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27 de Janeiro, 2006 Carlos Esperança

Encíclica sobre o amor

O Papa Rätzinger publicou quarta-feira uma encíclica subordinada ao título «Deus é amor».

O tema, recorrente no clero, é uma obsessão. Será recalcamento ou saudade?

Com o pastor alemão a falar sobre o amor, apetece citar os irreverentes de Maio de 1968:

«Quem sabe, faz; quem não sabe, ensina».

26 de Janeiro, 2006 Carlos Esperança

Passagem espiritual para o céu

materialmente em corpo

«É profundamente grato para Coimbra e também um testemunho de gratidão para com a vidente de Fátima, Irmã Lúcia, de ficar perpetuada nesta cidade, e não só por aqui ter vivido muitos anos, mas também para que a sua passagem agora espiritual para o céu, mas materialmente em corpo para Fátima e fique perpetuada através de uma rua», explicou Mário Nunes, vereador da Cultura na Câmara de Coimbra» Fátima Missionária, 13/01/2006.
posted by mndixit at 1/25/2006 03:38:00 PM

Não sei o que mais apreciar no vereador da cultura, Mário Nunes, se a qualidade da prosa, a intensidade da devoção ou a criatividade toponímica.

O blog «mario nunes dixit» presta um verdadeiro serviço público ao divulgar as pérolas de tão pio e eminente edil que regista a viagem da Irmã Lúcia para o Céu, certifica a sua qualidade de vidente e coloca Coimbra no itinerário celeste.

Um vereador assim faz falta como sacristão da igreja de Santa Cruz!

26 de Janeiro, 2006 Carlos Esperança

Padre contra paroquianos

Em Pombal, o pároco e a Associação de Alto dos Crespos desentenderam-se. Não estão em causa divergências sobre a virgindade de Maria, a infalibilidade papal ou a criação do Mundo.

Os recalcitrantes não contestam as homilias do pároco, a confissão ou a penitência que dá aos pecadores. É um litígio sobre a posse da terra, não aquela que Deus criou em seis dias, alguns metros quadrados onde foi edificada uma capela mortuária.

O representante de Cristo em Pombal fez aos paroquianos o que a Rússia fez à Ucrânia. Putin privou de gás um país, o padre privou da missa e da catequese uma paróquia.

A Ucrânia tremeu de frio e de raiva, a paróquia aturou melhor as privações. Não sendo produtos de primeira necessidade o padre corre o risco de os paroquianos substituírem a eucaristia por peixe de escabeche e as crianças trocarem a catequese pelo futebol e a apanhada.

25 de Janeiro, 2006 Ricardo Alves

Papa Ratz, Vol. 1: contra o erotismo e contra o marxismo(!)

A primeira Encíclica de Joseph Ratzinger enquanto Papa foi hoje disponibilizada. Intitula-se «Deus é Amor» («Deus caritas est») e, na aparência, destina-se a motivar e a apelar ao trabalho caritativo. No entanto, nos seus 42 parágrafos também se encontra uma condenação clara do «eros» e uma preocupação anacrónica com o marxismo. Deixo aqui alguns apontamentos que me ficaram de uma leitura rápida.

  1. Nos primeiros parágrafos, defende-se a «renúncia» ao erotismo e a sua «cura»(!). Concretamente, o alemão dos sapatinhos vermelhos diz-nos que «o eros quer-nos elevar «em êxtase» para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos» (páragrafo 5). Na verdade, esta obsessão católica (muito contra natura…) em reprimir a natureza humana é um problema real: ao longo dos séculos, as directrizes eclesiásticas têm desviado muitos sacerdotes católicos de uma vivência descomplexada e saudável da sexualidade, com danos sociais consideráveis. O problema ainda não foi enfrentado desta vez.
  2. A maior parte dos parágrafos seguintes constituem uma defesa da caridade num estilo supinamente enfadonho. No entanto, não resisto a destacar uma passagem que merece ser atirada à cara daqueles católicos que odeiam ostensivamente o Diário Ateísta e os seus redactores: «a afirmação do amor a Deus se torna uma mentira, se o homem se fechar ao próximo ou, inclusive, o odiar». Notem-se, porém, os limites que Ratz coloca ao «amor cristão»: «eu amo, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou que nem conheço sequer. Isto só é possível realizar-se a partir do encontro íntimo com Deus». Ao contrário do que pensa o Papa alemão, os ateus não necessitam de qualquer «encontro» com entidades sobrenaturais para terem muita paciência e tolerância para com alguns católicos e a sua agressividade e violência (religiosamente motivadas).
  3. A partir do parágrafo 26, Ratzinger começa a demonstrar uma preocupação, à primeira vista anacrónica, com a crítica do marxismo (que é referido pelo nome umas quatro vezes). Por exemplo, já no parágrafo 31: «uma parte da estratégia marxista é a teoria do empobrecimento: esta defende que, numa situação de poder injusto, quem ajuda o homem com iniciativas de caridade, coloca-se de facto ao serviço daquele sistema de injustiça (…) por isso, se contesta e ataca a caridade como sistema de conservação do status quo. Na realidade, esta é uma filosofia desumana». A crítica parece deslocada num momento em que esta corrente política atravessa um declínio global, e numa ICAR que sempre falou para a «direita» em matérias de «costumes» mas para a «esquerda» em «questões sociais». O alvo de Ratzinger poderá ser a colaboração dos católicos ditos «progressistas» com as esquerdas marxistas e socialistas em obras de assistência social: «A actividade caritativa cristã deve ser independente de partidos e ideologias. Não é um meio para mudar o mundo de maneira ideológica, nem está ao serviço de estratégias mundanas» (parágrafo 31). Mais, num gesto de puro sectarismo, o Papa sugere que não se deve aceitar a colaboração nessas obras de quem quer apenas «melhorar o mundo» sem se inspirar na concepção católica de «amor»: «No que diz respeito aos colaboradores que realizam, a nível prático, o trabalho caritativo na Igreja, foi dito já o essencial: eles não se devem inspirar nas ideologias do melhoramento do mundo, mas deixarem-se guiar pela fé que actua pelo amor. Por isso, devem ser pessoas movidas antes de mais nada pelo amor de Cristo» (parágrafo 33).
  4. A terminar, e para aqueles católicos que acham que a «caridade» que fazem lhes dá o direito de beneficiar de isenções fiscais para igrejas e objectos de culto, de reclamar direito de consulta em matérias políticas, de exigir subsídios para fins não assistencialistas, de impor a obrigatoriedade de presença de crucifixos nas escolas e etc, deixo uma passagem ratzingeriana que lhes rebenta na cara: «a caridade não deve ser um meio em função daquilo que hoje é indicado como proselitismo. O amor é gratuito; não é realizado para alcançar outros fins».
25 de Janeiro, 2006 Carlos Esperança

B16 vende palavras

O artigo da Palmira alertou-me para o facto de Rätzinger exigir copyright para as palavras que profere. E não se faz cobrar barato! Quanto custariam as ideias, se as houvesse, e as bíblias se a falsificação não tivesse já prescrito?

Sei que são nobres as intenções. Ficam de borla as orações pias e as hóstias servidas aos Domingos. As homilias continuam de graça mas as Graças passam a pagar IVA.

No Vaticano são largos os emolumentos cobrados pela criação de santos e o fabrico não abrandou no pontificado do Sapatinhos Vermelhos. Mas todo o dinheiro é pouco para os paramentos que estão pela hora da morte e a evangelização que fica cada vez mais cara. Os ímpios só se convertem com avultadas compensações monetárias.

As bulas eram vendidas e Lutero exasperou-se, os pecados tinham uma tarifa para a absolvição, as dioceses custavam dinheiro e os barretes cardinalícios eram caríssimos. A tiara custava uma fortuna mas o investimento, em caso de sucesso, era bem rentável.

O Paraíso estava ao alcance de quem podia pagar. Era o liberalismo aplicado ao destino da alma, sem caixa de previdência para subsidiar missas e remir pecados.

Agora é a palavra do pontífice, paga à linha, com contas feitas à página. Até há pouco a propaganda era por conta do pregador. Nasceu um novo conceito, paga o consumidor.

25 de Janeiro, 2006 Ricardo Alves

Padre italiano preso por violação

O padre italiano Fedele Bisceglia foi preso na segunda-feira na cidade de Cosenza (Calábria), acusado de violar uma freira repetidas vezes e de ter organizado violências sexuais de grupo no convento franciscano onde reside.
O sacerdote católico já presidiu ao clube de futebol local, e é famoso a nível nacional por ter convertido ao catolicismo uma artista de filmes pornográficos, que depois de o conhecer entrou para um convento. Bisceglia alega que a freira que o acusou «é louca», mas a religiosa foi submetida a um exame que concluiu que está na plena posse das suas faculdades mentais.
(Ler mais: português, italiano, inglês.)
24 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Palavras do Papa com direitos de autor

A controvérsia instalou-se em Roma quando se tornou conhecimento público que uma editora de Milão teve de pagar a posteriori cerca de 15 000 euros pelas 30 linhas do primeiro discurso do Papa que publicou. De facto, o Vaticano transferiu, em finais de Maio, para a sua editora, Libreria Editrice Vaticana, os direitos de autor sobre as palavras (escritas e faladas) do Papa. E pretende cobrar direitos de autor de todas as emanações papais dos últimos 50 anos.

A inusitada manobra deixou os editores italianos, católicos inclusive, um pouco baralhados. «Estou perplexo,» afirmou Vittorio Messori, que foi co-autor de dois livros sobre dois papas «A Igreja é uma organização que existe para espalhar a palavra de Deus e impôr um preço por essas palavras, pondo um cheiro de dinheiro nelas, parece-me algo muito negativo».

Resta saber se a manobra do Vaticano tem motivação financeira (afinal os sapatinhos Prada e demais parafrenália, para não falar em todo o luxuoso séquito acompanhante, não devem ficar baratos) ou se com ela o Vaticano pretende acabar com a crítica fundamentada aos muitos dislates, sofismas e afins debitados profusamente pelo Papa.

De qualquer forma, aparentemente o Vaticano pretende cobrar direitos de autor retroactivos a todas as reproduções de encíclicas, discursos, etc., que debita. Nem consigo imaginar, à módica quantia de 500 euros por linha, e tendo em conta a profusão e extensão dos documentos envolvidos, o dinheiro que irá extorquir com a manobra! Aliás, parece-me um pouco desonesto estar a cobrar dinheiro por algo que quando foi publicado ninguém sabia estar sujeito a direitos de autor!

23 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

E ainda o Código de da Vinci

A Opus Dei pretende que o filme que passa para a grande tela o livro de Dan Brown, que tanta celeuma criou entre as hostes cristãs, seja classificado para maiores de dezoito anos.

O porta voz da Opus Dei para os meios de comunicação, Marc Carroggio, afirmou que a organização que representa, cujos membros (adultos) acreditam em imaculadas concepções, milagres sortidos e outras mitologias, considera o pedido justificado já que «Qualquer adulto com um mínimo de educação sabe distinguir realidade de ficção» mas as crianças não. Acho especialmente interessante que o porta-voz da Opus Dei, que, assim como a Igreja Católica, sabe não só a importância do revisionismo histórico mas especialmente da doutrinação desde a mais tenra infância, tenha afirmado que «quando a história é manipulada não se pode esperar que uma criança faça julgamentos apropriados».

Embora descartando a hipótese de a Opus Dei processar a Sony-Columbia, numa entrevista à Zenit Carroggio deixou no ar que tal seja feito por instituições de caridade dirigidas por membros da Opus Dei:

«Existem membros da Opus Dei em 60 países. Alguns deles, com outros, dirigem centros que treinam agricultores e jovens que não conseguem arranjar emprego. Também dirigem hospitais em zonas desprevilegiadas. Todas estas actividades dependem financeiramente de muitos doadores. Obviamente que a novela e o filme podem tornar mais difícil a angariação de fundos. Por esta razão, não ficaria surpreendido se algumas destas organizações pensarem em acções judiciais».

Continua a mistificar-me que a Igreja Católica, que não faz praticamente uma declaração em que não adscreva aos ateus e ao ateísmo todos os males do mundo, sem quaisquer problemas sobre a imagem que vende constantemente dos ateus, seja tão susceptível em relação à «imagem odiosa» que consideram uma obra de ficção (!) fazer da Opus Dei.

22 de Janeiro, 2006 Carlos Esperança

A ICAR lava mais branco

Embora tenha recorrido mais ao fogo do que à água, prefira a incineração ao banho e se dedique ao charlatanismo mais do que à ciência, a ICAR está longe da boçalidade do islão.

Os padres da ICAR, libertos da tonsura que os marcava como propriedade da Empresa, à semelhança do ferro que as ganadarias usam, os padres – dizia -, comportam-se hoje como pessoas normais enquanto não são solicitados a debitar os horrores eternos que o patrão reserva para os hereges, sacrílegos e apóstatas.

Aliás, a civilização atenuou-lhes o ímpeto purificador que, na ânsia de salvar almas, os levava a estorricar corpos. E, assim, foi esmorecendo o desejo de converter ímpios à custa da tortura e a pia intenção de espalhar a boa nova eliminando relapsos.

A ICAR não é o bando de santos que fabrica com desvelo, a máquina de obrar milagres oleada com emolumentos das dioceses que submetem à santidade bem-aventurados, é uma empresa que vive do negócio da fé, da fábula de Cristo e da ameaça do Inferno.

Pior do que o clero católico são os judeus de trancinhas à Dama das Camélias, pastores evangélicos dos EUA e os mullahs. Pior do que bispos espanhóis são os talibãs do islão e só o Papa pede meças aos Ayatollahs.

Claro que a tara das religiões monoteístas está no coração dos mais pios, na cabeça dos prosélitos e na acção dos cruzados obsoletos que querem expandir a fé.

É por isso que a ICAR conta na galeria dos horrores, alguns com milagres averbados e lugar reservado nos altares, sórdidas criaturas de escassa virtude e santidade.

Stepinac e Pavelic, Escrivà e Franco, Videla e Pinochet, Salazar e Moussolini, Bernard Law e Hans Hermann Groer, Marcincus e Rouco Varela, Voityla e Rätzinger, são grãos da seara arroteada pela ICAR.

Stepinac esteve ligado ao campo de extermínio de Jasenovac, comandado pelo franciscano Miroslav Filipovic, o Frei Morte no lúgubre testemunho dos sobreviventes ortodoxos sérvios. JP2 canonizou o carrasco católico e desprezou os mártires sérvios vítimas do campo de horror de Jasenovac.

É esta gente, este bando de fanáticos e assassinos que a Igreja vai procurando branquear como se fossem beneméritos ou, pelo menos, cidadãos recomendáveis.