Loading
25 de Abril, 2006 Palmira Silva

No simpathy for the devil

You call yourself a Christian
I think that you’re a hypocrite
You say you are a patriot
I think that you’re a crock of shit

Sweet Neo-con Escute Windows Media, M. Jagger/K. Richards

O hotel Imperial em Viena, Áustria, que em tempos hospedou Wagner, é considerado um dos melhores e mais luxuosos hoteis do mundo. Construído em 1863 para ser a residência na capital austríaca do príncipe de Württemberg, situa-se no Ring Boulevard, uma artéria imponente que circunda todo o centro histórico de Viena e onde se situam a Opera e boa parte dos museus nesta cidade.

Não é assim de estranhar que G. W. Bush tenha escolhido este hotel para a sua estadia em Viena em finais de Junho onde decorrerá o encontro anual da União Europeia-Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos foi obrigado a mudar a escolha de alojamento porque Mick Jagger se antecipou e reservou os quartos pretendidos por Bush, todo o primeiro andar, incluindo a Royal Suite. De acordo com uma fonte próxima de Jagger «O pessoal de Bush parecia convencido que eles [Jagger e a comitiva] lhes dariam as suites mas de forma alguma Mick faria isso».

Os Roling Stones estarão em Viena para um concerto que se realiza na véspera do encontro. Concerto em que é apresentado o último álbum dos Stones, «A Bigger Bang», em que Jagger critica… Bush e a guerra do Iraque! Nomeadamente na faixa Sweet Neo-Con, que a Virgin Records afirma conter «uma mensagem política acerca do moralismo na Casa Branca».

24 de Abril, 2006 Carlos Esperança

Viva o 25 de Abril. Sempre.

Há 32 anos floriram nos canos das espingardas cravos.

De madrugada, a longa ditadura fascista, apoiada pela igreja católica, soçobrou.

Desaparecidos os mecanismos de repressão que impunham o partido único, o Deus único e o pensamento único, a Igreja católica entrou em declínio. Esvaziaram-se os seminários, despovoaram-se as missas e, ao pavor do Inferno, o País preferiu os caminhos da liberdade.

Com a rarefacção das sotainas, o anacronismo da liturgia e o desvario dos dois últimos Papas, as aldrabices dos milagres parecem cada vez mais uma tentativa desesperada de conservar a fé dos supersticiosos e a sobrevivência dos embusteiros.

Viva o 25 de Abril. Viva a República. Viva a Liberdade.

24 de Abril, 2006 Palmira Silva

Talibanização da Malásia

Num país que é suposto ser um exemplo de um país islâmico com uma relação de sucesso com o mundo moderno e em que os 40% da população não islâmica são supostos coexistir pacificamente e em liberdade religiosa, a realidade actual nega completamente estas pretensões. A islamização da Malásia continua em marcha acelerada com a destruição de um templo centenário de outra religião.

Um templo hindu com 100 anos foi arrasado na passada sexta-feira pelas autoridades municipais de Kuala Lumpur. Mais um templo da religião mais antiga do mundo destruído pela fúria intolerante de religiões muito mais recentes e cujas mitologias foram largamente inspiradas nas mitologias védicas.

Outro exemplo de como as acções do governo estão de facto a caminhar para a islamização do país tem a ver com as «leis da decência», analisadas num artigo de Zainah Anwar, «Matéria de consciência, não de polícia».

Em que este relata como todos os malaios, independentemente da religião, são obrigados a seguir um código de conduta islâmico, arriscando-se a penas de prisão, punições físicas ou pesadas multas caso não o façam. Como uma cantora que foi acusada de «insultos ao Islão» por cantar num bar que serve bebidas alcoólicas ou dois colegas de escola, um rapaz e uma rapariga, que foram condenados a 25 vergastadas cada pelo crime de falarem um com o outro em público…

Mais preocupante ainda é tendência crescente de subalternização dos tribunais federais aos tribunais da Sharia, supostamente apenas aplicáveis à população muçulmana. O que na prática impede alguém de deixar o Islão uma vez que são estes tribunais que deliberam sobre casos de apostasia. Um caso que faz manchetes na Malásia é o de Lina Joy, que se converteu ao cristianismo em 1988 e continua a ser portadora de um bilhete de identidade que a identifica como muçulmana. Que se arrisca a ser presa se entrar numa igreja ou se não observar o jejum obrigatório no Ramadão. Para além de estar impossibilitada de se casar, com um não islâmico, uma vez que o registo civil apenas casa não islâmicos e oficialmente Lina Joy é muçulmana.

24 de Abril, 2006 Carlos Esperança

A ICAR e o referendo

O Sr. Maurílio Gouveia, arcebispo de Évora, assinou a petição que pede a realização do referendo sobre a Procriação Medicamente Assistida (PMA) e apela a que «todos colaborem nesta iniciativa», refere em entrevista publicada na Newsletter do Comité Pró-Referendo PMA» – informa a Agência Ecclesia.
O Arcebispo salienta que «as novas tecnologias aplicadas à procriação artificial não podem deixar de levantar problemas éticos graves…»

Seria oportuno aproveitar o referendo para que os portugueses se pronunciassem sobre «direitos» da ICAR, em assuntos de mais fácil compreensão, perguntando aos eleitores se concordam com:

– A confissão que devassa a vida privada e interfere abusivamente na vida dos casais;

– O cárcere privado exercido em conventos sem vigilância das autoridades policiais, instituições de saúde mental e inspecções do Ministério Público;

– O fabrico de hóstias em padarias não licenciadas para o eleito, sem inspecção sanitária, prazo de validade e código de barras;

– A manutenção de água benta infecta nas pias das igrejas sem recolha de amostras periódicas destinadas ao Instituto Ricardo Jorge;

– A proclamação de milagres, sempre no exercício ilegal da medicina, sem o parecer da Ordem dos Médicos;

– O recrutamento de padres, só do sexo masculino, em contradição com a Constituição e as leis da República que impedem qualquer tipo de discriminação em função do sexo.

24 de Abril, 2006 Palmira Silva

Salman Rushdie em boa forma

Salman Rushdie esteve em Minneapolis na semana passada e pelo relato parece estar em excelente forma:

À pergunta «Quem tem o direito de contar as nossas histórias e quem decide quem as conta» respondeu «Bem, está a falar de religião, não está? Religião consiste em algumas pessoas contarem histórias para o resto das pessoas, para nós».

Quando interrogado sobre que prática espiritual utilizava para escrever respondeu «Eu não tenho alguma prática espiritual. A palavra espiritualidade devia ser banida da língua inglesa pelo menos durante 50 anos… Uma palavra que perdeu o seu significado. Já não se pode passear o cão sem o fazer de uma forma ‘espiritual’, não se pode cozinhar sem falar em espiritualidade!»

Mas a melhor da noite aconteceu quando Rushdie afirmou «Todos os mitos da criação são disparates. O Universo não foi criado em seis dias mais um para descanso… O Cosmos não foi criado pelas faúlhas causadas pela fricção de dois úberes de vacas cósmicas…»

23 de Abril, 2006 Carlos Esperança

Ratzinger – 1 ano de conspiração

«B16: balanço de um ano na luta católica contra a modernidade» é um dos melhores textos sobre a actuação do último déspota de tiara. Ricardo Alves escalpeliza com precisão cirúrgica os 12 meses de despotismo, protagonizados pelo sucessor de JP2.

O Sapatinhos Vermelhos, que gosta de encobrir as orelhas dentro de um confortável camauro, tem a mesma sede de poder do seu antecessor, sem o ridículo da superstição nem a mais leve suspeita de acreditar no Deus que lhe alimenta o fausto.

A religião foi sempre uma forma de repressão, instrumento de poder absoluto, a Espada de Dâmocles suspensa sobre a cabeça dos livres-pensadores. O peso das religiões varia na razão directa do poder do clero e na inversa dos direitos dos cidadãos.

A ICAR tem atrás de si um passado pouco recomendável, que se esforça por minimizar, mas não deixa de reivindicar a influência passada quando pretende impor, em nome da tradição, a prepotência e os privilégios.

Apesar da desolação do movimento «Nós Somos Igreja», uma associação que pretende reconciliar o catolicismo com a modernidade e os Direitos Humanos, nomeadamente a igualdade entre os sexos, ninguém esperava deste inquisidor a mais leve hesitação no regresso às práticas mais retrógradas da ICAR.

O que surpreende muitos observadores é o silêncio das vozes moderadas, dos núcleos democráticos, dos crentes não fanatizados. Creio que há uma única explicação, essas vozes há muito trocaram Deus pela democracia, o Papa pela sua consciência e a hóstia pela liberdade.

Hoje, enquanto as igrejas ficam vazias e os seminários desertos, Ratzinger procura no modelo islâmico o paradigma da sua própria Igreja: o proselitismo demente, o martírio de crentes fanatizados e um Paraíso à medida das aspirações mais doentias, com casas de alterne cheias de virgens à espera das santas bestas que antecipam a viagem.

Por ora, enquanto perde crentes, vai conquistando poder. Ameaça governos, infiltra aparelhos de Estado e influencia partidos políticos. O sonho do autocrata é a teocracia católica.

O Papa não ignora que a democracia, a separação do Estado e da Igreja, a emancipação da mulher e a Declaração Universal dos Direitos Humanos são o triunfo do laicismo contra a tirania do poder eclesiástico.

É contra este estado de coisas que o pastor alemão espuma de raiva no antro do Vaticano.

23 de Abril, 2006 Palmira Silva

Uma serpente com pernas


Os últimos tempos têm sido fertéis na descoberta de fósseis de transição entre espécies, evidências indiscutíveis da evolução que os fundamentalistas cristãos negam acefalamente em favor da sua absurda mitologia.

Na última Nature (link para o resumo do artigo, o acesso à versão completa é reservado a assinantes) foi apresentado um trabalho de uma equipa sul-americana que pode pôr fim a uma acesa controvérsia sobre a evolução das serpentes, de animais marinhos ou terrestres. O zoólogo Hussam Zaher, cientista do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, em colaboração com o palentólogo Sebastián Apesteguía, do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia, apresentam os detalhes anatómicos dos fósseis da mais antiga espécie de cobra já encontrada, a Najash rionegrina, uma serpente que viveu no Cretáceo Superior (há 90 milhões de anos) e que apresenta patas traseiras funcionais, completas com femora, fibulae, e tibiae, e pélvis.

«A gente espera que esse trabalho provoque uma certa revoluçãozinha, trazendo uma baforada de ar fresco sobre o debate da origem das serpentes e rejeitando a hipótese da origem marinha» afirmou Zaher.

Os criacionistas do site humorístico «Respostas no Genésis», AiG, que ainda têm atravessada uma espinha do Tikataalik rosae, continuam a debitar prosas hilariantes no seu afã de refutarem as evidências experimentais da evolução. Em relação à Najash rionegrina acho especialmente divertido o parágrafo que reza:

«A AiG é cautelosa acerca da comparação desta serpente fóssil com a serpente de Génesis 3:14 [a tal que provocou a dentadinha no proíbido fruto do conhecimento]. Em primeiro lugar, não sabemos muito acerca da anatomia dessa serpente. Mas podemos oferecer uma sugestão razoável de que seria capaz de andar ou rastejar; depois da serpente ser amaldiçoada foi pronunciado que «no teu ventre rastejarás» sugerindo que antes da queda se movia usando apêndices. De igual forma este fóssil resulta provavelmente do Dilúvio de Noé, um acontecimento que teve lugar 1500 anos depois de a serpente ser amaldicoada a rastejar sobre o ventre».

Ou seja, os criacionistas cristãos advertem os crentes para não confundirem esta serpente que tem «só» 4500 anos com a serpente andante do pecado original porque esta última viveu… há 6000 anos! Santa ignorância! Em relação aos argumentos imbecis, incoerentes e mutuamente contraditórios que usam para afirmarem que a Najash não é uma evidência para a evolução, parecem os argumentos invocados para chamar à banana «o pesadelo dos ateístas» (vale a pena seguir o link e ver em vídeo, ao vivo e a cores, os delírios criacionistas cristãos no seu esplendor, especialmente do tempo 3:30 ao 4:36. Quem tiver paciência pode assistir a 28 minutos de puro disparate, ou antes, pura «lógica» cristã, tipo provar que não existe urânio em Portugal porque por (re)definição o urânio é um metal que não existe em Portugal).

Tanto quanto eu saiba o Discovery Institute, que recentemente se insurgiu por ser correctamente descrito como um «think tank conservador cristão» num artigo de um jornal de estudantes na Universidade de Baylor, ainda não produziu nenhuma falácia IDiota sobre a serpente com pernas.

23 de Abril, 2006 Palmira Silva

A teoria da evolução é uma invenção demoníaca

Para a semana John Mackay, um criacionista australiano, inicia uma tournée de dois meses pelos redutos fundamentalistas cristãos britânicos, sossegando crentes da inenarrância da Bíblia, mais concretamente do Genesis, com prelecções imbecis sobre a real idade da Terra (alguns milhares de anos e não milhões) e dissertações surreais sobre supostas provas «científicas» que suportam o criacionismo, o grande dilúvio e a arca de Noé e refutam a evolução.

Mackay é um firme crente e fervoroso disseminador da teoria que a «crença» na evolução foi introduzida por Satanás, uma perversão que infiltrou as sociedades ocidentais e que os missionários cristãos têm como obrigação impedir de se espalhar pelo Terceiro Mundo:

«Satanás só recentemente iniciou a introdução da evolução no Terceiro Mundo com o objectivo de destruir o esforço missionário. Armemo-nos primeiro com a nossa armadura espiritual e providenciemos aos missionários do Terceiro Mundo e a outros as armas para levar a guerra contra as subtilezas de Satanás que procura minar a confiança na palavra de Deus e no trabalho missionário»

A tournée (humorística, não fora ser tão preocupante) inclui um retiro de uma semana com 40 famílias, a Family Creation Conference, em que são abordadas questões tão importantes como: antes do pecado original as abelhas davam ferroadas? Ou havia migrações dos pássaros? E que comiam os grandes tubarões brancos?

O problema com o criacionismo em Inglaterra reside no facto de ser ensinado em muitas escolas evangélicas e na sua versão mais soft, o neo-criacionismo ou IDiotia, sob os auspícios da ministra da Educação Opus Dei, Ruth Kelly, do governo de Tony Blair, ir ser apresentado a todos os estudantes britânicos. Como afirma Steve Jones, um especialista em genética, sugerir que o criacionismo em qualquer forma seja ensinado lado a lado com a evolução é equivalente a «iniciar uma aula de genética discutindo a teoria de que os bébés são trazidos por cegonhas». A Royal Society aliás expressou recentemente a sua preocupação com os ataques cerrados à ciência e à evolução por parte dos fundamentalistas cristãos e as suas manobras para introduzir nos currricula de ciências a teoria cientificamente absurda de que Deus criou mundo.

Steve Jones citou Darwin «a ignorância gera confiança mais frequentemente que o conhecimento; são aqueles que sabem pouco e não aqueles que sabem muito que asseguram que este ou aquele problema nunca serão resolvidos pela ciência» para concluir «A ciência tem provas sem pretender certezas, os criacionistas – têm certezas sem provas».

De facto, o problema das religiões é em minha opinião exactamente esse: todas as religiões são detentoras da verdade absoluta «revelada» que pela sua própria natureza não pode ser alvo de dúvidas, discussão ou refutação. Se um dos aspectos desta fé, que se traduz numa segurança confortável e confortante, é posto em causa ou dá origem a dúvidas então todo o sistema pode colapsar. Por isso o pior inimigo das religiões é o conhecimento, nomeadamente o científico.

Por outro lado este fundamentalismo, esta fé no absolutismo das verdades reveladas, é um catalizador para violência. Se a segurança de alguém está ligada a um sistema de crenças, a uma religião que se afirma a detentora da verdade absoluta revelada por Deus, que recompensará no «Além» os seus seguidores e que afirma que quem refuta essas verdades são aliados do demo, então é perfeitamente legítimo destruir os demoníacos não crentes na defesa e propagação dessas verdades absolutas!

22 de Abril, 2006 Palmira Silva

Fundamentalismo islâmico no Irão

Durante a presidência de Mohammed Khatami os símbolos mais evidentes da recuperação de liberdades individuais, cruelmente suprimidas durante as décadas de governo dos ayatollahs, expressava-se na forma como as mulheres, o alvo favorito de repressão por parte de qualquer fundamentalismo religioso, torneavam os estritos ditames de vestuário.

Durante a campanha eleitoral que culminou com a sua controversa eleição, Ahmadinejad assegurou que o Irão tinha problemas mais urgentes que suprimir estas liberdades individuais.

No entanto, quiçá como retaliação às recentes manifestações populares de repúdio ao regime teocrático e porque, como denunciou Nader Shariatmaderi, um aliado político de Ahmadinejad, estas modas são «prejudiciais aos princípios revolucionários e islâmicos» e porque «Na situação internacional presente nos temos de unir em torno de princípios conhecidos» uma série de medidas de repressão social e política de linha dura foram anunciadas há uns dias.

Assim , a polícia de Teerão tem ordens para prender as mulheres que se vistam de forma não conforme aos ditames do governo teocrático. As «transgressoras» das normas «morais» islâmicas seram punidas com multas e penas de prisão até dois meses. A polícia deterá igualmente homens com cortes de cabelo ocidentais e pessoas que passeiem cães, uma actividade há muito merecedora de ululações de blasfémia anti-islâmica pelos piedosos mullahs.

De igual forma os milhões de pessoas que dispõem de antenas satélite, uma abominação que lhes permite terem fontes isentas de informação (e informação factual não digerida pelos dignitários religiosos é algo que todas as religiões execram, não apenas a islâmica) verão as multas por tal posse ilegal subirem de cerca de 90 para cerca de 4500 euros.

Face à crescente revolta popular contra a anacrónica imposição das barbaridades islâmicas, expressas recentemente na adesão massiva a rituais persas tradicionais, banidos como pagãos pelos fundamentalistas islâmicos, como o Tchahr Shanbe Souri (festa do fogo) e o Sizdeh-Bedar, o fim de ano persa, diria que as últimas medidas repressivas servirão apenas para alienar ainda mais os iranianos contra o regime teocrata.

21 de Abril, 2006 Ricardo Alves

Os «civilizacionistas»

Existe, visível em artigos de jornais e em alguns recantos da blogo-esfera, uma corrente política que expressa um repúdio veemente pelo clericalismo islâmico e pelos seus crimes, mas que se esquece de condenar os clericalismos católico ou judaico.

Chamemos-lhes «civilizacionistas».

São geralmente os mesmos que defendem que a laicidade evoluiu a partir do cristianismo (um erro clamoroso…) e que jamais poderá florescer em países que tiveram ou têm outras religiões maioritárias. São os mesmos que se entusiasmam com as «guerras de civilizações» e que disfarçam (nem sempre com sucesso…) um ódio surdo aos imigrantes. Que condenam a excisão e a circuncisão quando feitas num contexto islâmico, mas desculpam a circuncisão quando feita entre judeus. No fundo, defendem que libertarmo-nos da cultura de origem é anátema, e que devemos tratar os indivíduos e os países em função da sua religião suposta.

Mas enganam-se. O catolicismo ou o judaísmo estão mais próximos do Islão do que da cultura iluminista. Foi o século das luzes, de Voltaire e Thomas Paine, que lançou as sementes da descrença e da laicidade, que geraram as democracias laicas onde vivemos. Contra as igrejas e contra o cristianismo, e não por influência destes. Convém não esquecê-lo.