Loading
21 de Setembro, 2005 Carlos Esperança

Bispos espanhóis nervosos

Os bispos espanhóis ameaçam sair à rua (quem os impede?) se passar no Parlamento o projecto de lei Orgânica de Educação, já aprovado em Conselho de ministros, e que transfere o vínculo laboral dos professores de Religião para as respectivas Igrejas.

Claro que a Igreja Católica, habituada ao monopólio, é capaz de ser a única prejudicada. Mas com que direito pretende ensinar uma disciplina do seu exclusivo interesse, nomear as pessoas da sua inteira confiança e impor o ónus do pagamento a um Governo que não deixa de contestar?

A determinação de Zapatero de transformar a Espanha num país laico, como manda a Constituição, põe os bispos de cabeça perdida. O longo e pio consulado de Franco, as cedências dos primeiros governos do PSOE e a subserviência do avençado do Opus Dei, Aznar, fizeram os eminentes purpurados acreditar na eternidade… dos privilégios.

Julgavam a avença de direito divino e, afinal, basta um governo legitimado pelo povo para pôr as mitras em ebulição e as sotainas a rodopiar.

21 de Setembro, 2005 Cristiane Pacheco

Deus é surdo?

Uma das maiores desgraças que podem acontecer a um cidadão neste país tropical é morar próximo a um templo evangélico. Os pastores, não satisfeitos em pregar as habituais xaropadas entre as quatro paredes de seu estabelecimento comercial, fazem questão que toda a vizinhança escute sua voz histérica e as músicas pavorosas feitas especialmente para louvar o seu deus (e vender milhões de CDs, claro). Com as portas abertas e potentes amplificadores, esses assassinos da paz conseguem levar os moradores do bairro à loucura, tornando seus sábados e domingos verdadeiros suplícios. A charanga dos fanáticos começa cedo e só termina após 22h.

Mas, perguntariam vocês, não existe por aí uma lei que proteja o cidadão da poluição sonora? Sim, em todos os estados brasileiros existem leis e programas para fiscalizar e coibir abusos deste tipo. Mas essas leis simplesmente não são cumpridas quando se trata de templos e igrejas. O exemplo mais ignóbil está em São Paulo: quando a prefeitura resolveu implementar o polêmico Programa de Silêncio Urbano, o http://www.chegadebarulho.com/Conteudo_noticias.htm “>conseguiu aprovar uma lei que amenizou as regras referentes aos templos: multas bem inferiores (redução de até 96%), prazo de 90 dias para o templo «consertar» o que está errado (enquanto os outros estabelecimentos são multados na hora) e medição dos decibéis não no próprio templo, mas na casa de quem reclamou. Além da lei ser discriminatória (uma vez que os decibéis dos cultos não são mais suportáveis que os dos bares e casas noturnas), não é aplicada com rigor. Os bairros mais humildes, favelas e pequenas cidades estão entregues à própria sorte. Em outros locais, os templos misteriosamente suspendem os cultos ou desligam os alto-falantes exatamente no dia em que o fiscal resolve averiguar as denúncias. Deus é meio surdo, mas pelo visto muito bem relacionado.

21 de Setembro, 2005 Carlos Esperança

O perigo romano

O papa actual, Bento 16, 265º pontífice da Igreja Católica, é o 7.º pastor alemão. De S. Pedro a João Paulo 2, a Igreja teve 212 papas italianos, 17 franceses, 11 gregos, 6 sírios, 6 alemães, 3 espanhóis, 3 africanos, 2 dálmatas (Croácia, antiga Dalmácia)), 1 português, 1 inglês, 1 cretense, 1 holandês e 1 polaco.

A discrição de B16 é motivo de perplexidade e apreensão, quando as diversas religiões praticam um proselitismo arcaico, como resposta ao fenómeno da globalização que põe em perigo a sua sobrevivência.

O poder militar, político e económico dos países onde a religião é poderosa vai ser decisivo para a supremacia no mercado da fé, a par do fanatismo dos crentes, objectivo que nenhuma descura sabendo que a cegueira religiosa é um factor determinante para a continuidade da crença.

A reaproximação entre B16 e Bernard Fellay, líder da Fraternidade Sacerdotal Pio X, é uma indicação quanto ao carácter reaccionário e agressivo do actual pontificado. A euforia com que o Opus Dei viu o cardeal Ratzinger tornar-se Papa é um sinal acrescido dessa orientação.

A guerra da ICAR contra governos democráticos, que dão passos progressistas em relação à contracepção, homossexualidade, divórcio, aborto, liberdade religiosa e libertação da mulher, denotam uma campanha concertada contra a laicidade dos Estados e uma intromissão intolerável na esfera política.

O carácter medieval do regresso ao exorcismo, em concorrência com a psiquiatria, e a insistência nos milagres e criação de santos, são indícios do carácter obscurantista e da apoteose do charlatanismo a que se dedica a Cúria romana, à semelhança do exemplo tribal e troglodita do Islão com quem se alia na defesa de leis retrógradas e com quem pretende competir na evangelização.

A segurança dos Estados democráticos não pode descurar a natureza subversiva das religiões e o carácter conspirativo dos seus padres, mantendo uma vigilância eficaz sobre os pregadores exaltados e conspiradores.
(Revisto)

21 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Cristal Vermelho

A Cruz Vermelha e o seu equivalente em países islâmicos, o Crescente Vermelho, podem ter em breve uma designação comum, o Cristal Vermelho. A medida que se pretende implementar visa a utilização de um emblema neutro, nesta era de crescentes conflitos de origem religiosa. De igual forma, sob a nova designação algumas organizações humanitárias anteriormente excluídas, como a israelita Magen David Adom, que usa o escudo vermelho de David, podem juntar-se à organização. A Suiça, o país de origem da Cruz Vermelha, pretende realizar uma conferência no final do ano em que os 192 países que aderiram à convenção de Genebra serão auscultados sob a nova designação e símbolo.

A Cruz Vermelha é uma organização humanitária que não tem nada a ver com religião e o seu símbolo actual é apenas a imagem revertida da bandeira suiça, um país com uma longa tradição de neutralidade. Mas o facto fortuito de esta ser uma cruz impediu, quasi desde as origens da organização, a utilização universal do símbolo. Esperemos que o novo símbolo e designação sejam aprovados e que o Cristal Vermelho seja uma realidade a nível global já em 2006!

21 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Uma fraude centenária

Relíquia sagrada? Não, apenas uma solução coloidal de óxido de ferro(III) hidratado, FeO(OH)

Um frasco selado contendo uma substância sólida acastanhada, supostamente o sangue seco de San Gennaro, o patrono de Nápoles, é mostrado há séculos numa catedral apinhada de crédulos fiéis que, no decorrer duma cerimónia solene, assistem ao «milagre» da liquefacção da massa sólida.

A liquefacção do sangue do «santinho» é uma parte integrante da vida de Nápoles e uma garantia de «boa sorte» para a cidade. O frasco é guardado num cofre na Catedral de Nápoles e é levado, com pompa e circunstância, para o altar-mor onde é submetido aos rituais específicos associados à cerimónia da liquefacção, que tem lugar três vezes por ano, em Maio, Setembro e Dezembro. Numa atmosfera rondando a histeria, após os hocus pocus e demais rituais necessários à manutenção da lenda urbana, o arcebispo, nos últimos anos o «ingénuo» Cardeal Michele Giordano, que tem alguma dificuldade em distinguir o seu dinheiro pessoal do da diocese,e que até à prisão deste financiava o seu irmão agiota Mario Lucio Giordano, ergue o frasco, agita-o e declara que o sangue se liquefez. A notícia é saudada com uma salva de 21 tiros no Castel Nuovo.

Como naquelas mensagens em cadeia, a lenda urbana desenvolvida em torno do «milagre» garante que a cidade será atingida por uma qualquer calamidade, seja uma erupção do Vesúvio ou a derrota do Nápoles, a equipa local de futebol, caso a cerimónia não tenha sucesso (provavelmente causado por um dignitário com uma sacudidela menos vigorosa).

Mas a cerimónia centenária foi ontem «manchada» pelas declarações de uma cientista italiana que afirmou que a liquefação não passa de uma fraude.

De facto, a astrofísica Margherita Hack afirmou que «Não há nada místico acerca disto. Vocês podem fazer este apelidado sangue na vossa cozinha».

A Professora Hack e restantes cientistas da Associação Italiana para o Estudo do Paranormal afirmam que o frasco contém simplesmente uma mistura química à base de um sal de ferro, mais especificamente FeO(OH), que data da Idade Média (mais ou menos quando se começaram a registar os ditos «milagres», em 1389).

Ou seja, o frasco vendido como um dos milagres mais estabelecidos da Santa Igreja, contém apenas uma mistura tixotrópica. A tixotropia é uma propriedade que determinados géis apresentam que lhes permite tornarem-se mais fluídos, podendo apresentar uma transição sólido-líquido, quando sujeitos a vibração, agitação ou outra forma de perturbação mecânica, solidificando quando deixados em repouso. Alguns exemplos comuns de géis que apresentam estas propriedades são alguns tipos de tintas ou mesmo a vulgar maionese.

Neste caso a substância sólida é um gel contendo FeO(OH), que se assemelha a sangue seco. Quando o gel é agitado durante as cerimónias dá-se uma mudança de fase e liquefaz, quando é guardado no cofre solidifica!

Como seria de esperar a explicação científica levantou um coro de protestos em Nápoles. O marquês Pierluigi Sanfelice, um dos guardiães oficiais do frasco «milagroso» afirmou que a Igreja Católica efectuou testes no frasco e confirmou que contém hemoglobina, uma proteína hémica que contém ferro e dá a cor característica ao sangue. Tanto quanto eu tenha descoberto estes testes não foram confirmados por alguma entidade idónea e competente!

Será pouco provável que a Igreja de Roma ceda o frasco para análise (não destrutiva e in situ) do seu conteúdo a alguma Universidade ou Instituto devidamente certificado (e independente) para o fazer…

20 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Padre ensina o valor do sofrimento

O padre Arthur Michalka resolveu ensinar as crianças da sua paróquia, em Austin, Texas, que «o sofrimento faz parte da vida». E nada melhor para isso que espetá-las com um alfinete para demonstrar a dor que Cristo experimentou durante a crucificação.

Aparentemente o grande problema do procedimento reside no facto de o padre ter usado o mesmo alfinete, não esterilizado, nas 15 crianças que submeteu à demonstração. As autoridades sanitárias de Austin investigam agora a possibilidade de alguma das crianças ter uma doença que tenha transmitido durante tão louvável cerimónia.

Entretanto alertado para os riscos desta forma tão cristã de mostrar que a vida é um vale de lágrimas, o padre Michalka pretende, na próxima missa, pedir desculpas por … não ter utilizado um alfinete esterilizado.

20 de Setembro, 2005 Carlos Esperança

Os amigos são para as ocasiões

A procuradora do Tribunal Penal Internacional, Carla del Ponte, em entrevista ao jornal britânico Daily Telegraph , acusou hoje o Vaticano de proteger o general croata Ante Gotovina, criminoso de guerra acusado da morte de 150 sérvios, de que a procuradora tem informações de se encontrar num mosteiro franciscano.

Carla del Ponte afirma que o Vaticano, com quem abordou a questão, se recusa totalmente a colaborar.

Face aos antecedentes da 2.ª Guerra e à protecção dada aos fascistas, o comportamento do Vaticano é coerente. Evitou que respondessem em Nuremberga destacados nazis, dando-lhes abrigo e concedendo passaportes para países da América do Sul, onde o clero católico os acolheu piedosamente.

Aliás, a protecção ao arcebispo Marcinkus por JP2, cuja extradição nunca autorizou, na sequência do desfalque e falência do Banco Ambrosiano, inserem-se numa política que transforma aquele bairro de 44 hectares num Estado pária.

Claro que o Vaticano nega as acusações, à semelhança do que acontece com toda a sua história que não seja revista e autorizada pela Cúria.

20 de Setembro, 2005 Palmira Silva

O caçador de nazis

Morreu Simon Wiesenthal, a consciência do Holocausto. O sobrevivente do Holocausto, que dedicou a sua vida a trazer perante a justiça criminosos nazis e a combater o anti-semitismo e discriminação contra qualquer grupo, morreu pacificamente durante a noite na sua casa em Viena.

O Rabi Marvin Hier, presidente e fundador da ONG de defesa dos direitos humanos que tem o nome de Wiesenthal, afirmou «Quando o Holocausto terminou em 1945 todos foram para casa para esquecer, apenas ele permaneceu para recordar. Ele (Wisenthal) não esqueceu. Ele tornou-se o representante permanente das vítimas, determinado em trazer os perpetradores de um dos maiores crimes da história à justiça. Não houve uma conferência de imprensa e nenhum presidente ou primeiro-ministro ou líder mundial anunciou a sua nomeação. Ele apenas tomou conta do trabalho. Era um trabalho que mais ninguém queria»

20 de Setembro, 2005 Cristiane Pacheco

A cruz que o Estado carrega

O juiz brasileiro Roberto Arriada Lorea, de Porto Alegre, proporá na próxima semana, durante o 6º Congresso de Magistrados Estaduais, a retirada dos crucifixos das salas de audiências e de julgamentos nos foros e no Tribunal de Justiça (TJ) do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Ele afirma, com toda a razão, que «A presença dos símbolos religiosos – basicamente crucifixos – coloca os foros e o tribunal sob suspeição».

É vergonhoso ter que noticiar algo que já deveria ser regra num país que se diz laico. Mas o fato é que os crucifixos são elementos decorativos indefectíveis em repartições, escolas, ministérios e demais órgãos públicos brasileiros. Num país de maioria católica, tal distorção – um indiscutível descumprimento da Constituição Federal – raramente é contestada e, quando o é, encontra como resposta apenas desprezo, pouco caso, quando não escárnio. O presidente do TJ gaúcho, Osvaldo Stefanello, declarou por exemplo que não dará importância à proposta do juiz Lorea, pois «O Judiciário tem coisas mais importantes com que se preocupar do que símbolos nas paredes». A Igreja Católica disse que a idéia é fruto de uma «onda secularista» e a entidade que representa os judeus no Rio Grande do Sul declarou ser indiferente à presença do crucifixo nos tribunais. Por enquanto, apenas a Federação Espírita gaúcha apoiou publicamente a proposta do juiz.

19 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Mais religião e política: andante

As Filipinas constituem um dos últimos redutos da teocracia católica. A Igreja católica é toda-poderosa e consegue em pleno as suas máximas aspirações «morais» no país mais católico (e dos mais pobres) do mundo: tem financiamento q.b., directo, do (pouco) dinheiro do erário público e indirecto, porque não só está totalmente isenta de impostos como todo o dinheiro doado à Igreja está também isento de impostos. De igual forma, as Filipinas são talvez o único país do mundo que segue à risca as determinações da «santa» Igreja em matéria das consequências «colaterais» do sexo: os abominados métodos contraceptivos «artificiais» são anátema nas Filipinas, a defesa de óvulos e espermatozóides absoluta em território tão dominado pela ICAR. Assim como é total a defesa do «sagrado» matrimónio, e o divórcio não é permitido, excepto para a reduzida comunidade muçulmana na qual se aplica a… Sharia!

Assim, não há grandes problemas de no futuro próximo a Igreja de Roma perder a sua hegemonia sobre um dos países mais corruptos do mundo. Os pobres, com proles numerosas que simplesmente não conseguem sustentar, continuarão miseráveis e ignorantes, dependentes da «boa-vontade» e «boas acções» que a Igreja, com dinheiro alheio, magnanimamente distribui, sem qualquer hipótese sequer de aprenderem a controlar a sua fertilidade. A «santa» Igreja, que actua activamente na política do país, influenciando e determinando não só resultados eleitorais mas destituições de presidentes que não se ajoelharam convenientemente face à Igreja, já fez saber que negará comunhão a, e dados os antecedentes fará certamente campanha contra, qualquer político que tente promover políticas de controle de natalidade.

Entretanto os «piedosos» eclesiásticos vivem num estilo de vida interdito à maioria dos filipinos. Não só devido aos financiamentos já referidos mas porque mantêm uma tabela precisa do que cobram aos miseráveis crentes pelos rituais indispensáveis a um «bom» católico: missas pelas «almas no Purgatório», casamentos, baptizados e funerais. Ah, e já esquecia… tinham até há uns meses (e suspeito que têm ainda não obstante os protestos em contrário) financiamento milionário da Philippine Amusement and Gaming Corporation (PAGCOR). Os operadores dos poucos cristãos, segundo a «santa» Igreja filipina, casinos, jogo na Internet, etc..

Aliás, um dos bispos recipiente de magnânimas doações, para os pobres apressou-se a afirmar, é, certamente por coincidência, o dignitário máximo de uma das zonas do país que mais contribuiu em 2004 para a vitória, muito contestada, da presidente Gloria Macapagal-Arroyo.

Presidente que é mui católica, embora tenha cometido o pecado, na sua longínqua juventude, de recorrer a métodos contraceptivos, pecado de que se redime impedindo que as suas conterrâneas nele incorram.

Quiçá pelo empenho na redenção dos seus pecados, entregando-se plenamente aos ditames da «santa» Igreja, esta tenha contribuido activamente para impedir recentemente o impeachment de Arroyo, por fraude eleitoral. E claro, são detractores ignóbeis, quiçá ateus, que pretendem que Arroyo comprou a cumplicidade da Igreja com as contribuições milionárias da PAGCOR aos bispos. Como a ex-secretária de estado da Segurança Social, Dinky Soliman, que, demonstrando uma evidente falta de solidariedade, reproduziu a resposta da presidente Arroyo à proposta de substituição de Efraim Genuino, o chairman da PAGCOR:

«Preciso dele para sobreviver. Ele toma conta dos meios de comunicação social e dos bispos»!!