Acusa-se o Governo de indiferença social, de ser um bando de ultraliberais cuja agenda conduz ao desmantelamento do Estado, com a Saúde, a Educação e a Segurança Social reduzidas a estilhaços.
Trata-se da calúnia de quem pretende alfabetizar à força quem ganharia a glória celeste pela sua ignorância, de quem troca a fé pela sabedoria e a metafísica pela ciência. Não se dão conta os arautos da sabedoria de como a ciência prejudica a virtude, a abundância a penitência e as proteínas o jejum?
Há quem prefira um médico a um padre, aulas de religião às de matemática, assistentes sociais a capelães militares, hospitalares e prisionais. Felizmente, há quem, ao mais alto nível, se preocupe com o destino da alma face ao egoísmo que privilegia a saúde.
O Governo não condena os velhos à penúria, apenas os defende dos bifes, que lesam a função renal, dos netos que lhes invadem a casa, sob o pretexto do desemprego dos pais, e das guloseimas que fazem subir o açúcar e a HTA. Há pessoas, com mais de 70 anos, que teimam em viver, como se as pensões fossem amigas da Segurança Social.
O Governo não tem capacidade para pagar as dívidas da Madeira, os prejuízos do BPN, do BPP, os calotes municipais, pareceres jurídicos de escritórios de amigos e lugares de assessores para jovens que passaram a vida nas madraças juvenis dos partidos, cansados de colar cartazes e de caluniarem adversários na NET, com perfis criados a preceito.
Urge entender que a esperança de vida compromete o bem estar dos governantes e, não podendo estes abdicar das suas mordomias, é necessário reduzir drasticamente a nefasta esperança de vida. Espero que a troika, depois das eleições, exija ao Governo a solene promessa de reduzir um ano de vida a cada português para equilibrar o que aumentou a cada trabalhador.
Não podendo a Segurança Social acompanhar a esperança de vida o equilíbrio deve fazer-se à custa da última.
A teimosia dos velhos, que se agarram à vida, é antipatriótica. A longevidade é uma doença cujo combate já começou. O Governo sabe que o desmantelamento do SNS é duplamente benéfico. Basta deixar sobreviver alguns idosos para visitar em épocas eleitorais e fingir apego aos velhos.
João César das Neves (JCN), megafone ortodoxo do clero reacionário e depositário da herança do concílio de Trento, brindou-nos hoje com uma homilia a que deu o título de “O fósforo e a gasolina”.
Execrou a cultura ocidental porque, “após ter tentado (…) revolucionar religião, política e economia”, “decidiu abalar a família”. Trocou a ordem tradicional pela “libertinagem mais total». Ele lá saberá os meios que frequenta e os hábitos da sua madraça, para dizer que “Foi formulado um axioma sensual, decretando o prazer venéreo como supremo e absoluto” [sic]. Freud veria na obsessão sexual o recalcamento que substitui pelo cilício.
Informa que “Os horrores da Revolução Francesa, União Soviética, etc. resultaram do esquecimento da estrutura social natural”. Não explica, basta-lhe a fé. “Também a crise financeira global ou os desastres de automóvel vêm do descuido de velhos princípios de prudência. Nada se compara, porém, com o arrasador mito libertino contemporâneo”, diz JCN. Talvez não seja o substantivo que o apavora, é o adjetivo que o excita. Aceita, decerto, o mito, adora os seus mitos, apenas execra a lascívia.
No fervor da homilia pergunta, citando o livro de cabeceira: “Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?” (Mt 6, 27). Ignora os progressos da medicina e da farmacologia e de como está obsoleto o livro citado.
JCN – “Os resultados da nossa experiência libertina são há muito evidentes. Explosão de divórcios e violência familiar, queda catastrófica da natalidade, patologias mentais, sobretudo infantis, pornografia, degradação da mulher, insucesso escolar, marginalidade, droga, exclusão, vício, miséria, suicídio”.
Quem imaginaria na prática do sexo, que JCN chama “experiência libertina”, sequelas tão devastadoras e contraditórias? Nem um pároco de aldeia! JCN parece ignorar que a castidade é a mais demolidora atitude contra a reprodução e jamais alguém provou que a prática sexual seja culpada do insucesso escolar e, muito menos, da queda catastrófica da natalidade, entre as desgraças que aponta ao único prazer que não prejudica a saúde.
JCN finda a homilia, sem a ameaça do Inferno, mas acusando o Estado: “O propósito supremo é proteger desesperadamente o precioso postulado lascivo. Pode dizer-se que nisto o nosso tempo confirma o famoso epitáfio irónico: “Aqui jaz o homem que foi com um fósforo ver se havia gasolina no tanque. E havia.”
JCN ensandeceu mas continua a ser um manancial de humor num país sorumbático.
Uma mentira pode ser repetida até ao infinito mas não passa a ser verdade. Há quem chame ao abutre de Santa Comba, estadista; incorruptível, ao verme de S. Bento; honrado, ao infame que a censura, a pide, a legião e o medo deixaram que fosse uma cadeira a resgatar a honra que os portugueses não puderam.
O antigo dirigente do CADC não tratou da vida mas tirou-a a muitos. O ódio à liberdade aleitado no seminário e assanhado no poder, fez dele uma referência fascista universal, o delinquente que manteve a guerra colonial durante 13 anos, um malfeitor que demitiu insignes professores, prendeu democratas e assassinou adversários.
Já poucos se lembram das eleições de Humberto Delgado, onde a vontade popular foi falsificada e a honra de um país enxovalhada.
Em 1958, durante a campanha eleitoral publicou o decreto-lei que proibiu a oposição de fiscalizar o funcionamento das mesas de voto. Foi assim que o fascista indigitado, Américo Tomás, «ganhou» as eleições a Humberto Delgado.
A Bíblia não é a palavra de deus!…
Aznar voltou à ribalta política em Espanha, em acumulação com os negócios e a mulher à frente do município de Madrid. Só não conseguiu a mais alta condecoração americana, porque há, nos EUA, senadores insubornáveis e, em Espanha, jornalistas incorruptíveis.
José Maria Aznar, quando presidente do Governo espanhol, não foi particularmente feliz nas decisões que tomou quando o Prestige demandou as águas espanholas. Foi cúmplice da catástrofe ecológica ao procurar alterar-lhe o rumo em direção à costa portuguesa, em vez de o acolher e ter evitado o naufrágio. Desde então as manchas negras perseguem-lhe a reputação com a violência com que atingiram as praias da Galiza.
Mais tarde tomou, em relação ao Iraque, a comovente decisão que inundou de felicidade os falcões dos EUA. Não se limitou a acompanhar Blair na deriva belicista e no apoio incondicional à direita religiosa que dominava a Administração americana. Foi o mentor de um grupo de países, Portugal incluído, que arrastou para uma posição condenável no plano ético e legal (ao arrepio da ONU), lesiva do direito internacional e manifestamente impopular nos respetivos países.
Os comentadores políticos atribuíram a atitude a razões plausíveis: uma estratégia para obter vantagens para Espanha e a abertura do caminho para as suas ambições políticas, ambas no plano internacional. A última era a presidência da União Europeia.
Penso que houve algo mais a empurrar Aznar para a insólita decisão, contrária aos interesses de país, com fortes relações comerciais com os países árabes, e prejudicial ao futuro das relações com a América Latina.
Tenho para o facto uma explicação que faz com que Aznar não possa ser visto como capataz de Bush, acusação de um deputado espanhol, mas ser ele a aproveitar-se da estratégia americana.
São do domínio público os laços que ligam Aznar, e particularmente a sua mulher, ao Opus Dei, laços que não podem deixar de ser relacionados com a posição assumida.
Escrito por Robert Hutchison “O Mundo Secreto do Opus Dei”, que tem como subtítulo “Preparando o confronto final entre o Mundo Cristão e o radicalismo Islâmico”, talvez ajude a compreender a posição de Aznar. São 536 páginas, escritas muito antes dessa crise, que podem explicar não só o que o fez correr mas também o que o fez ajoelhar-se.
O Iraque continua um matadouro de gente. Os cristãos da cruzada contra Saddam dormem serenos mas o mundo não pode esquecer os mortos diários e a cimeira dos Açores cujo mordomo fugiu de Portugal a caminho de uma carreira internacional.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.