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18 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

Foi pior a emenda do que o soneto

Dez dias após ter escrito a nota pastoral sobre a exortação apostólica Amoris Laetitia (não confundir com a vida sentimental da rainha de Espanha), propondo continência sexual aos católicos recasados, o cardeal Clemente justificou a posição, defendendo que é uma possibilidade “obviamente difícil”, entre várias.

Calando a origem do saber sobre a dificuldade, o pio perito sexual, numa entrevista ao Expresso, queixou-se de ter sido mal interpretado no que foi o mero resumo da posição da Igreja quanto ao acolhimento de casais que voltaram a casar depois de um divórcio.

“Digo que é uma proposta para quem tenha disponibilidade e quem seja capaz de o fazer, acrescento eu. (…) E digo a seguir que é difícil, e com certeza que é”, explicou.

“Numa circunstância concreta em que não seja possível dar esse passo da abstinência, então a pessoa recorre aos sacramentos para que, com a graça de Deus, avance no sentido do ideal”, defendeu.

Este último parágrafo lembra a prescrição do copo de água como contracetivo eficaz, se for tomado ‘em vez de…’.

17 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

A desconfiança na Igreja

Banca e Igreja são as instituições em que os portugueses menos confiam

As instituições bancárias continuam a ser as que menos confiança merecem dos portugueses, apesar de alguma melhoria face a 2016

PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP

Estudo do Observatório da Sociedade Portuguesa da Católica-Lisbon revela que a Presidência da República é a instituição que tem melhor reputação junto dos portugueses. Já a confiança no Governo é moderada

Os bancos são as instituições em que os portugueses menos confiam, logo seguidos pelas igrejas ou religiões organizadas, revela o “Estudo da Sociedade Portuguesa: Felicidade, hábitos de poupança e confiança económica”, realizado pelo Observatório da Sociedade Portuguesa da Católica Lisbon / School of Business and Economics, realizado em novembro de 2017 e divulgado esta sexta-feira.

D1A – Surpresa é o facto de os bancos merecerem menos confiança do que as Igrejas.

15 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

Isto é que são milagres a sério

Lúcia, em coma profunda, abre os olhos, olha para as pessoas, uma a uma, e beija um crucifixo.

(Declarações da médica da vidente, ao Diário de Coimbra, no 13.º aniversário do falecimento da vidente).

14 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

A religião a incitar perseguições

Jornal publica lista para identificar gays em país onde a homossexualidade é crime

por
Susana Lúcio

Um dos principais jornais da Malásia foi criticado por várias ong’s por ter publicado uma lista de características associadas a gays e lésbicas.

O jornal malaio Sinar Harian publicou uma lista para os leitores conseguirem facilmente identificar homossexuais e foi criticado por colocar a vida de pessoas em risco.

É que, na Malásia, a homossexualidade ainda é um crime punido com 20 anos de cadeia.

Continua AQUI

13 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

Camilo e os padres

CAMILO NOS “ECOS HUMORÍSTICOS DO MINHO” EM 1880(EXCERTO)

«Padres, cheios de ideias e bifes de cebolada, fazem discursos com largos gestos, aquecendo as imagens com os cigarros que sorvem engolindo o fumo e a gramática num grande desprezo da moral e da sintaxe. São os futuros abades e cónegos. Braga tem exportado alguns oradores excelentes para estes comícios rurais. O povo das feiras escuta-os com atenção palerma, e parece que os acredita tanto nas estalagens como nos púlpitos. A religião e a política deste povo, pelo que respeita à consciência, é tudo o mesmo. O cristianismo é uma exterioridade de símbolos, sem ideia, sem convicção, com todos os prejuízos da Idade Média, e nenhum dos preceitos sociais da religião depurada pela joeira da filosofia. Aqui, de dez em dez anos, aparecem uns missionários que são uns Dantes extemporâneos na descrição miúda do inferno. Não ensinam, rugem horrores sempiternos, que perdem na fé dos ouvintes o que lucram na intensidade descritiva dos tormentos. Ora, “pregar não há-de ser praguejar”, dizia Gil Vicente a D. João III dos frades de Santarém. Algumas mulheres, durante a missão, rapam as cabeças, emagrecem, abandonam a lavoura, desprendem-se das obrigações domésticas, e ficam para toda a vida inúteis, em uma pasmaceira estúpida. Outras, não se rapam, nem se convertem; pelo contrário, depois dum grande misticismo sem orientação inteligente, despapam-se na languidez da carne ociosa, e fazem asneiras como quase todas as ascéticas dos modernos romances – as Albinas e as Amélias de Zola e Queirós. Mas as ladras ficam ladras; e as que tinham razão de macerar o corpo dão os próprios ossos ao diabo».

(Amável envio de A. Barroso)

12 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

A visita pascal – Crónica pia

O Senhor Jesus Ressuscitado viajava, no Domingo de Páscoa, pelas casas da aldeia a recolher o ósculo e a esmola dos devotos. Onde não chegava antes do anoitecer ia no dia seguinte, com desgosto dos paroquianos que o aguardavam. A bênção valia igual, é certo, mas perdia-se o tempo da espera e era diferente. Por isso, para não contrariar os mesmos, todos os anos mudava o itinerário.

Transportava-o o sacristão, que o entregava ao vigário, em cada paragem, e era acompanhado por devotos que aliviavam a alma e recolhiam esmolas suplementares para os santos que exornavam a igreja local. Um garoto levava a caldeirinha de água benta que passava ao sacristão, enquanto o padre se ocupava da cruz, e a recolhia depois deste despachar a tarefa e de se ocupar do hissope, num movimento de rotação, a aspergir com vigor, em cada lar, um círculo protetor das investidas do demo, bênção que não deixaria de acautelar também o vivo que morava na corte, por baixo.

Era um tempo em que não havia vírus nem pneumonias atípicas, as pessoas viviam porque Deus queria e finavam-se quando o Senhor era servido, sem intromissão do médico a estorvar a divina vontade de as chamar.

Em todas as casas as vitualhas aguardavam a visita ao lado de uma garrafa de jeropiga rodeada de cálices. Entrava primeiro o padre, seguido do sacristão e do garoto que conduzia a caldeirinha. Aguardavam nas escadas os outros, para depois os revezarem. Genufletiam-se os da casa, por ordem cronológica, para beijar o pé do Jesus até chegar ao chefe de família que era o último a ajoelhar e o primeiro a soerguer-se. Borrifada de água benta a habitação, recolhida a esmola destinada ao Ressuscitado, a mais substancial, o padre bebia um trago de jeropiga e mordiscava um naco de pão-de-ló, por consideração, enquanto o sacristão aviava o cálice, de um sorvo, e se desforrava nos bolos. Às vezes demoravam-se mais um pouco para que o senhor padre rezasse uns responsos a rogo, geralmente por alma de quem tinha deixado com que pagar o latim.

Havia no séquito que aguardava nas escadas um homem por cada santo que ornava os altares da igreja, disponível para arrecadar a oferenda. Assim, enquanto o padre e o sacristão desciam, subiam eles para recolher, se a houvesse, a esmola que a cada santo cabia, consoante as posses e a devoção dos anfitriões. Creio que os turnos de acesso se estabeleciam em função do espaço e não da liturgia.

Mais de metade da paróquia percorrida, com o padre e o sacristão aguentando o múnus a pão-de-ló e a fé regada a jeropiga, a vingar-se o último, a conter-se o primeiro, a acelerarem todos para as casas que faltavam, o sacristão avaliou mal a distância que o separava das escadas na última casa onde entraram, abalroou o garoto que transportava a caldeirinha que logo a soltou, verteu a água e arremessou o hissope contra a parede. Foi grande o reboliço enquanto o sacristão e a cruz varreram enrolados as escadas sem que alguém do séquito lhes deitasse a mão, impávidos, como se evitassem estorvar se acaso fosse promessa a queda.

O padre, vermelho de raiva e da jeropiga, aguentou-se nas pernas e conteve a língua, ao cimo das escadas, enquanto, sem largar a cruz, se despenhou por entre as alas de acompanhantes o sacristão. Este recuperou rapidamente o alinho e endireitou a cruz, sem ninguém se aleijar, Deus seja louvado, e o padre despachou logo um paroquiano com uma jarra de vidro a caminho da igreja a sortir-se de água benta, com o aviso de se apressar, estava a fazer-se tarde, faltava ainda muito povo para aviar. Se recriminações houve ficaram reservadas para a discrição da sacristia.

No dia seguinte as conversas da aldeia começavam todas por Deus me perdoe, seguidas de persignações apressadas e de risos amplos, terminando em ansiedade pelo pecado cometido ou pelo temor da desobriga, mas ninguém resistiu a contar o sucedido e a comentá-lo, sendo mais forte a tentação do que a piedade.

In Pedras Soltas (esgotado) – Ed. 2006 (Ortografia atualizada)