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8 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Mais contratempos para Bush

Uma lei inesperada, proposta inesperadamente por um senador republicano foi aprovada no Senado norte-americano por uma esmagadora maioria, 90 votos a favor contra 9 nove votos contra. A adminstração de Bush já ameaçou vetar a lei, que pretende banir o uso da tortura em prisioneiros das forças armadas americanas.

A lei, proposta pelo senador republicano John McCain, que foi torturado no Vietname, pretende evitar o tratamento «cruel, desumano e degradante» de prisioneiros sob a alçada da Defesa norte-americana, que ganhou fôlego com o escândalo de Abu Ghraib e alegações semelhantes na prisão de Guantanamo Bay, surge como um adenda à lei que permite o gasto de 440 mil milhões de dólares na Defesa e se Bush vetar a adenda terá de vetar toda a lei. Nestas condições é provável que as ameaças de veto por parte do presidente norte-americano não se concretizem, já que nesta hipótese as forças americanas no Iraque e Afeganistão ficariam com falta de dinheiro em meados de Novembro.

Num país em geral e numas Forças Armadas em particular tão cristãs que o pai (judeu) de dois cadetes processa a Força Aérea americana por impôr o cristianismo nas suas escolas, é estranho não só que o Deus que tanto sussurra incubimentos divinos no ouvido de Bush não tenha uma palavrinha a dar sobre o uso da tortura como o apregoado amor cristão ao próximo não os coíba de tais práticas…

8 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Sashimi versão cristã

«Temos de ser realistas em relação ao que a Bíblia diz sobre medo e não recearmos partilhar a nossa fé na escola» é a posição do pastor Anthony Martin da First Assembly of God Church, em Florence, Alabama. E como «Não podemos deixar que o medo regule as nossas vidas» o denodado pastor recorre a métodos inovadores para marcar cruamente as suas prelecções sobre medo.

Assim, a semana passada os participantes das ousadas iniciativas do pastor, que pretende que os jovens se entreguem a Cristo e desenvolvam um relacionamento mais profundo com ele, digeriram uma lição (intragável, diria eu) sobre medo, em que os jovens foram convidados a engolir… peixes vivos!

Quiçá para Martin não incorrer nas desventuras do padre Arthur Michalka, que foi obrigado a pedir desculpas pela sua lição in promptu sobre o valor do sofrimento, todos os adolescentes que participaram na degustação estavam devidamente munidos de autorizações paternais…

8 de Outubro, 2005 Palmira Silva

A missão

São George contra o dragão aka eixo do mal.

Um programa da BBC que irá para o ar segunda feira provocou uma reacção oficial da Casa Branca, nomeadamente um comunicado de imprensa em que o porta-voz, Scott McClellan, afirma serem absurdas as afirmações de um dignitário palestiniano de que G. W. Bush afirmou estar a cumprir uma missão «divina» quando decidiu invadir o Afeganistão e o Iraque.

De acordo com Nabil Shaath, o ministro dos Negócios Estrangeiros palestiniano aquando da cimeira israelo-palestiniana de Sharm el-Sheikh, quatro meses antes da invasão do Iraque, durante esta Bush revelou detalhes do seu fervor religioso, já abordados no seu livro autobiográfico, «A charge to keep».

Segundo Shaath, Bush terá dito, entre outras devotas revelações, que: «Sou conduzido por uma missão de Deus. Deus disse-me ‘George vai e luta contra estes terroristas no Afeganistão’. E eu fui. E então Deus disse-me ‘George, vai e acaba com a tirania no Iraque’. E eu fui.» afirmando em relação à cimeira «E outra vez, senti as palavras de Deus vindo a mim, ‘Vai e faz os palestinianos terem o seu estado e faz os israelitas terem a sua segurança e leva a paz ao Médio Oriente’. E, por Deus, eu vou fazê-lo».

Estas alegações, vigorosamente negadas pela Casa Branca, serão difundidas no âmbito de um documentário em três episódios da BBC, que analisa as tentativas de paz no Médio Oriente na perspectiva dos seus intervenientes directos. O líder palestiniano Mahmoud Abbas, que participou na cimeira de 2003 no Egipto, aparece igualmente no documentário a reforçar a motivação religiosa das «cruzadas contra o eixo do mal» de Bush. Aliás, imediatamente após a cimeira, o periódico israelita Haaretz revelava que, segundo Abbas, Bush terá dito: «Deus disse-me para lutar contra a al Qaida e eu lutei contra ela, depois deu-me instruções para ir contra Saddam, o que eu fiz, e agora estou determinado a resolver o problema no Médio Oriente.»

Assim, não se percebem as objecções da Casa Branca à divulgação da história, até porque G. W. Bush reafirmou inúmeras vezes o seu papel de cruzado divino. Papel perfeitamente entendido e interiorizado pelo seu Departamento de Defesa, nomeadamente pelo general William “Jerry” Boykin, o sub-secretário da Defesa encarregue da caça a bin Laden, que considera ainda que os terroristas tentam destruir a América porque «somos uma nação cristã e o inimigo é um tipo chamado Satanás» considerando que «o nosso inimigo espiritual só pode ser defendido se lutarmos contra ele em nome de Jesus».

Boykin, um fanático cristão que vê Satanás até em manchas escuras de fotos (de Mogadishio, capital da Somália), afirmou ainda que Bush, que foi eleito em 2000 sem a maioria dos votos, que foram para Al Gore, não foi posto na Casa Branca com o voto popular mas sim nomeado por Deus.

Curiosamente os países integrantes do «eixo do mal» são, juntamente com o Vaticano, os grandes aliados dos Estados Unidos noutra cruzada, esta contra o uso de preservativo como forma de prevenção contra a SIDA…

7 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Os talibãs da ICAR

À semelhança do islão os sicários da ICAR andam ressabiados e vão a Roma tirar o curso de mujaidine para praticar a guerra santa contra os Governos que defendem a liberdade religiosa e a laicidade do Estado.

São tão cobardes como os talibãs e mais pérfidos. Usam a intriga em vez da bomba e a pressão social em vez do atentado, mas, se precisam de um braço homicida, escondem-se atrás do braço, sem deixar de proteger o autor. Há bispos croatas a abrigar assassinos reclamados pelo Tribunal Penal Internacional.

A assembleia geral da ICAR, convocada por B16 e denominada «sínodo» (concílio mais reduzido e curto), abriu no último Domingo, em ambiente crispado, com alusões ao Apocalipse e com o ditador vitalício a confrontar 256 bispos e cardeais de 118 países com a falta de padres e perda de clientela.

Os bispos presentes deverão pronunciar-se, durante três semanas, sobre a privação da eucaristia aos políticos católicos que apoiam o direito ao aborto e aos divorciados que voltem a contrair matrimónio sem anulação do anterior.

O tema central será a debilitada equipe de vendas, com défice de sacerdotes, devendo as reverendíssimas criaturas avaliar a eventual influência do celibato no recrutamento.

No fundo é uma reunião do estado-maior da ICAR para decidir a estratégia das batalhas a travar na guerra religiosa.

Adenda – O sínodo ainda foi convocado por JP2 e não por B16, como, por lapso, afirmei. A verdade acima de tudo. Para mentir bastam as religiões.

6 de Outubro, 2005 Ricardo Alves

Afonso Costa nunca disse a frase que lhe atribuíram

«[Afonso Costa] teria dito, em mais de um lugar e de uma ocasião, que com a Lei da Separação se propunha extinguir a religião católica em Portugal, em duas ou três gerações.
(…)
Segundo os autores da campanha, a frase teria sido proferida em três locais diferentes: em Lisboa, na sede do Grémio Lusitano (Maçonaria), em Braga e no Porto, respectivamente em 26 de Março, 24 e 25 de Abril de 1911. (…) Acontece, (…) que do discurso proferido por Afonso Costa no Grémio Lusitano, dada a natureza desta agremiação, não há relato jornalístico, a não ser a versão fantasiada do “Tempo”, logo desmentida por jornalistas que, não nesta qualidade mas como membros do Grémio, assistiram à sessão. Quanto aos discursos que proferiu, nas datas atrás indicadas, em Braga e no Porto, dos quais há relatos nos jornais de Lisboa e do Porto, não figura em qualquer deles a frase e, pelo contrário, figuram afirmações que são o contrário daquela que, sem provas, lhe atribuíram.
(…)
Não há relato jornalístico da frase atribuída ao dr. Afonso Costa e há, publicado na Imprensa, o desmentido.
(…)
“Os reacionários, à falta de argumentos, atribuíram-me a intenção de, servindo-me da Lei da Separação, querer acabar com a religião católica entre nós ao fim de duas ou três gerações! (…) A verdade não é que a República queira mal à religião católica ou outra, mas que aquela entrou numa fase de decadência, em Portugal e na Europa, por culpa dos seus servidores. Isto escrevi eu já em 1895 no meu livro «A Igreja e a Questão Social». A Lei da Separação, em vez de ferir a religião católica, pretende que ela viva à margem da agitação política e procure ressurgir, pura e respeitável, pela fé e bondade dos seus sacerdotes”.
(…)
Repetimos o que ele disse no Grémio Lusitano e foi textualmente o seguinte: “Com o seu aspecto mercantil degradante, consequência da influência dos jesuítas, aspecto a que emprestaram o seu selo as congregações e a Companhia de Jesus, a continuar esta situação, em breve a religião católica se extinguiria”.
»
(Excertos do texto das páginas 147-163 do livro «Desfazendo Mentiras e Calúnias», de Carlos Ferrão.)
5 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Diário de Notícias de hoje

Uma viagem sobre os privilégios da ICAR e a forma como mantém a hegemonia.

Vários artigos com interesse e as posições de Luís Mateus, presidente da Associação República e Laicidade, do bispo Januário Torgal e do anacrónico cónego João Seabra, entre outros.

Por mim não havia Concordata

A importância de haver crucifixos nas escolas

Padres com monopólio na assistência religiosa oficial

«Sorriem mas nunca baixam a guarda»

Variações católicas sobre a tolerância

4 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Carta ao Diário as Beiras

Senhor Director,

Solicito que, com a habitual benevolência com que os meus textos são recebidos pelo «Diário as Beiras», autorize a publicação do que agora envio na sequência do artigo de António Rosado, de hoje.

Apresento-lhe os meus melhores cumprimentos.

Coimbra, 2005-10-04
Carlos Esperança

Organizado pelo Conselho da Cidade de Coimbra e Pro Urbe, em 27 de Setembro último, houve um debate público no Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra com os quatro candidatos autárquicos.

Perguntei publicamente, na qualidade de membro da Associação República e Laicidade, se os candidatos se comprometiam a arranjar um local condigno para os mortos que não fossem católicos, bem como um forno crematório para quem preferisse a incineração ao enterro.

Obtive a compreensão dos quatro candidatos e, para além do crematório que o Dr. Carlos Encarnação aproveitou para anunciar, foram unânimes em reconhecer a necessidade de um espaço condigno onde ateus, agnósticos e outros pudessem ser velados, sem imposição de símbolos religiosos.

No dossiê «Autárquicas» de 4 de Outubro, sob o título «A morte também é tema de campanha» leio, perplexo: «No bairro onde se situa o maior cemitério do concelho, foi reivindicada uma capela mortuária e prometido um forno crematório».

Faz falta uma capela mortuária numa cidade onde sobram catedrais, igrejas, capelas e outros pios locais onde jorra água benta e emana incenso?

Os que em vida tiveram uma pituitária alérgica ao cheiro das velas, tímpanos avessos às orações e olhos apáticos às sotainas, não têm direito a local digno, liberto de iconografia religiosa, onde os familiares e amigos estejam ao abrigo do latim e do cantochão?

É de um espaço neutro, liberto da omnipresença católica, que a cidade de Coimbra precisa. E foi isso que foi prometido.

Nem outra coisa é de esperar de quem exerce o poder num país laico, mesmo de quem acredita que a devoção abre as portas do Paraíso. É uma exigência cívica de respeito pela Constituição e pelos outros.

4 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Viva a República

Viva o 5 de Outubro
Fizeram mais pela liberdade alguns homens, num só dia, do que Deus desde sempre.
4 de Outubro, 2005 Ricardo Alves

O Pluralismo da Igreja

O «Boston.Com News» relata que o padre católico George Lange, de uma igreja da cidade de Westborough no estado norte-americano de Massachussets, foi suspenso das suas funções depois de se recusar a apoiar uma petição contra o casamento homossexual de iniciativa dos bispos daquele estado.

O «crime» do padre Lange consistiu na ousadia de publicar no boletim da igreja um artigo em que cometia o sacrilégio de se manifestar contra a proposta de emenda constitucional que visa proibir o casamento homossexual nos Estados Unidos e que, com o incansável e entusiástico apoio da ICAR, tem vindo a ser implementada pelos mais conservadores e reaccionários sectores das igrejas evangélicas americanas:

«Os padres desta paróquia não podem apoiar esta emenda à Constituição; não lhe reconhecem qualquer utilidade e vêem-na como um ataque a certas pessoas da nossa paróquia, nomeadamente as que são gays».

É perfeitamente típica esta posição dos responsáveis católicos americanos que, coerentemente, diga-se, continuam a preferir os mais reprováveis e retrógrados sentimentos homofóbicos, à liberdade de consciência dos seus próprios membros.

Luis Rodrigues (Random Precision)