“Estado Islâmico” fortalece suas posições com tomada de aeroporto na Síria
Assad deixa de ser principal ameaça na Síria
Conquista da base militar é vitória estratégica e de grande valor simbólico sobre o regime de Assad, abrindo caminho para avanço sobre grandes cidades sírias. Armas e munições também caíram nas mãos dos radicais.
O Exército da Síria lutou com todas as forças sem ser bem-sucedido. Ao final, o grupo radical “Estado Islâmico” (EI) assumiu o comando do estratégico aeroporto militar de Tabqa, no leste da Síria, ampliando seu poder no país. Com a conquista, aquele que era o último bastião das tropas do presidente Bashar al-Assad na província de Raqqa caiu nas mãos dos terroristas.
Quando alguém se converte, na política ou na religião, é um herói. Se deserta, é traidor. É deste maniqueísmo que se alimenta o poder e se forjam os juízos morais.
Há quem morra por um mito e mate por uma utopia, quem se imole na apoteose da fé ou assassine na esperança de uma vida melhor de cuja existência não há o menor indício ou a mais leve suspeita.
Se um pobre, embrutecido pelo álcool e com o raciocínio embotado pela fome, mata ou rouba, é um criminoso. Se um indivíduo é impelido para a barbárie pela demência da fé e a crença na eternidade, é um mártir. É demasiado ténue a diferença entre a abnegação e a estupidez, a linha que separa o herói do pusilânime, e subtil o motivo que provoca a raiva ou o afeto.
A moral é a ciência dos costumes e não a vontade de um ser imaginário. Os homens de hoje são mais humanos do que os seus antepassados e repugna-lhes executar a vontade de um ente irreal em cuja crença foram fanatizados desde crianças. Essa evolução feita com o sangue dos livres-pensadores, com o sacrifício dos visionários e a abnegação de quem, tendo convicções profundas, respeita as alheias, não parece globalizar-se.
Permanecem escravos de constrangimentos sociais, vítimas de discriminação de género e embrutecidos por pregadores, milhões de indivíduos que se ajoelham a horas certas e rezam cinco vezes por dia, num ritual que tolda a inteligência e embota a sensibilidade.
Hoje, o medo espalha-se, e o confronto, que julgávamos impossível entre a civilização e a barbárie, vem aí. A lapidação de adúlteras e a decapitação de infiéis é inflamada pelos pregadores do ódio e homens de virtude, num regresso agressivo a práticas medievais.
A laicidade foi uma conquista obtida contra fogueiras e excomunhões, contra clérigos e catequistas, contra papas e reis, na caminhada que levou a Europa à separação da Igreja e do Estado, com os clérigos proibidos de legislar e os governos de dizerem missa.
Não permitiremos, em nome do multiculturalismo, que a arquitetura jurídica da Europa seja ameaçada com fanáticos que se vingam da civilização falhada com a violência de uma fé anacrónica.
O Estado Islâmico é o poder absoluto de origem divina que ensanguentou a Europa, é a demência de um manual terrorista recitado e praticado com a loucura tribal, é a droga que se entranhou numa civilização falhada e que seduz uma juventude sem horizontes.
Temos de ser vigilantes para não sermos vigiados e degolados. Urge combater crenças e respeitar os crentes.
Há momentos em que as palavras estão a mais
http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRKBN0GI20T20140818
Por
Leopoldo Pereira
Seguindo a cronologia dos acontecimentos: Deus – Adão – Noé – Abraão – Moisés – Jesus – Maomé – E por aí adiante, até chegar a mim. Abraão foi um homem que morreu de muito velho e ao longo dos anos manteve várias conversas com Deus; infelizmente só algumas chegaram até nós. Sabe-se que Deus tardou a convencer-se de que o ancião abraçara a Sua causa, podia tratar-se de um infiltrado e testou-o, sugerindo que Lhe sacrificasse o filho. Abraão não O desiludiu, mas na hora H apareceu um anjo a safar a criança. Consta que o menino apanhou um monumental cagaço e nunca mais perdoou ao pai (não está provado), como nunca ficou provada a existência do próprio Abraão. Que importa…
Convém relembrar que tais práticas eram comuns a múltiplas religiões: Animais sem alma e com alma sacrificavam-se quotidianamente aos Ídolos, fossem estes quais fossem. Portanto não vamos levar a peito o premeditado assassínio do filho, um gesto assaz corajoso.
Certamente por ter sido um privilegiado da Divindade e ter dado provas extremas de fidelidade ao Supremo, as três religiões monoteístas veneram-no identicamente. Nalguma coisa haviam de estar de acordo! E bem, se a minha opinião conta.
Voltando às oferendas aos Deuses, os humanos passaram a fazê-lo em dinheiro, artigos de prata e ouro, também em géneros, deixando morrer a tradição dos sacrifícios de vidas humanas (excetuando a jihad) e a vida de outros animais (para o fim visado).
No tempo em que Abraão por cá andou, as mentalidades estavam longe de atingir o grau de cultura dos nossos dias; não havia touradas de morte, assaltos à mão armada, pirataria, raptos de crianças, enforcamentos e assassínios por atacado (em nome de Deus), enfim, uma tristeza.
Para compensar mantinham a fogueira acesa 24 horas por dia, junto aos principais templos, onde os mais pobres assavam uma pomba (em louvor do Senhor) e os mais ricos uma vaca, de preferência animais vivos e saudáveis.
A propósito e evitando possíveis comentários menos corretos, especialmente oriundos de infiéis que não leem os Livros Sagrados, decidi copiar na íntegra uma passagem do Alcorão:
“67 – Recordai-vos de quando Moisés disse ao seu povo: Deus manda-vos que sacrifiqueis uma vaca. Perguntaram: Estás a zombar de nós? Respondeu: Procuro refúgio em Deus para não estar entre os ignorantes! Disseram: Suplica por nós ao teu Senhor, para que nos indique qual há-de ser a sua cor. Respondeu: Ele diz que deve ser uma vaca amarelo-puro, de maneira que com o seu aspeto alegre os que a vejam. Disseram: Suplica por nós ao teu Senhor para que nos mostre como deve ser ela. Para nós, as vacas são todas iguais. Por certo que nós, se Deus quiser, seremos esclarecidos. Respondeu: Ele diz que deve ser uma vaca não humilhada pelo trabalho da terra nem pela rega do campo; deve estar sã, sem estigmas. Disseram: Vieste agora com a verdade. Sacrificaram-na, mas estiveram a ponto de não o fazer.”
O texto, como geralmente sucede, é de uma eloquência inigualável, deixando a milhas de distância qualquer Nobel da Literatura, pelo que seria ousadia sequer tentar um comentário à narrativa, que inclui (atenção) citações de Deus.
Espero que as interpretações não degenerem, pois os maldizentes bem podem especular com os termos “vaca” e “loira”. Demais o Povo parece estar numa de gozo para com o velhote…
Só estou a avisar.
L. Pereira, 17/08/2014
A organização da Igreja Católica tem uma listagem de 33 573 livros proibidos, com diferentes níveis de gravidade, sendo que nos três níveis mais elevados encontram-se 79 obras de escritores portugueses, revela o Diário de Notícias. José Saramago e Eça de Queirós são os mais castigados pela “lista negra”.
No norte do que foi o Iraque, que os cruzados de Bush, Blair, Aznar e Barroso deixaram à mercê das lutas tribais e de ódios religiosos, num país com balcanização adiada, há um povo que pratica uma exótica religião curda, de vetustas raízes indo-europeias e que crê na metempsicose.
São pobres e, ao contrário dos prosélitos, não procuram converter ninguém, passando as almas entre si por herança geracional, numa síntese de crenças com resquícios de islão, cristianismo, zoroastrismo, judaísmo e maniqueísmo, uma sopa de culturas que parece fundir as mais diversas crenças numa fé restrita para uso doméstico.
Podem encontrar-se comunidades na Arménia, Turquia ou Síria mas estão a desaparecer na emigração ou agarradas aos rebanhos no Monte Sinjar, onde os trogloditas do Estado Islâmico desejam assassiná-los, porque a pequena seita ligada ao iazdanismo, resistiu ao Islão durante séculos ou, tão só, porque o gosto do sangue é o cimento da restauração de um anacrónico califado de crentes sectários e tementes ao profeta misericordioso.
Enternecem-nos os olhos brilhantes das crianças de olhar vago, os milhares de yazidis em busca de água, o apego de muitos às cabeças de gado, a recusarem a fuga que uma aliança improvável de iraquianos, curdos, americanos e iranianos lhes oferecem através de um corredor adrede preparado.
Os yazidis não odeiam americanos nem judeus, não tomam partido pela Ucrânia ou pela Rússia e talvez desconheçam mesmo o drama da Palestina e as guerras pelo domínio do petróleo. O pequeno povo cuja pátria é a comunidade e a sua identidade um arcaísmo só por milagre pode salvar-se da barbárie que lavra na latitude onde há séculos sobrevivem e não lhes permitem continuar.
Ai de nós, que nos achamos civilizados, se deixarmos que trucidem um pequeno povo, porque com ele também expiramos na diversidade e humanidade que reclamamos.
A Senhora de Fátima, a República e o salazarismo
Engana-se quem pensa que a Senhora de Fátima é apenas um dos avatares da Virgem Maria, personagem mítica com mais heterónimos do que Fernando Pessoa.
A Senhora de Fátima foi a criação clerical de um instrumento contra a República e uma imagem de marca do povo que a monarquia legou beato, analfabeto e supersticioso, um epifenómeno contra a laicidade, a democracia e o secularismo.
A «Senhora mais brilhante do que o Sol» iniciou a carreira de pitonisa na Cova da Iria, depois de vários fracassos em locais mais instruídos e urbanizados. Foi em 13 de maio de 1917 que apareceu, pela primeira vez, no ermo que a promoção pia transformou num dos mais concorridos destinos turísticos.
A Senhora começou por atrair a atenção de três pastorinhos, sendo a Lúcia a que ouvia e via, a Jacinta a que só ouvia e o Francisco que não ouvia nem via. Os rapazes são lentos a despertar os sentidos. Começou por dizer-lhes que Deus se encontrava muito zangado, que queria toda a gente a rezar o terço, e anunciou-lhes, em exclusivo, um imprevisível acontecimento, o fim da guerra em curso, como se o que tem início jamais tivesse fim.
Em 13 de outubro, perante vasta assistência, a Senhora de Fátima, excelente trepadora de azinheiras, fez um número privativo, só replicado nos jardins do Vaticano, à mesma hora, para conhecimento especial do Papa: pôs o Sol a rodopiar em tons de prata fosca, um episódio acrobático que assombrou a assistência.
Após 1926, consolidada a ditadura, e com o enviado da Providência no Governo, como a Lúcia havia de dizer ao cardeal Cerejeira, referindo-se a Salazar, a Senhora de Fátima dedicou-se à Rússia, que confundia com a URSS, cuja conversão rogava, através da reza do terço, e à defesa do regime, no plano interno, com a mesma prescrição e posologia.
Desistiu então de surgir aos pastorinhos e dedicou-se a visitar comunistas arrependidos, sobretudo os que não aguentaram torturas da Pide e entregaram camaradas. Conseguiu libertá-los da prisão e arranjar empregos, mimos que os conversos retribuíam com velas acesas à janela nos dias 13 de maio e de outubro de cada ano.
A Senhora de Fátima, entrava nas celas de presos políticos que tinham confessado tudo, a confissão é um alívio, e dizia-lhes que tinham sido enganados e deviam arrepender-se. Foi assim que o pai de um antigo e influente dirigente do PSD abjurou as ideias falsas, como alguns outros, e substituiu a foice e o martelo pelo terço e a cruz, a Internacional pelo Ave e a clandestinidade pelo sossego do lar.
A Senhora de Fátima pode ter sido clonada em outras latitudes de hegemonia católica mas a legítima, a original, com toque rural e determinação prosélita, é 100% nacional.
A AR, por reverência às maratonas pias que soem fazer-se ao santuário, resolveu criar, em 27 de junho de 2014, o Dia Nacional do Peregrino, devoção do PSD/CDS, ofuscada pela abstenção dos deputados do PCP, BE, 26 do PS e esconjurada com 4 votos contra do PS. O parlamento, que recusara o Dia Nacional do Cão, meritória iniciativa do PSD, elegeu então, por larga maioria, o dia 13 de outubro, desobrigados os deputados pios de votarem de joelhos e mãos postas.
Exultaram as sacristias e o santuário, com devotos comovidos com os votos da AR.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.