Loading
9 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

O patriarca Clemente e a castidade

D. Manuel José Macário do Nascimento Cardeal Clemente [nome canónico] é bispo da diocese de Lisboa, coadjuvado por três bispos auxiliares, e o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, pelo que as palavras deste bípede paramentado, comprometem a totalidade da Igreja católica portuguesa. Não é seguramente tão dotado quanto os seus antecessores, mas para ser tão reacionário é preciso recuar ao cardeal Cerejeira.

São-me indiferentes os sacramentos que a Igreja católica reserva aos crentes ou ao seu rateio, mas não sou alheio à hipocrisia de quem liderou os interesses eclesiásticos na chantagem ao Governo, na defesa de subsídios públicos para as escolas privadas.

O purpurado a quem o PR em volúpia pia beija o anelão, sem respeito pelas funções que exerce, pôs o país a rir. Foi talvez a única coisa boa que já fez, capaz de unir ateus e crentes, agnósticos e devotos da concorrência, céticos e ingénuos, num festival de riso.

Segundo ele, a Igreja deve propor aos católicos recasados uma “vida em continência”, ou seja, sem a prática de relações sexuais. A recomendação, expressa num documento canónico, é um paradoxo na Igreja que atribui ao casamento, como função primordial, a prossecução da espécie. E não se vê, sem inseminação artificial, prática que abomina, como é possível a reprodução enjeitando o método tradicional e o mais popular.

Se o ilustre purpurado tivesse amado uma só vez, o que não me atrevo a admitir, talvez fosse mais compreensivo com a prática que execra e, quem sabe, em vez de a condenar, a praticasse.

Um casamento sem relações sexuais é como o voo de um crocodilo, que, se acaso voa, voa muito baixinho. O Sr. Manuel Clemente, perdoe-me Eminência, não passa de um veículo litúrgico em rota de colisão com a vida. Pode ser uma glória para a Igreja, mas é uma nódoa no prémio Pessoa.

Fazia-lhe bem um orgasmo.

6 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

A mutilação genital feminina (MGF) – 6 de fevereiro de 2018

«As mães não têm poder de decisão nos casos de mutilação genital feminina porque acontece serem os pais quem obriga as meninas a submeterem-se a esta prática, segundo denuncia a presidente da Associação Humanitária contra la Ablação da Mulher Africana (AHCAMA), Aissatou Diallo.»

Oito mil crianças do sexo feminino são vítimas em cada dia que passa, mais por pressão dos pais do que das mães.

Leio no “Publico. Es” e não consigo imaginar o indizível sofrimento de quase 3 milhões de crianças a quem a religião e o tribalismo mutilam em nome da tradição. Não há uma só crueldade contra a mulher que não encontre justificação na tradição misógina das tribos patriarcais da Idade do Bronze. Grave é permitir que os costumes que chocam a civilização, matam e mutilam mulheres, encontrem na Europa oportunidade para se perpetuarem.

Este costume troglodita, de origem animista, não é apanágio do islamismo. Praticou-se entre os cristãos coptas e outras comunidades, mas hoje perdura apenas em contexto islâmico e estima-se que existam mais de 100 milhões de mutiladas.

O testemunho da presidente da AHCAMA, ela própria uma vítima que carrega, desde os 8 anos, a dor a que a condenaram, mutilada para a impedir de ser mulher e dispor do prazer que negaram à máquina reprodutiva em que decidiram transformá-la.

A sua luta é a luta de todos nós, homens e mulheres, que seremos cúmplices se nada fizermos para pôr fim à barbárie.

5 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

A Irmã Lúcia e o Quincas – Transladação para Fátima

Chove. As bátegas não param de fustigar os peregrinos. O que as novenas dos padres não conseguiram, consegue-o a meteorologia.

Não é a ineficácia das rezas ou a ausência de Deus que demove os crentes, alagados de fé e chuva até aos ossos, de estarem presentes na segunda edição do funeral de Lúcia.

Não há na repetição das exéquias fúnebres a saudade genuína das putas de S. Salvador da Baía a passearem o cadáver do Quincas Berro D’Água, nas ruas em cujos botequins devorou cachaça com a mesma sofreguidão com que as beatas chupavam hóstias.

A freira, a quem o terrorismo religioso do catecismo induziu alucinações, nunca terá um Jorge Amado que a celebre em «A morte e a morte da Irmã Lúcia, vidente».

O Quincas, quando devorou, de um trago só, água em vez de cachaça, deu tal berro que passou a ser carinhosamente tratado por «Berrinho» e fez-se personagem de romance. Lúcia comungava por hábito e obrigação pia, mantinha olhos vagos e a postura de quem vive morta por dentro envergando como mortalha o hábito de freira.

Quincas é o delicioso personagem que diverte e comove o leitor de «A morte e a morte de Quincas Berro D’Água», marginal que viveu a vida, pecador que amou e foi amado.

Lúcia é exemplo trágico de criança pobre, embrutecida com orações e amedrontada pelo Inferno, que sonhou virgens nas azinheiras, cambalhotas do Sol no caminho das cabras, profecias de conversão da Rússia e churrascos de almas para absentistas da missa.

A criança amestrada com pias mentiras sobre o divino tornou-se cadáver de estimação, acolitada pela força pública, a viajar com padres, bispos, freiras e peregrinos, numa obscena encenação com quatro missas, orações pias e um futuro promissor de oferendas de gente aflita.

Não é o último capítulo da história de uma encarcerada de Deus, é o início do caminho da santidade, à espera dos milagres e das oferendas que hão-de alimentar funcionários de Deus e fazer de Fátima uma das mais lucrativas sucursais do Vaticano.

A burla não acaba hoje, um novo ciclo começa.

Coimbra, 19 de fevereiro de 2006

3 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

Citação

«QUANDO SE TRATA DE DINHEIRO, TODOS TÊM A MESMA RELIGIÃO.»

(Voltaire)

2 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

Einstein era ateu

Carta de Einstein

O que se segue traduz o pensamento de Einstein sobre Deus, Religião e Judaísmo, em 1954, um ano antes da sua morte.

É a tradução para inglês, feita por Joan Stambaugh, do original alemão de parte de uma carta que Albert Einstein escreveu de Princeton, em janeiro de 1954, ao filósofo alemão Eric B. Gutking, a propósito do livro Choose Life: The Biblical Call to Revolt que este filósofo havia publicado em 1952. O manuscrito foi posto a leilão pela firma Bloomsbury de Londres por £8000, tendo sido vendido por £170000!!!, em 15 de maio de 2008.  

«… I read a great deal in the last days of your book, and thank you very much for sending it to me. What especially struck me about it was this. With regard to the factual attitude to life and to the human community we have a great deal in common.

The word God is for me nothing more than the expression and product of human weaknesses, the Bible a collection of honourable, but still primitive legends which are nevertheless pretty childish. No interpretation no matter how subtle can (for me) change this. These subtilised interpretations are highly manifold according to their nature and have almost nothing to do with the original text. For me the Jewish religion like all other religions is an incarnation of the most childish superstitions. And the Jewish people to whom I gladly belong and with whose mentality I have a deep affinity have no different quality for me than all other people. As far as my experience goes, they are also no better than other human groups, although they are protected from the worst cancers by a lack of power. Otherwise I cannot see anything ‘chosen’ about them.

In general I find it painful that you claim a privileged position and try to defend it by two walls of pride, an external one as a man and an internal one as a Jew. As a man you claim, so to speak, a dispensation from causality otherwise accepted, as a Jew the priviliege of monotheism. But a limited causality is no longer a causality at all, as our wonderful Spinoza recognized with all incision, probably as the first one. And the animistic interpretations of the religions of nature are in principle not annulled by monopolization. With such walls we can only attain a certain self-deception, but our moral efforts are not furthered by them. On the contrary.

Now that I have quite openly stated our differences in intellectual convictions it is still clear to me that we are quite close to each other in essential things, ie in our evaluations of human behaviour. What separates us are only intellectual ‘props’ and ‘rationalisation’ in Freud’s language. Therefore, I think that we would understand each other quite well if we talked about concrete things. With friendly thanks and best wishes

Yours, A. Einstein»

 

D1A – Depois disto, julgo que não ficam dúvidas sobre o que Einstein pensava, que é muito diferente daquilo que muita gente gostava que ele tivesse pensado.

30 de Janeiro, 2018 Luís Grave Rodrigues

O Prémio

30 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

ICAR e Opus Dei

Os alvoroços do Papa nas suas visitas ao Chile e ao Peru

O Papa Francisco desdobrou-se, incansável, no assestar dos binóculos, durante as suas visitas recentes ao Chile e ao Peru.

Continue a ler AQUI.