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Categoria: Superstição

8 de Agosto, 2015 Carlos Esperança

Aparições

Por

Frei Bento

Caríssimos irmãos em Cristo, de vez em quando, neste portal, vem à baila o assunto “aparições”. É um tema controverso, que desencadeia os mais díspares comentários, já que uns acreditam, outros assim-assim, e outros dizem que não acreditam, mas acabam por perguntar aos incrédulos “vossemecê é capaz de garantir que Nossa Senhora não apareceu?” para, logo a seguir, afirmarem que “a mãe de Cristo não anda por aí…” etc.

Posso garantir que, sim senhores, anda por aí. Mortos os apóstolos, Nossa Senhora, Mãe de Deus e Virgem Parideira, como boa mãe que é, decidiu carregar sobre os ombros a ingente tarefa de espalhar a Boa Nova, cujo farol fica ali em Matosinhos, e onde há um restaurante de se lhe tirar o chapéu, enquanto o Filho está a preparar a próxima vinda, prometida há uns tempos, já que, como todos não devemos ignorar, o fim está próximo.

Mas não era sobre estas aparições que eu queria falar, e sim das que ocorrem no nosso Convento, de há uns tempos a esta parte. A única e grande diferença entre as NOSSAS aparições e as que aparecem aqui em discussão, é que as nossas são verdadeiras, testemunhadas, provadas e comprovadas. Outra grande diferença, é que não ocorrem sempre ao mesmo dia, nem o vidente é sempre o mesmo. Com efeito, e numa deriva democrática que me surpreende positivamente, as aparições têm como “alvo”, chamemos-lhe assim, o irmão que estiver de serviço à portaria e que, como é bom de ver, não é sempre o mesmo, antes correndo todos os irmãos, numa rigorosa escala de serviço. O único que não faz serviço é o cabr… o nosso santo Abade, por razões compreensíveis, mas mesmo ele já teve uma visão que o deixou algo alucinado.

Ora, curiosamente, estas aparições começaram a ocorrer quando o irmão Luís Albuquerque, que tomou o nome de Frei Mário, começou a tratar das finanças conventuais, devido à desistência do Frei Vítor. Pois bem, pouco tempo depois, começaram as aparições: primeiro, apareceu o dono do armazém de farinha, a reclamar o pagamento de não sei quantos sacos; depois, apareceu um mestre-de-obras, a reclamar o pagamento de um restauro feito no tecto da capela-mor. E por aí fora, muitas mais aparições tiveram lugar.

Quanto à visão que o Abade teve, foi de uma astronómica factura da EDP, que ia dando o badagaio ao homem.
O Abade já berrou que quer as contas resolvidas até Outubro, o mais tardar, mas tenho dúvidas. Cá para mim, quem vier a seguir é que se vai f… quer dizer, é que vai ter de fechar a porta.

Saúde e merda, irmãos, que Deus não pode dar tudo.

Diário de uns Ateus – Frei Bento, recolhido no Convento, não tomou ainda conhecimento do novo AO mas, como é imaculada a sua escrita, tem direito a usar a mais próxima do Antigo Testamento.

17 de Junho, 2015 Carlos Esperança

As superstições digladiam-se

A Fé e a ciência perante as superstições religiosas

A Fé e a ciência perante as superstições religiosas – REUTERS

As crenças supersticiosas podem ir para além do campo intelectual sobretudo quando se trata de julgar os actos de feitiçaria e mágico-religiosos. Dessa experiencia não escapam intelectuais mesmo os do campo jurídico. Geralmente constata-se nos juristas africanos atitudes de fuga do julgamento dos ditos actos de feitiçaria e mágico-religiosos por motivos supersticiosos. O problema parte da falta de dados e de instrumentos legais e adequados para incriminar ou para incriminar os acusados.

31 de Maio, 2015 Carlos Esperança

As religiões e a lei de Murphy

Por

Paulo Franco

As leis de Murphy talvez não sejam para levar demasiado a sério mas são, sem dúvida, uma advertência séria para o que realmente pode correr mal.

As leis de Murphy são o paradigma da apologia do pessimismo, a hipérbole do derrotismo e do desalento face ao que pode vir a acontecer.

Se (de forma algo forçada, é certo) adaptarmos o “espírito” das leis de Murphy ao que de negativo as religiões têm dado à humanidade, poderíamos elaborar as seguintes premissas:

– Se alguém te mente uma vez, pode mentir-te muitas vezes.

– Se alguém te mente muitas vezes, pode mentir-te sempre.

As religiões já nos mentiram sobre a existência de infernos e purgatórios; será que não nos estão a mentir sobre a existência do Céu?

As religiões já nos mentiram sobre a existência de demónios e diabos: será que não estão a mentir sobre a existência de deuses?

As religiões já nos mentiram sobre a existência de anjos, bruxas e feiticeiras: será que não estão a mentir sobre a existência de pessoas ressuscitadas?

Mas, se com toda a força de vontade da resiliência humana, nos submetermos ao poder da Fé e acreditarmos que Céu, Deuses e Pessoas que ressuscitam realmente existem, podemos sempre admitir a hipótese de, afinal, inferno, purgatório, demónios, diabo, anjos, bruxas e feiticeiras serem também uma realidade no nosso mundo, mas aí teremos seriamente de nos interrogar:

Estaremos afinal de regresso à Idade Média?

Ou será que quem mente muitas vezes pode mentir sempre?

26 de Maio, 2015 Carlos Esperança

A cerimónia da bênção das pastas

Não há evidência estatística que prove que a bênção das pastas beneficie os benditos ou seja uma carta de recomendação para o primeiro emprego.

Não há ensaios duplo-cegos que provem a correlação positiva entre a fé e a preparação académica, entre a hóstia e o conhecimento científico, entre as orações e o domínio das sebentas.

Tirando o colorido fotográfico de um bispo paramentado a rigor e estudantes vestidos a imitar padres, não há nos borrifos de água benzida, arremessados a golpes de hissope, a mais leve suspeita de que a benta humidade conserve o coiro da pasta ou do próprio.

Há, todavia, no circo da fé, genuína alegria, uma absoluta demissão do sentido crítico, a força poderosa do «porque sim», que impele os estudantes para a missa a pedir a bênção da pasta e a prometer que vão espalhar a felicidade.

Vão ao confessionário falar dos «pecados» em que reincidirão, começam na eucaristia e continuam na cerveja, despacham umas ave-marias e mergulham na estúrdia de oito dias de todos os excessos.

Deus é um aperitivo amargo que a tradição manda, a festa é o ritual que o corpo e os sentidos exigem. O bispo leva Deus para o Paço episcopal enquanto os estudantes vão fazer a digestão da hóstia em hectolitros de cerveja ou acabar no banco do Hospital em coma – uma espécie de êxtase místico induzido por excesso alcoólico.

Até à data não há registo de qualquer lavagem gástrica por excesso de hóstias. Talvez a eucaristia tenha lugar no início dos festejos porque, no fim, não há estômago que ainda aguente.

No fim do curso, os alunos começam a festeja-lo, de joelhos e, com a falta de emprego, acabam de rastos.

4 de Maio, 2015 Carlos Esperança

O sufixo «logos»

Logos, “razão”/”pensamento”, é o sufixo que designa cientistas enquanto logia significa “amor ao estudo, à instrução”, designando as respetivas ciências: fisiologia, cosmologia, biologia, etc., caracterizadas pelo método e objeto. Excetuam-se a astrologia e a teologia,  apropriadas por charlatães.

Os cientistas que estudam os astros tiveram de criar a «astronomia», apropriada que estava por pantomineiros a “astrologia”.

Quanto à teologia, “ciência” que estuda os seres imaginários que povoam a fantasia dos clérigos e o medo dos crentes, não se lhe conhece método ou objeto, sem prejuízo de os reivindicarem os que fazem do exoterismo uma profissão e da sua divulgação a fonte de proventos.

Os astrólogos, clérigos, quiromantes, bruxos, cartomantes e oficiais de outros ofícios correlativos conhecem sucesso em épocas de crise.

Vêm aí tempos em que o livre-pensamento dará lugar a fenómenos exacerbados de fé.

13 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

A Irmã Lúcia e o Quincas – no 10.º aniversário do passamento da primeira

A Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, Lúcia para os amigos, íntima da Senhora de Fátima, morreu carregada de anos e de visões a 13 de fevereiro de 2005.

Em 19 de fevereiro de 2006 foi trasladada para a Basílica de Fátima onde foi sepultada junto dos primos, Francisco e Jacinta, adiantados no processo de santidade devido à precocidade na defunção. Chovia. As bátegas não pararam de fustigar os peregrinos. As novenas dos padres não conseguiram que S. Pedro contrariasse a meteorologia.

Não foi a inutilidade das rezas ou a ausência de Deus que dissuadiu os crentes, alagados de fé e chuva até aos ossos, de estarem presentes na segunda edição do funeral de Lúcia.
Não houve na repetição das exéquias fúnebres a saudade genuína das prostitutas de S. Salvador da Baía a passearem o cadáver do Quincas Berro D’Água, nas ruas em cujos botequins devorou cachaça com a mesma sofreguidão com que as beatas chupavam hóstias.

A freira, a quem o terrorismo religioso do catecismo induziu alucinações, nunca terá um Jorge Amado que a celebre em «A morte e a morte da Irmã Lúcia, vidente».

O Quincas, quando devorou, de um só trago, água em vez de cachaça, deu tal berro que passou a ser carinhosamente tratado por «Berrinho» e fez-se personagem de romance. Lúcia comungava por hábito e obrigação pia, mantinha olhos vagos e a postura de quem vive morta por dentro envergando como mortalha o hábito.

Quincas é o delicioso personagem que diverte e comove o leitor de «A morte e a morte de Quincas Berro D’Água», marginal que viveu a vida, pecador que amou e foi amado.
Lúcia é o exemplo trágico de criança pobre, fanatizada com orações e amedrontada pelo Inferno, que sonhou virgens nas azinheiras, cambalhotas do Sol no caminho das cabras, profecias de conversão da Rússia e churrascos de almas para absentistas da missa.

A criança amestrada com pios embustes sobre o divino tornou-se cadáver de estimação, acolitada pela força pública, a viajar com padres, bispos, freiras e romeiros, num cenário com quatro missas, orações pias e um futuro promissor de oferendas de gente aflita.

Não foi o final da história de uma encarcerada de Deus, foi o início da caminhada para a santidade, à espera de milagres e oferendas que hão de alimentar funcionários de Deus e manter Fátima como uma das mais lucrativas sucursais do Vaticano.

A fraude não acabou, começou um novo ciclo. Faz hoje 10 anos que iniciou a etapa da santidade.

5 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

A bruxaria – há 530 anos (efeméride)

Vale a pena ler o excelente livro de Carl Sagan, «O Mundo Infestado pelos Demónios», e penetrar nas superstições que ainda alimentam o negócio dos exorcismos cujo alvará era conferido com o sacramento da Ordem a todos os padres católicos e, agora, é apenas concedido, a alguns, pelo bispo da diocese respetiva.

Os avanços médicos, em especial da psiquiatria, a melhoria das condições alimentares e a secularização da sociedade reduziram o número de demónios e erradicaram as bruxas, mas ainda há demónios bastantes para nutrir o imaginário mórbido de alguns devotos.

Em 1484, em 5 de dezembro, o Papa Inocêncio VIII emitiu uma bula papal a condenar a bruxaria que, como qualquer crente sabia, era exclusivo feminino de pacto com o Diabo. Mais tarde enviou inquisidores à Alemanha para julgar bruxas e iniciar a perseguição de Giovanni Pico della Mirandola, expoente do platonismo renascentista, condenado por heresia e excomungado, valendo-lhe a França, onde se refugiara, a fuga ao churrasco.

Morreria pouco depois, aos 31 anos, de morte natural, o erudito a cuja filosofia influiu em Leonardo da Vinci e Michelangelo, tendo-os elevado de meros artesãos medievais, que podiam ter sido, ao ideal renascentista de artistas que os transformou em génios.

Hoje os cruzamentos de caminhos rurais, então locais de estacionamento de vassouras, meio de transporte das bruxas, estão abandonados ou destinados a nichos em honra de santos de pouca virtude ou à repetida imagem da Sr.ª de Fátima com os três pastorinhos que aguardam pedidos de milagres para progredirem na carreira da santidade.

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8 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

Bruxaria, exorcismos e chalados perigosos

No catolicismo vão longe os tempos em que as bruxas eram cotejadas com uma bíblia gigante e que, dada a insustentável leveza, um peso menor era o diagnóstico diferencial que provava a sua qualidade.

Santos doutores e papas, que não eram ainda infalíveis, acreditavam na sua existência e na incineração como terapia inquisitorial. Mulheres magras, por fome ou constituição, acabaram no churrasco pio por serem mais leves do que a bíblia que servia de bitola. A bruxaria era apanágio feminino que alimentava fogueiras e medos coletivos.

Aproveitavam a calada da noite para os conciliábulos e a vassoura para transporte até às encruzilhadas dos caminhos onde afluíam fantasmas e se rogavam pragas. Era aí que a tradição judaico-cristã domiciliava a origem das desgraças que semeavam o pânico na população e a loucura nos inquisidores.

Faleceram há muito Jaime I e Inocêncio VIII. O rei inglês mandava pagar prémios, em dinheiro, a delatores de suspeitos de bruxaria e o papa mandava inquisidores a descobrir e eliminar bruxas, incumbência que desempenhavam com denodo.

Dessa época só restam demónios, mais para manter postos de trabalho aos exorcistas do que por convicção. O padre Gabriel Amorth, exorcista oficial do Vaticano, desde 1986, obteve do papa Francisco o reconhecimento da Associação Internacional de Exorcistas, com profissionais calejados em pelejas contra o demo. Com 89 anos ainda exerce.

Agora é o Estado Islâmico, com predileção por decapitações, que se dedica a eliminar pessoas por serem «infiéis, ateus e praticarem bruxaria». Em Mossul, norte do Iraque, decapitaram em público, numa praça central, sete pessoas acusadas dos 3 crimes.

O cronista desta página, irrevogavelmente infiel e ateu, só não se dedica à bruxaria, e se não for torturado, altura em que atestará a bondade dos cinco pilares desses chalados.

Como detesto ser decapitado, execro o furor pio de que esses dementes estão possessos, aceitando, neste caso, que qualquer país os exorcize. É urgente e um ato de clemência.