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6 de Abril, 2006 Carlos Esperança

Pastor alemão com raiva

É perigoso conviver com pessoas que deixaram a igreja – diz o papa

B16, o últimos déspota vitalício da Europa, para lá do ódio, a que o múnus o estimula, cultiva a vingança que a Bíblia ensina.

O Sapatinhos Vermelhos é estudante de teologia, aliás, um professor. Sob a tiara e os paramentos de fino corte, movimenta-se o tirano com vocação totalitária a consumi-lo.

Não manda decapitar apóstatas que os tempos vão maus para a profilaxia radical. Não ateia fogueiras aos incréus porque a Europa tem défice de combustíveis e de fé. E não manda propinar veneno aos ateus porque os hábitos ancestrais podem denunciar a origem.

B16 limita-se a alertar os católicos contra as pessoas que deixam a ICAR. Ontem, na habitual audiência das quartas-feiras, perante 30 mil clientes, ganiu este anátema:

«Quando o perigo de perder a fé é latente, é um dever cortar qualquer comunicação com pessoas que se tenham afastado da doutrina católica».

Votar ao ostracismo, formar um cordão sanitário e perseguir, quando a correlação de forças o permitir, todos os que se borrifem na ICAR, é a palavra de ordem do inquisidor que o Opus Dei, os cardeais e o Espírito Santo (deste não há provas) fizeram Papa.

O carrasco diz ainda que «É preciso reconhecer o perigo e aceitar que não se pode comunicar com os que se distanciaram de Deus». Nota-se o desânimo em não poder usar os meios expeditos dos seus antecessores e a inveja que sente dos Ayatollahs.

6 de Abril, 2006 Carlos Esperança

A libertação de Abdul Rahman


O islamismo, à semelhança das outras religiões monoteístas, entende que um apóstata deve perder o Paraíso e a cabeça, enquanto os que abandonam a concorrência merecem os altares e a bem-aventurança eterna.

Execram-se os primeiros, incensam-se os segundos.

O proselitismo é a tara comum, a obsessão que empurra os crentes para a evangelização e a guerra, a demência que exige a oração e os sacramentos, o terror de Deus que admite o domínio dos padres.

Abdul Rahman é um desses infelizes que, à semelhança de outros drogados do divino, resolveu mudar de droga sem deixar o vício. Trocou o árabe pelo latim, Maomé por Cristo e as rezas orientadas pelos mujaidines pelas missas de um pastor.

O devoto, cuja decisão é um dever de todos os homens e mulheres livres preservar-lhe, ao trocar de Deus, substituir as orações e intoxicar-se com sacramentos diferentes, virou apóstata para os mullahs e convertido para os cristãos. É um traidor para os primeiros e um herói para os segundos.

No mercado da fé é um troféu a exibir, um activo a explorar, o exemplo a agitar pelos conquistadores e uma cabeça a decepar, o ímpio a abater e um exemplo a deplorar pelo mercado de origem.

Não se sabe ainda a que seita aderiu o neófito cristão e já todas reclamam o troféu.

6 de Abril, 2006 Palmira Silva

Curas «milagrosas» mais fáceis

Face aos avanços da ciência que desviaram a fé em curas milagrosas da intervenção divina para a intervenção médica e à pressão crescente da concorrência, nomeadamente das Igrejas evangélicas, Monsenhor Jacques Perrier, bispo de Tarbes e Lourdes e o dignitário mais sénior do santuário de Lourdes, anunciou a semana passada uma reforma no reconhecimento das «curas milagrosas» que o referido local é suposto operar, criando novas categorias de «milagres».

De facto, não obstante os milhões de peregrinos que visitam o local anualmente e os muitos litros de água «milagrosa» vendidos àqueles que não podem usufruir dos seus «benefícios» in situ, apenas 67 curas «milagrosas» foram reconhecidas desde 1858, data em que uma pastorinha de 14 anos, de seu nome Bernadette (não Lúcia) afirmou ter visto a Virgem numa gruta. Destas apenas 4 supostamente ocorreram desde 1978, a mais recente o ano passado, uma mera cura de … reumatismo!

Esta escassez de «milages» e a pouca espectacularidade dos mesmos motivou o preocupado bispo a propôr ao Vaticano novas categorias de milagres, que não necessitam obedecer às regras estabelecidas há quase 300 anos pelo Cardeal Prospero Lambertini, os milagres «lite», que incluem «curas inesperadas», «curas confirmadas» e «curas excepcionais». Nesta versão lite, qualquer devoto frequentador de Lourdes e consumidor da sua água milagrosa que seja operado a um cancro, faça quimio ou radioterapia e se cure, pode anunciar ao mundo que foi curado por «milagre».

Numa manobra de marketing magistral Perrier propõe ainda que estes «milagres lite», indispensáveis para fazer face às ofertas da concorrência nos chamados «hipermercados de milagres», como sejam a IURD, Igreja Maná e afins, sejam imediatamente publicitados mal ocorram.

5 de Abril, 2006 pfontela

Crítica ao «tratado de ateologia»

Michel Onfray é provavelmente um dos escritores ateus que mais vende na Europa e a cada nova publicação tem direito a uma cobertura mediática completa. O seu último título não é excepção; o «tratado de ateologia» (disponível em francês e espanhol).

Primeiro é preciso começar por definir o que a obra é e não é. Não é um tratado filosófico porque Onfray não se dedica a desenvolver nenhum argumento de forma completa e coerente, limitando-se a referir de “raspão” as conclusões de outros autores. Não é um tratado histórico porque não existe uma linha lógica de investigação histórica que guie o livro, apenas referências (muitas…) às intermináveis incoerências de ter uma religião que se diz racional e os inenarráveis crimes que povoam a história do monoteísmo. Ou seja, para o leitor que procura uma discussão aprofundada dos temas este definitivamente não é livro recomendado, é demasiado disperso e superficial para preencher os requisitos.

Agora vamos falar do que o livro é. Para mim fica-me a ideia de uma obra digna de um publicista, ou seja, o seu principal objectivo é vincular uma determinada opinião e com esse objectivo usa-se uma linguagem agressiva mas sem grande profundidade. Quem tiver dois dedos de testa e não for ateu não será com certeza com esta obra que se tornará e mesmo ateus (por muito militantes que sejam) que partilhem de muitas das opiniões de Onfray provavelmente não gostarão da forma como ele as expõe, o seu estilo é presunçoso, arrogante mas inconclusivo.

Em resumo é uma obra para quem precisar de um catálogo de argumentos e de inconsistências religiosas mas não para quem quiser adquirir conhecimentos aprofundados sobre todos os temas.

Uma outra forma de analisar o livro é como um grito de profunda e genuína indignação contra um conjunto de fés que têm o seu passado escrito em sangue e que hoje escolhem vestir a pele do cordeiro, chegando ao cúmulo da hipocrisia de se apresentarem como soluções para os “males da modernidade” – problemas esses, que quando existem, são em grande parte derivados das suas próprias acções no passado e presente. Se escolhi partilhar primeiro a visão que realça as falhas do livro é porque pessoalmente o livro desiludiu-me. Esperava um trabalho muito mais profundo, especialmente no tema do desenvolvimento da ética ateísta, coisa que não ocorreu.

Por fim deixo aqui a estrutura do livro:
Parte 1: ateologia
– A odisseia dos espíritos incrédulos
– O ateísmo e saída do niilismo
– Em direcção a uma ateologia

Parte 2: Monoteísmos
– Tirania e servidão nos mundos subjacentes
– Autos de fé da inteligência
– Desejar o contrário do real

Parte 3: Cristianismo
– A construção de Jesus
– A contaminação Paulista
– O estado totalitário cristão

Parte 4: Teocracia
– Pequena teoria da selecção de citações
– Ao serviço da pulsão de morte
– Por um laicismo pós-cristão

5 de Abril, 2006 Ricardo Alves

Catolicismo mais minoritário em Espanha

Pela primeira vez na história, nem sequer 50% dos jovens espanhóis se consideram católicos. A conclusão é de um estudo da «Fundação Santa Maria», noticiado na agência católica Zenit, que assinala que 77% dos jovens espanhóis se declaravam católicos há apenas dez anos atrás. Como reconhece o estudo, o apoio dos jovens à secularização das práticas sociais e à laicização das instituições políticas é portanto crescente.

O mesmo processo social já se iniciou em Portugal, na minha opinião. O conservadorismo das elites políticas portuguesas é que tem permitido contê-lo.
5 de Abril, 2006 Carlos Esperança

Cristo fez exame ad hoc


Como se vê, Cristo entrou na Universidade, apesar da fraca preparação académica, e foi conversar com João César das Neves.

Em vez de escolher a Universidade Católica para se encontrar com o prosélito, Cristo escolheu o IST, uma instituição melhor frequentada, onde o bem-aventurado JCN se deslocou.

O Instituto Superior Técnico é a azinheira onde Cristo poisou para gáudio de João César das Neves – uma Lúcia de calças que manda rezar o terço.

4 de Abril, 2006 Ricardo Alves

O Opus Dei como organização totalitária

Imagina, caro leitor, que pertences a uma organização que te proíbe teres relações sexuais e te obriga a contar qualquer fantasia sexual que tenhas; que controla os teus contactos com a tua família e abre a tua correspondência; que escolhe os livros que lês e os filmes que não podes ver; que te dá um programa diário intensivo de rituais religiosos, mas deixa-te sair para trabalhar e recrutar novos membros; que te retira o teu salário e o administra por ti; que te encoraja a agredires-te com um chicote e a usar um cinto com picos de ferro; que te faz viver numa casa onde apenas estão permanentemente outros como tu, do mesmo sexo que tu, e que só é visitada por outros que aspiram, dizem-te, a ser como tu. Imagina que te convencem de que unicamente através desta organização alcançarás a maior das honras possíveis (que é «ser santo», dizem eles), e que sabes que se saíres todos cortarão relações contigo, e te deixarão de falar se te cruzares com eles na rua. É esta, muito resumidamente, a vida de um membro numerário do Opus Dei, uma organização autoritária e totalitária que tem apoiado ditaduras de extrema direita na América Latina, que se prepara para lançar um candidato à Presidência do Brasil, e que cada vez tem mais influência dentro da ICAR, em parte devido ao seu poder na alta finança.

Os pais de família, principalmente os católicos, têm o direito de saber o que espera os seus filhos se estes se deixarem seduzir pelos «cursos» e «retiros» organizados pela Obra. Como diz um ex-numerário: «tiram tudo da gente: o salário, a família, a alma (…) no final você é um nada, fica destruído». É portanto imprescindível ler os depoimentos daqueles que abandonaram a organização (que já foi considerada uma seita pelo parlamento belga), e hoje têm a coragem de falar da organização perversa e totalitária que deixaram para trás. Recomendo os testemunhos seguintes: Opus Livre, Opus Libros e Opus Dei Awareness Network.

Se algum dia esta organização dominar totalmente a nossa sociedade, não teremos outra liberdade senão a de ir em rebanho à missa e ajoelhar abjectamente.
4 de Abril, 2006 Palmira Silva

Sweet Home Alabama

Os defensores intransigentes do direito à vida de óvulos e espermatozóides americanos, pelas razões esperadas, são especialmente activos nos Estados do cinturão bíblico. Certamente por inspiração divina, estes cruzados contra o aborto, que incluem devotos cristãos como Eric Robert Rudolph, condenado em Abril de 2005 a prisão perpétua pelos ataques bombistas a clínicas de IVG, clubes homossexuais e outros perfeitamente legítimos alvos (da sua perspectiva cristã, claro), consideram como este último, que «O aborto é assassínio» e que «a força mortífera é necessária para o parar».

No Mississipi, Joseph Booker, o último ginecologista pró-escolha que sobrevive neste estado, está há 18 meses sob protecção federal. Booker é forçado a dirigir-se ao seu local de trabalho, a única clínica do estado que realiza interrupções voluntárias da gravidez e que está constantemente cercada por devotos cristãos, usando colete à prova de bala e um capacete militar.

A perseverança de Booker em ajudar especialmente as mulheres de menos recursos deste estado (as outras vão para fora, onde não são conhecidas) pode ser desnecessária em breve já que o Mississipi se prepara para seguir as pisadas do South Dakota que proibiu o aborto em todas as circunstâncias, mesmo em caso de violação (com a Sodomized Religious Virgin Exception, claro).

No Alabama é apenas uma questão de tempo para que apenas os abortos para salvar in extremis a vida da gestante sejam permitidos.

Dentro em breve será prevísivel que mais estados declarem, como o Missouri, ser a religião oficial do estado o cristianismo, a única «verdadeira».

Se os crentes se limitassem a acreditar nas suas mitologias sortidas sem exigir a subordinação da res pública às suas idiotias anacrónicas, nomeadamente usando-as para discriminar e negar direitos a mulheres e homossexuais, interferir no sistema educacional e na ciência, enfim tentar impôr a todos a sua visão irracional e obscurantista do mundo, suponho que nenhum ateísta, eu inclusive, devotaria um segundo do seu tempo a este tema. Infelizmente a conjuntura internacional propicia o florescer da intolerância e totalitarismo religioso e para que o fim desta história não seja o retorno da história, isto é, da militância religiosa das guerras «santas» e da Inquisição, recordemos de novo o paradoxo da tolerância de Karl Popper: «Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo com os intolerantes, e não defendermos a sociedade tolerante contra os seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados e com eles a tolerância».

Quem estiver interessado pode ouvir aqui a faixa (1974) de Lynyrd Skynyrd que dá título ao post.