O bispo espanhol de S. Sebastião, José Ignacio Munilla, é um troglodita paramentado e alucinado, que julga os homossexuais perturbados, mas passíveis de cura.
Na catequese, para crianças e jovens, para além destes devaneios piedosos, em que combateu a homossexualidade e o feminismo, foi solidificando o pensamento que agora exprime: «as feministas têm o demónio dentro de si e promovem o holocausto.
Eis uma santa besta!
Depois de uma maratona de padre-nossos e ave-marias um cristão chega exausto ao fim do terço. Antigamente a fé aguentava uma coroa e os joelhos suportavam a novena.
Quando as missas eram em latim, a ignorância aturava o ritual e suportava a liturgia no convencimento de que o Paraíso estava ao dobrar do amém, os paroquianos aturavam o frio do inverno e as delongas da bênção.
Depois de o vernáculo substituir o esoterismo de uma língua morta, os crentes duvidam da salvação da alma a troco da confissão e actos de contrição.
Santa Bárbara deu lugar aos pára-raios, o veterinário substituiu santa Filomena na cura das bestas, a flecha que trespassava S. Sebastião deixou de comover os créus e, para as moléstias do corpo, deixou de invocar-se a divina fauna e passou a recorrer-se ao S.N.S.
A penicilina revelou-se mais eficaz do que o pai-nosso, a aspirina um analgésico mais potente do que as orações e a vacina mais eficaz do que a divina graça. Antidepressivos batem o exorcismo e qualquer médico modesto é melhor do que um santo taumaturgo.
A água benta, com poderes comprovados por séculos de ignorância, foi ultrapassada, primeiro pelos manipulados e depois pela panóplia de drogas que os laboratórios da indústria farmacêutica puseram no mercado.
Face à exiguidade dos milagres e à falta de certificados de garantia, a clientela procura a ciência e manda passear a fé. Não admira que faltem ajudantes aos bispos e quiromantes da divina Providência.
A falta de padres, que o aluguer de brasileiros e polacos vai atenuando, é um bom sinal. O homem escreve direito por linhas tortas de Deus.
Por
ONOFRE VARELA
A CONVICÇÃO DOS CRENTES
Enaltecer a subjectividade é o que faz o partidarismo, seja ele político, religioso, ou de qualquer outra índole. Tomar partido por algo ou por alguém, é colocar-se ao lado de uma corrente de pensamento defensora de um determinado ponto de vista, o qual –quando não é aferido por uma ciência – é, sempre, subjectivo; portanto, apenas diverso do ponto de vista do outro.
As visões contrárias à natureza das coisas, nunca são avalizadas pelas disciplinascientíficas que as estudam. Ninguém pode negar que dois mais dois são quatro… amatemática garante-o sem lugar a dúvidas nem a subjectividades. No quadro científiconinguém pode afirmar que dois mais dois são cinco (embora os sofistas o possam fazer… mas é logro!).
A garantia de que Deus existe ou que não existe, tem por base a crença ou a descrença, e não passa de uma convicção. Não havendo uma disciplina científica que garanta estar a verdade de um dos lados, a subjectividade faz lei para qualquer afirmação, e cada um defende a sua com a mesma licitude. A ideia de Deus permite várias interpretações e discussões, desde logo sobre a sua estranha natureza, e não define nada de real, deabsolutamente concreto e palpável.
Todos nós temos direito às nossas convicções. E a defesa de uma convicção só pode ser rotulada de acto desonesto se o seu defensor tiver consciência da “inverdade” que apregoa; e só é vigarice se, conscientemente, ele quiser comprar a concordância do outro sabendo que lhe está a vender gato por lebre.
Quando o defensor de uma ideia está convicto daquilo que defende, porque acredita naquela forma tal como a descreve, não concebendo outra ideia para aquilo que é a sua convicção, presumindo estar com a verdade, o defensor dessa ideia é honesto nas suas afirmações e deve ser respeitado na “sua verdade”… embora possa estar errado!…
É este erro que faz a “verdade” das religiões quando afirmam a existência real de uma divindade.
E tenho muitas dúvidas na honestidade da maioria dos sacerdotes. Penso que a sua intelectualidade lhes sussurra a mentira que impingem aos crentes… mas é com isso que enchem a barriguinha e se rodeiam de mordomias. Não é por acaso que o nosso muitopobre povinho lhes outorga autoridade e lhes presta subserviência!…
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
Um bispo que abdique do Palácio Episcopal, dispa a mitra e a capa de asperges, pendure o báculo, aliene o anelão com ametista, dispense os fâmulos, reverências e beija-mãos, venda a custódia e ponha no prego a cruz de diamantes, pode tornar-se um cidadão.
Se o clero desistir do processo alquímico que transforma a água normal em benta, o pão ázimo em corpo e sangue de Jesus e as orações em modo de pagamento de apartamentos no Paraíso, pode recuperar a honestidade que o charlatanismo comprometeu.
Se renunciar às novenas, missas e procissões, ao lausperene e ao te deum, pode reservar as energias para o bem público.
Se a confissão, a terrível arma que viola a intimidade dos casais, a honra dos crentes e a confiança da sociedade, for abolida, deixando ao deus que dizem omnisciente a devassa dos pecados e o sigilo, o mundo fica mais tranquilo.
As religiões são especialistas em idolatrar o passado e mitificá-lo. Fazem piedosas falsificações, inventam documentos e fazem relíquias para embevecer os carentes do divino em busca de uma assoalhada no Paraíso.
O incenso e os sinais cabalísticos prejudicam a reflexão e o livre-pensamento.
Antissemitismo – Em 1941, em Jedwabne, católicos polacos fecharam num celeiro 340 vizinhos judeus, queimando-os vivos. O ódio religioso levou os bispos cristãos a dar ao regime alemão os registos de batismo para, por exclusão, acharem judeus.
Polónia – Ignorando a cumplicidade autóctone no Holocausto, o recente projeto-lei, que torna ilegal acusar o Estado polaco de cumplicidade, não muda a história nem absolve o passado do País, cuja sintonia com a Alemanha de Hitler não foi apenas residual.
Filipinas – A eleição de um assassino é uma fragilidade das democracias, e o presidente Duterte é o reflexo do país atrasado onde católicos se crucificam na Páscoa e é popular a execução sumária de presumíveis drogados, traficantes e contrabandistas.
Patriarca de Lisboa – O cardeal Clemente defende que casais “em situação irregular”, isto é, que voltaram a casar após o divórcio, tenham uma “vida em continência na nova relação”. É a apologia do mais original dos casamentos, com separação de pessoas.
Espanha – O franquismo fuzilou quase 3.000 pessoas, em Madrid, entre 1939 a 1944, depois da guerra civil, com a cumplicidade do clero. É a dolorosa amostra de centenas de milhares de execuções, pelo maior genocida ibérico da História. Continuam impunes e silenciadas.
Vale dos Caídos – O Governo gastará 1,8 milhões de €€, a restaurar o mausoléu de Franco. Só na comunidade de Cantábria há cerca de 150 valas comuns da Guerra Civil e do pós-guerra, onde o PP e a ICR impedem a exumação dos mortos com funeral digno.
Que o cidadão, Prof. Doutor João Gabriel Monteiro de Carvalho e Silva, tenha a fé que quiser e frequente o templo que entender, é um direito que cabe ao Estado defender.
Pode, como crente, encharcar-se em água benta, empanturrar-se em hóstias, tresandar a incenso, esfolar os joelhos em genuflexões e puir os dedos a passar as contas do rosário, mas não pode, como reitor, anunciar cerimónias litúrgicas de uma confissão particular e transformar-se em muezim romano.
A Universidade pública é, ou devia ser, um templo da sabedoria, mais dado à ciência do que à fé, e não um órgão de propaganda da religião do sr. Reitor.
Que a Universidade católica promova novenas, desobrigas coletivas, peregrinações pias e outras diversões litúrgicas, é um direito de uma escola privada. Que uma Universidade muçulmana respeite o Ramadão, obrigue ao jejum, a cinco orações diárias, com alunos, professores e funcionários virados para Meca, e a urinar em sentido contrário, faz parte da idiossincrasia islâmica.
Já uma Universidade pública, de um país laico, não pode, ao arrepio do espírito da CRP e da laicidade que exige, anunciar as missas por intermédio da sua máxima autoridade académica – o Magnífico Reitor –, na quebra da isenção e neutralidade religiosa de que devia ser o guardião.
Pode o crente, com papel timbrado e a expensas da Universidade de Coimbra, aplainar o caminho do Paraíso, com o proselitismo que o convite encerra, mas não contribui para a decência republicana, laica e democrática que a cidadania exige e a Universidade merece.
O aviso da missa solene comemorativa do Dia da Universidade e de lugares reservados nos cadeirais aos Professores e novos Doutores que confirmem a presença, desde que devidamente paramentados, transforma um reitor em sacristão.
É uma lamentável manifestação beata!
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.