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3 de Abril, 2006 Ricardo Alves

O país onde faltar às orações é crime

Na Malásia, o cidadão Mohamad Taib foi condenado em tribunal por ter faltado às orações na mesquita local durante três sexta-feiras consecutivas. Mohamad Taib escolheu pagar uma multa (de cerca de 82 dólares), de preferência a passar um mês na prisão. No Estado malaio de Kelantan é crime um muçulmano faltar às orações, sendo tal acto punível com até seis meses de prisão ou com uma multa de cerca de 273 dólares.

Em tribunal, Mohamad Taib confessou-se culpado e alegou que sofre de asma. O juiz sugeriu que a doença é uma prova de que Mohamad Taib está a ser castigado por «Deus» pela sua fraca prática religiosa.

2 de Abril, 2006 Carlos Esperança

Tragédia no Vaticano – 1 morto


«Há grande consternação entre os habitantes do bairro pelo falecimento de Karol Vojtyla, conhecido pelo pseudónimo de João Paulo II. Desta vez não há suspeita de crime, mas todos referem um nome – Deus».

Foi assim que, há um ano, o Diário Ateísta noticiou o chamamento de JP2 à presença do patrão. Era tal a comoção dos crentes que julgávamos que nunca mais se recompunham de tamanha perda. Viam nele um homem de eleição, um poço de virtudes, um exemplo de bondade.

Todos esqueceram os teólogos que perseguiu, as intrigas que teceu e os escândalos que protagonizou – a falência do Banco Ambrosiano e a protecção ao arcebispo Marcinkus. O assassínio do chefe dos guardas, da mulher e de um cabo foram abafados, tal como a morte de João Paulo I, 33 dias depois de ser papa, que abriu vaga com culpas atribuídas a Deus.

No seu livro «In God`s Name», o escritor David Yallop escreveu: «O pontificado de João Paulo II tem sido e ainda é um triunfo para os especuladores, os corruptos e os ladrões internacionais como Roberto Calvi, Licio Gelli e Michele Sindona, enquanto o Santo Padre continua a mostrar-se publicamente em viagens frequentes semelhantes à tournée de uma estrela de rock. Os homens que o rodeiam dizem que o faz por negócio, como é habitual, e que os lucros desde a sua chegada ao pontificado aumentaram».

No primeiro aniversário da morte o Vaticano está em polvorosa. Vai um frenesim lá no antro com a beatificação. Parece um stand de automóveis em véspera do lançamento de um novo modelo.

Canonizar um Papa é fácil, difícil é crer na sua virtude. Pô-lo numa peanha e chamar-lhe santo é uma decisão burocrática, fazê-lo entrar na comunidade dos homens bons e das pessoas recomendáveis é mais difícil. Mas com o tempo tudo esquece e o marketing faz o resto.

2 de Abril, 2006 Palmira Silva

Saúde pública ou moral mortal?

Um dos casos relatados por Michael Specter no já referido artigo na New Yorker tem a ver com a guerra dos teocratas contra algumas vacinas críticas, especificamente em relação à vacina contra o Human papillomavirus ou HPV. A vacina, recentemente desenvolvida nos laboratórios Merck e GlaxoSmithKline, permite reduzir drasticamente os casos de cancro cervical, uma consequência desta doença sexualmente transmitida.

Os teocratas opõem-se a que esta vacina seja incluída no esquema de vacinações americano porque seria um incentivo para os jovens terem sexo.

«Os conservadores religiosos acreditam que o uso massivo da vacina HPV ou a existência de contracepção de emergência encoraja os adolescentes a desenvolverem um comportamento sexual inaceitável; alguns afirmaram que teriam a mesma oposição em relação a uma vacina contra a SIDA, se uma for descoberta. ‘Temos de olhar atentamento para isso, afirmou Reginald Finger, um cristão evangélico que foi conselheiro médico da organização política conservadora Focus on the Family, ‘Com qualquer vacina a desinibição [o termo médico para a ausência de medo] do HIV seria certamente um factor e é algo a que teremos de prestar atenção com uma dose muito grande de cuidado’. Fingers faz parte do Centers for Disease Control’s Immunization Committee, que recomenda que vacinas devem ser disponibilizadas».

Ou seja, os teocratas preferem que as pessoas morram de cancro ou SIDA a disponibilizarem medicação que «encoraje» a sexualidade! E assim parece certo que a FDA, controlada por teocratas, não vai aprovar esta nova vacina porque, como o senador do Oklahoma Tom Coburn, um médico, indica «O sexo pré-marital é perigoso, mesmo mortal. Não o vamos encorajar vacinando miúdos de 10 anos para que eles pensem que estão seguros». Ou seja ainda, a saúde pública americana tornou-se estritamente um assunto de moral «cristã». Em que decisões de vida ou de morte são tomadas por piedosos fundamentalistas cristãos e não pelos odiados cientistas!

2 de Abril, 2006 Palmira Silva

Ciência sob ataque dos teocratas

Na próxima semana um dos artigos que poderá ser apreciado na revista científica American Heart Journal apresenta o trabalho de uma equipa que estudou durante dez anos os efeitos da oração em cerca de 1800 pacientes sujeitos a bypass cardíaco.

Este estudo, com um financiamento de 2.4 milhões de dólares, foi financiado pela Fundação John Templeton, uma instituição que pretende de facto destruir a «fronteira entre teologia e ciência» não esclarecer qualquer ponto sobre esta fronteira. De facto, os teocratas americanos trabalham arduamente para não só desacreditar quer a ciência quer o direito, produtos meramente humanos, como para substituí-los pela «ciência» e justiça «divinas».

Os esforços dos teocratas americanos em introduzir idiotias religiosas sortidas nos debates científicos e legais, de que o neo-criacionismo, o aborto ou a homossexualidade são apenas exemplos, deve ser encarado e combatido pelo que de facto é: uma campanha para destruir a honestidade intelectual e os progressos civilizacionais permitidos à Humanidade pela exclusão de Deus da res pública.

Com esta campanha os teocratas transformam factos científicos em opiniões, passam a mensagem de que só a ideologia religiosa é verdadeira e tentam alterar factos que negam esta ideologia. Hannah Arendt chamou a este esforço «relativismo nihilista» embora a melhor frase que o descreve seja insanidade colectiva.

De qualquer forma, o esforço (e dinheiro, muito dinheiro) investidos no descrédito da ciência foram completamente contraproducentes neste caso: o estudo indica que aparentemente os crentes não têm muita confiança na mitologia que fabricaram. Os investigadores dividiram os pacientes em três grupos, um em que os seus membros sabiam que ninguém rezava por eles; um grupo de controle que tinha os membros das 3 congregações de rezadores a pedir «o sucesso da cirurgia e uma recuperação rápida e saudável, sem qualquer complicação» mas não sabiam das rezas e um terceiro grupo em que os pacientes sabiam que estavam a rezar por eles.

O estudo não encontrou diferenças estatísticas entre os dois primeiros grupos, 52% deles tiveram complicações pós-cirúrgicas. Menos 7%, uma diferença significativa, dos que sabiam estar alguém a rezar por eles e dos quais 59% tiveram problemas após a cirurgia.

Numa altura em que a América actual emula o período em que Galileu foi perseguido pela Igreja Católica por manter que a Terra não era o centro do Universo, este estudo assim como a divulgação da fraude que foi o análogo que pretendia demonstrar os benefícios da oração em tratamentos de fertilidade, pode ajudar a acabar com a promiscuidade entre ciência e religião.

De facto, o cristão renascido G. W. Bush desbarata milhões de dólares em investigação pseudo-cientifica e compromete a ciência americana enchendo os organismos públicos de fanáticos religiosos, o caso mais notório sendo a Food and Drug Administration.

Sobre o tema recomendo um artigo imprescíndivel de Michael Specter na New Yorker de 13 de Março que denuncia o clima quasi inquisitorial contra a ciência instalado pela administração Bush.

E relembrando um tema recorrente nas homilias do nosso cavaleiro da pérola redonda, que elaborou ainda mais a sua cruzada anti-ciência, num circunlóquio de êxtase místico, livre de qualquer contaminação de racionalidade no último momento zen de segunda, não pensemos que estes ataques se restringem aos Estados Unidos. Os fundamentalistas cristãos de qualquer nacionalidade veêm na ciência o pior inimigo da fé já que as religiões surgem e desenvolvem-se para preencher o papel hoje ocupado pela ciência: as cruzadas anti-ciência são indissociáveis do fundamentalismo…

1 de Abril, 2006 Carlos Esperança

Madre Maria do Lado



De visita a uma pessoa amiga, internada nos Hospitais da Universidade de Coimbra, percorri hoje um vasto corredor até atingir o último quarto onde convalesce de uma intervenção cirúrgica.

Numa mesa, uma senhora de Fátima, com ar rural e um terço enrolado ao pescoço, em jeito de quem espera que a icem pelo crucifixo e a estrangulem, olhava indiferente as pessoas aflitas que procuravam familiares e amigos.

Em frente, dependurado na parede, um molde, em barro, de um Cristo sofrido assustava as crianças. O rosto côncavo e a pintura a negro davam-lhe um ar sinistro e na cara tinha sinais de revolta de quem se sente exibido e explorado há dois mil anos.

Por trás do balcão que precede a sala de enfermagem um Cristo suplente vigiava as visitas pregado na cruz, incapaz de se soltar e de aliviar a coroa de espinhos.

Mas o que mais me surpreendeu foi a propaganda de Madre Maria do Lado, uma monja que ali foi parar à espera de orações e da promoção canónica que os milagres obrados lhe hão-de conceder.

O lema de vida da bem-aventurada, que continua morta desde 28 de Abril de 1631, foi «Louvar, Venerar e Exaltar o SS.mo Sacramento». Agora aguarda que os vivos metam uma cunha para que o Senhor Jesus a eleve a santa. Pobres crentes que não sabem que é o Papa que tem competência delegada para o fabrico de taumaturgos.

Aqui fica o verso e o reverso do santinho da Madre Maria do Lado. Os créus que nos visitam podem rezar a oração que ainda fala do Purgatório e contribuir para a obtenção de alguma Graça. O serviço que o Diário Ateísta presta é de graça.

31 de Março, 2006 Palmira Silva

Cartoons dinamarqueses: difamação de uma religião de paz?

Vinte e sete organizações muculmanas dinamarquesas interpuseram um processo de difamação contra o Jyllands-Posten na quarta-feira, duas semanas depois de o procurador-geral dinamarquês ter afirmado que os cartoons da discórdia não violavam a as leis dinamarquesas da blasfémia ou contra o racismo.

Michael Christiani Havemann, o advogado que representa os grupos muçulmanos, informou que a acção pretende uma indemnização de cerca de 15 000 euros em danos por parte do editor chefe do jornal dinamarquês, Carsten Juste, e do seu editor de cultura Flemming Rose, que supervisionou o projecto dos cartoons. O advogado explicou ainda que:

«Nós pretendemos um julgamento do texto e dos cartoons que foram gratuitamente difamatórios e injuriosos»

Não percebo muito bem como os cartoons podem ser considerados difamatórios. Por alguns associarem o islamismo a violência? Pensaria que a associação foi e é feita não pelos cartoons mas pelas acções (e falta de reacção em alguns casos, como o do julgamento por apostasia de Rahman) dos muçulmanos um pouco por todo o mundo. E injuriosos apenas indirectamente na medida em que a campanha de intimidação e o assalto à liberdade de expressão ocidental orquestrados como manifestação «espontânea» de indignação aos cartoons de facto contribuiram para que muitos se apercebessem de que o Islão é uma religião de violência. Uma religião em que o teste de lealdade não é a fé mas o martírio na luta contra os incréus (47:4) – a única forma de salvação garantida (4:74; 9:111), já que apenas os «mártires» que morrem quando assassinam não crentes têm automaticamente todos os seus pecados perdoados (4:96).

30 de Março, 2006 Carlos Esperança

O Papa e o laicismo

Os dirigentes do Partido Popular Europeu, que integra alguns dos maiores paladinos da moral e da honestidade pública, como Berlusconi e Aznar, foram genuflectir-se a B16 que os recebeu na qualidade de Chefe de Estado do Vaticano, o Estado totalitário que vive de acordo com o direito divino.

Perante a maior associação de partidos políticos, amigos do Papa e da hóstia, o sátrapa exortou os representantes para se empenharem no «combate político contra o laicismo».

«O vosso apoio à herança cristã pode contribuir de forma significativa para a derrota de uma cultura que já está largamente espalhada pela Europa e que relega a manifestação da convicção religiosa para a esfera do privado e do subjectivo».

O ditador de sapatinhos vermelhos não se resigna à perda do poder temporal.

B16 afirma que as intervenções de Igrejas ou comunidades eclesiais no debate público «não constituem formas de intolerância ou interferências, dado que essas intervenções se destinam a iluminar as consciências».

Para o iluminador B16, a moral da ICAR, a prepotência e a interferência nos assuntos internos dos países destinam-se a iluminar as consciências, tal como as fogueiras da Inquisição se destinavam a iluminar cidades quando não havia electricidade.

A luta assanhada contra o laicismo é parte da agenda do Papa, que pretende mergulhar a Europa secular numa pia de água benta e impor aos povos o terço, a missa, a confissão e a devoção à Virgem.

Se o Papa incita despudoradamente ao combate político contra o laicismo, temos de ser determinados no combate político contra o Papa, na defesa da liberdade e do pluralismo.