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13 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Prémio Nobel da Literatura

O prémio Nobel da literatura foi atribuído este ano a um professo e confesso ateu, Harold Pinter.

O Diário Ateísta aproveita o ensejo para recomendar a leitura da obra de Pinter, reconhecido internacionalmente como o dramaturgo mais complexo do pós-II Guerra Mundial, e, em conjunto com Samuel Beckett, um dos expoentes do teatro do absurdo.

Não obstante o anúncio por Pinter, um acérrimo crítico da guerra do Iraque, da sua decisão de abandonar a prosa em favor de um maior empenho em actividades políticas, aparentemente o «bichinho» da escrita não se alimenta apenas de poesia e Printer, para grande alegria dos fãs, nos quais se inclui esta vossa escriba, produziu um peça radiofónica transmitida pela BBC no seu 75º aniversário, na passada segunda-feira.

13 de Outubro, 2005 Ricardo Alves

Prisão por crime de blasfémia no Afeganistão

Mohaqiq Nasar, o chefe de redacção da revista afegã Hoqooq-i-Zan («Direitos das Mulheres») foi detido no dia 29 de Setembro sob a acusação de blasfémia. A detenção terá sido ordenada pelo conselheiro religioso do Presidente afegão (Hamid Karzai) e viola, aparentemente, as condições da lei de imprensa do Afeganistão.

O «crime» de Nasar consistiu em publicar, antes das eleições de 18 de Setembro, um artigo em que defendia alterações à lei penal do seu país, que pune a blasfémia com a morte, o adultério com o apedrejamento e o roubo com a mutilação das mãos (deve notar-se que a Constituição de 2004, redigida após a queda do regime talibã, exige a conformidade de todas as leis com a chária).

O caso está agora nas mãos do Tribunal Supremo do Afeganistão. Deve notar-se que este Tribunal é presidido por um clérigo fundamentalista que, em Agosto de 2003, condenou dois jornalistas à morte pelo crime de blasfémia.

(Fonte: boletim noticioso por correio electrónico da Rationalist International; a notícia do caso de 2003 pode ser lida aqui.)
12 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Todos os dias 13

Hoje, milhares de peregrinos regaram a fé e os ossos a caminho da Cova da Iria. O Deus pusilânime e mesquinho mandou a água que faltou nos incêndios, arruinou as culturas e secou as nascentes.

Muitos rosários e dores de pés acompanharam os devotos até ao lugar onde monsenhor Luciano Guerra aguarda o óbolo em géneros e numerário e um bispo ou cardeal prepara a missa e a bênção e aguarda a comissão.

Há 88 anos, em Maio, o Sol fez ali piruetas enquanto a Virgem, com cio, roída de saudades do Espírito Santo, saltitava de azinheira em azinheira à procura de um pastor faminto. Saíram-lhe três fedelhos embrutecidos pelo padre e pelos pais, cheios de fome e missas, a recordar-lhe as fraldas e o olhar reprovador do carpinteiro.

Apanhada naquele ermo com o manto de luz, e nada por baixo, mandou-lhes fazer o que sabiam, rezar o terço, pedir a conversão da Rússia e, para disfarçar, disse tonteiras: «é preciso consagrar o mundo ao meu imaculado coração», «a guerra vai acabar» e «Deus anda muito zangado», como se o mau humor fosse culpa das crianças.

Pobres peregrinos, levam preces e fé e apanham gripes e desenganos. Chegam cansados e regressam benzidos e mal pagos às fábricas falidas do vale do Ave e às pobres courelas de Entre Douro e Minho.

É assim todos os dias 13, mercados mensais da fé cuja feira anual tem lugar em Maio e é preparada com milhares de velas e rosas, centenas de padres e freiras, bispos, cardeais e outros parasitas da fé em retiro espiritual ou viagem de negócios, a prometer o Paraíso e a ameaçar com o Inferno.

Às vezes, de Roma, chega o Papa a abanar a tiara e a adejar os paramentos. É o delírio.

12 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Pastor expulso de escola por praguejar

O reverendo Graham Taylor, ou G.P. Taylor, um autor de literatura infantil de algum sucesso, foi convidado a abandonar uma escola no sul de Inglaterra depois de ter usado linguagem menos própria numa palestra que, supostamente, deveria convencer a audiência dos benefícios da leitura.

Por uma qualquer razão que certamente não será despeito pelo facto de os livros de J.K. Rowling terem um sucesso que a série «Shadowmancer» de G.P. Taylor nunca conhecerá (só li o primeiro e não recomendo, bem pelo contrário) o piedoso pastor resolveu partilhar com as crianças a opinião que Harry Potter é homossexual, e que não seria o único na história de J.K. Rowling.

Os professores acharam não só que os termos em que o clérigo se tinha dirigido às crianças eram homofóbicos mas também que o vernáculo profusamente utilizado pelo pastor não era a linguagem mais aconselhada para alocuções a uma plateia de crianças de 12-13 anos. Este foi amavelmente convidado a interromper a palestra e deixar as instalações da escola, deixando os escandalizados professores a acalmar mais de uma centena de (muito) excitados pré-adolescentes!

11 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

O latim está de volta

Quando refiro a morte de Deus os leitores facilmente descobrem que uso uma figura de estilo. Não morre o que nunca viveu, não desaparece o que não existe. Dizer que Zeus morreu ou que Vénus foi seduzida são metáforas.

De Deus nunca foi encontrado o cadáver, sentido o cheiro da decomposição, ou visto o mais leve despojo. Quantas relíquias a ICAR venderia a almas piedosas se a mais leve prova da sua existência fosse encontrada?!

Os crentes afligem-se com apelos lancinantes à paz e orações inúteis contra cataclismos que dilaceram a humanidade, reduzem cidades a escombros e matam milhões de pessoas que acreditam na bondade e protecção divinas.

E as dúvidas aumentam quando Bush revela que fala Com Deus e que as asneiras que faz não são da sua autoria mas da responsabilidade de quem considera Comandante do comandante-chefe das Forças Armadas do EUA.

De facto, por pior que seja, Bush não podia cometer tantos erros, provocar o caos, sem a ajuda de Deus que sempre teve propensão para escolher as piores companhias.

O sínodo que está reunido no Vaticano não deixará de avaliar o estado calamitoso em que se encontra o seu único produto – Deus -, a única fonte de rendimento e pretexto para o assalto ao poder em numerosos países.

As reverendíssimas criaturas chegaram à conclusão de que perderam a ligação a Deus.

Um cardeal que dormitava, após lauto almoço, admoestado por B16, terá dito que não dormia, pensava que Deus só sabia latim e, por isso, tinha deixado de ouvir os crentes.

Os cardeais, cansados das missas e de sínodo, deram-lhe razão. B16, retrógrado e hábil, aproveitou para enterrar o concílio Vaticano 2.º e pensa trazer de volta o latim às missas e a, pelo menos, uma oração.

Não interessa que os crentes não saibam o que dizem. O que é preciso é que Deus perceba.

11 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

As relíquias da santa

Os restos mortais são na nossa cultura objecto de respeito mas não de idolatria. Ninguém guarda um pêlo púbico da defunta consorte, o parafuso do colo do fémur da inefável sogra, o osso de um progenitor ou a cartilagem de um irmão. Nem, de um parente chegado, a unha com que procedia à higiene auricular.

Só a ICAR, na mórbida contemplação da morte, é capaz de forrar uma capela com ossos humanos, como acontece em Évora, sem sabermos se todos eram de cadáveres. Só a macabra paranóia eclesiástica é capaz de passear um dedo de Francisco Xavier pelas paróquias da Beira Alta, como eu vi na adolescência, sem certificado de garantia nem autorização do Delegado de Saúde.

Em Itália vários santos prepúcios, atribuídos a Cristo, disputaram a autenticidade até que os padres decidiram que JC não podia ter abandonado o sepulcro e emigrado para o Céu sem uma parte do corpo, passando a excomunhão a ser aplicada a quem tivesse o arrojo de falar desse pedaço de pele que os judeus amputam ritualmente.

Não sei que partes do cadáver ou peças do vestuário recôndito da Teresinha de Ávila, uma santa a quem os delírios hormonais exacerbaram os místicos, vai o clero expor à concupiscência e veneração dos fiéis portugueses nos próximos dias 7 a 9 de Dezembro na Guarda, Covilhã e Seia.

Há neste delírio esquizofrénico da Igreja católica, nesta obsessão mórbida por relíquias, uma estranha forma de proselitismo do clero a roçar a necrofilia.

9 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Parabéns!


Malalai Joya, a jovem delegada afegã da província Farah, perto da fronteira com o Irão, que fez furor há dois anos quando criticou duramente os líderes jihadi afegãos durante uma sessão do Loya Jirga (o Parlamento local) constitucional, foi eleita pela sua província natal nas eleições do passado dia 18 de Setembro. Os resultados oficiais das eleições só são esperados no final deste mês mas a eleição de Malalai está garantida.

Malalai, que inquiriu o Loya Jirga em Dezembro de 2003 porque razão tinham escolhido como líderes da comissão constitucional «aqueles criminosos que trouxeram tragédia ao povo afegão» e foi vaiada pelos delegados taliban que exigiram a sua expulsão, foi obrigada a fazer campanha eleitoral sob apertadas medidas de segurança já que foi alvo de ameaças de morte por parte dos fundamentalistas islâmicos.

A sua eleição, com uma votação expressiva tendo alcançado o segundo melhor resultado da sua província, é uma nota de esperança nestes tempos tão conturbados por fundamentalismos religiosos sortidos.

9 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Cientologia

Anne Hidalgo, a primeira adjunta do presidente da Câmara de Paris, liderou uma manifestação de protesto dirigida à delegação parisiense da Igreja da Cientologia, afirmando que o seu gesto pretende alertar os pais sobre o perigo que estas organizações representam para crianças e adolescentes.

Hidalgo, que previamente tinha bloqueado a iniciativa de nomear Tom Cruise um cidadão honorário de Paris, devido exactamente à sua professa devoção ao culto, considera que «Nós temos um dever de dizer a verdade. Estes movimentos são perigosos e devemos explicar porque são perigosos. Nós sabemos na idade em que o carácter é formado, especialmente durante a adolescência, se pode cair nas mãos destes movimentos. O problema é que não se sai sem cicatrizes».

Bem, não são precisas muitas explicações para perceber que a Cientologia é simplesmente uma forma imbecil e descarada de explorar os desgraçados que lhes caem nas mãos. Aliás, existem folhetos disponíveis na Internet desmascarando este esquema mirabolante de fazer dinheiro. Suponho que até mesmo o mais crédulo cidadão que acredite nas histórias iniciais da dianética se previamente informado sobre Xenu começe a suspeitar da sanidade mental de um interlocutor que o queira proselitar «dianeticamente»!

E quem é então Xenu, a pedra basilar da Cientologia? Como é explicado no folheto, era uma vez (75 milhões de anos atrás, para ser mais preciso) um comandante extraterrestre chamado Xenu. Xenu dirigia todos os planetas nesta parte da galáxia incluindo a Terra, à data dando pelo nome de «teegeeack». Mas Xenu tinha um problema. Todos os 78 planetas que ele controlava eram superpovoados. Cada planeta tinha em média 178 biliões de pessoas. Para resolver o problema da superpopulação, com ajuda de psiquiatras (daí o destempero ao vivo de Tom Cruise e o seu ódio à psiquiatria) e sob o pretexto de uma inspecção fiscal, administrou a biliões de cidadãos injecções paralisantes de uma mistura de álcool e glicol.

Os desgraçados considerados supérfluos foram enviados para a Terra em aviões em tudo análogos a DC8s com motores de foguetes em vez de hélices. Uma vez na Terra foram despejados dentro de vulcões e liquidados com bombas-H.

Mas esta história não termina aqui. Já que todos têm uma alma (chamada «thetan» nesta historia), para evitar que as almas voltassem, Xenu arranjou armadilhas electrónicas especiais que capturavam as almas em feixes electrónicos.

Depois de capturar todas as almas Xenu empacotou-as em caixas e levou-as para enormes cinemas para sessões contínuas de filmes especiais 3D, que entre outras coisas, mostravam falsas figuras, intituladas Deus, Diabo e Cristo. Na historia cientologista o processo chama-se «implante». Quando o processamento terminou, as almas saíram do cinema e invadiram aos milhares os poucos vivos que sobreviveram à limpeza demográfica de Xenu.

Quanto a Xenu, finalmente foi derrotado por Oficiais Leais e desterrado para o interior de uma montanha num dos planetas, onde ainda hoje permanece vivo confinado por campos de força alimentados por uma bateria eterna.

Assim, quem quiser ser uma «alma livre» terá necessariamente que remover todos esses «thetans» insidiosos que o infestam e pagar muito dinheiro aos únicos capazes de o fazer: a Cientologia, claro. E a única razão pela qual as pessoas acreditam em Deus ou Jesus Cristo reside nas sessões cinematográficas a que os «thetans» que os habitam foram sujeitos há 75 milhões de anos.

Suponho que ninguém com conhecimento prévio desta história absolutamente imbecil se deixará enredar nas teias da Cientologia!

Um artigo fantástico sobre a cientologia publicado na edição da Time de 6 de Maio de 1991.

9 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Guerras da evolução II

As guerras da evolução continuam acesas nos Estados Unidos. Nesta altura os olhos dos fundamentalistas cristãos estão focados na pequena cidade de Harrisburg, Pensilvânia, onde decorre desde 26 de Setembro mais um julgamento IDiota. Neste caso, contrariamente ao que se passou no Kansas, não é a evolução que está em julgamento mas sim a decisão unilateral do Conselho Escolar de Doverde introduzir o Desenho Inteligente nos curricula de ciência. Decisão que conta com a oposição dos professores locais de ciências que, como seria de esperar, consideram que a IDiotia não é ciência. Os queixosos, que incluem as associações laicas American Civil Liberties Union e Americans United for the Separation of Church and State, asseveram que a IDiotia é apenas um cavalo de Tróia que pretende de facto promover a religião e criacionismo cristãos nas escolas públicas de Dover, em clara violação da Constituição americana.

Até agora os testemunhos são demolidores para os fanáticos cristãos! Não só foi testemunhado que o Conselho escolar discutiu Deus, religião e criacionismo antes da alteração em Outubro de 2004 do curriculum de biologia que prevê o ensino da IDiotia como, tal como já tinha sido referido no Diário Ateísta, foi confirmado que o livro recomendado no novo curriculum, supostamente IDiota, «Of Pandas and People», é de facto originalmente um livro criacionista puro e duro em que o termo criacionismo foi substituido por IDiotia, em que Deus foi substituído pelo tal misterioso «designer» e foram cortadas as passagens bíblicas originais.

Deveras interessante foi o testemunho de John Haught, um professor de teologia na Universidade de Georgetown, chamado a depôr para esclarecer as diferenças filosóficas entre ciência e religião, já que a tarefa (impossível) do advogado de defesa do Conselho Escolar, Richard Thompson, é argumentar que a IDiotia é ciência e não religião. O testemunho foi completamente contraproducente para o efeito até porque algumas perguntas de Thompson foram autênticos tiros no pé. Nomeadamente o argumento de que Deus poderia ter feito o genoma dos homens e macacos parecer semelhante e, como tal, o conceito de que estamos relacionados por um ancestral comum é «mera conjectura»! Ou seja, a pergunta de Thompson estabeleceu claramente a diferença entre uma teoria genuinamente científica (fundamentada em factos) e uma explicação religiosa (essa sim mera conjectura sem qualquer suporte experimental).

Se a vida evoluiu segundo uma padrão hierárquico em que novas espécies derivam de espécies já existentes preservando variabilidade genética, então deveremos encontrar os mesmos padrões a nível genético em espécies próximas nesta hierarquia. Se o homem e o chimpazé partilham um ancestral comum devem apresentar genomas semelhantes, como apresentam de facto. Se recuarmos na cadeia ancestral (usando as árvores filogenéticas propostas por dados anatómicos, genéticos e fósseis) devemos encontrar genomas cada vez mais diferentes à medida que recuamos na árvore da evolução, uma vez que os genomas tiveram mais tempo para divergir e acumular diferenças. E é exactamente o que encontramos. A teoria da evolução é consistente com todos os dados disponíveis e é portanto falsificável. O ancestral comum para o homem e o macaco caíria por terra se a análise genética das espécies não o corroborasse. A IDiotia teria exactamente a mesma resposta se, por acaso, os genomas do homem e do chimpazé fossem radicalmente diferentes: os desígnios insondáveis de Deus«designer»! Desígnios que são «corroborados» por quaisquer dados e os seus opostos já que são insondáveis (aka não falsificáveis)… isto é, assentes em lucubrações/conjecturas teológicas e não em ciência, aliás são a antítese da ciência!

Para os nossos leitores que se questionarão sobre o tempo aparentemente inusitado que devotamos à IDiotia criacionista, considerada por muitos uma idiossincrasia norte-americana, recordamos que não só na velha Europa já foram tentadas manobras de introdução das IDiotias nos curricula de ciências como em Portugal, supostamente um estado laico, o criacionismo é parte integrante da anti-constitucional disciplina de Moral e Religião. Ou seja, os nossos jovens desde tenra idade são expostos e encorajados nas escolas públicas a pensamento anti-científico, acéfalo e acrítico. Apresentado como tal mesmo por alguns membros da hierarquia da Igreja Católica…É uma questão de interesse nacional que seja abolida esta disciplina das escolas públicas ou, pelo menos, que seja garantido que os nossos jovens não são contaminados com criacionismos apresentados como «verdades absolutas», que dificultam e muitas impedem o desenvolvimento da tão necessária capacidade de raciocínio lógico, crítico e científico!

A ser discutido o criacionismo cristão em salas de aulas públicas que o seja em conjunto com outros mitos da Criação nas disciplinas apropriadas: História ou Filosofia. Assim os nossos jovens aperceber-se-ão claramente da diferença entre realidade factual e ficção mitológica!

8 de Outubro, 2005 Palmira Silva

«Palavra de Deus» não deve ser levada à letra


A hierarquia da Igreja Católica britânica produziu uma publicação didáctica descodificando não só a velha de 40 anos Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina do concílio Vaticano II, Dei Verbum, mas também outros documentos emanados do Vaticano, que discorrem longa, maçadora e prudentemente sobre as ressalvas em relação à «inenarrância» bíblica. Na prática, os bispos ingleses, galeses e escoceses deram a sua chancela a muitas afirmações que aqui no Diário Ateísta provocaram indignadas reacções dos nossos mais católicos leitores.

Assim, para além de reconhecer o perigo que a interpretação literal de algumas passagens da Bíblia suscita, por exemplo, causando o anti-semitismo que grassou na «santa» Igreja por via da praga contra os judeus expressa em Mateus 27:25, e de rejeitar como os delírios que de facto são todas as sandices apocalípticas do livro da Revelação, o «Presente das Escrituras» explica aos fiéis que algumas partes da Bíblia não correspondem de facto à verdade. Advertindo os leitores das sagradas escrituras que não devem esperar encontrar nelas um «exactidão total», mais concretamente os dignitários britânicos concedem, contrariamente ao que foi durante tantos séculos uma «verdade absoluta» católica, que «Não devemos esperar nas Escrituras uma total exactidão científica ou precisão histórica completa». Uma evolução louvável se considerarmos que há apenas um século o santinho Pio X condenava vigorosamente a aplicação de técnicas críticas que visavam testar a consistência histórica (inexistente) da Bíblia.

Considerando que o «Presente das Escrituras» condena o fundamentalismo cristão pela sua intolerância intransigente, insiste que os primeiros onze capítulos do Génesis não são uma narrativa histórica, que numa evidente exibição do tão execrado relativismo diz que a Igreja deve interpretar os Evangelhos de forma apropriada ao nosso tempo e que a Bíblia só é verdadeira nas passagens que dizem respeito à salvação humana (o que quer que isto seja) diria que esta exegese britânica não terá muito sucesso na comunidade católica, especialmente além mar, onde o fundamentalismo criacionista merece «honras» de capa na Time.

E estaria disposta a apostar que Bento XVI, que enfrenta dores de cabeça consideráveis neste sínodo, que já conheceu um visitante indesejado (link com registo grátis), Gregorios III Laham, presente na sua qualidade de patriarca dos católicos Melkite, que afirmou logo no preâmbulo que «O celibato não tem fundamento teológico», dispensa em absoluto este «presente envenenado, que dispara «fogo amigo» sobre as «verdades absolutas intemporais e universais» da Igreja de Roma…