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Categoria: Vaticano

25 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

O papa católico e a abolição da pena de morte

A pena de morte, execrável e irreversível crueldade, que subsiste, mesmo em países ditos civilizados, é uma ofensa à civilização e ao humanismo que é seu apanágio.

Parece que o número expressivo de inocentes, não faz tremer a mão de quem condena e de quem assina a autorização das execuções. Há tradições que se perdem no tempo e se conservam com sádica vigilância dos povos que não renunciam à violência.

A tradição permanece em vários países e a humanização das penas continua à espera de legisladores corajosos e da educação cívica para erradicar a crueldade.

A pulsão assassina está inscrita no código genético das populações tribais e no desejo de vingança que habita populações que não evoluem. As religiões são, aliás, um veículo da violência através do culto dos valores tribais em que nasceram.

É por isso que o pedido de abolição da pena de morte pelo Papa Francisco, ao arrepio da sua própria Igreja, assume particular relevância e deve ser saudada.

É um ato corajoso que rompe com a tradição e redime valores bárbaros que as religiões perpetuam. Sendo uma voz com influência nos crentes do seu Deus é de crer que países como o EUA possam romper com tão bárbara tradição de que raros dos seus Estados se emanciparam.

É pena que os dignitários islâmicos, os bispos do protestantismo evangélico e os rabinos dos judeus das trancinhas não sigam o exemplo do Papa católico, mas todas as grandes caminhadas começam com pequenos passos.

17 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

João Paulo II (JP2) – a canonização adiada

A morte de JP2 relembrou a dor e sofrimento manifestados na URSS quando o pai da Pátria, José Estaline, exalou o último suspiro, e o histerismo demente que rodeou a morte do aiatola Khomeini em todo o mundo islâmico, particularmente no Irão. Em comparação, as mortes de Franco, Salazar e Pinochet foram choradas de forma contida.

O absolutismo papal que restaurou com o apoio entusiástico do Opus Dei, Libertação e Comunhão, Legionários de Cristo e outros movimentos integristas, tornou JP2 o Papa da Contrarreforma, antimodernista, infalível, intolerante, substituindo os arcaicos autos de fé pela propaganda e pela diplomacia.

O Papa da Paz, como os devotos o designam, apoiou a Eslovénia e a Croácia (católicas) e a Bósnia e o Kosovo (muçulmanos) contra a Sérvia cuja obediência à Igreja Ortodoxa constitui um entrave ao proselitismo papal que tem nos ortodoxos a principal barreira ao avanço do catolicismo para leste. Já assim foi na II Grande Guerra.

A proteção aos padres que participaram ativamente no genocídio no Ruanda é mais um desmentido ao boato sobre o alegado espírito de paz que o animava.

A intervenção de JP2 a favor da libertação de Pinochet, quando foi detido em Londres, é coerente com a beatificação de Pio IX, do cardeal Schuster, apoiante de Mussolini e do arcebispo pró-nazi Stepinac. O apogeu da afronta foi a canonização veloz do admirador de Franco e fundador do Opus Dei, Josemaria Escrivá de Balaguer.

JP2, ele próprio profundamente supersticioso e obscurantista, chegou a ser obsceno na forma como engendrou milagres para 448 santos e 1338 beatos cujos emolumentos contribuíram para o equilíbrio financeiro da Santa Sé e para o delírio beato dos fiéis.

Desde a prática do exorcismo à exploração de indulgências, da recuperação dos anjos à aceitação dos estigmas como sinal divino (canonizou o padre Pio), tudo lhe serviu para alimentar a fé de sabor medieval e o desvario místico.

O horror que nutria pela contraceção, o aborto, a homossexualidade e o divórcio são do domínio da psicanálise. O planeamento familiar era para o papa medieval um crime. Considerava a SIDA um castigo do seu Deus e, por isso, combateu o preservativo, tendo o Vaticano recorrido à mentira, afirmando que era poroso ao vírus (2003). A misoginia, a conceção do carácter impuro da mulher e o horror à emancipação feminina foram compensados pelo culto insalubre da Virgem, recuperado da tradição tridentina.

Como propagandista da fé, pressionou Estados, intrometeu-se na política de numerosos países, ingeriu-se nos assuntos relativos ao aborto, à eutanásia ou ao divórcio e instigou populações contra governos democraticamente eleitos. Apoiou os comandos antiaborto, estimulou a desobediência cívica, em nome da fé, pressionou a redação da prevista Constituição Europeia e chegou ao disparate de pedir aos advogados católicos que alegassem objeção de consciência e se negassem a patrocinar divórcios.

O Papa da Paz que condenou a atribuição do Nobel da Literatura a José Saramago; que envidou todos os esforços para obter o da Paz para si próprio, que justamente lhe foi negado; que excomungou o teólogo do Sri Lanka, Tyssa Balasuriya por ter duvidado da virgindade de Maria e defendido a ordenação de mulheres; que perseguiu e reduziu ao silêncio Bernard Häring, Hans Küng, Leonardo Boff, Alessandro Zanotelli ou Jacques Gaillot; que marginalizou Hélder da Câmara e abandonou Oscar Romero; que combateu o comunismo e ficou em silêncio perante as ditaduras fascistas; João Paulo II morreu uns dias depois de o Vaticano ter proibido a leitura ou a compra do «Código Da Vinci», do escritor Dan Brown, sem nunca ter criticado a fatwa que condenou à morte o escritor Salmon Rushdie.

O Papa que morreu, segundo a versão oficial, no dia 02-04-2005 (soma=13), às 21h37 (soma=13), curiosidades «assinaladas» pelo bispo de Leiria/Fátima, foi o beato algoz da liberdade, autocrata medieval e fanático supersticioso. A sua morte consternou chefes de Estado e de Governo, alimentou noticiários das televisões de todo o mundo, rendeu biliões de ave-marias e padre-nossos, e pôs milhões de pessoas a rezar o terço, vestígio do Rosário da Contrarreforma, a que adicionou um novo mistério.

JP2 era certamente uma pessoa de bem que escondeu essa faceta para ser celebrado por dignitários políticos, religiosos e outros hipócritas. É desse Papa que conheci, que deixo um esboço, quando as cartas particulares, acabadas de revelar, o humanizam e mostram que não era alheio à influência das hormonas.

A canonização de JP 2 era capaz de deslustrar a imagem do papa Francisco, o papa que tanto pode prorrogar o prazo de validade da sua Igreja como tornar-se para o Vaticano o que Gorbatchov foi para a URSS.

As cartas que revelam “uma relação intensa” com Anna-Teresa Tymieniecka podem custar a João Paulo II a privação do alvará para obrar mais milagres e, depois de ter curado uma freira com doença de Parkinson, da qual ele próprio sofreu em vida, e lhe permitiu a beatificação, pode falhar o milagre que lhe falta para a canonização.

13 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

A decência pode esperar

Vaticano diz que bispos não têm que relatar abusos contra crianças

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Em meio ao surgimento de diversas denúncias envolvendo abusos contra crianças na Igreja Católica nos últimos anos, o Vaticano emitiu um documento que determina que bispos recém-nomeados não precisam “necessariamente” comunicar acusações de abuso infantil clerical às autoridades.

O texto, emitido recentemente pelo Vaticano, determina como os membros mais importantes do clero devem lidar com denúncias de abusos.

12 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

Bem observado

Por
Amadeu Homem· (Copiado do seu mural)
 EU SEMPRE DESCONFIEI QUE ESTE CHICO-PAPA ERA UM IMBECIL. SE ISTO É VERDADE, JÁ NÃO DESCONFIO : TENHO A CERTEZA !

No próximo dia 7 de Maio dois homens, em representação das duas maiores religiões do mundo, vão esmurrar-se mutuamente, em nome da paz.

Pode parecer uma notícia satírica ou uma brincadeira de Carnaval, mas não é. O Papa anunciou há dias que vai decorrer um combate de boxe entre um muçulmano e um católico, em Las Vegas, que conta com o apoio de Francisco.

A notícia surgiu na Radio Vaticano, no final de uma reportagem que anunciava a realização da segunda edição do jogo de futebol pela paz, que junta estrelas do mundo do futebol, representantes de vários países e religiões, com a intenção de mostrar que o desporto pode ser um local de concórdia.

“Em seguida, o Papa Francisco anunciou dois eventos muito especiais: a 7 de Maio uma luta de boxe entre um católico e um muçulmano em Las Vegas; a 29 de Maio o ‘jogo pela paz’ no Olímpico, em Roma”, lê-se na notícia.

Na mesma manhã em que o anúncio foi feito, Francisco recebeu em audiência o presidente do Conselho Mundial de Boxe, Mauricio Sulaiman Saldivar, do México.

Não foram anunciados os nomes dos lutadores deste peculiar evento.

A Igreja nunca condenou o boxe enquanto desporto e a ideia de usar desportos de combate para ultrapassar divisões culturais, étnicas ou religiosas não é nova.

A táctica está a ser usada actualmente na República Centro Africana, onde jovens muçulmanos e cristãos estreitam amizades convivendo nos ringues. O caso foi explorado pela France-Presse a quem o organizador, Roger Junior Loutomo, presidente da federação centro-africana de boxe, disse que o desporto “é um símbolo de paz! Quando dois boxeurs lutam, no final abraçam-se, independentemente de quem ganha. É essa a mensagem que queremos transmitir”.

É certamente essa a mensagem também que Francisco quer fazer passar com este combate nos Estados Unidos.

A CERTEZINHA ABSOLUTA ! GRANDE IMBECIL. ESTE LAMENTÁVEL CHICO !

7 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

Vaticano – sombras e pesadelos

Integrante britânico de comissão do Vaticano sobre abuso sexual deixa grupo
Reuters

CIDADE DO VATICANO (Reuters) – Um integrante britânico da comissão consultiva do Vaticano sobre abuso sexual, que tem sido um dos críticos mais veementes do Vaticano, deixou o grupo, disse neste sábado a instituição.

Um comunicado do Vaticano afirmou que numa reunião da comissão “foi decidido” que Peter Saunders se licenciaria. Saunders, ele próprio vítima de abuso sexual por um padre, não respondeu imediatamente a uma mensagem de telefone para que ele comentasse as circunstâncias da sua saída.

Foi dito que Sauders agora “consideraria como melhor apoiar o trabalho da comissão”.

16 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança

Um bispo troglodita

As mulheres são assassinadas porque pedem o divórcio, diz arcebispo espanhol

O líder da arquidiocese de Toledo responsabilizou as mulheres pela violência doméstica: elas são mortas porque os maridos “não aceitam as suas imposições” ou porque “pedem a separação”

LUÍS RIBEIRO

Jornalista

O sermão de Braulio Rodríguez, durante uma missa celebrada dois dias depois do Natal, na Catedral de Toledo, está a indignar Espanha – o arcebispo espanhol culpabilizou, em parte, as mulheres pelas agressões e homicídios, justificando as ações dos homens com a falta de submissão delas aos “varões”.

“A maior parte das mulheres mortas pelos seus maridos são-no porque eles não as aceitam, rejeitam-nas porque não aceitam as imposições delas; muitas vezes, a reação machista acontece porque ela pede a separação.”

Aproveitando a própria deixa, o sacerdote criticou as leis que permitem o “divórcio rápido” e acrescentou que o “problema sério” era o facto de não ter havido, nesses casos, um “verdadeiro casamento”, seja religioso, seja civil – mas, aparentemente, deixou de fora as uniões de facto ou concubinato.

“Quando digo que não há verdadeiro casamento não estou a pensar só no canónico, mas também no civil. Não estou a pensar noutro tipo de relações afetivas, onde praticamente a única coisa que há é o [lado] físico, genital e pouco mais.”

No sermão (citado originalmente pela publicação Padre Nuestro, da arquidiocese de Toledo, e pelo jornal regional Periódico Castillha-la-Mancha), o arcebispo garantia “também” estar preocupado com esses assassinatos, mas que não se deve considerar estes crimes “simplesmente violência de género”.

No ano passado, em Espanha, morreram 56 mulheres às mãos dos seus companheiros ou ex-companheiros; em Portugal, 28.

9 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança

O Vaticano e a liberdade

O Vaticano “acusou o Charlie Hebdo de não ser capaz de respeitar todos os crentes de todas as religiões”. Tem absoluta razão e o direito inalienável de exprimir a sua opinião. Não se pode negar-lhe a liberdade que as democracias reivindicam, mas teme-se que o Vaticano, se pudesse, o obrigaria a respeitar “todos os crentes de todas as religiões” ou, de preferência, os crentes da sua.

A coerência não é uma virtude teologal nem a liberdade uma epifania eclesiástica. Por que motivo há de alguém respeitar quem não respeita a vida dos outros, a igualdade de género e a liberdade individual? Que legitimidade têm as religiões para impor os seus dogmas, excentricidades e mitos de que se alimentam? Pode alguém, em seu perfeito juízo, pedir respeito por quem degola, lapida, aterroriza e impõe normas de conduta a quem despreza o deus que os homens da Idade do Bronze inventaram a partir das tribos de então e à semelhança dos seus patriarcas?

Não se deve apenas desacreditar as religiões mas procurar salvar todos os crentes dos seus venenos, através da instrução. Devemos aceitar a imposição do horror ao toucinho, a direção das micções, o ódio à música, a misoginia, a xenofobia e a vontade pia?

Quem se pode escarnecer e ofender? Os ateus, os livres-pensadores, os sátiros, o Diabo? E porque não os bombistas, os que se ciliciam, os que rezam o terço dentro ou fora de água, os que fazem retiros espirituais, apedrejam Satanás ou os distinguem a água benta da outra?

Em 2008, o patriarca Policarpo, um dos mais atilados bispos da Igreja católica, afirmou: “A maior tragédia do nosso tempo é o ateísmo”. Nem a guerra, a fome, as epidemias, os tsunamis ou os crimes religiosos lhe pareciam piores! Nesse mesmo ano, um cardeal português, Saraiva Martins, colocado no Vaticano, a rubricar milagres para a criação de beatos e santos, presidiu à peregrinação do 13 de maio, em Fátima, a maratona anual, sob o lema “Contra o Ateísmo” e não “a favor da conversão dos ateus”, com uma carga menos belicista e mais tolerável, embora de resultados igualmente duvidosos.

O horror que as religiões têm pelo ateísmo é o mesmo que os ateus têm pela superstição e pelas mentiras pias. Podemos detestar opções filosóficas alheias, o que não podemos é perseguir quem as perfilha. De um lado e do outro.

Pôr cornos ao Diabo ou meter-lhe um tridente nas garras é um exercício de imaginação igual ao de Jeová com uma bomba às costas. Deus não costuma importar-se com essas ninharias e depois de o terem acusado da criação do mundo, sem o qual ele próprio não teria sido criado, jamais fez prova de vida.

Se Deus estivesse inscrito no desemprego nunca teria recebido qualquer subsídio.

8 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança

O Vaticano respeita o Charlie Hebdo?

Vaticano acusa o jornal francês de não ser capaz de respeitar todos os crentes de todas as religiões.

O jornal francês Charlie Hebdo publicou esta quarta-feira, dia 6, uma nova edição do jornal para “comemorar” o primeiro aniversário do atentado que tirou a vida a muitas pessoas no ano passado. Logo depois da publicação da nova edição do jornal francês, um jornal do Vaticano acusa o Charlie Hebdo de não respeitar de forma nenhuma qualquer crente de qualquer religião.

7 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança

Deus e a liberdade

O Vaticano considerou desonesta a caricatura de ‘deus assassino’ na última edição do Charlie Hebdo, quando assinalou um ano em que o sangue dos seus desenhadores foi derramado em nome da fé e do biltre que a fundou.

O diário da teocracia católica, «L’Osservatore Romano», tem o direito de condenar a linha editorial do Charlie Hebdo, mas não pode exigir-lhe, em nome da vontade do clero romano, que expresse a condenação da violência em nome da fé. Quem não é obrigado a ler o jornal de compra facultativa, não tem o direito de lhe exigir normas de conduta.

A linha editorial dos jornais, satíricos ou sisudos, não pode nascer nas sacristias ou nas madrassas. O que o Vaticano exige é a censura a quem descrê do Deus do papa, do dos celerados islâmicos ou de qualquer outro.

O que está em causa é a liberdade de expressão, o direito de criticar e ridicularizar todas as doutrinas e mitos, do ateísmo à bruxaria, de Jeová a Shiva, do Boi Ápis a Maomé, no país onde «A República [Francesa] assegura a liberdade de consciência » e «garante o livre exercício dos cultos» (Art.º 1) mas «não reconhece, não remunera nem subvenciona nenhum culto» (art.º 2 ) da lei de 11 de Dezembro de 1905, texto que Pio X condenou e que João Paulo 2 e Bento 16 se esforçaram por remover.

As religiões dão-se mal com a liberdade, mesmo as que a repressão política ao seu clero submeteu à democracia. A abolição da inquisição, censura e conversões forçadas custou demasiado sangue. A cura da demência fascista islâmica custará rios de sangue e não é o respeito a facínoras medievais que impõe a liberdade de expressão.

Seria estulto que o Charlie Hebdo desse indicações sobre a liturgia da missa, tal como é para o Vaticano perorar sobre a forma como o semanário satírico deve exercer o direito à sátira, ao sarcasmo e à blasfémia.

Os jornais satíricos devem abster-se de dilatar a fé e as religiões de limitar a liberdade.