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21 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

Texto divulgado por Alfredo Barroso

SOBRE ORGIAS NO VATICANO E OUTRAS “PEQUENAS FESTANÇAS”
– por François Reynaert (*)

Nos momentos difíceis, é preciso saber encontrar o apaziguamento no longo rio da História. Consideremos então o “fait divers” proveniente de Roma que veio apimentar o início do Verão [de 2017]: chamada por vizinhos já exasperados por uma incessante barulheira, a polícia italiana irrompeu, no final de Junho [de 2017], por um prédio situado no Vaticano, acabando por descobrir o que foi descrito como uma “orgia gay”. Com eclesiásticos, “go-go boys” e cocaína à tripa-forra. Acontece, por outro lado, que a residência em questão pertence à piedosa Congregação para a Doutrina da Fé e que o organizador da “pequena festança” era o secretário particular de um dos cardeais mais importantes da Cúria, e estava em vias de se tornar bispo. Este prelado, que terá certamente de esperar um pouco mais antes de obter a promoção, foi encontrado num estado tal que justificou o seu internamento urgente para efectuar uma cura de desintoxicação. Não são muitos os detalhes sobre o caso – o que se lamenta. Mas não se duvida que vai causar mais preocupação ao Papa e a alguns católicos mais aflitos.

Como convencê-los a não ficarem assim tão preocupados com este caso? Antes de mais, contrariamente ao que a Imprensa se apressou a repetir em contínuo, este caso nada tem de um “novo escândalo sexual” a abater-se sobre a Igreja. Recordemos que os últimos escândalos que vieram à baila foram atrozes histórias de pedofilia. O “fait divers” de Junho [de 2017] tem a ver com adultos que sabiam perfeitamente o que estavam a fazer. A História poderá ser, também, de grande ajuda para relativizar os desvios de comportamento que agora foram descobertos. No que se refere a “desordens contra natura”, como dantes se dizia, o trono de São Pedro já viu muitas outras.

Confessemos, todavia, que a tradição específica de que se está a falar não é fácil de apreender, porque se mistura frequentemente com outras tradições. No século X, por exemplo, durante um período mais tarde baptizado como da “pornocracia pontifícia” (904-963), Roma está sob o domínio duma poderosa família que impele os Papas a todos os excessos, para fazer deles os seus fantoches. Mas parece que as rédeas da Igreja estavam sobretudo nas mãos das cortesãs, o que nos afasta do nosso tema. O famoso grande cisma do Ocidente (1378-1417), esse período em que o trono de São Pedro, dividido entre Avinhão e Roma, é disputado por dois Papas e às tantas por três, oferece-nos igualmente um momento propício. Mas também aqui os excessos que nos interessam são submergidos por outros. Assim, o Antipapa João XXIII, posto em julgamento pelo Concílio de Constança, é acusado de ter praticado a sodomia com monjes – um clássico – mas também de outras “preciosidades”, entre as quais a violação de mais de 300 monjas, de modo já não se sabe a que diabo nos devemos confiar.

Faustosa sob todos os pontos de vista, a Roma pontifícia da Renascença é a das grandiosidades artísticas – basílica de São Pedro, capela Sistina, Miguel Ângelo, Rafael, Bramante e toda essa parafernália – mas também a de outras proezas. Alexandre VI (1492-1503), um dos dois Papas Bórgia, orienta-nos para uma falsa pista. Obcecado em provocar a perda do belo Astorre Manfredi, que lhe recusara a sua moradia de Faenza, diz-se que o terá violado antes de o mandar lançar ao rio Tibre. Mas é uma acusação sujeita a caução. Uma outra das sua proezas, devidamente confirmada por um prelado alsaciano em serviço no Vaticano, é digna de fé mas claramente heterossexual: em 31 de Outubro de 1501, mandou vir 50 prostitutas para as proporcionar à sua corte, submetendo-a a uma espécie de concurso de virilidade, arbitrado pelos seus próprios filhos, os célebres César e Lucrécia Bórgia.

Em matéria de vício italiano, como se dizia nessa época, mais vale recorrermos ao Papa Sisto IV (1471-1484), que passava por escolher os seus cardeais exclusivamente por critérios físicos. Ou ao Papa Júlio III (1550-1555), cujo primeiro acto que praticou, logo que a tiara pousou na sua augusta fronte, foi nomear cardeal o seu jovem favorito, de 17 anos de idade, do qual nunca se separava, nem mesmo para dormir. Com tal golpe, o detalhe causou escândalo. A época tornou-se mais dura. Entretanto, aconteceu o cisma da Reforma, cujo mundo protestante festejou meio milénio [em 2017]. Contrariamente ao que por vezes se escreve, Lutero não rompeu com Roma por causa dos deboches que ele viu multiplicarem-se durante uma viagem que fez em 1510. O grande escândalo, a seus olhos, era a venda das indulgências, isto é, a possibilidade que os cristãos tinham de comprar a sua salvação a troco de dinheiro, comércio que foi relançado por Leão X (1513-1521) para financiar a edificação da basílica de São Pedro. Assim sendo, uma vez consumada a ruptura, os ataques vindos dos luteranos e, sobretudo, dos muito puritanos calvinistas, contra « a nova Babilónia» ou «a grande prostituta romana», terão quase sempre o seu alvo abaixo da cintura. Roma sente que é preciso impor a calma nesse lado. Após o concílio de Trento, Pio V (1566-1572) decreta o fim da recriação e impõe aos seus palácios e ao seu clero um estilo asceta. Aqueles que querem continuar a divertir-se deverão fazê-lo com discrição…

(*) Texto publicado no semanário francês “L’OBS” em 3 de Agosto de 2017

20 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

Toddy e Deus

Por

Onofre Varela

(in Gazeta Ateísta)

Frases afirmativas da existência de Deus são muitas vezes proferidas a propósito e a despropósito de tudo e de nada. “Deus é pai”, “Deus é amor” e “Deus é criador”, são três dessas frases do marketing religioso.

São afirmações que me fazem lembrar um anúncio radiofónico que esteve em voga quando eu era moço, propagando as virtudes de um pó achocolatado para misturar no leite. Produto americano de grande consumo na época, a sua mensagem afirmava categoricamente: “Toddy contém, porque contém mesmo!”

Ora… dizer isto, ou estar calado é, em termos informativos, rigorosamente a mesma coisa. A frase não acrescentava nem retirava nada ao produto que publicitava. Dizia-se que continha, mas não se definia, nem explicava, o respectivo conteúdo… porém, reiterava-se, à laia de explicação, que “contém mesmo” para sublinhar uma verdade: a de conter! Conter o quê?!… Ninguém sabia! “Contém porque contém mesmo”, é uma crença e não uma explicação. Não explicando coisa alguma, a mensagem Toddy conseguia gravar na mente dos consumidores a ideia de que aquilo haveria de conter algo de positivo que se reflectiria na boa saúde de quem bebesse aquela coisa misturada no leite.

Na verdade o poder nutritivo do produto estava no leite (que o consumidor já possuía independentemente do Toddy) e não no pó. Este servia para alterar a cor e o paladar do leite e funcionava ao nível da crença. “Contém porque contém mesmo” é uma afirmação tão redentora como aquela de Deus ser pai, amor e criador. Em religião as afirmações são feitas na base do sim porque sim, do não porque não e do é porque é (contém porque contém) e funcionam com a mesma eficácia do marketing Toddy. O que colhe resultados é a crença nas virtudes do pó (e na existência de Deus), e não o pó propriamente dito (nem Deus) que ninguém sabe de onde provém (e que não existe fora da cabeça do crente). O desconhecimento da origem do pó é, no fundo, o enigma, o dogma que alimenta a crença fazendo-a perdurar no tempo, e só encanta enquanto não se dissolve o mistério, mostrando que o pó nutritivo não é mais do que cacau… e então perde metade do interesse! Tal como perde o encanto e deixa de ter significado a magia do aparecimento da pomba, quando se conhece o truque do ilusionista.

É assim que Deus-Toddy vende a ideia do seu pó redentor e dulcificado a ser consumido em doses místicas de missas dissolvidas em orações…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

18 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

Quando a ICAR nega o antissemitismo

 

Peço desculpa aos leitores pelo lapso de um quadro
completamente alheio ao título e ao D1A, agora
substituído pelo correto (16H00).

 

17 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

A fé e a liberdade

Herdeiro do Renascimento e do Humanismo, o Iluminismo fez do século XVIII o «século das luzes».

Foi o confronto dialético entre a cultura greco-romana, que os sábios do Renascimento retomaram, e a escolástica medieval, que o clero romano se esforçou por preservar, que fez germinar o Iluminismo.

O ceticismo de Hume, filósofo e historiador escocês, arrasou os dogmas religiosos e abriu as portas da modernidade.

Hoje, com a secularização e a razão a avançarem nos países europeus, assistimos à aflita revolta do clero ansioso pelo retorno à fé e aos valores medievais.

Os milagres da Igreja Católica são a mais demente manifestação de obscurantismo e a mais torpe tentativa de manipulação contra a ciência e o progresso. É o desespero da fé, que definha, contra a secularização que avança. O retorno aos dogmas e a chantagem sobre os Governos democráticos são uma obsessão das Igrejas cristãs que convocam o histerismo dos seus padres e o fanatismo dos crentes contra a modernidade.

Os mitos agradam aos crédulos enquanto a reflexão crítica é apanágio dos herdeiros do «século das luzes» que as religiões, em geral, e o Islão, em particular, se esforçam por apagar.

Os crentes exultam por viver de joelhos, os céticos têm a coragem de se manter de pé.

14 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

Humor

12 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

Gazeta Ateísta – A Igreja, o Papa e o meu Avô

Por

Onofre Varela

A Igreja Católica é uma monarquia absolutista de origem divina, com um soberano que detém o título de Papa. O termo designa “pai”.

O pai, numa sociedade patriarcal como a nossa, é a autoridade da família, e o Papa é a autoridade da Igreja Católica, a quem os crentes devem mais do que “respeitinho” e vassalagem; também lhe devem adoração e por isso lhe beijam o anel.

A Igreja é uma empresa multinacional que fabrica e comercializa fé, produto de grande consumo só comparável à Coca-Cola, ao
McDonald e aos Donuts… todos juntos. Mas não é uma multinacional qualquer! Comprova-o o Catecismo da Igreja Católica de 1992 (presumo que ainda está em uso e sem alteração) que reitera a sua doutrina de que “só a Igreja detém toda a verdade, porque a recebeu íntegra, por revelação directa de Deus, e transmite-a na sua pureza original”.

Ora, sendo Deus um conceito criado pelo Homem da Idade do Ferro, temos, na Igreja (Católica ou qualquer outra), um agente de contrafacção. Um explorador de fé e comerciante de um plágio, do qual se afirma detentor dos direitos de autor.

E mais afirma a Igreja, na Constituição Dogmática Dei verbum, do Concílio Vaticano
II: “A verdade de Deus é a sua sabedoria que rege toda a ordem do mundo […]
Deus único, criador do céu e da terra […] é o único que pode dar conhecimento verdadeiro de todas as coisas criadas pela relação
com Ele […]” cuja verdade se encontra na Bíblia como obra de Deus, pois “a revelação que a Sagrada Escritura contém foi escrita por inspiração do Espírito Santo”.

Esta mitologia católica que é apregoada como “verdade histórica”, vende como pão quente, e os crentes acreditam… porque é esse o papel dos crentes… porém, a fornada saiu queimada!… Esse pão está intragável!…

Quem consome deste pão convencido de que é um bom alimento, vai morrer à mingua de sabedoria, pensando que morre sábio! Do mal o menos para o próprio, que nunca soube que não sabia… mas quem por cá fica, alimentando-se do mesmo pão queimado, sem saber o que é a verdadeira qualidade do pão bem temperado, bem levedado e cozido, e do saber verdadeiro alicerçado em ciência, é um ser humano com um índice de qualidade racional… a que nível?!…

Aqui o leitor pergunta: E o que é que tem o teu avô a ver com tudo isso, porra?!…
E eu respondo. O meu avô era um excelente padeiro, tal como o Papa actual é um excelente ser humano. Mas não produzia, só, fornadas impecáveis. Uma vez por outra também deixava queimar a fornada e obrigava-se a deitar fora o pão sem qualidade.

A Igreja (todos os cultos religiosos) está precisada de fazer o mesmo. Não venda pão espiritual mal fabricado, e o crente não adore o Papa (ou bispos de outros credos, ou treinadores de outros futebóis), porque o Papa é um homem como eu, como você e como o meu avô… que era um excelente padeiro…
mas às vezes deixava queimar a fornada!…
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

9 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

O negócio das almas

O Paraíso não é um bar de alterne, nem um lugar especialmente bem frequentado. A avaliar pelos santos que o defunto JP2 tirou das profundezas do Inferno ou do estágio no Purgatório, há hoje uma multidão de patifes a jogar as cartas com no Paraíso e a servir bebidas ao Padre Eterno.

Não sei se é Torquemada que toma conta do armazém das almas de crianças por nascer ou de adultos por batizar, pois sabia-se de ciência certa, com aquela honestidade que se conhece ao clero, que os não batizados tinham por destino o Limbo, sítio insípido, sem divertimentos nem crueldades, atribuído ao Deus de Abraão como destino de almas sem bênção, e que um papa recente extinguiu, por vergonha ou falta de rendimento.

No armazém das almas o negócio anda próspero com a explosão demográfica a que se assiste. Mas Deus é um comerciante insatisfeito que quer despachar mais mercadoria.

É por isso que a ICAR é contra o planeamento familiar, a contraceção, o preservativo, a IVG, o DIU e a pílula. No Céu há uma alma para cada espermatozoide e é por isso que tanto o pecado solitário como a ejaculação noturna são uma catástrofe para o negócio.

Os clérigos, encarregados das almas e do negócio, ficaram apavorados com o fim da perseguição criminal às mulheres que interrompem a gravidez.

Aliás, para as religiões do livro, a mulher é um ser inferior que deve obediência ao marido e serve apenas para a reprodução e louvores ao Deus regional.

7 de Janeiro, 2018 Abraão Loureiro

5 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

A eutanásia e os fantasmas da Igreja católica

Há temas, ditos fraturantes, que a ICAR gostaria de silenciar. O aborto, a eutanásia e o casamento de homossexuais são os que mais a crispam e apaixonam. E, no entanto, não são ignorados nem definitivamente adiadas as soluções legais.

A moral não é universal nem legitima a imposição de todas as normas e, muito menos, a punição pela sua transgressão. O divórcio, por exemplo, é um mal, e deve ser legal. Só a intolerância religiosa e a cumplicidade da ditadura o limitou e, na prática, impediu, até ao regresso à democracia. O adultério é decerto ruim e ninguém, de juízo são, se atreve a propor uma punição legal, mas é bom lembrar que foi esse o crime que levou Camilo Castelo Branco ao cárcere.

Os que se opuseram à descriminalização do aborto foram os que, já depois do 25 de Abril, não aceitavam que o risco de vida da mãe, as malformações fetais e a violação fossem motivos legítimos para a interrupção voluntária da gravidez, como se a lei impusesse a obrigação e não, apenas, consagrasse a permissão.

O mesmo sucederá com a eutanásia, como já ocorreu com os casamentos homossexuais, cujo precedente existe em vários países europeus, apesar do terrorismo ideológico com que os adversários se opõem. Convém repetir que é um direito que se consagra e não a obrigação que se impõe.

O que surpreende nos adversários das alterações legais liberalizadoras, ou da simples discussão, não são as opiniões que perfilham, é o ódio que nutrem pelas ideias que colidem com as suas.

Há pessoas para quem a liberdade religiosa se confunde com o direito ao proselitismo e a exigência de conversão dos réprobos. Não lhes passa pela cabeça que a conversão e a apostasia, a ortodoxia e a heterodoxia, a devoção e o agnosticismo, a beatice e o ateísmo são direitos que se inserem na liberdade religiosa que, até hoje, só a laicidade do Estado conseguiu tornar efetiva.