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26 de Março, 2006 Palmira Silva

Liberdades em perigo – Malásia

O ministro da Justiça de facto da Malásia, Nazri Abdul Aziz, ameaçou recentemente com prisão (até 3 anos) e multas elevadas os não islâmicos que se atrevam a fazer críticas ao Islão.

Nazri Aziz disse que todos os que criticarem o Islão serão julgados ao abrigo do «Sediction Act», um anacrónico legado colonial, que foi introduzido pelos britânicos antes da independência do país em 1957.

O ministro declarou-se ainda preocupado com artigos recentes sobre o Islão escritos por não-muçulmanos e avisou que existe um limite ao que pode ser escrito num país em que cerca de 60% dos habitantes são muçulmanos.

«Quero recordar aos não-muçulmanos que se abstenham de fazer comentários ao que não percebem [afirmação proferida com frequência pelos nossos leitores católicos] continuando «Nós não queremos retirar-lhes os vossos direitos [o que na realidade estão a fazer] mas a religião é um assunto importante, especialmente para os muçulmanos».

E quais são os assuntos cuja mera abordagem é vista como uma ofensa ao Islão proferida pelos ignorantes não islâmicos?

Bem, para além de assuntos tão «inócuos» como a determinação governamental de há uns dias que obriga todas as mulheres polícia a usar o lenço islâmico em cerimónias oficiais, os não muçulmanos têm sido muito críticos nos últimos tempos de uma adição à Constituição da Malásia, o artigo 121 (1A), e da legislação que regula disputas familiares, a Islamic Family Law Bill. Em suma, criticam a crescente islamização do país.

A Constituição bizarra da Malásia tem sido criticada internacionalmente nos últimos anos. De acordo com o artigo 3(1) , neste país de religião oficial muçulmana «outras religiões podem ser praticadas em paz e harmonia em qualquer parte da federação». O artigo 11 estabelece ainda que um cidadão pode seguir qualquer religião que escolha.

No entanto este artigo que reconhece a liberdade religiosa na Malásia foi anulado pelo artigo 121 (1A), introduzido em 1988. Este artigo estabelece que os tribunais civis não têm jurisdição sobre os Syariah Courts (tribunais da Sharia ). Como são os tribunais da Sharia que julgam casos de apostasia, na prática nenhum muçulmanos pode deixar o Islão e se o tentar fazer pode ser preso por «insultos ao Islão».

A tirania dos tribunais islâmicos, que existem em 13 estados da Malásia, significa que nenhum muçulmano foi alguma vez permitido a deixar vivo o Islão. Aliás, a única pessoa a que tal foi permitido foi uma budista de 89 anos, Nyonya Tahir, a quem foi concedido este privilégio após a morte.

Muitos estados adoptaram a igualmente controversa Control and Restriction Bill, que estabelece pena de prisão e uma multa de 10,000 ringit (cerca de 2 500 euros) para alguém considerado culpado de «persuadir, influenciar um muçulmano a deixar o Islão por outra religião».

Este mês, Marina Mahathir, feminista e activista dos direitos humanos, e também a filha de um ex-primeiro ministro da Malásia, Mahathir Mohammad, escreveu um artigo no Malaysia Star criticando a forma como o Islão está a a oprimir as mulheres malaias. De igual forma, o funeral muçulmano em Dezembro último de um herói nacional, um hindu que escalou o Evereste, M. Moorthy, declarado como convertido (postumamente) ao Islão pelos tribunais da Sharia, foi um escândalo muito criticado pela impensa escrita. A esposa de Moorthy, Kaliammal, que não sabia da possibilidade de alguém se converter ao Islão depois de morto, fez uma petição ao Supremo tribunal pedindo que o seu corpo fosse libertado para ela proceder ao seu funeral segundo os ritos da religião de ambos, uma cremação hindu. O Supremo Tribunal não pode fazer algo uma vez que não tem jurisdição sobre os tribunais da Sharia!

A islamização crescente do país é sentida como uma ameaça pelos 40% da população que não são muçulmanos. Trinta grupos hindu formaram a Hindu Rights Action Force (HRAF) para tentar que os efeitos da Sharia não se lhes apliquem, especialmente depois do caso Moorthy. De igual forma a Malaysian Chinese Association (MCA), pediu uma revisão do referido artigo 121 (1A) , que lê «os tribunais civis não terão jurisdição em relação a qualquer assunto dentro da jurisdição dos tribunais da Sharia». O primeiro-ministro, Najib Razak, prometeu em 14 de Janeiro que os tribunais iriam trabalhar para garantir que pudesse existir recurso para as decisões dos tribunais da Sharia.

Com a recente declaração do ministro da Justiça parece que o primeiro-ministro resolveu da forma totalitária habitual das religiões as petições dos não muçulmanos. Com a anunciada ameaça de mandar para a prisão todos os críticos do Islão e das leis islâmicas estes são reduzidos ao silêncio e acabam-se as petições contra a islamização do país. A risco de os seus subscritores, ignorantes de assuntos do Islão e que não percebem que é «uma religião de paz», irem parar à cadeia por um período prolongado!

Como Aziz afirmou em relação ao que é permitido aos não-muçulmanos escrever: «Há assuntos que não devem ser tocados». Um deles é a islamização da Malásia!

26 de Março, 2006 Palmira Silva

Liberdades em perigo – Yemen

Muhammad al-Asadi, o editor do Yemen Observer, foi preso depois de o jornal que dirigia ter publicado os cartoons da discórdia, traçados com uma cruz negra, na linha dos artigos que acompanhavam a publicação, em Fevereiro último.

Para além do caso público contra o jornalista vários advogados apresentaram casos civis contra o «crime» de al-Asadi, pelo qual pedem a pena de morte citando um precedente «histórico» que refere que o profeta louvou o assassino de uma mulher que o insultou.

A situação de al-Asadi não se alterou substancialmente depois da entrevista que concedeu à Newsweek em 17 de Fevereiro, uns dias depois de ser preso. O seu julgamento foi novamente adiado (pela terceira vez) agora para 19 de Abril.

A liberdade de imprensa assim como a liberdade de opinião e de expressão estão sob ataque pelos fundamentalistas, islâmicos neste caso mas não só. É imperioso que nós, todos os que prezam os direitos fundamentais do Homem, nos façamos ouvir em protesto pelo insulto que mais este julgamento por blasfémia constitui!

25 de Março, 2006 Palmira Silva

Insanidades mentais

Face por um lado aos crescentes protestos da comunidade internacional, incluindo dos lideres das nações mais envolvidas no auxílio financeiro à reconstrução do Afeganistão, e por outro lado às ameaças dos clérigos islâmicos o governo afegão trabalha afanosamente numa saída airosa para o julgamento aberrante de Abdul Rahman.

Mas, em minha opinião, a saída encontrada pelo governo afegão para o anúncio de que será libertado brevemente apresenta vários problemas. Supondo que esta saída é a prenunciada pelo anúncio na quarta-feira das autoridades afegãs de que Rahman sofreria supostamente de distúrbios mentais (só assim se justificando a sua conversão…) e que seria sujeito a observações do foro psicológico que decidiriam se ele seria apto para um julgamento, já que como Moayuddin Baluch, um conselheiro religioso do presidente afegão Hamid Karzai, afirmou à Associated Press «Se ele é mentalmente incapaz, o Islão decididamente não tem razão para o punir. Ele deve ser perdoado. O caso deve ser abandonado».

O problema reside não só no facto de que os clérigos afegãos não aceitarão o diagnóstico, negado pelo próprio Rahman durante o julgamento (a transcrição em vídeo das declarações de Rahman pode ser encontrada aqui) como foi confirmado à Associated Press por três pregadores sunitas e um shiita entrevistados pela AP nas quatro mesquitas mais populares de Kabul:

«Ele não é maluco. Ele foi aos media e confessou ser cristão. O governo tem medo da comunidade internacional. Mas o povo matá-lo-á se ele for libertado» declarou à AP Hamidullah, o clérigo chefe da mesquita Haji Yacob Mosque.

Opinião partilhada por Abdul Raoulf, membro do Afghan Ulama Council, que considera que «o governo está a brincar connosco. O povo não será enganado» e no pátio exterior da mesquita Herati acrescentou «Cortem-lhe a cabeça. Nós apelamos ao povo para que o desfaçam em pedaços para que não sobre nada dele».

Mesmo a sugestão deste «moderado» islâmico de que a única forma de Rahman sobreviver seria o exílio é negada pelo clérigo mor da mesquita shiita Hossainia, Said Mirhossain Nasri, que considera que «Se lhe permitem ir viver no Ocidente outros reinvidicarão ser cristãos para também o fazerem. Temos de dar o exemplo… Ele deve ser enforcado».

Hamidullah avisou o governo afegão de que perderá o apoio popular se libertar Rahman e que ocorrerá um levantamento popular idêntico ao que aconteceu nos anos oitenta contra a ocupação soviética.

Parece assim pouco provável que a solução prevísivel do governo afegão seja bem acolhida pela comunidade religiosa deste país, que já prometeu acirrar os ânimos populares contra o governo caso este persista em libertar Rahman. Mas admitindo que Karzai consegue de alguma forma apaziguar os ânimos islâmicos e que Rahman é libertado e consegue sobreviver à libertação. Em que resultará a indignação e pressão internacional em relação a esta barbárie? Passará a existir respeito pela liberdade religiosa no Afeganistão? Claro que não!

Como inúmeras vezes na História assistiremos mais uma vez a uma manipulação e perversão da ciência por parte de um governo. E se neste caso os fins desta perversão da ciência até podem parecer louváveis, salvar a vida de Rahman, é tão errada como as desculpas da ex-União Soviética ou da China de que as dissidências políticas correspondiam ou correspondem a doenças mentais merecedoras de internamento para «rehabilitação».

Por outro lado, a denúncia da conversão de Rahman às autoridades deveu-se a uma questão de custódia das suas filhas. Se ele for declarado mentalmente incapaz certamente que será igualmente considerado incapaz para educar as suas filhas. E será privado da custódia das suas filhas, actualmente com os seus pais, que já declararam que ele deve ser convenientemente punido pela apostasia.

E não esqueçamos que se esta for a solução airosa encontrada pelo governo afegão cria um precedente judicial que pode ser usado para declarar mentalmente incapazes todos os que se convertam (ou sejam denunciados por isso) ao cristianismo. O que pode ser facilmente utilizado como desculpa para retirar todos os (poucos) direitos a estes futuros convertidos ou mesmo justificar o seu internamento para tratamento. E existem mais dois afegãos presos pelo mesmo «crime», um terceiro foi barbaramente espancado e pelo menos cinco afegãos convertidos ao cristianismo foram assassinados nos dois últimos anos por mílicias islâmicas.

A contradição da Constituição afegã que se obriga a respeitar simultaneamente a declaração dos direitos do Homem, nomeadamente a liberdade religiosa, e a lei islâmica, completamente incompatíveis como este caso é apenas um exemplo, deve ser resolvida de raíz e exemplarmente. Retirando qualquer menção à anacrónica e anti-democrática Sharia da Constituição. Caso contrário dentro em breve estaremos a apelar aos nossos leitores para expressarem a sua indignação por outra qualquer mui islâmica barbárie…

25 de Março, 2006 jvasco

Liberdade Religiosa em perigo

Sou frontalmente contra a promiscuidade entre o Estado e a Igreja. Como defensor da laicidade do Estado, do princípio de separação, revoltam-me situações como a que denunciei no meu artigo anterior.

Obviamente sou frontalmente a favor da liberdade religiosa. E a liberdade religiosa inclui a liberdade de proselitar por aí. Na Argélia, ela está em causa: acabou de ser aprovada uma lei para «tentar estancar o avanço do cristianismo».
Segundo o El País, «O texto adoptado prevê penas de dois a cinco anos de prisão e multas entre os 5000 e os 1000 euros contra aqueles que “incitem, obriguem ou utilizem meios de persuasão para converter um muçulmano a outra religião”. As mesmas penas aplicam-se aqueles que fabriquem ou distribuam documentos em qualquer suporte que “procurem minar a fé dos muçulmanos”».
No Afeganistão, por outro lado, e como a Palmira acabou de descrever, os atentados à liberdade ultrapassam a derradeira barreira: pena de morte para quem opta por uma religião diferente.

Realmente, quando a separação de poderes não se verifica, a liberdade religiosa está em risco. Assim sendo, ao contrário da ideia que certos indivíduos tentam veicular, os defensores do respeito pelo princípio constitucional da laicidade do estado, são consequentemente defensores da liberdade religiosa.

25 de Março, 2006 Palmira Silva

Sentença de morte no Afeganistão -desenvolvimentos

O New York Times informa-nos que os clérigos afegãos utilizaram as orações de sexta-feira para clamarem pela morte de Abdul Rahman, o afegão que enfrenta a pena de morte pelo terrível crime de se ter convertido ao cristianismo.

A exigência da execução de Rahman foi a resposta dos religiosos afegãos face à crescente pressão internacional e aos protestos em relação a este caso, restritos ao Ocidente, tanto quanto me tenha apercebido nem uma única voz do mundo islâmico condenou a barbárie. Não obstante ainda esta semana 300 «intelectuais» do Islão se terem reunido no Bahrain, para discutir os ataques ocidentais ao Islão, mais concretamente para lançar mais achas para a fogueira, em rescaldo, da guerra dos cartoons, pretendendo mobilizar os muçulmanos em defesa do Profeta e do Islão, associado ignominiamente a violência pelos ocidentais.

Como recordou Mawlavi Habibullah a cerca de 1000 clérigos e jovens reunidos em Kabul «O Afeganistão não tem qualquer obrigação ao abrigo de leis internacionais» e «O profeta diz que quando alguém muda de religião deve ser morto».

Habibullah e outros devotos muçulmanos exigem que os políticos e juizes afegãos resistam á pressão internacional em relação ao caso já que, como enfatizou o Sheikh Asif Muhsini, um clérigo shiita, a constituição afegã estabelece claramente que «Nenhuma lei pode contradizer o Islão e os valores da constituição».

Esta é também a opinião de Mohammad Ayaz Niyazi, um egpício versado na lei islâmica que se deslocou a Kabul para participar na resposta a mais este ataque do Ocidente ao Islão, ou nas suas próprias palavras «Nos últimos tempos têm ocorrido ataques em série ao mundo islâmico, começando com insultos ao sagrado Corão [provavelmente alegações injustificadas de que contém incitamentos à violência e desrespeito dos direitos humanos], insultos ao profeta [paz seja com ele que determinou que um apóstata não tem direito a viver] e agora a conversão ao cristianismo de um afegão [insulto dos insultos]».

O Diário Ateísta reitera o seu apelo a todos, crentes e não crentes, para manifestarem a sua indignação pelo caso. Por exemplo assinando esta petição.

Mais desenvolvimentos: depois de ter escrito este post li no Washington Post que os clérigos afegãos, incluindo «moderados» como Abdul Raoulf, preso três vezes por oposição ao regime taliban, advertiram que, caso o governo afegão ceda às pressões internacionais e liberte (ou não execute) Rahman, incitarão os populares a «desfazê-lo em pedaços».

Porque como afirma o «moderado» Abdul Raoulf «Rejeitar o Islão é insultar Deus. Nós não deixaremos Deus ser humilhado. Este homem tem de morrer».

24 de Março, 2006 Carlos Esperança

Evangelização ou terrorismo?

(Clique para aumentar a imagem)

Este folheto está a ser distribuído nos colégios da FOMENTO – Cooperativa de Ensino, propriedade da Opus Dei.

Nota: Foi entregue pela educadora a uma criança de 5 (cinco) anos.

24 de Março, 2006 Ricardo Alves

O que faria Jesus Cristo

No meu último artigo, dirigi aos católicos a pergunta «o que faria Jesus Cristo perante o nazismo?». Recordo, a propósito, que ser católico é uma questão de obediência, antes de ser uma questão de fé. Um verdadeiro católico, quando confrontado com uma questão teológica, interroga em primeiro lugar um representante da hierarquia da sua igreja, e só depois a sua consciência. Como a hierarquia católica não ordenou que se resistisse ao nazismo, Ratzinger, ao entrar na Juventude Hitleriana e ao fechar os olhos perante os escravos judeus que eram maltratados a seu lado, estava a ser um bom católico.

Evidentemente, há cristãos não católicos. E esses poderão dar respostas divergentes à questão em apreço. Mas não acredito que encontrem no personagem principal do Novo Testamento critérios taxativos para discernir quando um Governo é injusto e a partir de que ponto merece oposição. Entre a colaboração entusiástica com um Estado que perseguia os «pérfidos judeus», e a resistência pacífica a um regime distante do «amor universal», parece-me que haveria passagens bíblicas que serviriam para tudo, de um extremo ao outro. Com uma excepção: nenhuma passagem bíblica ou acto eclesial poderia ser evocado para a resistência activa e, se necessário, violenta. E só essa poderia ter derrubado o regime nazi.
24 de Março, 2006 Carlos Esperança

Lefebvre a caminho da canonização

O Papa B16, pastor alemão, santo por profissão e estado civil, confirma a aproximação aos seguidores de Monsenhor Lefebvre.

Não sei como se aproxima quem sempre esteve junto. Trata-se de legalizar uma união espiritual de facto.

O Vaticano é um Estado criado pelo Tratado de Latrão, a última excrescência totalitária que resta de Benito Mussolini, um católico que subsidiou o antro das batinas, reconheceu o catolicismo como religião oficial do Estado italiano e tornou o seu ensino obrigatório nas escolas.

A Constituição de 1947 incorporou este tratado com a bênção dos partidos amigos da hóstia e do Papa e do PCI.

A religião que considerava Mussolini enviado da Providência é a mesma que chamava porcos aos judeus. O Papa que se deita na cama dos sucessores de Lefebvre é o cardeal que silenciosamente assistiu à canonização de alguns dos piores indivíduos do século passado. Não saberia o Vaticano do apoio de Monsenhor Escrivá ao frio assassino Francisco Franco? E não lhe adjudicou três milagres?

Pio XII, Torquemada, os Reis Católicos de Espanha e João Paulo II fazem parte de uma galeria de futuros santos que, se não tornam a ICAR mais santa, a tornam, pelo menos, mais temida.

Dizem que o problema com a Sociedade São Pio X (SSPX) reside no facto de esses católicos não aceitarem mais nenhuma religião como verdadeira. Afinal o que os distingue? Todas as religiões do livro pensam o mesmo.

Curioso é a relutância dos Papas em receberem pessoas divorciadas e não se importarem de receber excomungados. Acreditar em Deus é obrigatório para os crentes e facultativo para os Papas.

23 de Março, 2006 Carlos Esperança

Concurso sobre o Anjo de Fátima

Quase 2 mil trabalhos foram enviados
Andava o País convencido de que o logro de Fátima se resumia às piruetas solares e à metamorfose de azinheiras em campo de aterragem de virgens, com apelos lancinantes à reza do terço e à conversão da Rússia e, afinal, anos antes, já ali tinha aterrado um anjo.

Aquela zona é um aeroporto celeste, um interface para a fauna divina fazer escala. Com um anjo e uma virgem, dois Papas e uma multidão de bispos, cónegos, cardeais e outros parasitas do divino, só falta o próprio Cristo para transformar a zona num Zoo celestial.

Se os negócios o justificarem, veremos Cristo dar um piparote na coroa de espinhos, pôr a cruz de lado e descer em voo picado sobre a capelinha das aparições. Se o negócio se complicar, até Jeová virá fazer a homilia sobre o dia do Juízo Final e deixará miniaturas de trombetas como recordação aos peregrinos.

Pelos vistos as escolas oficiais transformaram-se em madraças onde meninos e meninas desenharam anjos numa altura que a gripe das aves, por razões sanitárias, aconselhava o abate.

Não sei como vêem os meninos o anjo de Fátima, quantos pares de asas lhe pregaram, qual o modelo que os padres lhes impingiram nem o combustível que lhe puseram no depósito.

A farsa, a burla, o proselitismo e a conivência dos professores de um Estado laico, são o paradigma de um país do terceiro mundo onde o catolicismo prepara o regresso à Idade Média.