Loading

Categoria: Religiões

7 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Hipocrisia pia

Tiago Silva faz a página do mês de agosto. Em tronco nu, abdominais e bíceps bem definidos, segura com ambas as mãos uma mangueira a jorrar água.

Calendário erótico dos bombeiros já tem mais de 500 encomendas
A imagem assumidamente erótica (a da esquerda), tal como todas as outras 11 dos restantes meses do calendário, não terá agradado à Cáritas, que recusou a oferta dos bombeiros de Setúbal.

 

crucifixong2952234

7 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Quando a Irmã Lúcia entrou no mundo da moda

irma_lucia_vidente

 

Em 24 de Fevereiro de 1971 a Irmã Lúcia, reclusa das Carmelitas Descalças em Coimbra, escrevia ao Presidente do Conselho, Dr. Marcelo Caetano, implorando medidas legislativas sobre as vestes femininas:

«…não seja permitido vestir igual aos homens, nem vestidos transparentes, nem curtos acima do joelho, nem decotes a baixo mais de três centímetros da clavícula. A transgressão dessas leis deve ser punida com multas, tanto para as nacionais como para as estrangeiras».

(In Arquivos Marcelo Caetano, citados em Os Espanhóis e Portugal de J.F. Antunes Ed. Oficina do Livro)

7 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

A honra, a fé e a tradição

O crime de honra é uma velha tradição que se observa nos meios mais reacionários e embrutecidos. Deus é um ser misógino que odeia a mulher, acima de todas as coisas, e o amor como algo vergonhoso.

A mulher é um ser desprezível que se destina a assegurar a reprodução da espécie, servir o marido e ensinar a doutrina aos filhos. Amar não é só o distúrbio dos sentidos, é uma ofensa para a família que apenas se admite no matrimónio canónico, sem manifestações lascivas ou trejeitos mundanos, sem outro fim que não seja o da prossecução da espécie.

Recordo a aldeia da minha infância, onde as mães solteiras eram expulsas de casa, pelo pai, lançadas na prostituição, para que a honra da família ficasse limpa. E o responsável pela prenhez podia sofrer o fio da navalha que lhe furasse as tripas por não ter reparado com o casamento a desonra da família aviltada.

Há nestes crimes cruéis várias infâmias que se perpetuam nos meios rurais, analfabetos e fortemente religiosos: considerar a mulher como ser inferior e a sexualidade um tabu; ignorar os direitos humanos, em geral, e os da mulher, em particular; culto exacerbado da tradição e a conservação de preconceitos hediondos.

Antes do 25 de Abril de 1974, em Portugal, na função pública eram consideradas «faltas injustificadas» as ausências, por motivo de parto, de mães solteiras. Que raio de país!

Pobres homens que não merecem que, ao menos uma vez na vida, uma mulher lhes diga «amo-te», porque as feras não merecem ser amadas e os brutos não apreciam.

Ainda hoje, em largas zonas do globo, feudos do Islão retrógrado e cruel mostram o pior que era Portugal. Não são países, são cárceres da fé onde o amor é crime e o crime um sacramento.

5 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Afinal, quem mente, a santa ou a Santidade?

Uma das videntes de Fátima afirmou textualmente que viu o INFERNO: “Abriu de novo as mãos, como nos dois meses passados. O reflexo pareceu penetrar a terra, e vimos como que um mar de fogo. Mergulhados nesse fogo, os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero, que horrorizava e fazia estremecer de pavor. (Devia ter sido ao deparar com esta vista, que dei esse “ai!”, que dizem ter-me ouvido).

Os demónios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa. Essa visão só durou um momento, graças à nossa bondosa Mãe do Céu, que na primeira aparição tinha prometido levar-nos para o Céu. Sem isso, acho que teriamos morrido de terror e de medo.”

O Papa Francisco resolveu desmontar a farsa de Fátima com estas afirmações surpreendentes: “Por meio da humildade, a procura da alma, a contemplação da oração, nós ganhamos uma nova compreensão de certos dogmas. A Igreja já não acredita num verdadeiro inferno onde as pessoas sofrem. Esta doutrina é incompatível com o amor infinito de Deus. Deus não é um juiz, mas um amigo e um amante da humanidade. Deus não procura para condenar, mas apenas para abraçar. Como a fábula de Adão e Eva, nós vemos o inferno como um artifício literário. O inferno é apenas uma metáfora para a alma isolada, que, como todas as almas serão finalmente unidas no amor com Deus.”

Afinal, quem mente?

4 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

João Paulo II e o sindicalismo

Em 3 de janeiro de 1982, há exatamente 32 anos, quando o odor a santidade era ainda discreto, o papa Karol Wojtyła, falando na Praça de S. Pedro, para mais de 50 mil fiéis, declarou o seu apoio “ao sindicato livre Solidariedade”, um ato corajoso cuja sintonia com a CIA não diminui.

As palavras do Papa continuam a ser justas: «Os trabalhadores têm o direito de instituir sindicatos autónomos cujo papel é defender com justiça os seus direitos».

Para João Paulo II, o Solidariedade “é a expressão de um grande esforço desenvolvido pelos homens de trabalho da Polónia, para assegurar a verdadeira dignidade do trabalhador”.

A defesa do sindicalismo polaco por João Paulo II foi um ato de grande alcance, estando na origem da implosão do imperialismo soviético.

Foi pena que lhe faltasse audácia para defender os sindicatos do Chile enquanto os seus dirigentes eram presos e mortos pelo seu amigo Pinochet. Se tivesse salvo os sindicatos das ditaduras sul-americanas com o mesmo denodo com que o fez na Polónia, hoje seria recordado não apenas pela coragem mas também pela justiça.

3 de Janeiro, 2014 David Ferreira

Carta aberta de um ateu ao Papa Francisco

Vossa Santidade,

Permita-me a cortesia de um cordial tratamento pelo sublime, mas exigente, axiónimo pelo qual passou a ser intitulado após a recente promoção, designação essa que pressagia a seguinte distinção, a póstuma, que, não duvido, se concretizará por intermédio de uma inexplicável violação das peculiares leis naturais que regem tão somente os processos biológicos dos anhos que se apascentam exclusivamente de fé católica.

Saiba V.S. que, como ateu, tenho assistido com curiosidade ao seu ainda breve papado. Não porque tenha particular interesse no modelo de marketing governativo por que optou pastorear, nem porque esperasse algo de admiravelmente novo, fresco que fosse, dos seus discursos. Estes apenas suscitam inconscientes murmúrios de espanto às persuadidas bocas abertas que o adulam de baixo para cima na praça de S. Pedro. Mas esses passeriformes e insaciáveis filhotes que recusam abandonar o ninho abririam sempre a boca a qualquer ave que os sobrevoasse com sustento, fosse incenso, mirra ou larva do pinheiro.

Dirijo-me a si porque teve a amabilidade de publicamente mandar reservar uma parcela de céu a todos os que, dotados de razão ou inato bom senso, por norma não negoceiam desígnios de férias em locais paradisíacos com agências de viagem duvidosas. Reserva essa, note-se, que um subalterno de V.S. prontamente se encarregou de rescindir, desautorizando-o à revelia, alegando para tal cometimento a falta de idoneidade moral dos interessados. Saiba que não apreciei o gesto, embora outros o tenham enaltecido. E não o prezei pela discriminação e preconceito implícitos para com todos os hereges que, como eu, não se deixam levar pelo consumismo desenfreado que a publicidade enganosa engendrada pela instituição que comanda por norma despoleta. Tive a desconfortável sensação de que o local que me fora outorgado teria demasiadas semelhanças com os lugares de estacionamento reservados a deficientes… Com sinalização a condizer! Entenda por isso o motivo do meu desagrado quando a meliantes, loucos, cegos e surdos lhes vejo atribuídas as bem-aventuranças de um terreno virgem de sinalização mediante o pagamento vitalício de periódica benzedura ou genuflexão, obrigação que a condição de evoluído e entufado bípede me dificulta amiúde.

Sei que manifestou intenção de visitar esta pobre República com o intuito de venerar a sorumbática estatueta dessa senhora que uma irrefletida visita noturna a angelical legionário romano converteu, muito a posteriori, em miraculosa artista do Cirque du Soleil, por obra e graça do espirito espanto. Coroada Rainha de Portugal na cova em que iria obrar vasta multinacional de culto, tal é a magnificência com que atua na copa das árvores que secundariza todas as aspirantes a atrizes a quem o infalível espírito crítico de V.S. continua a impedir o protagonismo na representação das homilias. Por mim atribuiria o Óscar de 2013 a Malala Yousafzai, essa sim uma real, enérgica, credível e corajosa representante de todas as mulheres que sabem não estar mortas. Mas gostos são gostos. Saiba ainda V.S. que da monarquia apenas nos resta sonâmbula hereditariedade, Dom Duplo Pio, tão Pio de linhagem como de devoção, mas cuja dicção se desarticula irremediavelmente perante a sobriedade das pouco castas glândulas mamárias da República, implantadas a 05 de outubro de 1910, que lhe surripiaram a mama e o reinado.

Saiba V.S. que será muito bem recebido, como é apanágio deste catolaico povo. É que somente as reses mais estonteadas carecem de pastor do berço ao féretro e nós, infelizmente, ainda o aguardamos, desnorteados, por entre um nevoeiro que nem vai nem sai de cima.

 

Atenciosamente, disponha sempre deste simples ateu que não o venera.