3 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança
A ICAR e a política
Homenagem a Humberto Delgado
A viúva de Humberto Delgado, Maria Iva Delgado, faleceu ontem, com 105 anos.
Homenagem a Humberto Delgado
A viúva de Humberto Delgado, Maria Iva Delgado, faleceu ontem, com 105 anos.
A Junta de Freguesia de santo António dos Olivais, em Coimbra, tem este painel na parede. A igreja de Santo António, no outro largo, devia ter uma parede reservada aos vultos da República. O bispo não deixa.
Deus criou o Mundo e não consta que, depois disso, tenha feito algo mais. Não fez obra asseada nem mostrou regular bem da cabeça, mas não faltam voluntários a enaltecer a obra nem candidatos a testamenteiros da vontade divina.
Quem se julga feito à imagem e semelhança de Deus tem direito a essas e outras tolices. Mas não tem o direito de impor a vontade à força, de converter incréus pela violência, de purificar os pecadores pelo fogo, com lapidações e outras formas de pedagogia ativa de que as religiões gostam.
O clero é uma classe parasitária que vive da venda de uma mercadoria cuja existência não pode provar, que exerce poder e influência graças a truques de utilidade duvidosa, que promete o Paraíso a preços insuportáveis com o alibi de que tem o monopólio da verdade e o alvará da única agência de transportes. O que me surpreende é a clientela que mantém, a fidelidade dos fregueses e a sua dedicação.
Em 2005, o Grande Oriente Lusitano – Maçonaria Portuguesa entregou na Torre do Tombo um dossiê de 121 folhas, em papel almaço dactilografado, com agentes daquela organização fascista que recolhia informações sobre os democratas. Ora, na cáfila de delatores e gente de mau porte, havia duas páginas de párocos. Acontecia, aliás, o mesmo na PIDE onde piedosos bufos de sotaina denunciavam democratas antes ou depois da confissão.
Como cidadão lamento que os esbirros não tenham sido julgados e os crimes da PIDE e da Legião Portuguesa tenham ficado impunes mas, como ateu, – e é isso que interessa aqui –, fico perplexo com a boa fé dos crentes que se genufletem aos pés de primatas tão abjetos. Sempre me nauseou a bajulação de quem é capaz de beijar a mão de um padre, a fragilidade de quem é capaz de confessar atos cuja indignidade uma reta consciência devia impedir de cometer.
Claro que não são todos. Pudera! Mas alguém duvida da poderosa arma que constitui a confissão e das numerosas vezes que foi, é e será usada para benefício da santa máfia que se dedica aos negócios de Deus e à conquista metódica e persistente do poder?
Comemorou-se em 2005, em França, o centenário da separação do Estado e da Igreja. Esta, sem a laicidade comportar-se-ia em Portugal de forma diferente do que em Timor? Em Espanha a ICAR respeita a legalidade democrática?
Já repararam como regridem em Espanha as leis sobre a família depois de o Opus Dei ter infiltrado o atual Governo do PP?
João César das Neves (JCN), saprófita do episcopado, funâmbulo do Vaticano e devoto contumaz de todos os pontífices, andou desorientado com o atual, sem saber se o devia adular na homilia de segunda, no DN.
Saído de longa confissão, com joelhos doridos e síndrome de privação da hóstia, teve de cumprir a expiação adrede decidida pelo confessor – dizer bem de Francisco –, dar o seu testemunho de regozijo pela escolha do Espírito Santo, o da Trindade, e mostrar o júbilo público, para evangelizar réprobos, sem aliviar o cilício.
No exórdio da homilia que lhe serve de refrigério – “O furacão Bergoglio” –, afirma que “Todos gostam do Papa Francisco”, que, com ele, aconteceu “uma lufada de ar fresco, não só na Igreja mas em todo o mundo”, distraído de que há mais Igrejas e mais mundo, além do romano, e que no Iémen ou na Arábia Saudita nem uma brisa soprou.
JCN está para a penitência como o Governo para a troika, quer ir sempre além. Por isso, criou este mimo de retórica para a antologia da parenética: “A novidade foi inesperada, apesar de acontecer repetidamente nos pontificados anteriores». Não referiu antipapas, não evocou os Bórgias, mas até Pio IX citou, o papa mais reacionário do século XIX, o criador dos dogmas da Imaculada e da Infalibilidade.
JCN disse ainda que “Bento XVI se revelou caloroso, mediático, comovente” e que com Francisco a lufada de ar fresco se tornou um furacão. “Neste caso, é mesmo justificada a paixão e o encanto (como nos casos anteriores)” [sic]. As piruetas a que é obrigado para cumprir a expiação! E vai avisando que “O consenso à sua volta [do Papa] sofre de um cisma fundamental, ainda oculto”.
Vê-se que teme discordâncias com o ultraliberalismo da madraça da Palma de Cima, em Lisboa, onde leciona. Teme “que o fascínio inicial se venha a transformar em críticas, zangas e perseguições dos que apoiaram o novo Papa sem ser realmente suas ovelhas”.
E, sábio, adverte que “o maior equívoco está em achar a Igreja obsoleta…”. “A Igreja sempre precisa de reforma, por estar abaixo do ideal transcendente. Mas essa reforma é feita com os olhos no Céu, não nas conveniências do momento. A sua missão é converter o mundo, não ser aceite por ele”.
JCN cumpriu a penitência mas vê-se que se assusta com os ventos e teme a pneumonia.
Naquele tempo o arcanjo Gabriel era o alcoviteiro celeste. Foi ele que anunciou a Maria a gravidez o que qualquer mulher teria notado. Foi ainda ele que, seis séculos depois, se encontrou com Maomé para lhe dizer qual era a sua missão.
Os anjos viviam muito tempo embora poucos conhecessem a notoriedade, levando uma existência discreta e anódina. Gabriel distinguiu-se. Fora criado por judeus, que faziam anjos como os papas fazem santos, que acreditavam em milagres com a mesma fé com que alguns padres acreditam na existência de Deus.
Maomé nasceu em Meca durante o ano de 571 e viria a morrer em Medina em 632. O Corão e as agências de turismo pio fizeram santas as duas cidades e há períodos do ano em que uma chusma de fanáticos aí acorre, apesar dos perigos que os espreitam.
Muito parecidas com as largadas de touros, um espetáculo ainda em uso no concelho do Sabugal e noutras localidades portuguesas, as peregrinações têm perigos idênticos. O apedrejamento ao Diabo, um ódio transmitido de geração em geração, salda-se sempre por várias mortes enquanto o Diabo fica incólume, à espera do próximo apedrejamento.
Maomé teve uma vida pouco recomendável, um casamento com uma menina de seis anos, coisa que a Igreja católica também não via com maus olhos, e um casamento com a rica viúva Cadija cuja fortuna lhe permitiu dedicar-se à guerra, à religião e ao plágio grosseiro do cristianismo.
Depois aconteceu-lhe o mesmo que a Cristo. Começou a ser adorado, correu o boato de que tinha nascido circuncidado, de que tinha ouvido Deus, de que foi para o Paraíso em corpo e alma, enfim, aquele conjunto de coisas idiotas que se atribuem aos profetas.
Hoje já ninguém pergunta se tomavam banho, se sofreram prisão de ventre ou foram vítimas das salmonelas, se urinavam virados para Meca ou para o Vaticano, que hábitos sexuais ou manifestações de lascívia tinham.
Cristo e Maomé tornaram-se defuntos adorados e os incréus cadáveres apetecidos.
Por
A Turquia vive momentos de grande instabilidade política que estão longe de serem resolvidos por uma ampla e precipitada remodelação governamental.
A ruptura entre o partido de Erdogan (AKP) um formação política híbrida (conservadora e religiosa) e o eclético ‘movimento Gülen’ (religioso, assistencialista e empresarial) é, na verdade, o problema político fundamental que se arrasta desde o último Verão e está longe de qualquer (re)solução. Sem esta ‘conjugação’ de esforços e de estratégias os obscuros – mas primordiais – objectivos do actual governo turco dirigido por Erdogan, i. e., a islamização do País e a neutralização dos ‘árbitros da laicidade’ (Exército e o poder judicial), herdeiros da concepção da ‘nova República Turca’, imposta por Ataturk, estão seriamente comprometidos.
Muitos analistas consideram que o actual Governo dificilmente conseguirá sobreviver, politicamente, sem o oculto mas decisivo apoio de Gülen, nomeadamente no campo financeiro. E o paradoxal, em termos do que estará efectivamente em disputa, é que quer Recep Tayyip Erdogan quer Fethullah Gülen, ambos reivindicam pertencer a um mítico e enganador ‘islamismo moderado’, tentando disfarçar sob esta ambiguidade as suas (de ambos) vocações totalitárias que, como a História recente nos mostra, conduzem necessariamente a uma teocracia. Se quisermos fazer uma comparação caricatural poderíamos considerar que as actuais guerras intestinas na Turquia são uma tosca reprodução dos conhecidos diferendos e lutas pelo protagonismo e influência dentro do Vaticano que, desde há largas dezenas de anos, assistimos no Ocidente (p. exº. entre os jesuítas e a Opus Dei).
As Forças Armadas, ainda não totalmente recompostas da célebre ‘depuração Ergenekon’, mantêm uma atitude prudente e expectante já que as contradições internas abundam por terem estas instituições terem sido objecto de paulatinas infiltrações (pelo movimento Gülen e pelo AKP).
A ‘sagrada aliança’ entre o AKP e o movimento Gülen que até aqui serviu para purgar as altas chefias militares e os Tribunais, iniciando deste modo uma subreptícia ‘deriva islâmica’ está, ao que tudo indica, momentaneamente (irremediavelmente?) desfeita, o que deixa muitos ‘fantasmas à solta’.
Todavia, os ajustes de contas, em curso, não ocorrem à volta de uma corrupção disseminada que atinge os mais altos escalões do Estado mas também passa por uma linha divisória entre forças islamitas em confronto tendo como pólos visíveis o AKP e o movimento Gülen e uma sucessão de eleições que se avizinham. Há também a nítida percepção de que existem contas antigas para saldar que envolvem vários protagonistas entre eles o Exército e o Poder Judicial.
Para já, o fiel da balança vive longe de Istambul ou de Ankara. Está sedeado nos EUA, num pacato ambiente rural da Pensilvânia e, aparentemente, ‘só’ manifesta interesse em questões educativas e à prática de actos caritativos. É um auto-exilado chefe religioso enigmático com vastas ambições políticas e chama-se Fethullah Gülen (na imagem). É, neste momento, a chave da ‘questão turca’.
La ley del aborto promovida por Alberto Ruiz-Gallardón empezó ayer a sumar voces críticas dentro de su propio partido. Varios altos cargos del Partido Popular expresaron a lo largo del día su discordancia con una ley que permitirá el aborto solo en dos supuestos (violación y daño físico o psíquico para la madre) y añade nuevas exigencias, en una regresión del derecho de la mujer a decidir una interrupción del embarazo que había quedado consolidado en la ley socialista de 2010.
La delegada del Gobierno en Madrid y figura emergente dentro del PP, Cristina Cifuentes, se declaró partidaria de la ley de plazos (la que está en vigor), aunque anunció que acata la voluntad de su partido. Borja Sémper, portavoz en el Parlamento vasco, expresó sus discrepancias con algunos aspectos y pidió a su formación que permita a los diputados votar “en conciencia”. “Los partidos no deben ser sectas”, aseguró. El alcalde de Valladolid, el ginecólogo Francisco Javier León de la Riva, criticó la exclusión de ciertas malformaciones de los supuestos. Y el Gobierno de Castilla y León defendió que se “matice y mejore” la reforma legal. (El País)
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.