobre o conclave, pois fornece informações inéditas sobre o número de votos que Ratzinger terá tido desde o início -cerca de 50- e sobre a desistência do bispo de Buenos Aires, Bergoglio, após a segunda volta).

Os herdeiros de Lefebvre suspeitam que Ratzinger quer utilizá-los, dentro da ICAR, como contrapeso aos católicos «progressistas», o que permitiria a B16 aparecer como um moderado. Eu penso que estão a fazer uma leitura correcta.
26 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Ameaça da ONU

O porta-voz diz que a ONU não aprova manifestações de violência contra um chefe de Estado democraticamente eleito.

O pastor Robertson, no seu programa semanal, «club 700» instigou o governo dos EUA a assassinar Chavez, pois ficaria muito mais barato do que uma invasão.

É interessante a preocupação cristã do tele-pregador evangelista com as despesas da invasão, propondo o assassinato, mais barato e expedito.

Farhan Haq, porta-voz da ONU, esclareceu que não é assunto das Nações Unidas, por se tratar de afirmações privadas, mas assegurou que «levam a sério qualquer incitação à violência contra chefes de Estado.

Deus tem empregados piores que o patrão.

Fonte: Pulsar – Agência informativa

25 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Bispo de Santiago del Estero resigna

O Vaticano aceitou com um comunicado breve, sem indicar razões, o pedido de resignação do bispo de Santiago del Estero, Argentina, Juan Maccarone. Mas na comunicação social abundam as notícias que dão conta da existência de uma gravação vídeo que explicita a natureza das relações mantidas pelo piedoso bispo de 64 anos com um jovem de 23 anos.

Claro que as autoridades eclesiásticas locais negam o facto e afirmam que a resignação se deveu a motivos de saúde. Desculpa piedosa em que os jornais locais não acreditam. Aliás referem que o bispo foi transferido da sua anterior diocese em Chascomús por razões semelhantes.

O mui devoto bispo teve recentemente intervenções impressionantes de fé e obediência aos dogmas católicos (para os outros), nomeadamente denunciando, em perfeita sintonia com o seu Papa, o «sincretismo religioso» e destacando-se em coerentes e acutilantes intervenções contra os que propõem «legislação frívola» para legalizar o abominável aborto. Claro que para o piedoso clérigo é irrelevante que, de acordo com um relatório da Human Rights Watch, 50% das gravidezes na Argentina sejam interrompidas, com riscos consideráveis para as mulheres que a tal são obrigadas, já que o aborto é ilegal. Coerente com os dogmas da religião que oficiou tantas décadas certamente que o clérigo perorava que sexo só com fins procriativos, contracepção e aborto são abominações contra as quais a Igreja Católica argentina se tem destacado. Nomeadamente o «mártir» Antonio Baseotto que justamente, segundo o Vaticano, sugeriu deitarem ao mar, com uma pedra amarrada ao pescoço, o ministro da Saúde, Ginés González, que considerava descriminalizar e permitir o aborto em hospitais públicos.

Estranhamente, tal como no resto no Mundo parece que os clérigos argentinos que tanto se preocupam com a sexualidade alheia, que tanto execram a imoralidade reinante, apresentam perturbantes desvios aos dogmas que querem impor aos restantes. Assim, a resignação de um dignitário católico por… motivos de saúde… não é inédita na Argentina que já tinha sido presenteada em 2002 pela resignação de outro grande paladino de óvulos e espermatozóides, o arcebispo Edgardo Gabriel Storni que resignou sob um manto de inúmeras acusações de abuso sexual de menores, inclusive a seminaristas. Parece que muitos mais membros da delegação local da ICAR estão sob investigação após acusações de pedofilia.

Pessoalmente considero que a sexualidade de cada um, desde que praticada com adultos consensuais, é algo do foro pessoal e sobre a qual nunca considerei fazer juízos de valor. Mas surpreende-me sempre pela negativa e sempre o denunciarei o empenho da Igreja Católica em determinar a sexualidade de outrem, a veemência das campanhas pela abstinência e contra o preservativo, exortando à virgindade ad aeternum mesmo em países devastados pela SIDA, quando em casa própria a única preocupação é esconder os resultados dos seus dogmas contra natura!