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Categoria: Religiões

26 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Há 4 anos

A insustentável leveza do ecumenismo

Na mesquita de Lisboa – disse a comunicação social –, juntaram-se, em oração, cristãos, judeus e muçulmanos, numa comovedora e fraterna devoção ao Deus abraâmico que os empurra para intermináveis guerras numa orgia de sangue que começou com um gracejo divino a dizer a Abraão para lhe sacrificar o filho, o que o troglodita faria se não tivesse sido uma brincadeira de Deus para pôr à prova a sua fé. O Deus de Abraão não confiava nos homens mas estes teimam em confiar nele.

Não penso que as orações pela paz sejam ouvidas, onde ou por quem quer que seja, mas é comovedor saber os três monoteísmos unidos por um intenso e unânime desejo de paz.

Foi lindo ver a notícia mas gostaria que o ato litúrgico tivesse ocorrido simultaneamente numa sinagoga de Jerusalém e numa mesquita da Palestina, que na Arábia Saudita e no Iémene, uns de joelhos, outros de cócoras e todos de rastos, anunciassem não mais matar.

Assim, em Lisboa, numa cidade cosmopolita, pode encenar-se uma cerimónia pacífica, mas onde a correlação das crenças não é mediada pela laicidade do Estado e pela força da democracia, há a sharia, bem mais de difícil de satirizar do que crenças anacrónicas.

Quem detesta decapitações, lapidações, amputações, vergastadas e outros castigos que fazem babar de gozo os funcionários de Deus e as multidões intoxicadas pela fé, não se conforma com espetáculos pios encenados.

13 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

A saudita Rahaf e o direito à apostasia

Rahaf Al-Qunun é uma corajosa saudita de 18 anos que se barricou num quarto de hotel no aeroporto de Banguecoque, Tailândia, na zona de trânsito do aeroporto, para impedir os agentes da imigração tailandesa de a enviarem num avião para o Kuwait, onde estava a sua família, de que fugiu, e fosse obrigada a regressar à Arábia Saudita.

Rahaf recusa o hijab e um casamento imposto. Queria pedir asilo na Austrália, país para onde tinha um visto de 3 meses, mas foi impedida de sair da Tailândia, e só saiu do seu quarto sob proteção da ACNUR, agência da ONU para os refugiados, que irá “avaliar o caso à luz dos estatutos” e dar uma resposta. Se a ACNUR salvar esta jovem já justifica a sua existência.

A jovem gritou o seu desespero através do Twitter e implorou a solidariedade através da mensagem: “Peço a todas as pessoas que se encontram em trânsito em Banguecoque que se manifestem contra a minha expulsão”, barricada no seu quarto de hotel, receosa de um regresso que lhe podia custar a vida, já que a liberdade era maior na clausura de um quarto de hotel do que na vastidão do país onde teve a infelicidade de nascer.

Esta notícia veio, há dias, na imprensa mundial. Refere a situação da jovem que fugiu de um país onde não pode ser mulher, de um país que tem relações comerciais com estados civilizados e onde a mulher é um mero objeto que os homens podem colecionar.

As autoridades tailandesas anunciaram já que não vão proceder à deportação. Rahaf é certamente de uma família rica, que pode viajar e hospedar-se num hotel, mas não passa de um objeto transacionável num país medieval, com uma religião anacrónica e violento espírito misógino que contamina as famílias embrutecidas pela fé e pelos interesses.

O grito de liberdade pode ter ecoado nos países civilizados, mas as mulheres dos países muçulmanos são o paradigma da escravatura do mais inflexível dos monoteísmos.

Em nome de uma crença execrável é vedada à mulher a liberdade de amar, o direito de escolher quem quer, como vestir-se ou com quem andar. O grito de socorro de Rahaf é o ato de extrema coragem e um exemplo que a repressão religiosa não deixará que ecoe.

Cabe a todos os homens e mulheres dos países livres exigirem o boicote aos países onde a mulher está condenada à escravidão. Maldito multiculturalismo que serve de desculpa aos países laicos para permitirem a opressão da mulher enquanto fazem negócios com a canalha que execra o porco e o cão e não passa sem a crença, cinco orações diárias, um mês de jejum anual, esmolas e, se possível, uma excursão a Meca, cinco pilares em que se baseia a violência de um profeta analfabeto e de uma religião hedionda.

Não há deus que valha um só artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos e a apostasia não é um crime, é um direito inalienável.

9 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Islamismo

Interrogo-me sobre o que levará tantos voluntários a morrer e a matar para agradarem a um deus que desconhecem sendo incapazes de um pequeno sacrifício pelas pessoas que sofrem à sua volta.

Parece que o medo do Inferno e a sedução do Paraíso exercem influência maléfica em quem prefere sacrificar-se por uma ilusão a evitar o sofrimento humano.

4 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Há 5 anos

Vaticano – O regresso ao Concílio de Trento

Os «pérfidos judeus» de uma oração da Sexta-feira Santa (abolida só em 1960) podem recuperar o adjetivo pela vontade de Bento 16 cujo ímpeto reacionário e proselitismo religioso só encontram paralelo nos mais histéricos mullahs.

Pedir a Deus que tenha piedade, «até dos judeus», inscreve-se no mais demente espírito persecutório do antissemitismo cristão cujas consequências estão vivas na memória do holocausto. Do Vaticano sopra o ódio vesgo, o racismo do N.T., a xenofobia romana, o horror à diferença e à liberdade.

B16 é a incarnação dos demónios totalitários, a verter latim por entre odores de incenso e borrifos de água benta, ao som do cantochão. O Pontífice conhece bem a história mas não aprendeu a democracia que viu florir à sua volta como obra do Demo.

Hitler aprendeu no cristianismo a odiar os judeus. Bento 16 bebeu na Bíblia, que sabe de cor, o ódio que lhe percorre a face, da tiara até às orelhas, e nas fogueiras do Santo Ofício que o seu Deus só se impõe à humanidade através da exterminação dos inimigos.

A face tolerante do cristianismo não é mais do que a máscara que cobre a raiva e o ódio que a Reforma, a Revolução Francesa e o secularismo o obrigaram a afivelar. Se, por um instante descurarmos a vigilância contra o asco que crepita envolto em sotainas não tarda que novas cruzadas e velha fogueiras defendam a pureza da fé católica e o ódio torpe dos clérigos romanos à democracia e à civilização numa orgia totalitária ao gosto do pastor alemão.

Do livro «A Igreja católica e o Holocausto – Uma dívida moral», Daniel Jonah Goldhagen, respigo os dados seguintes:

– O Evangelho segundo S. Marcos tem cerca de 40 versículos antissemitas;

– O Evangelho segundo São Lucas tem cerca de 60 versículos explicitamente antissemitas e apresenta João Baptista a chamar aos judeus «raça de víboras»;

– O Evangelho segundo São Mateus tem cerca de 80 versículos explicitamente antissemitas:

– Os Actos dos Apóstolos têm cerca de 140 versículos explicitamente antissemitas:

– O Evangelho segundo S. João contém cerca de 130 versículos antissemitas.

«Só estes cinco livros contêm versículos explicitamente antissemitas suficientes, num total de 450, para haver em média mais de dois por cada página da edição oficial católica da Bíblia» (pág. 316 e seguintes).

Será por acaso que a Hungria lidera hoje o retorno ao nazismo, com o populismo e a demagogia a cevarem a extrema-direita? A Polónia e a Roménia seguem-lhe os passos. O Holocausto parece esquecido ou os povos não têm memória.

20 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

A Igreja católica, o Estado e a Concordata

É-me indiferente o que cada religião decide com os seus crentes, mas não posso deixar de me interessar pelos reflexos decorrentes na estrutura legal do meu país.

Há dois anos, ao ver a notícia de 1.ª Página do JN, interroguei-me sobre as consequências civis da anulação de casamento pela Igreja católica. Podia estar enganado e, por isso, apelei aos juristas que visitam o D1A para nos esclarecerem sobre as consequências de uma anulação do casamento canónico.

Quanto às consequências nefastas da Concordata para a igualdade religiosa não existem dúvidas. Quanto às da anulação do casamento por um Estado estrangeiro (o Vaticano), penso que a razão que leva o Registo Civil a aceitar a validade do casamento canónico o obriga a registar a anulação que os tribunais portugueses serão obrigados a confirmar?

A dissolução do casamento pelo Vaticano obrigará o Estado português a aceitar uma decisão que os tribunais nacionais só têm de corroborar, tornando um Estado soberano num protetorado de uma teocracia?

Não obtive resposta, mas, a ser assim, o vexame do Estado deve envergonhar todos os portugueses e levá-los a exigir a revogação de um tratado que nunca devia ter celebrado. 

13 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

Allahu Akbar!

“A jihad [guerra santa] é o teu dever sob qualquer governante, seja ele ímpio ou devoto” (hadith, geralmente invocado para justificar ataques aos infiéis e apóstatas).

“Deus é grande” não é só o grito selvagem que precede uma carnificina, é a apoteose da demência mística, o sintoma da intoxicação divina pelo mais boçal dos livros sagrados.

Deus podia ter sido uma ideia interessante, mas converteu-se num pesadelo cujo nome, em árabe, remete para o mais implacável dos homólogos que alimentam o proselitismo dos desvairados da fé. Alá consegue ser o pior dos avatares monoteístas.

O islamismo, plágio tosco do judaísmo e do cristianismo, ditado pelo arcanjo Gabriel ao “beduíno analfabeto e amoral”, como lhe chamou Atatürk, ao longo de vinte anos, entre Meca e Medina, deu origem à mais sombria mutação do deus abraâmico.

O islamismo já foi mais tolerante do que o judaísmo e o cristianismo, o primeiro com a única vantagem de não ser prosélito, mas a decadência da civilização árabe transformou o monoteísmo do condutor de camelos no mais implacável e anacrónico dos três, e fonte da raiva e ressentimento contra o Ocidente.

Hoje, o cristianismo, impregnado pelo Renascimento e o Iluminismo, graças à repressão política do clero, é a religião mais pacífica, apesar do aguerrido proselitismo de algumas Igrejas evangélicas e de raras seitas católicas radicais.

O primarismo ideológico da religião, que se fundamenta em cinco pilares pueris e cuja violência seduz cada vez maior número de pessoas, exige vigilância policial e impõe um combate ideológico determinado, sem medo das fatwas e do clero que expele versículos e hadiths nas mesquitas e transmite os alegados ensinamentos do profeta nas madraças.

A Europa, onde progressivamente recruta bandoleiros de deus, deve obrigar ao respeito pelo ethos civilizacional que a moldou e defender a laicidade sem contemplações com a pedofilia, a poligamia, a opressão da mulher e outras taras especialmente islâmicas.

Podem os crentes rezar as 5 orações diárias, urinar em sentido contrário ao das orações, manter o ódio ao toucinho e aos cães, mas não podem atropelar, esfaquear ou explodir infiéis numa demencial orgia mística que lhes assegure a viagem rumo ao Paraíso.

O respeito pelos Direitos Humanos é a exigência comum a todos os homens e mulheres, sem qualquer discriminação, nesta Europa que afrouxa a defesa dos seus valores.

11 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

Catolicismo

O pecado só existe até à absolvição. Absolvem-se uns aos outros e atacam em conjunto.

O pecado só existe até à absolvição. Absolvem-se uns aos outros e atacam em conjunto.

6 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

Hoje, no 40.º aniversário da Constituição espanhola (6-12-2018)

A Constituição Espanhola de 1978 foi ratificada em referendo a 6 de dezembro de 1978, sancionada pelo rei a 27 de dezembro e publicada no Boletim Oficial do Estado, 2 dias depois, pondo fim ao período de transição.

Era ainda o tempo de todos os medos, o medo dos fuzilamentos cujo eco ressoava nas praças de touros, o medo do garrote, o medo das brigadas assassinas, ao cair da tarde, que muitos ainda recordavam, o medo da ressurreição do ditador, o medo dos sequazes, chamados à negociação, com pinças, o medo de desobedecer à vontade do ditador e ao rei que ele impôs.

Adolfo Suárez, falangista que entrou na política pela mão de Fernando Herrero Tejedor, um falangista ligado ao Opus Dei, que o apoiou antes e depois da morte do genocida, foi um liberal pragmático que compreendeu o fim de uma era e teve o mérito de reunir falangistas convertidos à democracia, social-democratas, liberais e democrata-cristãos nas eleições de 15 de junho de 1977, as primeiras depois de 1936, que venceria ao leme de uma coligação de direita com poderes constituintes.

Foi um referendo, a forma de passar de contrabando o que se quer e o que se recusa, com todos os medos ainda presentes, que legitimou uma Constituição que fez a transição pacífica da ditadura e manteve no poder o aparelho franquista e na Igreja os cúmplices, nas dioceses e paróquias, com o Opus Dei, força que deu força aos genocídios, a manter vivo o respeito pelo franquismo, que ora ressurge.

A Constituição impôs dissimuladamente o regime que o ditador fascista quis, com o rei que escolheu e educou. As sucessivas sondagens, que davam preferência à República sobre a monarquia, como confessou Adolfo Suárez, presidente do governo de Espanha de 1976 a 1981, e primeiro presidente democrático após a ditadura, levou a que a Constituição fosse referendada com a monarquia dentro.

A Constituição permitiu a transição possível face ao medo de confrontar a herança de Franco no país onde o franquismo manteve o poder nas forças armadas e de segurança, nas autarquias e no aparelho de Estado, nos Tribunais e sacristias, recordado ainda das centenas de milhares de mortos e vindictas franquistas.

Não era fácil impor a um aparelho de Estado indemne, moldado pela Falange, uma Constituição que consagrou o regime pluripartidário. E isso foi conseguido. As futuras alterações cabem aos espanhóis, mas, por ora, é de celebração a instauração do regime pluripartidário a que deu origem quando ganham terreno o fascismo e a nostalgia da mais cruel ditadura da Europa.

E os bispos já comandam o regresso à ditadura.

3 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

A fé é sempre superstição

Países mais crentes no diabo

Malta. 84,5%
Irlanda do Norte 75,6%
EUA 69,1%

Países menos crentes
Letónia 9,1%
Bulgária 9,6%
Dinamarca 10,4%

2 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

A Irmã Lúcia e os folhetins dos segredos

Lúcia de Jesus dos Santos ou Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, Irmã Lúcia, para os mais chegados, fez a 1.ª comunhão aos 6 anos e aos 14 tornou-se reclusa, como pensionista, na escola das Irmãs de St. ª Doroteia, em Vilar, próximo do Porto.

A 3 de janeiro de 1944, já com letra aprimorada e intimidade com o divino, escreveu, a pedido, a “Terceira Parte do Segredo de Fátima”, quando ainda usava o pseudónimo de Maria das Dores e vivia enclausurada em Tui, Espanha.

Já era então vasto o currículo místico, com amplo traquejo no campo das visões, desde as entrevistas com a Virgem, que saltitava de azinheira em azinheira, até aos rodopios do sol, transformado em bola de fogo, a brilhar em numerosas cores, e à viagem ao Inferno onde encontrou o Administrador do Concelho de Ourém, a frigir como merecia, por, em vida, ter faltado à missa.

A Terceira Parte do Segredo de Fátima foi um ponto alto da sua bibliografia pois era a profecia que o papa João Paulo II, na sua superstição, entendeu ser a seu respeito. Esse recado celeste vai agora ser investigado por uma professora catedrática de Coimbra, Maria José Azevedo Santos, não porque tenha a santidade no apelido, mas por ser uma cientista em Paleografia, Diplomática e Codicologia, ciências terrenas que hão de ajudar a compreender as idiossincrasias do Paraíso.

A Congregação para a Doutrina da Fé, ex-Santo-Ofício, de passado pouco estimável, é a possuidora do valioso documento, ora emprestado, pelo prazo de 1 ano, ao Santuário de Fátima onde integrará a exposição «Segredo e Revelação», evento que acordará paixões pias e êxtases místicos.

Espera-se que no acervo dos alvitres da Senhora do Rosário – nome com que a virgem se apresentou aos pastorinhos –, não faltem as cartas que a experiente vidente dirigiu a Marcelo Caetano pedindo legislação adequada para a altura das saias e o tamanho das mangas dos vestidos femininos.

Sabe-se que a Ir.ª Lúcia está no Céu porque, no dia do seu funeral, o Papa João Paulo II e o futuro Papa Bento XVI disseram que ela iria para o céu e Deus seria incapaz de os contrariar.