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Categoria: Religiões

12 de Março, 2008 Carlos Esperança

Intolerância religiosa

Há poucas afirmações tão fundamentalistas e cobardes como a obrigação de respeitar as crenças alheias, por mais injustificadas, imbecis ou cruéis que sejam. Muitas acções que caem no domínio criminal são fruto das crenças de quem as pratica e defendidas por milhões de pessoas.

Os sacrifícios rituais ou a morte dos hereges incluem-se nesse ciclo funesto de crença e legítima vingança. Os muçulmanos não toleram caricaturas de Maomé mas exultam com o extermínio de crianças judias por um piedoso suicida islâmico. Não admitem o toucinho mas entusiasmam-se com a lapidação de mulheres. Abominam o álcool mas extasiam-se com a decapitação de um apóstata. Mas, o pior de tudo, é sentirem-se obrigados a converter o mundo às suas crenças, ambição que disputam aos cristãos.

 Os católicos não gostam que se duvide da virgindade de Maria (apesar de ser um mito não exclusivo e um dogma recente) mas não tiveram problemas de consciência com a escravatura, a humilhação da mulher e a queima de bruxas, hereges e judeus. Calvino foi um assassino mas criou uma religião. Lutero era anti-semita primário e intolerante mas devemos-lhe, paradoxalmente, a liberdade religiosa de que hoje gozamos para desespero do clero das várias religiões.

Hitler, Estaline, Franco, Salazar, Pinochet, Mao e Pol Pot têm seguramente legiões de admiradores que sofrem sempre que alguém os reduz à condição de pulhas e canalhas. E há quem fique tão indignado com os insultos como um judeu de trancinhas a ver comer uma sanduíche de presunto a um judeu secularizado de Telavive.

Os maiores crápulas da Humanidade tiveram sempre admiradores que choraram a sua morte copiosamente. O Papa, que é santo por profissão e estado civil, é desprezado por milhões de pessoas. Bin Laden é um terrorista frio e bárbaro e goza da veneração de milhões de crentes. O Aiatolá Khomeini foi um facínora e a sua morte constituiu a mais impressionante manifestação de pio pesar. Creio que só a de Estaline, no tempo em que ocorreu, rivalizou em luto e aflição.

É mais importante a defesa do direito a ter quaisquer crenças, descrenças ou anti-crenças do que o dever de respeitar as crenças alheias, seja em relação às caricaturas de Maomé ou às caricaturas de Cristo, por mais iconoclastas e de pior gosto que se nos afigurem.

12 de Março, 2008 Carlos Esperança

Vaticano – pecados acabados de inventar

Corre o boato de que a pedofilia passou a ser pecado, para o Vaticano, assim como passar muito tempo a ler jornais, a ver televisão ou a navegar na Internet.

Mas, segundo esta notícia, pecado mesmo, com direito a bilhete de primeira classe em comboio rápido para o Inferno, é o que diz respeito à bioética: «a experimentação e a manipulação genética cujos resultados são difíceis de prever e controlar».

 A ICAR opõe-se à investigação de células estaminais que envolvam a destruição de embriões, ainda que as experiências se destinem à descoberta dos mais promissores medicamentos.

Para a Igreja católica, que gostava de queimar pessoas já adultas, compreende-se a preocupação com os embriões. Com a quantidade de almas que tem em armazém, todos os embriões são poucos para esgotar a remessa cujo prazo de validade se está a esgotar.

11 de Março, 2008 Carlos Esperança

Há quatro anos, em Madrid

Há quatro anos, neste dia, o terror bateu às portas de Madrid. A estação ferroviária de Atocha ficou manchada pelo sangue de 192 mortos e centenas de feridos, na maioria trabalhadores, que se dirigiam para o trabalho.

A demência feroz de fanáticos religiosos esteve na origem da tragédia, na violência dos efeitos e no medo que persiste. Os pregadores, que nas madraças e mesquitas incitam ao rancor e à piedade, raramente são julgados, ficam a orientar as rezas e a alimentar o ódio aos infiéis, crentes indefectíveis de que há um só Deus verdadeiro a quem todos devem prestar vassalagem.

A Europa conhece a violência das guerras religiosas e, talvez por isso, foi-se habituando à tolerância como factor de sobrevivência. Devem-se à secularização e ao laicismo a paz e o bem-estar dos últimos sessenta anos, com admirável respeito por todos os credos e culturas.

Os Estados de direito, democráticos, converteram-se em paradigma da Europa instruída e civilizada que sabe conviver com a diferença e respeitar os valores alheios, mas não se podem respeitar os valores que se sobrepõem aos Direitos do Homem, culturas que discriminam a mulher, concepções tribais que combatem a civilização.

Quatro anos volvidos sobre a tragédia de Atocha e muitos milhares de mortos depois, vítimas do fanatismo religioso, é altura de afirmar que ninguém é obrigado a respeitar as crenças injustificadas dos outros, a pactuar com a intolerância e a conviver com o medo do terrorismo.

É preciso encontrar, julgar e prender quem tem como profissão o incitamento ao ódio e à violência. O lugar desses pregadores não é o Paraíso que prometem, é a enxovia.

Em nome das vítimas de Atocha e de todos os que, ao longo dos séculos, sofreram a morte e a tortura por motivos religiosos, impõe-se como exigência civilizacional o aprofundamento da separação entre o Estado e a Igreja. Seja qual for a Igreja, qualquer que seja o Estado.

11 de Março, 2008 Carlos Esperança

Humildade cristã

Os bispos espanhóis felicitaram o primeiro-ministro José Luis Zapatero pela sua vitória eleitoral.

Satisfeita com os resultados , a Conferência Episcopal espanhola enviou uma carta ao líder socialista a oferecer a sua colaboração.

11 de Março, 2008 Carlos Esperança

Derrota de Deus em Espanha

O cardeal de Madrid, Rouco Varela, amigo de B16 e do defunto JP2, eleito presidente da Conferência Episcopal de Espanha (CEP) com a bênção do Papa, era o braço armado da Senhora de Guadalupe contra o PSOE.

Desceu às ruas de Madrid, acompanhado pelo bando de sotainas da sua diocese, a rugir contra as leis que autorizaram o carácter facultativo do catecismo nas escolas públicas, que facilitaram os divórcios, aprovaram as uniões de homossexuais e permitiram que estes adoptassem filhos.

O cardeal pediu aos crentes que rezassem muito para que Deus os ajudasse a vencer um demónio civilizado e urbano, social-democrata e ateu, presidente do Governo espanhol e cumpridor das promessas feitas ao eleitorado, promessas que fazem ranger os dentes e espumar de raiva o arcebispo de Madrid.

Ora, Deus provou que não existe. Perderam tempo e as orações os ociosos que rezaram e não puderam evitar que o cardeal Rouco Varela e o Papa B16 fossem humilhados nas urnas.

O cardeal deixou achincalhar a mitra e enferrujar o báculo. No futuro, só alguma beata mais inveterada se aproximará do anelão para lho oscular. Os próprios padres, vendo a irrelevância do seu bispo, começam a perder a fé em Deus e o medo do Inferno.

E um padre sem medo e sem fé é um homem perdido, capaz de violar os sete pecados mortais, de comprar preservativos e encomendar a pílula do dia seguinte para prevenir alguma desgraça de homem feliz que se libertou de Deus.

Até há pouco, o cardeal do Opus Dei gania homilias ferozes e ameaçava com o Inferno. Agora é um primata envergonhado com a inutilidade do seu Deus e das suas homílias. Mas ainda vai rosnar apesar da vergonha e da derrota.

10 de Março, 2008 Carlos Esperança

E o viagra?

A eucaristia é “o fármaco da eternidade” – B16

9 de Março, 2008 Carlos Esperança

Espanha – Cardeal Rouco Varela humilhado nas eleições

Contra o PP, contra o cardeal Rouco Varela, contra os franquistas e todos aqueles que se juntavam nas ruas de Madrid em persistente contestação ao cumprimento das promessas do PSOE, José Luís Rodríguez Zapatero ganhou as eleições e o direito de formar governo para um segundo mandato.

Nem a desesperada manifestação terrorista da ETA, que vitimou um vereador socialista a quem o Governo de Franco assassinara o avô, foi suficiente para inverter a tendência de voto a favor do PP, cúmplice da invasão do Iraque e companheiro das manifestações dos bispos que traziam para a rua as mitras, os báculos e os devotos e que, nas homilias, vociferavam contra a despenalização do aborto, a facilitação dos divórcios, os direitos concedidos aos homossexuais e o carácter facultativo que foi concedido ao ensino do catecismo nas escolas oficiais.

A derrota da direita começou a desenhar-se com a hegemonia de sectores mais radicais, com a crispação dos sectores mais reaccionários e terminou com a eleição do cardeal ultra-conservador Rouco Varela para presidente da Conferência Episcopal Espanhola com o apoio de Bento XVI de quem é amigo.

O eleitorado castigou a interferência do Vaticano no processo eleitoral, a ingerência aguerrida do clero e o manifesto espírito retrógrado dos sectores mais radicais, que Mariano Rajoy não conseguiu controlar. Pelo contrário, deu uma segunda oportunidade ao PSOE que desenvolveu a Espanha, impôs a laicidade do Estado e fez um país mais moderno, europeu e civilizado.

Aznar, a CEE e Rajoy, que não pôde ou quis demarcar-se de tão más companhias, são os derrotados. Zapatero e o povo espanhol mereceram a vitória. Vitória da moderação e da tolerância.

A ICAR foi humilhada. O consumo das hóstias continuará em queda e o clero católico, por muitos mártires que canonize, representará cada vez mais os mortos e cada vez menos vivos.