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11 de Março, 2006 lrodrigues

A Verdade dos Factos

A Conferência dos bispos católicos dos Estados Unidos criou um site na Internet com o objectivo de repor a verdade dos factos sobre a doutrina e a religião católicas.

Tratando de temas tão diversos como o celibato de Jesus e a sua divindade, os evangelhos, Maria Madalena e até a Opus Dei, este interessante site – «Jesus Decoded» – proclama-se “defensor da verdade” e indigna-se com aqueles que pretendem impingir crenças às pessoas sobre “coisas que elas nunca viram”.
Com uma linha editorial como estas, poderíamos ser levados a supor que este site tão piedoso clama contra a fraudulenta e miserável exploração da crendice e da fragilidade emocional das pessoas levada a cabo por tantos charlatães por esse mundo fora.
Por isso mesmo, poderíamos pensar que um site criado pelos próprios bispos dos Estados Unidos se indignaria contra o autêntico escândalo que a Igreja Católica promove em Fátima, em Lourdes e em tantos outros santuários por esse mundo fora, unicamente com o fito de angariar fundos multimilionários para os sapatinhos vermelhos e para as comodidades e mordomias do Papa e do seu séquito de ociosos nababos que com ele coabitam no Vaticano.
Poderia até falar de exorcismos levados a cabo por padres fanáticos que desgraçam a vida a pessoas inocentes, ou da invenção de milagres para impingir aos crentes mais débeis a santidade de um qualquer facínora para mais tarde o promover a semi-deus.
Poderia ainda desmascarar a forma simplesmente abjecta como a Igreja Católica tem procurado ocultar o escândalo da pedofilia praticada pelo clero por esse mundo fora.
Mas não!
O site tem como único objectivo, pasme-se, «desmascarar» um livro de segunda categoria, o «Código da Vinci», da autoria de Dan Brown.
Sem perceber que se trata de um simples romance de aventuras, e incapaz de o proibir e de o queimar como «nos bons velhos tempos», a Igreja Católica está tão apavorada com o conteúdo do livro que nem vê o ridículo em que cai, com tantos desmentidos e até ameaças à sua publicação e à sua produção cinematográfica..

Como se, de repente, a interpretação mais ousada que um romancista faz da vida de Jesus Cristo e de um quadro de Leonardo da Vinci estivesse a pôr em causa toda a estrutura e os próprios fundamentos básicos da religião católica.

É uma preocupação tão grande que parece mesmo que, de súbito, a Igreja Católica finalmente se apercebeu da fragilidade e da inverosimilhança das patranhas que anda a impingir às pessoas há quase dois mil anos…

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

10 de Março, 2006 Carlos Esperança

Liberdade religiosa

O Vaticano está de acordo com o ensino da religião muçulmana nas escolas.

A pequena e colorida teocracia, um dos dois últimos Estados totalitários da Europa (o outro é a Bielorrússia) concorda com o ensino do Corão nas escolas públicas, desde que haja alunos suficientes para ingerir o veneno sagrado.

Desconheço a legitimidade de Vaticano para interferir nos assuntos internos da Itália, país que só em 1984 aboliu a religião de Estado, essa droga que se cultiva nos campos do Vaticano e viceja em vários continentes – o catolicismo.

Não sei se o Tratado de Latrão, que envolveu tratantes dos dois lados, ainda submete a Itália de Garibaldi ao jugo do bairro das sotainas e ao alvitre das mitras que gravitam em torno de um déspota medieval de sapatinhos vermelhos.

Não é o Corão, a mais retrógrada e demente versão da vontade divina, que está em causa. É o veneno da fé que não deve ser ministrado nos santuários da ciência – as escolas públicas, à semelhança do que faz a ICAR.

A fé tem salas de chuto próprias (igrejas, mesquitas e sinagogas). É aí que os traficantes devem esperar as vítimas que aliciam, os filhos que os pais desprevenidos ou coniventes lhes entregam e os incautos que resvalam no pântano da religião sedados com a liturgia.

Se querem curtir em grupo, há sítios como Meca, Roma, Fátima, Jerusalém, Medina ou Lourdes, onde, em místico transe podem apedrejar o diabo, rezar em grupo e acordar em ressaca numa cama de hospital com as cabeças partidas e as almas purificadas.

9 de Março, 2006 pfontela

O regresso aos bons costumes

Eu sei que ao comentar a última declaração de Ratzinger pode parecer um bocado que estou a bater no ceguinho, afinal não há nela um pingo de originalidade, não existe nada que qualquer ateu consciente não rejeitasse completamente. Mas mesmo assim vou comentar porque o dia em que pararmos de denunciar estes lobos com pele de cordeiro é o dia que deixa de existir uma voz de dissidência na sociedade e isso é o pior que pode acontecer, é a estagnação e, eventualmente, a morte.

Dizem que os fanatismos se alimentam uns dos outros e parece ser esse o caso nesta declaração em que o papa utiliza o medo ao islão para promover os seus próprios fins: a ressurreição da moribunda fé católica europeia. Segundo este arauto da luz só regressando às suas origens de valores absolutos (católicos) é que a Europa poderá sobreviver à “invasão” arábica.

Eu gostaria que de uma vez por todas o Vaticano saísse das sombras e dissesse claramente o que pretende, quais são os tão desejáveis valores absolutos que anseia. Serão os mesmo que defenderam no passado? O abuso sistemático e contínuo das mais básicas liberdades humanas? O conluio que fizeram com o poder monárquico para manter as duas instituições (igualmente irracionais e ilógicas) de pé? O poder de julgar qualquer indivíduo? Poder secular directo e imediato por parte dos seus sacerdotes? A asfixia cultural/intelectual de um continente inteiro? A instauração de um clima de medo opressivo que virou vizinho contra vizinho, amigo contra amigo, pai contra filho? O regresso aos maravilhosos esforços de conversão nas ex-colónias (envolvendo a destruição selvática de muitas sociedades locais que até hoje não recuperaram dos demónios que os padres implantaram no seu seio – para não mencionar as que foram totalmente aniquiladas)?

O que hoje se identifica como valores na Europa (tolerância, individualidade, liberdade, etc) pouco ou nada estão relacionados com a prática ou pregações da Santa Madre Igreja ao longo dos séculos. De facto só foram possíveis destruindo o antigo regime que os precedeu. O que o Vaticano propõe como solução para os males do mundo pode ser resumida da seguinte forma: muitos islâmicos advogam o radicalismo e por isso a única maneira de sobreviver é a civilização Europeia regredir ao seu nível de barbárie. E a Igreja Católica oferece-se como guia altruísta para esse percurso.

Esta é a linguagem do medo e da confusão, é o apelo ao simplismo, à negação em enfrentar uma realidade complexa sem soluções fáceis e dogmáticas que evitem as desagradáveis tarefas de ter que pensar e inovar. Esta repetição até à exaustão de uma suposta decadência moral Europeia não visa mais que assustar (como em tempos fizeram com outros medos) os cidadãos com os medos que afectam a sociedade actual. A experiência é o melhor guia e o passado da instituição e dos ideias fala por si, não devemos nunca mais tornar-nos na civilização de ovelhas dirigida pelo tirano romano.

O presente de Roma está envenenado e apenas reflecte a sua incapacidade de lidar com o mundo nos seus moldes actuais, tanto que a única solução para eles reside num regresso ao passado, mas para sua infelicidade o tempo não volta atrás e se aprendemos alguma coisa nestes séculos foi a desconfiar de todos os que ambicionam o poder absoluto e que para o atingir tentam subornar os Europeus com promessas de potência e de regresso aos bons velhos tempos.

9 de Março, 2006 Carlos Esperança

Mensagem da Associação República e Laicidade


A «Lei da Liberdade Religiosa» (Lei nº 16/2001, de 22-06) diz — isto é: manda, determina, estabelece — que «o Estado não adopta qualquer religião (…)» e que «nos actos oficiais e no protocolo de Estado será respeitado o princípio da não confessionalidade» (pontos 1 e 2 do Artº 4.º – Princípio da não confessionalidade do Estado).

Na cerimónia de posse do novo Presidente da República, o ordenamento de precedência das entidades que participaram na apresentação de cumprimentos foi a seguinte:

– Primeiro-Ministro;
– Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e Presidente do Tribunal Constitucional;
– Chefes de Estado, primeiros-ministros e equiparados estrangeiros convidados;
Cardeal Patriarca de Lisboa;
– Vice-Presidentes da Assembleia da República e Presidentes dos Grupos Parlamentares;
– Deputados;- Titulares dos restantes Órgãos de Soberania;- Embaixadores;
– Altas Individualidades estrangeiras convidadas;
– Altas Autoridades portuguesas;
– Outros convidados…

A forma como, na associação República e Laicidade, olhamos para esta situação (bem como para as demais situações semelhantes a ela) é bastante fácil de se imaginar; muito mais difícil, contudo, será saber-se — e entender-se — o modo como os muitos «políticos» que participaram naquele evento encaram a presença «oficialmente destacada» que o cardeal patriarca católico aí teve…

Saudações republicanas e laicistasLuis Mateus
REPÚBLICA e LAICIDADE – associação cívica

Perguntas:

– Os vice-presidentes da AR passaram a bispos auxiliares e os deputados equiparados a cónegos?

A ética republicana foi exonerada da Assembleia da República?

9 de Março, 2006 Carlos Esperança

Jeová

Deus não é uma anedota, é uma piada de mau gosto. Pior, é um pretexto para a humanidade se digladiar enquanto, à sua custa, multidões de parasitas lhe interpretam a vontade e a impõem a ferro e fogo.

Sendo Deus criado pelo homens, nem sequer pelos melhores, não podia sair obra asseada. Foi, contudo, nas religiões monoteístas que Deus se tornou a síntese do pior que os homens sabem com o mais execrável que só deus pode.

É um Deus violento, vingativo, criador do Céu e do Inferno (o primeiro para quem os clérigos querem e o segundo para os outros).

Jeová, o Padre Eterno, ditou um livro em várias versões e fez de Moisés, Jesus e Maomé almocreves da sua vontade. Ditou-lhes cópias diferentes para confundir e pôr os crentes a afeiçoar a prosa e impô-la à bordoada.

Constantino, um biltre cruel, praticou uma política sistemática de erradicação da diferença cultural e encomendou a Eusébio de Cesareia que organizasse um conjunto minimamente coerente das 27 versões dos Evangelhos que hoje são vendidos (4) com o nome de Novo Testamento (primeira metade do séc. IV). Mesmo assim, só em 1546, no Concílio de Trento, foi aprovada a mentira definitiva.

Teodósio fez do cristianismo religião de Estado em 380 e, finalmente, Justiniano endureceu a legislação cristã contra a heterodoxia.

No islão houve um tal Marwan, governador de Medina, que, para garantir a autoridade do Corão, mandou recolher e, depois, queimar as versões existentes, guardando uma única para evitar confrontações históricas.

A Tora também levou séculos a tornar-se a versão definitiva.

Um dia o Humanismo despertou o Renascimento e desenterrou a cultura greco-romana esmagada pelo cristianismo. O movimento, que começou nas artes, alargou à ciência e à literatura e, em breve, influenciou o pensamento que rompeu com o obscurantismo clerical.

O iluminismo triunfou sobre o dogma e a Revolução Francesa empurrou as hóstias e o clero para a sacristia.

Foi assim que a laicidade fez caminho e, com ela, as democracias.

A Reforma fora um golpe no papado desacreditado e violento que usava o medo para impor a fé. Ainda recorreu à contra-reforma. Era tarde, a liberdade já estava em marcha.

As sotainas estão de volta. Atenção livres-pensadores.

8 de Março, 2006 lrodrigues

A Mulher Católica

O dia 8 de Março é o «Dia Internacional da Mulher».

As principais religiões do mundo definem-se a si próprias como defensoras de princípios éticos de honestidade, de paz e de tolerância e amor ao próximo.
No entanto, o que é facto é que, na prática, TODAS ELAS – quer historicamente, quer ainda agora – acabam por ser acérrimas opositoras de quem não perfilha as mesmas ideias, ou de quem tão simplesmente pratica o culto ao seu Deus de modo distinto.
É mesmo das religiões que provêm os mais chocantes exemplos de intolerância e preconceito.
E, se a Igreja Católica Apostólica Romana não é excepção, ela caracteriza-se também pela mais profunda e abjecta homofobia e pela mais inqualificável misoginia.
Provavelmente mais ainda do que as restantes religiões.
Senão vejamos:
Logo nos princípios fundamentais das religiões cristãs, transmitidos directamente e sem intermediários pelo próprio Deus a Moisés, consta como mandamento: «não cobiçar a mulher alheia».
Ora, quer isto dizer que o próprio Deus reduziu a mulher a um mero e passivo objecto de cobiça, sem autonomia de vontade para a negar ou para lhe resistir.
E quer isto dizer que não resta ao homem outra alternativa para resguardar da cobiça alheia a mulher de que é “proprietário”, não a vontade da própria mulher (que a vontade da mulher não é para aqui chamada), mas somente o último recurso: a vontade divina.
E como a autoridade suprema só tem de legislar em função daquilo que é necessário e que é previsível que aconteça, nem sequer se deu ao trabalho de prever um mandamento que, reciprocamente, proíba a mulher de cobiçar o homem alheio.
Obviamente que a mulher não tem capacidade suficiente para levar a cabo uma tarefa tão masculina como é essa de «cobiçar».
Como está absolutamente fora de questão a própria mulher querer vir um dia… a ser cobiçada…
Na verdade, se alguma coisa é característica da Igreja Católica é o modo como a mulher é encarada como algo sujo e pecaminoso, um ser de segunda categoria e absolutamente desprovido de raciocínio, e que deve ao homem obediência cega.
O próprio celibato do clero não visa mais do que afastar todos aqueles santos homens, representantes de Deus na Terra, dessa coisa horrível que é a mulher, que só os distrai das sagradas tarefas de Deus e os aproxima inexoravelmente do pecado.
Principalmente desde o Século IV com Santo Agostinho (que deve ter sido um tarado sexual de primeira apanha), o próprio modo como a Igreja Católica encara o sexo – simplesmente como algo porco e um horrível pecado contra Deus – reflecte-se imediatamente no modo como é encarado o “objecto” desse sexo: a mulher.
Assim, como poderia a Igreja Católica permitir a ordenação dessa coisa suja e abjecta que é a mulher? A mulher nem sequer tem dignidade para ajudar à missa, quanto mais para ser padre!
Desde há séculos, a mulher não é mais do que o oposto polo aristotélico do homem, e não serve para mais do que, pela negativa, o afirmar positivamente.
Como o mal afirma o bem; como o negativo afirma o positivo.
E não são raros os exemplos históricos das mulheres que, por falharem nesse seu sagrado desígnio foram queimadas como bruxas.
Bastava que alguém desconfiasse que pensavam por si, ou que tão somente demonstrassem qualquer aptidão artística.
As próprias mulheres que se aproximaram de Deus, na pessoa de Jesus Cristo, são tratadas pela Igreja Católica com um machismo e uma misoginia que não se entende que ainda prevaleça e se aceite nos nossos dias.
Teria sido absolutamente normal que Jesus Cristo, afinal um homem, tivesse casado com Maria Madalena, a quem teria tratado como sua igual, e que teria sido sua fiel e confidente companheira.
E que o teria acompanhado nos momentos mais difíceis da sua vida. E que nunca o abandonou, nem mesmo na hora da sua morte.
Mas, como está absolutamente fora de questão que Jesus Cristo, Deus e filho de Deus, do alto da sua santidade de Espírito Santo se tenha alguma vez «conspurcado» pelo contacto com uma mulher, desde logo a Igreja Católica imediatamente reduziu a pobre Maria Madalena ao nível mais baixo do escalão mais baixo que já por si era como mulher: passou a ser uma prostituta.
Mas o exemplo mais paradigmático da misoginia da Igreja Católica é o que se passa com a própria mãe de Jesus Cristo, a Virgem Maria.
A Maria de Nazaré foi pura e simplesmente negado ser mulher.
E para que Maria pudesse ser mãe, mesmo sem ser mulher, foi então determinado que fosse virgem, obviamente por intermédio de um dogma, que é para não haver mais discussões.
De tal modo que ninguém se importou que com isso o carpinteiro com quem era casada fosse automaticamente transformado assim numa espécie de «corno manso», incapaz de consumar o seu próprio casamento.
Uma vez mais com a persistente ideia (que para mim é inegavelmente muito suspeita) de que o sexo não é uma coisa tão natural como comer ou dormir, mas antes uma coisa suja e pecaminosa, a Igreja Católica passou a tratar a mãe de Jesus como a «Virgem», a «Imaculada» ou outros impropérios do género, fazendo-a subir aos Céus toda ela, em alma e corpo, com hímen e tudo, sem sequer lhe dar direito a ter tido uma simples relação sexual na sua vida terrena.
Porque, para a Igreja Católica, depois de ter tido uma relação sexual a mulher nunca mais será a mesma e não serve já para mais nada.
Ao contrário do que acontece com o homem que, como toda a gente sabe, está acima dessas coisas.
Até o seu esperma é sagrado e não pode ser derramado inutilmente, sob pena de morte.
A mulher, não. Porque a mulher já foi «tocada». Já foi «suja». Já tem uma «mácula» que nunca mais sai.
E, nem que fosse só para ser mãe, uma mulher assim «manchada», já não poderia subir aos Céus.
Pois não é ter relações sexuais sinónimo de «pecar»?
E mais: assim numa coisa que parece muito próxima de uma vulgar e africana excisão ritual de clitóris, nem sequer foi dado a Maria de Nazaré o direito de subir aos Céus sem ter tido um orgasmo.
E agora é tarde, porque nos Céus não há cá dessas porcarias.
Porque, como é óbvio, Deus não quer.
Pois se Deus é pai, é filho e é espírito santo, então, e como toda a gente sabe, Deus… é HOMEM!
Uma coisa é certa:
Nunca deixará de me surpreender como é que uma MULHER, digna desse nome e orgulhosa da sua condição, pode em plena consciência intitular-se CATÓLICA!

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

8 de Março, 2006 Carlos Esperança

Mulher – Dia internacional

Nutro pelos dias do calendário, que a sociedade de consumo reverencia, saudável horror e o desprezo mais visceral.

No dia da mulher vacilo e soçobro. Evoco mãe e irmã e esmoreço; lembro companheira e amiga e descoroçoo. Lembro as mulheres, vítimas de todas as épocas, e enterneço-me.

Recordo a oração matinal dos judeus que convida os homens a bendizer Deus por tê-lo feito judeu e não escravo…nem mulher. Recordo a Tora que decidiu a inelegibilidade [da mulher] para funções administrativas e judiciárias e a incapacidade de administrar os próprios bens.

Lembro a submissão que o islão impõe, a burka que lhe cobre o corpo e oprime a alma, a lapidação, as vergastadas e a excisão. Os machos são superiores às fêmeas, «porque Deus prefere as homens às mulheres (IV, 34)».

A cultura judaico-cristã é misógina, submete e explora a mulher. Destina-lhe a cozinha e a procriação, a obediência e a servidão. É a herança que Abraão lhe deixou.

Quando a mulher irrompeu com a força contida por séculos de opressão, avançou nas artes, na ciência e na cultura, com o furor do vulcão que estoirou os preconceitos.

Antes do 25 de Abril, em Portugal, a mulher carecia de autorização do marido para transpor a fronteira, não tinha acesso à carreira diplomática ou à magistratura, nem à administração de bens próprios.

Não há países livres sem igualdade entre os sexos.

A libertação da mulher é uma tarefa por concluir, contra o peso da tradição, a violência dos homens, o abuso das Igrejas e os preconceitos da sociedade.

Hoje, dia internacional da mulher, é dia para, homens e mulheres, pensarmos que somos iguais. Todos os dias. Em qualquer lugar. Sempre.

Publicado simultaneamente no «Ponte Europa»

6 de Março, 2006 Ricardo Alves

Policarpo quer respeito mas não respeita

«Apesar do apregoado respeito pelas religiões e pela fé de quem acredita, alguns não hesitam em brincar com o sagrado; chegou-se mesmo a apregoar, em nome da liberdade, o direito à blasfémia. Fiquem sabendo que para nós que buscamos o rosto de Deus e procuramos viver a vida em diálogo com Ele, isso nos indigna e magoa (…) com o sagrado não se brinca. O respeito pelo sagrado é algo que a cultura não pode pôr em questão, mesmo em nome da liberdade. A todos esses que sentem não acreditar em Deus, eu digo em nome do povo crente: a vossa dificuldade em acreditar em Deus, não toca na realidade insofismável de Deus. Nós respeitamos a vossa descrença (…). Mas respeitai a nossa fé, (…) sobretudo respeitai Deus em quem acreditamos.»

José Policarpo inseriu novamente um pronunciamento político numa «homilia» (uma actividade que se supõe exclusivamente «espiritual»). Desta feita, o Cardeal-Patriarca formulou um pedido (ver mais acima), mas de uma forma (intencionalmente?) ambígua: não é claro se deseja uma lei que limite a liberdade de expressão criminalizando a blasfémia, ou se quer apenas que as pessoas se coíbam de exercer a sua liberdade quando isso lhe possa desagradar. Em qualquer dos casos, impôs limites aos que não cedem à «facilidade» de acreditar em «Deus»: não se pode troçar, diz ele, de «Deus», da «fé» e do «sagrado». O totalitarismo implícito no pedido é claro: Policarpo quer impôr a sua concepção do sagrado mesmo a quem não crê, e não exclui exigir leis que o ajudem nesse propósito (como, aliás, acontecia durante a Inquisição…). É caso para recordar que é fraca a fé que tem de ser protegida, pelas leis, de ideias contrárias, pois se fosse forte não necessitaria de exigir a quem não a partilha que se abstenha de a criticar.

Pessoalmente, tenho tanto interesse em insultar o «Deus» de Policarpo como o «Grande Manitu» ou o «Unicórnio Cor-de-Rosa Invisível». Porém, reservo-me o direito de dar uma resposta proporcional quando os católicos insultam a minha inteligência e a minha sensibilidade (o que acontece regularmente em Fátima), quando insultam as mulheres ou as minorias comportamentais (é desnecessário apresentar exemplos…), ou quando insultam os descrentes por o serem. E não o poderia fazer se houvesse um efectivo «delito de blasfémia», pois os insultos emitidos pela igreja de Policarpo estariam protegidos pelo carácter «sagrado» da sua sustentação dogmática…

Devo acrescentar que Policarpo, honestamente, não deveria preocupar-se tanto. Em Portugal, sem necessidade das leis liberticidas que ele parece desejar, vigora um consenso social que circunscreve e abafa a crítica à sua religião. Um exemplo: aquando da operação proselitista «Congresso da Nova Evangelização», Policarpo foi à televisão (pública) apoiado por dois católicos, para confrontar um único descrente (o grande José Barata Moura). No mesmo programa, e aquando da crise dos cartunes, havia um muçulmano entre seis participantes. Outro exemplo: alguma vez se ouve alguém dizer na comunicação social, em alto e bom som, que o Sol não pode estar a «mexer-se para cima e para baixo» em Fátima e quietinho em Lisboa? Não. Há muito respeitinho pelo catolicismo e pelas suas crenças, e sem este blogue haveria ainda mais. Último exemplo: na imprensa e aqui nos blogues, andou tudo a chamar nomes (geralmente, merecidos) a Freitas do Amaral e a outros por não defenderem a liberdade de expressão. Com a excepção admirável de Vasco Pulido Valente, muito poucos ousam agora criticar Policarpo por dizer a mesmíssima coisa(*). E porquê? Porque é o líder índigena da igreja supostamente maioritária. A esses, que há poucas semanas se deliciaram a atacar uma religião que em Portugal nem 30 mil seguidores deve ter, recordo que também o Vaticano afirmou que «a liberdade de expressão não pode incluir o direito de ofender os sentimentos religiosos dos crentes». Portanto, desafio-os a irem contra o «religiosamente correcto» católico e chamarem «islamófilo» e «inimigo do Ocidente» a Policarpo, e insinuarem que Ratzinger tem «ódio à nossa civilização» e que é um «apaziguador» (não se esqueçam de compará-lo com Chamberlain!). Onde está a vossa coerência, meus caros «guerreiros civilizacionais»?

(*) Adenda: outra excepção ao «religiosamente correcto» católico é Rui Pena Pires. De resto, a defesa da liberdade de expressão foi relativizada pelos «indefectíveis» do mês passado. É pena.
6 de Março, 2006 Ricardo Alves

A ciência explicará a religião

A religião é um fenómeno de origem humana, e portanto natural, que um dia poderá ser explicado pela ciência. Esta ideia simples, que me parece óbvia, está a causar alguma polémica nos EUA a propósito da publicação de «Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon», um livro de Daniel Dennet que tenta explicar o como e o porquê de os homens terem inventado os deuses.

Daniel Dennet parte do princípio, quanto a mim correcto, de que compreender a origem das religiões é antes de tudo um problema científico, porque a religiosidade é um aspecto comportamental específico da espécie humana que pode e deve ser estudado como qualquer outro comportamento. O livro irritou bastante um crítico literário do The New York Times, que viu nele «uma alegre antologia das superstições contemporâneas» e que chamou ao autor «naturalista», «materialista», «racionalista» e outros «istas» (como «ateísta») que eu só posso considerar elogios. Segundo as recensões já disponíveis, o autor usa essencialmente a biologia evolutiva e a economia como ferramentas para compreender a utilidade da religião na evolução social da humanidade. E argumenta que quando compreendermos o porquê de haver crentes (o que está longe de acontecer…) poderemos precaver-nos contra os piores aspectos da religião.

O facto de Daniel Dennet ser um ateu empenhado (e um dos proponentes do termo «bright» para designar livre-pensadores em geral) adiciona algum picante à polémica