Dificilmente o Vaticano consegue escamotear uma infame situação: o padre Maciel esteve à beira da beatificação link.
«Enquanto houver valas por exumar, haverá feridas abertas». Esta é a frase que Julián Rebollo, neto e sobrinho de vítimas do franquismo, repete com a mesma convicção e veemência no Parlamento Europeu e em Madrid, todas as quintas-feiras, na Porta do Sol. (El País, de hoje).
O Governo espanhol, onde a tralha franquista se alberga e dedica aos negócios, não está interessado em investigar o violento genocídio que o franquismo, de mãos dadas com a Igreja católica, levou a efeito.
Como foi possível à Europa, vencido o nazi/fascismo, esquecer as ditaduras ibéricas e deixar os ditadores a martirizar os seus povos? Como é possível privar a Espanha, ainda hoje, da inteligência, audácia e determinação do juiz Baltasar Garzón, afastado, em puro zelo fascista, da judicatura sem que um sobressalto cívico agite a consciência europeia e a memória perante a impunidade dos responsáveis pelos 150.000 desaparecidos, 30.000 crianças roubadas e 2.000 valas comuns em quase quatro décadas de ditadura?
Juntar a voz à de todos os espanhóis que exigem descobrir as valas dos seus pais e avós e à de Jordi Gordon, porta-voz da Plataforma pela Comissão da Verdade, é o dever dos europeus que se esqueceram do martírio dos povos ibéricos.
Há uma petição de 700 mil pessoas a pedir justiça, a exigir que os crimes do franquismo sejam conhecidos. Não é um ato de vingança que está em curso, é um módico de justiça para os que morreram sob as bombas da aviação nazi em Guernica, foram assassinados nas ruas espanholas por criminosos franquistas ou fuzilados nos campos de touros.
Nós, portugueses, que sabemos como os Viriatos ajudaram Franco na sublevação, como o Rádio Clube o apoiou, Salazar se comprometeu, e a GNR entregava os fugitivos para serem fuzilados, temos a obrigação de juntar a nossa voz, no Parlamento Europeu, à voz dos que pedem a descoberta da verdade lutando contra o esquecimento.
É preciso fechar as feridas abrindo as valas que os Tribunais espanhóis, a Igreja católica e o PP querem definitivamente encerradas. Bruxelas é o lugar para exigir justiça.
Há 13 anos, um país assolado pela miséria, minado pela fanatismo, lacerado pela fome, onde as mulheres foram proibidas de acesso à educação e à saúde, teve de observar os rigorosos preceitos islâmicos e renunciar aos mais elementares direitos, com frequência à própria vida.
Poderia ter acontecido em diversos locais do planeta, mas aconteceu num país com uma cultura antiquíssima cujo poder foi assaltado pelos tristemente célebres estudantes de teologia, vulgo talibãs, quando dois budas gigantes esculpidos em pedra nos séc. II e V foram destruídos com mísseis e espingardas automáticas para não serem adorados falsos ídolos que “insultam o islamismo”. Aconteceu no Afeganistão.
Em todos os tempos e em várias religiões houve bárbaros que entenderam que os livros ou diziam o mesmo que o livro sagrado, e eram inúteis, ou diziam coisas diferentes, e eram prejudiciais.
A inteligência, a sensatez e a sensibilidade não são apanágio de uma só cultura, mas são contrárias à mais funesta de todas as misturas: a fé, a ignorância e o proselitismo. É esta mistura perversa que faz a infelicidade dos povos, a miséria das nações e a tragédia das sociedades que se desfazem em asfixiante submissão.
Destroem progressivamente o património cultural, da mesma forma selvagem com que suprimem as liberdades cívicas. E, enquanto a fome, a doença e a miséria devastaram a população, bloqueada pelo terror, o mundo urbanizado assistiu, impotente na sua raiva, a ver postergados os mais elementares valores que são o traço comum da civilização.
Os povos não são donos absolutos do património que detêm e são obrigados a responder pela sua guarda. Os déspotas, que exercem o poder de forma antidemocrática, terão de responder pelos dislates e crimes que cometem. E serão homens a julgá-los, sobretudo àqueles que se julgam com mandato divino.
Provavelmente o direito de ingerência encontraria então plena justificação. Perante as hordas de selvagens que um pouco por todo o lado conquistam o poder com armas que as grandes potências nunca deixaram de fornecer, exige-se uma nova ordem que liberte do caos e do crime organizado multidões que tiveram a desdita de nascer no sítio errado sob o jugo de tenebrosos trogloditas.
Este crime foi perpetrado em 2 de março de 2001. Há 13 anos. Hoje, o Afeganistão está, de novo, a ser abandonado à demência talibã.
Texto completo en: http://actualidad.rt.com/actualidad/view/120967-policia-espanola-medalla-virgen
http://sociedad.elpais.com/sociedad/2014/02/25/actualidad/1393341989_288576.html
Não me sinto capaz de tomar partido na rebelião popular, atiçada do exterior, num país em ruínas. A pobreza extrema, uma agricultura destruída no que foi o celeiro da Europa, a divisão étnica e a tradição autoritária e antidemocrática estão na origem de confrontos, que ameaçam continuar, para vingar o sangue já derramado.
Não vale a pena, agora, recordar as matanças e as migrações forçadas por Estaline que alteraram a matriz étnica e cultural do segundo maior país da Europa.
O que não entendo é a explosão do nazismo em apoio aos partidos que anseiam a união à Europa, como se a Rússia fosse um país africano e os nazis indefetíveis partidários da União Europeia. Também não entendo o apoio de alguma esquerda às forças pró-russas como se Moscovo fosse um soviete dirigido pelo comunista Ieltsin.
A disputa entre potências capitalistas, com a Rússia a ser alvo do apetite da Nato, pode provocar uma hecatombe e debilitar o poder russo. De certeza, altera-se a correlação de forças, com a NATO contida nos limites atuais, uma derrota para a Europa que serve de ponta de lança aos EUA, ou expandida até à fronteira russa, com a derrota de Moscovo.
É curioso ver comunistas a defenderem o poder sufragado em eleições e os reacionários a apoiarem histericamente a insurreição e atos de justiça popular, posições corajosas de quem está longe do conflito.
Debilitar a Rússia é acender o rastilho das antigas repúblicas soviéticas onde o fascismo islâmico pretende a desforra e a sharia, enquanto a Turquia se orienta, a recitar o Corão, em direção a Meca e as primaveras árabes mergulham na anarquia e nas cinco orações.
Com os erros da meteorologia euro/americana a anunciar primaveras árabes, temo que a Rússia fique à mercê de irrefreáveis hordas islâmicas que, no ocaso da civilização árabe, exacerbam a devoção e a demência.
E não haverá inocentes.
João César das Neves (JCN) intitula a homilia de hoje, no DN, “Liberdade, igualdade e amor” numa síntese constrangida entre a Revolução Francesa e a sacristia. Depois de debitar umas trivialidades sobre as revoluções “ britânica de 1688, americana de 1776, francesa de 1789 e seguintes”, sem dizer, talvez por pudor pio, quais foram as seguintes, demorou a chegar à sua obsessão, antes de afirmar que “a luta cultural deslocou-se para questões de sexo e limites da vida”.
Este homem é um escravo do sexo obcecado com a castidade e um defensor da vida que começa nos óvulos ou nos espermatozoides, julgando que a ejaculação, durante o sono, é um genocídio involuntário. Acordado, é um pecado.
A êxtase religioso atinge-o quando afirma que “Vêem-se os conceitos, as lógicas e os métodos que os antigos aplicavam à nobreza, escravatura, pena de morte, proletariado ou racismo, utilizados em assuntos eróticos e hospitalares».
Só quem esteja acostumado ao devoto percebe a linguagem exotérica e a piedade que o devora antes de continuar a leitura: “ O direito ao aborto e à eutanásia tomam o lugar do direito ao voto; a emancipação de mulheres ou jovens vem na vez dos escravos; o doente terminal ou o homossexual surge na posição do operário ou negro. Casamento é contrato; adopção, sociedade”.
JCN lamenta que ao direito ao voto seja acrescentado o direito ao aborto e à eutanásia; que após a abolição da escravatura se emancipem as mulheres; que o casamento seja um contrato e não um sacramento; enfim, é um fóssil do Concílio de Trento.
Há pérolas de que não quero privar os leitores. Ei-las: “Dentro da fraternidade familiar, liberdade e igualdade tomam sentidos estranhos. Por isso, divórcio, aborto ou eutanásia só retoricamente libertam; de facto, matam. Fora da metáfora não existe igualdade entre jovem e velho, homem e mulher, casamento e união de facto, pais e filhos, amor conjugal e promiscuidade, sexo e perversão».
A obsessão do sexo é, em JCN, síndrome de privação. E termina com uma frase banal: “A família é o que sempre foi e será. Ela constitui o verdadeiro mundo sempre novo.”
«Bem aventurados os pobres de espírito…», como diz a Igreja de JCN.
O líder da Igreja Católica na Polónia viu-se nesta quarta-feira sob intensas críticas após dizer que uma criança com problemas em casa poderia acabar buscando intimidade com outras pessoas, dando a entender que parte da culpa pelos abusos sexuais estaria com as vítimas. Questionado, ele recuou na afirmação e se considerou mal interpretado. Mas o estrago estava feito.
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