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Categoria: Vaticano

19 de Abril, 2010 Carlos Esperança

Aura Miguel e o Papa

Aura Miguel é uma jornalista que dedica a vida à Igreja católica com a mesma beata devoção com que se imolam os bonzos ou explodem os suicidas islâmicos.

A fotografia com o Papa de turno não é apenas uma imagem para o álbum de memórias, é o orgasmo da fé de quem tem o ponto G nos joelhos. É a glória de quem é capaz de sofrer longas genuflexões e jejuns para estar perto do regedor do Vaticano.

Julgava-se que a sedução por João Paulo II fosse um desses misteriosos  encantamentos por um Papa que acreditava em Deus e que, no seu jeito rural e supersticioso, acordasse o afecto de uma mulher. Mas com Aura Miguel qualquer papa é o santo que a profissão e o estado civil exigem. Qualquer primata de camauro é o megafone de deus na Terra e o ungido do Senhor que lhe confia o negócio e a execução testamentária.

Aura Miguel nunca admitirá que João Paulo II e Bento XVI foram capazes de esconder os crimes dos seus padres para que os homens continuassem a acreditar no martírio do seu deus. A jornalista só vê bondade sob as vestes talares, corpos sem hormonas, gente sem pecados, seres assexuados cheios de virtude.

Na sua devota dedicação á Igreja católica esqueceu-se da vida e do mundo para debitar as pias tolices que nascem no Vaticano e germinam nos quintais da fé que se encontram espalhados pelo mundo.

A jornalista julga um triunfo da fé a proibição do divórcio em Malta, um protectorado do Vaticano onde o a interrupção da gravidez, mesmo que ponha em risco a vida da mãe, resulte de violação ou se destine a um feto incompatível com a vida, é considerado crime. Pode aí um troglodita de um marido matar a mulher mas o divórcio, graças ao deus do papa e da Aura Miguel, é proibido. Bendito seja o deus de ambos.

Infelizmente a violência doméstica existe em Malta, as violações acontecem e até, sabe-se agora, há crianças violadas pelo clero que reuniram com o Papa levando um terço para ele abençoar.

18 de Abril, 2010 Carlos Esperança

Zangam-se as comadres…

VATICANO (Reuters) – Um ex-cardeal do Vaticano que cumprimentou um bispo francês por ter protegido um padre que cometia abusos sexuais afirmou ter agido com a aprovação do papa João Paulo II, informou um jornal espanhol neste sábado.

O cardeal Darío Castrillón Hoyos, que era a autoridade do Vaticano encarregada dos padres de todo o mundo quando elogiou o bispo francês, em 2001, inseriu o papa polaco na controvérsia ao fazer essa declaração durante uma conferência na cidade espanhola de Múrcia.

15 de Abril, 2010 Carlos Esperança

O Vaticano e o vendaval que o assola

O Vaticano tem uma queda especial para o disparate e tremendo horror à ciência. Nesse bairro de 44 hectares o tempo parou e, como sinal de pompa, mantiveram-se os adereços femininos.

Quem não distinga a água benta da outra nem enxergue numa rodela de pão ázimo o corpo e o sangue de Cristo, é difícil ver um papa com vestidinho de seda, a cabeça enfiada num camauro e as pernas guarnecidas por meias coloridas, sem um amplo sorriso.

Um ateu nada teria a observar sobre a forma garrida e exótica como se veste o regedor do bairro se ele não tivesse o hábito de pregar moral e aconselhar sobre a sexualidade. Quando um celibatário, inveterado, quer ser o guardião da moral e dos bons costumes tem de se comportar de forma exemplar e não admitir no seio da sua Igreja quem se comporta ao arrepio da moral que prega.

Não pode permitir que um bispo, mentindo, afirme que o preservativo propaga a sida, e ajude a morrer um continente infectado pelo terrível flagelo. Não pode ser tão insensível que se oponha à interrupção da gravidez de uma criança de 12 anos violada pelo amigo do pai e rosnar ameaças contra o planeamento familiar.

Não se podem fazer milagres ao domicílio e criar santos entre os que apoiaram os piores ditadores, caso de Espanha, para combater os adversários e, depois, esperar indulgência. A Igreja católica continua a viver na Idade Média, com milagres obrados por cadáveres com séculos de defunção e que alimentaram a superstição popular.

A tentação obscurantista, servida por um implacável conservadorismo, levou este Papa a reconduzir a sua Igreja ao Concílio de Trento. Reintegrou os bispos fascistas e anti-semitas de Lefebvre, apoiou-se no Opus Dei, escondeu desvios sexuais e crimes do seu clero, sem respeito pelas crianças que molestavam, e desenvolveu uma campanha contra a modernidade, a democracia e a liberdade.

Todos os ventos fustigam agora o jovem das juventudes nazis, os escândalos atingem as sotainas e já ninguém acredita na palavra da Igreja que ocultou os crimes ou nos bispos que transferiam padres pedófilos de terra em terra sabendo que iam continuar a molestar crianças.

E, na dureza das cabeças pias, continuam as confusões criadas nas manhãs submersas dos seminários. Insistem em confundir a homossexualidade com a pedofilia. O cardeal Tarcisio Bertone, número dois do Vaticano, estabeleceu uma relação entre pedofilia e homossexualidade, perante o desmentido da comunidade científica e da comunicação social.

Não apreendem. Estão hoje, como sempre, contra o mundo, agarrados a um deus cada vez mais obsoleto.

13 de Abril, 2010 Carlos Esperança

Britânicos estudam possibilidade de prender o Papa

Dois escritores britânicos anunciaram que têm a intenção de processar criminalmente o Papa Bento XVI. Em causa, está o escândalo de pedofilia no seio da Igreja Católica, que está a abalar o Vaticano, e no qual, segundo as últimas notícias, o Cardeal Ratzinger pode estar envolvido.

Os escritores Richard Dawkins e Christopher Hitchens são ateus e críticos da religião. Os dois intelectuais informaram que pretendem levar Bento XVI à justiça quer Grã-Bretanha, quer no Tribunal Penal Internacional.

6 de Abril, 2010 Carlos Esperança

Opus Dei toma conta do Vaticano

O papa Bento XVI nomeou o sacerdote de origem mexicana José Horacio Gómez como arcebispo coadjutor da Arquidiocese de Los Angeles, a maior dos EUA, informa hoje o Vaticano.

Gómez, de 59 anos, que até agora era arcebispo de San António, no Texas, auxiliará o actual arcebispo de Los Angeles, Roger Michael Mahoney.

Nascido em Monterrey, José Horacio Gómez pertence à Prelatura do Opus Dei, na qual foi ordenado sacerdote em 15 de Agosto de 1978.

3 de Abril, 2010 Carlos Esperança

Vaticano – É preciso topete

O pregador da Casa Pontifícia, Raniero Cantalamessa, leu na sexta-feira, frente ao Papa, uma carta onde são comparados os «ataques» contra a Igreja a propósito dos casos de pedofilia com os «aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo», noticiou a agência Lusa.

O Vaticano perdeu a vergonha e a compostura. A denúncia dos crimes que atingem as sotainas é um dever, para proteger as crianças e intimidar os predadores sexuais. O seu clero não é excepção nem a pedofilia um crime exclusivamente pio. O que repugna, em primeiro lugar, é a ocultação ao longo dos anos com a cumplicidade dos bispos e de três papas. Depois é a fuga às responsabilidades e a tendência para se armarem em vítimas.

A Igreja católica arruinou a alegada superioridade moral. Dá normas para a sexualidade e comportamento das famílias e impede a interrupção voluntária do celibato ao clero.

Mas o que é verdadeiramente obsceno é a comparação ao anti-semitismo, a nódoa mais vergonhosa do cristianismo em geral e da Igreja católica em particular (não vem a aqui a propósito referir o anti-semitismo demente do Islão).

A Igreja católica já retirou do Novo Testamento as centenas de referências anti-semitas? Já pediu perdão pela expulsão dos judeus de Portugal e Espanha? Já se redimiu dos que queimou nas fogueiras da Inquisição? Já esqueceu o sequestro do menino judeu de seis anos Edgardo Mortara, sob o pretexto de que uma criada o havia baptizado? Não se recorda já da entrega a Hitler das relações dos baptizados para que se identificassem os judeus, por exclusão, atitude que os bispos protestantes também tomaram?

Quem acusou os judeus de terem matado Cristo, um judeu que morreu como tal, quem sempre os perseguiu e rezou pelos «pérfidos judeus», ao dizer-se vítima dos «aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo» está a enjeitar a sua conivência no anti-semitismo e, ao mesmo tempo, a minimizar as graves acusações de que é alvo.

Há um livro «A vida sexual do clero» exclusivamente escrito com casos cujas sentenças transitaram em julgado, em Espanha. Será que o Vaticano o desconhece?

Bastava o apoio a Hitler e às leis racistas de Mussolini para levar o pudor ao bairro de 44 hectares, sem maternidade nem pudor.

1 de Abril, 2010 Carlos Esperança

A Igreja católica, os milagres e os escândalos

Enquanto sobram as dúvidas sobre a virtude dos seus padres, minguam as certezas sobre a intercessão divina nos milagres dos seus santos.

A pressa em canonizar João Paulo II, um papa que era crente, depara-se agora com a nódoa que atingiu em cheio João XXIII e que persegue Bento XVI – a ocultação dos casos de pedofilia que envolvem os seus padres.

Os milagres obrados para fabricar beatos e santos, cada vez mais medíocres, têm sido um factor de descrédito da Igreja católica e motivo de ridículo que embatuca os crentes e hilaria os incréus. Salva-se o milagre da Alexandrina de Balazar que, segundo afirmou o próprio Papa João Paulo II, passou mais de 13 anos sem ter comido, bebido, defecado ou urinado, alimentando-se apenas de hóstias consagradas e cuja beatificação ainda teve de passar por uma milagre obrado numa conterrânea emigrada em Estrasburgo.

A cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos ferventes de óleo de fritar peixe, foi um milagre que transformou Nuno Álvares Pereira, de herói que era, em colírio, desonra que não mereceria o vencedor de Aljubarrota.

Na semana em que o Vaticano comemora a morte de João Paulo II e já tinha um milagre confirmado para a sua beatificação, tudo correu mal, desde a contestação da posição assumida em vida quanto aos abusos sexuais dos seus padres até à validade do milagre obrado depois de morto. Depois de aprovado o milagre da cura da freira francesa, Marie Simon-Pierre, que sofria da doença de Parkinson, foi posto em causa por um prestigiado jornal que duvidou do diagnóstico e da cura.

Para além da dúvida de ter curado uma freira, depois de morto, de uma doença que não conseguiu evitar a si próprio, em vida, resta a incúria com que lidou com as inúmeras queixas de abusos sexuais que recebeu e de que se desinteressou, deixando a resolução às dioceses.

A quantidade avassaladora de milagres e a catadupa de escândalos vão transformando o Vaticano de referência ética que foi para alguns em espaço mal frequentado reconhecido por quase todos.