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6 de Setembro, 2005 Ricardo Alves

Uma sondagem curiosa

No passado dia 30 de Agosto, o jornal Le Monde publicou uma sondagem feita à população francesa de origem turca ou africana (em França, esta última é sobretudo magrebina). Alguns dos resultados da sondagem (ver em pdf) são muito curiosos.
  1. Cerca de 20% dos respondentes declaram-se «sem religião», uma percentagem que não anda longe dos 28% na população francesa em geral. Atribuindo a diferença às famílias francesas que já são ateias ou agnósticas por tradição, a percentagem de pessoas que abandonam o Islão será portanto muito semelhante à percentagem de pessoas que abandonam o catolicismo. É, sem dúvida, uma boa notícia.
  2. Entre aqueles que se declaram muçulmanos, 21% praticam regularmente (um mínimo de uma ou duas idas por mês à mesquita), uma percentagem que não andará muito longe da percentagem de franceses católicos praticantes.
  3. Ao nível dos preceitos individuais, 23% dos muçulmanos declarados assumem que bebem vinho (nem que seja «de vez em quando»…), 27% confessam que nunca rezam, e, embora 81% declarem querer fazer a peregrinação a Meca, apenas 2% a fizeram.
  4. Quanto ao casamento, mais de metade dos pais muçulmanos (57%) acha que os seus rapazes devem decidir com quem se casam, e 47% tem a mesma opinião para as filhas. A mistura pode avançar.
  5. Finalmente, a laicidade é um conceito «positivo» ou «muito positivo» para 82% dos muçulmanos franceses, 65% não estão de acordo com a frase «a laicidade é um obstáculo à liberdade religiosa», 82% estão de acordo com a frase «em França, é a laicidade que permite a pessoas de convicções diferentes viverem juntas» e 59% defendem que os símbolos religiosos não têm lugar na escola pública.

Pode portanto concluir-se que o processo de integração dos muçulmanos em França está a decorrer a bom ritmo. Existem sem dúvida fanáticos, mas são uma minoria.

5 de Setembro, 2005 jvasco

Turquia e Religião – II

Na Turquia, praticamente toda a população é islâmica.

As mesquitas estão por todo o lado (tal como as igrejas por cá), e cinco vezes por dia ouvem-se os sons do chamamento às orações, ouvindo-se também adicionalmente uma «despedida ao Sol» cada vez que este se esconde.

No entanto, analogamente ao que se passa por cá, a frequência das mesquitas às sextas-feiras é de cerca de 20%, e menos do que essa quantidade de pessoas reza nos 5 chamamentos diários. O álcool, que as interpretações mais literalistas do Alcorão consideram tão proibido como o porco, é consumido da mesma forma que cá. Nas zonas mais desenvolvidas e ricas da Turquia a religião, até há bem pouco tempo, não afectava mais a vida das pessoas do que cá.

No entanto, isso está em risco de mudar. Um dos principais partidos da Turquia foi recentemente dividido, e o sistema eleitoral turco, que é pouco favorável aos pequenos partidos, levou a que o «Partido da Justiça e Desenvolvimento», um partido religioso (moderado) chegasse ao poder. Esse partido autorizou algo que antes não se sucedia: grupos religiosos (cujo financiamento se suspeita provir da Arábia Saudita) oferecem bolsas de estudo às raparigas mais pobres, desde que estas usem o lenço à volta da cara conforme estes grupos consideram aceitável. O resultado está à vista: o lenço era apenas usado por senhoras mais idosas, principalmente do campo (aliás de forma similar aquilo que se passa em Portugal), mas é agora também usado por um número significativo de raparigas jovens. Algumas não o usam para receber as referidas bolsas, mas para mostrar apoio ao partido do governo. De uma forma ou de outra, trata-se de uma tendência recente que deixa muitos turcos desconfortáveis com a situação. Ainda assim, tanto quanto vi, a maioria das raparigas jovens não usa lenço.

Alguns turcos identificam esta situação como uma «invasão árabe». Consideram que existe um receio de que a Turquia seja tomada como um «exemplo de sucesso» em que a laicidade pode coexistir com o Islamismo, e que os grupos religiosos islâmicos mais fundamentalistas estão a fazer tudo para que tal não se verifique.

4 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Deometria ou matemática para crentes

Depois da teoria da Queda Inteligente a última sátira às IDiotias faz furor nos Estados Unidos: a deometria, o estudo de como o Criador criou pontos, linhas, ângulos, formas geométricas e determinou as relações entre estes. Num fabulosos artigo satírico somos informados que, de acordo com os aderentes a esta forma alternativa de introduzir a geometria nas salas de aulas, a deometria pretende apenas estabelecer o balanço numa área que removeu todos os vestígios da religião do «polígono público». Numa área essencial já que a etimologia de geometria, uma contracção de duas palavras gregas, geo (terra) e metron (medida), torna evidente que geometria deve ser de facto teometria uma vez que «O problema que se encontra é que não se pode medir a Terra sem atribuir a Deus a sua criação» explicou Mac Bresnahan, professor de matemática em Topeka High, Kansas, e treinador de golfe.

Bresnahan dá aulas de geometria na Topeka High há cerca de 30 anos e afirma que se sentia frustrado num campo que tem ignorado sistematicamente o papel do Criador: «Tenho ensinado os alunos como encontrar o centro de uma circunferência usando um compasso e se alguém levanta a mão e pergunta ‘bem, quem inventou a circunferência? Eu gostaria de dizer a verdade, que foi Deus, mas isso era contra a política de Topeka High».

Mas a política de Topeka High mudou, graças aos esforços dos membros cristãos da escola para que o Seu divino papel seja reconhecido em todos os curricula escolares, desde as aulas de ciências, que incluem desenho inteligente, passando pela deometria até à deoeconomia «o estudo da distribuição de recursos que assume que Deus é a ‘mão invísivel’ que energiza o motor da economia dos Estados Unidos».

Uma sátira a não perder! Assim como é imperdível a hilariante tentativa (não, apesar de o parecer, isto não é uma sátira) de enquadrar a mecânica quântica na «perspectiva cristã»! Aliás todo o sítio web da «Física Bíblica» é simplesmente surrealista!

3 de Setembro, 2005 Carlos Esperança

Santo Ofício

O que as santos inquisidores faziam para castigar um réprobo e defender a pureza da fé.

3 de Setembro, 2005 Carlos Esperança

Glória a um santo perverso

No dia 30 de Agosto foi colocada uma estátua de S. Josemaria Escrivá de Balaguer, com 5 metros de altura, em mármore, no exterior da Basílica de S. Pedro.

Algumas reflexões:

O crime compensa. O fundador do Opus Dei apoiou um dos mais frios ditadores católicos, Francisco Franco, carrasco do povo espanhol e responsável por centenas de milhares de mortes.

O Opus Dei, que domina o Vaticano, desde a morte nunca esclarecida de João Paulo I, é o banqueiro privado dos Papas e responsável pela orientação política da ICAR.

O pio Escrivá de Balaguer que se fazia ciliciar – tinha grossos pecados que o afligiam e necessitava de expiá-los -, preparou em vida o seu processo de canonização.

O escândalo do Banco Ambrosiano tem sido abafado e o Vaticano opôs-se à extradição dos clérigos arguidos no processo italiano relativo ao crime.

Mal arrefeceu o cadáver, já fazia milagres. Logo lhe foram adjudicados três, um deles a cura do cancro de uma freira cuja madre superiora não sabia que estava doente.

O Opus Dei é o cão de guarda da ortodoxia católica e da moral conservadora. A sua influência tem sido altamente nefasta nos países da América latina.

3 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Bush e Robertson

Depois do tele-evangélico Pat Robertson ter apelado ao assassínio do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em directo para milhões de teleespectadores e da sua meia «desculpa» que o não foi, dos apelos dos democratas para uma condenação vigorosa do pastor e da intenção anunciada pelo governo venezuelano de pedir uma acção legal e a sua eventual extradição, esperar-se-ia do governo de G. W. Bush uma reacção para além da imediata que considerou «desadequadas» as palavras de Robertson.

E ontem essa reacção surgiu! Mas de sinal contrário ao que todos esperariam! Ou seja, a administração Bush manifestou o seu apoio a Robertson quando colocou em segundo lugar (agora em terceiro) a organização presidida pelo «piedoso» pastor na lista da Federal Emergency Management Agency (FEMA), publicada online e nos jornais americanos, que indica as organizações recomendadas para recolha de donativos às vítimas do furacão Katrina.

«Como é que isto aconteceu? Isto dará milhões de dólares extra a Pat Robertson» já que «Estar na lista a partir do dia 1 ou 2 significa a diferença entre ter uma quantidade significativa de recursos financeiros para fazer o trabalho ou não o ter» afirmou Richard Walden, presidente da Operation USA, um grupo (secular) que tem desenvolvido trabalho de auxílio em situações destas desde 1979 e que não consta da lista. Aliás a lista de organizações para onde, segundo o FEMA, os americanos devem dirigir os seus donativos só apresenta mais uma instituição não ligada a grupos religiosos para além da Cruz Vermelha!

Considerando que apenas uma parte dos donativos recolhidos por este tipo de instituições de auxílio (religiosas) chega de facto às vítimas, nalguns casos apenas uma ínfima parte, Pat Robertson prepara-se para lucrar com a catástrofe que se abateu sobre a Louisina e Mississipi! Com o auxílio do seu velho amigo Bush!

2 de Setembro, 2005 jvasco

A Turquia e a Religião – I

Mustafá Kemal Ataturk é uma personagem central na história da Turquia. Aluno brilhante e fora de série, acabou por seguir a carreira militar onde registou um historial de vitórias épicas (durante a primeira guerra mundial) que lhe valeu uma rápida ascensão aos postos mais avançados de comando. Depois da Turquia saír da primeira guerra mundial ocupada por tropas britânicas, francesas, russas, italianas e gregas, Ataturk liderou uma revolta que triunfou sobre as tropas ocupantes e sobre a oposição interna fiel ao Sultão do império Otomano.

Ao acabar com o império Otomano, Ataturk fundou a República da Turquia, concorrendo e ganhando nas primeiras eleições que foram realizadas. Ataturk implementou então uma série de reformas com o objectivo de modernizar e laicizar o país. Foi implementado o alfabeto latino (anteriormente era usado o alfabeto árabe) e o calendário gregoriano, e foi dada uma grande prioridade à separação entre a igreja e o estado: a poligamia foi ilegalizada; procurou dar-se iguais oportunidades às mulheres no acesso ao emprego e educação; considerou-se vital que a lei civíl não fosse determinada pela religião islâmica. Como resultado destas reformas, o analfabetismo caiu drasticamente.

Ataturk acreditava firmente na liberdade religiosa, mas isso não o impediu de declarar: «Não tenho religião, e às vezes até desejava que fossem todas parar ao fundo do mar. […]. Os Turcos aprenderão os princípios da democracia, os ditames da verdade e os ensinamentos da ciência. A superstição tem de morrer. Deixem-os adorar e rezar à vontade: cada homem pode seguir a sua consciência, desde que tal não atente contra a liberdade de outros».

Hoje, tal como então, a herança de Ataturk está sob ataque. A Turquia é o mais laico dos países islâmicos, mas ainda há muito a fazer para que o estado seja realmente laico. Na Turquia, o astear de uma bandeira ou o uso de símbolos e fotografias que relembrem Ataturk não corresponde necessariamente a nacionalismo ou culto da personalidade: estes símbolos significam a crença nos princípios da separação entre a igreja e o estado, e a esperança de que a Turquia constitua um exemplo para outros países de maioria islâmica.

2 de Setembro, 2005 Carlos Esperança

As mutações de Deus

Enquanto o reino animal, ao longo da história, sofreu alterações genéticas que melhoraram as espécies e transformaram o género humano em seres cada vez mais evoluídos, Deus sofreu mutações que o fizeram regredir e o tornaram pior.

As mutações divinas que empobreceram o produto original foram introduzidas pelos charlatães que fabricam Deus, sem terem em conta os benefícios dos clientes, olhando aos seus interesses exclusivos.

O Islão clonou o Deus judaico-cristão, sem conhecer a cultura helénica nem o direito romano. Produziu um aborto que o profeta Maomé, analfabeto e rude, converteu num perigoso inimigo da humanidade e em violento factor de retrocesso civilizacional.

Para piorar as coisas, Deus, per se um produto defeituoso, ficou nas mãos dos clérigos cujo poder e importância dependem da subserviência dos fiéis, da autoridade que conseguem impor e do terror que infundem.

É este o dilema da civilização: ou afasta o clero do poder ou perde a modernidade, a democracia e o progresso. Deus está a mais no processo de transformação social. É um elemento perturbador da felicidade humana.

1 de Setembro, 2005 Ricardo Alves

Abriu a primeira escola privada humanista dos EUA

Nos EUA, funcionará pela primeira vez no ano lectivo 2005-2006 a Carl Sagan Academy, uma escola secundária privada baseada em princípios humanistas: o livre exame, o método científico e os valores democráticos. Situa-se na localidade de Tampa, na Florida, e começará com 55 alunos divididos por três turmas.

A escola foi fundada pela Associação de Humanistas da Florida, como são fundadas por igrejas outras escolas privadas parcialmente subsidiadas pelo Estado. Os subsídios públicos comprometem a escola a não fazer a propaganda do ateísmo, tal como as escolas religiosas subsidiadas com dinheiros públicos não deveriam fazer proselitismo religioso. O financiamento restante vem do Institute for Humanist Studies. Os livros criacionistas não fazem parte do currículo.

Paradoxalmente, a escola vê-se obrigada a funcionar no edifício de uma igreja.