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Categoria: Religiões

13 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

A fé, a esmola e o poder do clero

O Islão, o mais implacável dos monoteísmos, insiste no 3.º pilar, “Zakat”, a obrigação de dar esmolas aos pobres, devendo cada muçulmano dar 2,5% dos seus rendimentos, se os tiver. Não é novidade do Islão, é herança judaico-cristã acolhida na cópia medíocre do cristianismo feita pelo arcanjo Gabriel, que voou junto a Maomé, entre Medina e Meca, em numerosas viagens, durante 20 anos, até o obrigar a decorar o que viria a ser o Corão, enquanto conduzia camelos. Que seria das religiões sem pobrezinhos?

Não tenho aversão à esmola, tanto mais que tenho estado do lado de quem a pode dar e não do de quem é obrigado a solicitá-la, mas não tenho ilusões sobre o facto de se tornar a indústria de quem a administra, para evitar a luta de quem a recebe, e um instrumento para a conquista do poder.

Os Irmãos Muçulmanos estão na origem da sobrevivência de multidões onde a religião não deixa florescer um Estado laico, justo e solidário. Depositários da verdade única, tal como as duas religiões que copiaram de forma primária, resolvem as carências básicas na educação, saúde e alimentação. A liberdade, o álcool e o toucinho é-lhes vedado, mas o martírio, o Paraíso e o tapete para as cinco orações diárias ficam garantidos, enquanto as esmolas e o Corão impedem a modernidade.

Em Portugal, enquanto o Governo, com fortes motivações ideológicas, vai reduzindo o povo à miséria, não falta com o cheque às escolas privadas, pondo em xeque as públicas e a igualdade de acesso à educação. No que diz respeito à saúde e à assistência está em curso a transferência para privados, sobretudo IPSSs, com dinheiros públicos e gestão das Misericórdias. Os Irmãos Católicos, sem necessidade de recorrerem aos suicídios, até porque lhes falta o estímulo das 72 virgens e dos rios de mel doce, vão ocupando o espaço público, com fortes ajudas estatais, generosas doações pias e benefícios fiscais.

Em breve. não será possível encontrar um lar de idosos, um centro de reabilitação com internamento ou um hospital, que não tenha uma pia de água benta, à entrada de um doente, e um turíbulo a queimar incenso à saída do defunto.

Aposto duplo contra singelo que o Hospital de Santo António, no Porto, não tarda a cair nas mãos da Misericórdia, a grande proprietária imobiliária do país. Depois será fácil ao prestigiado Instituto Abel Salazar, mudar o nome honrado para o de um santo qualquer, e transformar-se na ambicionada Faculdade de Medicina da Igreja.

Por todo o País, enquanto se destrói o SNS, à sorrelfa, espreitam as Misericórdias, os Melos e o Espírito Santo, o do banco. Os velhos, doentes e pobres serão a mercadoria que dará dinheiro ou garantirá indulgências.

Espero que os nossos netos respeitem e amem o Afonso Costa que um novo ciclo há de gerar.

Apostila: Os Irmãos Católicos chamam-se Irmãos Mesários.

10 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_09_12_2013

João César das Neves (JCN) dedica a habitual homilia de segunda, no DN, ao ‘Emprego e dignidade’, sem abdicar das tolices que lhe afiançariam um Nobel, se acaso o prémio as distinguisse.

Da escola do Sr. Jacques de la Palice trouxe esta máxima de grande recorte e erudição: “é a ociosidade que paralisa a economia” e acrescenta, na sua meditação profunda, que “Idosos, estudantes, crianças, donas-de-casa, artistas, políticos, sindicalistas, sacerdotes, têm funções decisivas, apesar de não terem emprego”. E lamenta que “Num tempo economicista, que liga personalidade à produção”, percam dignidade, sendo “caso gritante, o trabalho doméstico”, sem que as pessoas vejam que “O lar, um valor humano supremo, agora é desprezado”.

Referindo-se à família, assunto recorrente, onde seria uma autoridade no Concílio de Trento, lamenta que “muitas pessoas, em geral mulheres, se queixam de terem um ‘emprego não remunerado’ em casa, sem ver isso como muito mais digno e valioso do que trabalho” [sic].

Corroborando JCN, é preciso que as mulheres sejam muito estúpidas para não verem que um emprego não remunerado, em casa, é muito mais digno e valioso do que um emprego rentável que, embora menos digno, deve ser exclusivo do género masculino.

Sobre o ensino, limito-me a transcrever JCN, com a certeza de que qualquer comentário ofuscaria o brilho do seu cristalino pensamento: “Também o ensino está mal calibrado. (…) Mas muitos jovens perdem tempo na escola, aprendendo coisas inúteis para o seu futuro, em nome de cânones educativos abstratos”. E, quiçá, comprometem a salvação!

Gastar dinheiro com os filhos dos pobres, que podem ter um emprego muito mais digno e valioso a carregar baldes de cimento do que a frequentar uma universidade, é um mero preconceito subversivo que corrompe as almas simples e confunde a ordem divina que criou ricos e pobres.

JCN não se limita à produção teórica e ao ensino do catecismo económico na Madraça de Palma de Cima, também conhecida por Universidade Católica. JCN faz um programa para “rever certezas e ideologias que décadas de propaganda nos gravaram na mente”:

– «É preciso subir a idade de reforma e conceber processos educativos mais curtos, dirigidos e eficazes.

– Promover e dignificar o voluntariado, trabalho doméstico e outras atividades informais e virtuais (…) que a cultura obsoleta menospreza”.

E, arrasador, conclui: “Estas mudanças ajudariam até o pior problema nacional a que, por isso mesmo, ninguém liga: a decadência familiar e colapso da fertilidade”.

JCN, o último católico medieval, devia ser considerado património da Humanidade.

10 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

Um decote onde não cabe o Corão

Decote da apresentadora do sorteio do Mundial 2014 interrompe transmissão no Irão

Decote da apresentadora do sorteio do Mundial 2014 interrompe transmissão no Irão

A transmissão do sorteio do Mundial 2014, na passada sexta-feira, foi interrompida no Irão devido ao decote e ao vestido curto da apresentadora brasileira Fernanda Lima.

9 de Dezembro, 2013 David Ferreira

Jurisprudência islâmica

O India Today, uma publicação semanal indiana, divulgou em 28 de novembro a compilação de algumas das mais puritanas fatwa islâmicas emitidas no Egipto durante a presidência do deposto líder Mohamed Morsi, uma listagem de verdadeiros atentados à dignidade humana a que a radicalização islâmica infelizmente nos vai acostumando.

Durante o curto mandato presidencial de Morsi, a Irmandade Muçulmana, uma organização fundamentalista que pretende estabelecer a sharia rejeitando o islamismo mais moderado, assim como alguns grupos igualmente violentos e fanáticos de salafistas, emitiram regularmente aguerridas fatwa contra as mulheres. Uma das que sobressai, indiscutivelmente, é a que refere que, uma vez que o género do vocábulo “mar” em árabe é masculino, se e quando a água do mar entrar em contato com a região pélvica da mulher, esta estará a cometer literalmente adultério, pelo que deverá ser punida. Nunca será demais realçar que, de acordo com a sharia, o corpo da lei religiosa islâmica, a pena padrão imposta a uma mulher por adultério é a lapidação, uma das formas de execução de condenados mais bárbara que a humanidade já concebeu.

De acordo com o relatório, as fatwa emitidas por ambos os grupos radicais referiam as mulheres como estranhas criaturas, criadas apenas para o sexo. Consideravam as vozes das mulheres, o seu aspeto e a sua presença fora de casa como ofensivas, algumas ao ponto de considerarem a própria condição de mulher como uma ofensa.

Algumas das fatwa emitidas oficialmente incluíam:

– A proibição de a mulher comer determinados vegetais ou, inclusive, de tocar em pepinos e bananas, uma vez que o seu formato fálico lhes poderia despertar inconvenientes desejos sexuais;

– A ordem para as mulheres desligarem os sistemas de ar condicionado de suas casas na ausência dos maridos, uma vez que mantê-los ligados poderia indicar a um qualquer vizinho que estas se encontrariam sozinhas em casa, pelo que qualquer um deles poderia ser acometido do desejo de cometer adultério;

– O dever de casar após atingirem a provecta idade de dez anos, como forma de prevenir o desvio do “caminho certo”;

– A anulação do matrimónio se um casal for apanhado a praticar o coito em nudez integral;

– A autorização para o uso de mulheres como escudos humanos em períodos de confrontação violenta;

– A destruição das pirâmides e da esfinge, por serem imagens pagãs;

– A sanção da execução de todos os que se manifestassem contra o então presidente Mohamed Morsi;

– A proibição de cumprimentar cristãos a qualquer cidadão muçulmano.

Recordo o discurso do presidente norte-americano Barack Obama proferido durante a 67ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, onde referiu que o futuro não deve pertencer aos que difamam o profeta do Islão mas que, para se ser credível, também não deverá pertencer aos que assistem à profanação das imagens da figura de Jesus cristo sem condenar igualmente tal prática. Percebe-se a diplomacia e vislumbra-se o corretivo. Mas não podemos senão lamentar que em pleno séc. XXI figuras tão proeminentes da nossa sociedade se vejam obrigadas a ter que moderar publicamente comportamentos repugnantes por parte de organizações radicais cuja mundividência está tão afastada dos mais básicos direitos humanos como a sonda Voyager 1 do planeta Terra. E tudo graças a esse potente veneno esotérico que pode ser a religião quando a alienados paladinos da fé, tenha ela a proveniência que tiver, é reconhecido o direito de eternizarem crenças de sistemas culturais primitivos que, ungidos de um cunho divino socioculturalmente aceite, impõem a obrigatoriedade moral de um respeito muitas vezes imerecido, ao mesmo tempo que repelem a crítica demasiadas vezes manietada.

O Islão fundamentalista avança, como outrora avançou o cristianismo mais escorbútico. A princípio dissimulado, impudente logo que o consiga. Nem todo o Islão é radical, dirão uns. Sabemo-lo. Mas o futuro não pode pertencer a quem cobardemente o tolera com receio de ferir um segmento das suas próprias convicções.