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Categoria: Religiões

17 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Os casais homossexuais e a adoção de crianças

Confesso que um psicólogo pode mudar a minha opinião e que não tenho sobre o tema ideias definitivas. Quanto ao casamento entre indivíduos do mesmo sexo não tenho nem tive dúvidas. Respeito a orientação sexual de quem quer que seja.

Não entendo, nesta desvairada tática política, nas traquinices partidárias, os objetivos de um referendo e a negação da legitimidade representativa da A.R. e da liberdade de voto dos deputados em matéria que põe em causa problemas de consciência.

A estranha conceção de família e as alusões à mais retrógrada ideologia clerical-fascista estão longe de me convencerem. Não sei se é útil para as crianças trocarem o abandono pela companhia de um casal gay, se é preferível uma família verdadeira de um agressor alcoólico e de uma mulher sofrida, ambos desejosos de enjeitar a criança, ou confiá-la a um casal homossexual que a deseja, passando pelo crivo de psicólogos, assistentes sociais e, finalmente, pela decisão de um juiz.

O que sei, de ciência certa, é que há homossexuais com filhos próprios ou adotados e que são educados pelo casal legalmente constituído. Nada impede um homossexual ou uma lésbica de adotar uma criança mas, se vier casar, como a lei permite, a criança não pode partilhar legalmente o património afetivo e/ou habilitar-se à herança de ambo/as.

Parece haver uma dose de hipocrisia que joga com as crianças para fins eleitorais e com os preconceitos para envenenar ainda mais a atmosfera política.

17 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

O medo é a mãe das religiões

A religião nasceu do medo do desconhecido e da ignorância da ciência. Os homens criaram Deus à sua imagem e semelhança na infância de tempos cruéis e de práticas bárbaras.

Assim, Deus é o reflexo do pior que os homens sonharam, com uma esperança de vida reduzida e a sobrevivência diariamente comprometida. O Deus monoteísta, vingativo e apocalíptico, é uma elaboração a partir do medo e da incapacidade de explicar o mundo.

O homem fez-se escravo do mito e confundiu o criador e a criatura, a danação própria e a perversão divina, a violência atávica e o furor celeste. Depois, à medida que domou os animais ferozes, domesticou Deus e entregou a trela aos clérigos.

O que se passa hoje é um exercício parecido com o dos treinadores de cães de guerra. Os padres açulam Deus às canelas dos ímpios e ameaçam com ele os crentes, tal como os polícias de choque fazem com pastores alemães aos recalcitrantes que se manifestam contra a ordem estabelecida ou os exércitos com os inimigos que se aproximam.

A única diferença, e não é pequena, é que em democracia pode existir legitimidade na repressão, mas em questões de fé só existe a demência cega de quem não concorda com a mudança nem admite dúvidas ou críticas sobre a tradição.

O crente é a vítima que teme que os padres lhe larguem Deus e lhe ferre o cachaço se não pagar o dízimo, rezar as orações e cumprir os mandamentos. E não basta esfolar os joelhos e arriscar a cólera clerical, se não fizer tudo como Deus manda tem a eternidade como horizonte temporal do sofrimento.

Os ateus, apóstatas e crentes da concorrência têm o cutelo para a degola, a pedra para a lapidação e o chicote para a correção das imperfeições da fé. Basta que a fé dominante detenha o poder e solte os clérigos. Até as fogueiras voltam se a teocracia romana voltar.

No circo da religião maltratam-se pessoas por vontade divina mas, por tradição e desejo de profetas, são as mulheres as vítimas prediletas. Decorrem séculos e Deus mantém-se vivo nas alfurjas das sacristias onde germina o ódio e se conserva o espírito misógino.

13 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_13_01-2014

João César das Neves (JCN) não pode emprestar às homilias semanais, as culminâncias estilistas e o enlevo formal a que o maior paladino da língua portuguesa elevava os seus sermões – o padre António Vieira –, mas, como ele, também as batiza com o título com que julga passar à posteridade e, sobretudo, ganhar a bem-aventurança eterna.

A homilia de hoje (DN) chama-se “A dignidade permanece». O conteúdo recorrente é o aborto, a obsessão semelhante ao pânico de quem teme, sobre si, a retroatividade da lei.

JCN diz que o aborto nunca desaparecerá, embora pareça desconhecer a espontaneidade e o drama que atinge quem desesperadamente procura um filho, sendo, nesse caso, mera vontade do Deus do pregador.

Para o missionário, estamos «numa época promíscua e lasciva» em que a violação dos direitos humanos explode contraditoriamente na legislação familiar. Dá como exemplo dessa contradição, os EUA, «a sociedade mais aberta e dinâmica, [onde] o impasse dos embates entre “pró-vida” e “pró-escolha” se manifestam há muito».

Para JCN, onde se adivinha a coexistência entre felicidade do tartufo e o sofrimento do devoto, «a rejeição do relatório extremista de Edite Estrela pelo Parlamento Europeu a 11 de Dezembro e as discussões à volta da proposta de nova lei espanhola, apresentada a 20 de Dezembro, quebram o mito de solução pacífica deste lado do Atlântico», o que faz adivinhar a sanha com que JCN acalenta a regressão das leis da família. Quando o exaltado Irmão Católico diz que foi rejeitado o relatório “extremista” de Edite Estrela, pelo PE, diz parte da verdade. A decisão ficou ao critério de cada Estado membro com prejuízo para a saúde das mulheres pobres dos países vítimas do poder clerical.

«O respeitado semanário Expresso, num dos textos recentes que mais manchou a sua reputação de isenção e dignidade, tratou a questão desta forma: “Regresso ao passado. Rajoy cede à ala clerical e ultradireitista do PP com a revisão da lei do aborto que constitui um retrocesso de 30 anos na regulação de um direito adquirido pelas mulheres espanholas e gera um coro de críticas internacionais” (28/12/2013, p. 27).» – diz JCN.

Em apoteose mística escreve: «Como a identidade dos escravos e proletários, como a fé dos mártires e perseguidos, como os direitos dos pobres e espoliados, (…) a vida dos fetos abortados permanece no subconsciente das sociedades que os julgam extintos» e adita, clamoroso e profético, que os nossos descendentes terão dificuldade em entender.

12 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Jurisprudência e demência islâmica



Amina Filali, 16 anos – estuprada, espancada e forçada a se casar com seu estuprador – se suicidou porque o Código Penal do Marrocos permite que um estuprador se case com sua vítima se ela for menor de idade. Depois de anos de luta pela reforma da lei, uma grande votação que pode acabar com essa previsão absurda pode acontecer em dias! Vamos honrar a memória de Amina garantindo que sua tragédia nunca mais se repita.

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7 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Hipocrisia pia

Tiago Silva faz a página do mês de agosto. Em tronco nu, abdominais e bíceps bem definidos, segura com ambas as mãos uma mangueira a jorrar água.

Calendário erótico dos bombeiros já tem mais de 500 encomendas
A imagem assumidamente erótica (a da esquerda), tal como todas as outras 11 dos restantes meses do calendário, não terá agradado à Cáritas, que recusou a oferta dos bombeiros de Setúbal.

 

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7 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Quando a Irmã Lúcia entrou no mundo da moda

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Em 24 de Fevereiro de 1971 a Irmã Lúcia, reclusa das Carmelitas Descalças em Coimbra, escrevia ao Presidente do Conselho, Dr. Marcelo Caetano, implorando medidas legislativas sobre as vestes femininas:

«…não seja permitido vestir igual aos homens, nem vestidos transparentes, nem curtos acima do joelho, nem decotes a baixo mais de três centímetros da clavícula. A transgressão dessas leis deve ser punida com multas, tanto para as nacionais como para as estrangeiras».

(In Arquivos Marcelo Caetano, citados em Os Espanhóis e Portugal de J.F. Antunes Ed. Oficina do Livro)

7 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

A honra, a fé e a tradição

O crime de honra é uma velha tradição que se observa nos meios mais reacionários e embrutecidos. Deus é um ser misógino que odeia a mulher, acima de todas as coisas, e o amor como algo vergonhoso.

A mulher é um ser desprezível que se destina a assegurar a reprodução da espécie, servir o marido e ensinar a doutrina aos filhos. Amar não é só o distúrbio dos sentidos, é uma ofensa para a família que apenas se admite no matrimónio canónico, sem manifestações lascivas ou trejeitos mundanos, sem outro fim que não seja o da prossecução da espécie.

Recordo a aldeia da minha infância, onde as mães solteiras eram expulsas de casa, pelo pai, lançadas na prostituição, para que a honra da família ficasse limpa. E o responsável pela prenhez podia sofrer o fio da navalha que lhe furasse as tripas por não ter reparado com o casamento a desonra da família aviltada.

Há nestes crimes cruéis várias infâmias que se perpetuam nos meios rurais, analfabetos e fortemente religiosos: considerar a mulher como ser inferior e a sexualidade um tabu; ignorar os direitos humanos, em geral, e os da mulher, em particular; culto exacerbado da tradição e a conservação de preconceitos hediondos.

Antes do 25 de Abril de 1974, em Portugal, na função pública eram consideradas «faltas injustificadas» as ausências, por motivo de parto, de mães solteiras. Que raio de país!

Pobres homens que não merecem que, ao menos uma vez na vida, uma mulher lhes diga «amo-te», porque as feras não merecem ser amadas e os brutos não apreciam.

Ainda hoje, em largas zonas do globo, feudos do Islão retrógrado e cruel mostram o pior que era Portugal. Não são países, são cárceres da fé onde o amor é crime e o crime um sacramento.