31 de Março, 2008 Ricardo Alves
Lucidez
- «(…) o sistema de valores que consideramos como o nosso corpo doutrinal não é aquele que a maioria da sociedade portuguesa assume» (Carlos Azevedo, bispo da ICAR)
Vaticano admite regresso de tradicionalistas
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Comentário: O problema não é o regresso dos tradicionalistas ao Vaticano, é o regresso do Vaticano ao tradicionalismo, ao espírito anterior ao concílio Vaticano II.
O jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, apresenta duas peças sobre o Arcebispo salvadorenho Oscar Arnulfo Romero na sua edição desta Sexta-feira, frisando que “os Papas estiveram sempre ao seu lado“.
Os católicos deixaram a primeira posição na classificação das religiões perdendo para os muçulmanos, segundo uma entrevista publicada hoje pelo periódico vaticano “L’Osservatore Romano”.
Divórcio abre nova guerra entre maioria PS e Igreja
Bispo porta-voz da hierarquia fala em projectos “facilitistas”
Está à vista um novo conflito entre a Igreja Católica e a maioria socialista. Depois da despenalização do aborto, agora será a vez do divórcio.
É surpreendente que uma instituição que se opõe à interrupção voluntária do celibato dos seus membros se esforce por impedir a interrupção voluntária do matrimónio aos crentes, descrentes e crentes de outras religiões.
O filme de Geert Wilders já está no YouTube.
A primeira parte é uma digressão pelos momentos de choque e pavor que o islamismo trouxe ao mundo nos últimos anos (11 de Setembro, 11 de Março, 7 de Julho, Somália), entrecortados por imagens de sermões (e manifestações) particularmente extremistas onde se faz claramente a apologia da violência em nome do Islão. Inclui também alguns versículos do Corão que podem ser utilizados para justificar a violência.
É na segunda parte que o filme do senhor Wilders se torna mais abertamente xenófobo, com números do crescimento de muçulmanos na Holanda (944 mil, 6% da população total) e na Europa. São mostradas imagens de execuções de homossexuais (Irão) e de mulheres (Afeganistão), e sugere-se que acontecerá o mesmo na Holanda de amanhã, o que já é entrar no puro disparate: que eu saiba, o regime talibã já caiu, o do Irão está internacionalmente isolado, e apenas o da Arábia Saudita goza de boas relações com a Europa e os EUA. Mais: nos anos mais recentes, o islamismo só subiu ao poder na Faixa de Gaza, que tem peculiaridades ausentes alhures. E mesmo que a população muçulmana fosse alguma vez maioritária na Holanda (o que, à taxa actual, demoraria mais de cinquenta anos) duvido que essa maioria quisesse impôr a chária. Porque nem todos os muçulmanos, felizmente, são islamofascistas, do mesmo modo que nem todos os católicos se chamam Carlos Azevedo ou César das Neves.
Mas se é evidente que o islamofascismo deve ser combatido, para que a relação dos muçulmanos com o Islão mude, esse combate só pode ser feito em nome da laicidade. A ICAR também só mudou (Concílio Vaticano 2) graças a Afonso Costa e à lei francesa de 1905 (entre outros), e não graças aos fascistas europeus que tão bem se entenderam com ela. Portanto, a bem da coerência e da eficácia, não pode haver complacência com os clericalismos concorrentes (cristão evangélico, católico ou judaico), que o católico Wilders, reveladoramente, nunca tem tempo para criticar.
Resumindo: deixem o senhor Wilders falar. Percebe-se que o problema dele não é tanto o Islão, mas mais os muçulmanos. E que as suas soluções andarão mais próximas de cortar os subsídios de desemprego a muçulmanos do que os subsídios a escolas religiosas (muçulmanas ou, valha-lhe «Deus», cristãs). No limite, este senhor proibiria o Corão (já o defendeu, sem explicar onde ficaria a liberdade de expressão) e expulsaria os muçulmanos. O objectivo dele não é acabar com a discriminação de ateus e outras minorias religiosas, é riscar da constituição holandesa a obrigação de não discriminar.
O perigo para a Europa não é uma «islamização», que não seria exequível demográfica ou (contenham o riso) militarmente. O perigo é a convergência de esforços entre clericalismos, como o rei da Arábia Saudita já compreendeu muito bem. O senhor Wilders é uma distracção e uma perda de tempo.
Foi hoje colocado na Internet o filme contra o Islão do deputado holandês de extrema-direita Geert Wilders.
Ao longo de 15 minutos, «Fitna» (termo árabe para divisão ou discórdia) mostra imagens de recentes atentados e declarações de radicais islâmicos, associando-as a versículos do Corão em que se faz a defesa da «jihad» (guerra santa).
Com este filme Wilders diz querer mostrar como o Corão incita à violência e promove o ódio contra as outras religiões.
Numa entrevista recente, o fundador do Partido da Liberdade chegou a apelidar de «fascista» o livro sagrado dos muçulmanos e a compará-lo ao «Mein Kampf», de Adolf Hitler.
A terminar o filme, legendado em francês e inglês, surge um grande plano do Corão e uma mão pega numa das folhas. No plano seguinte, sob um fundo negro, ouve-se o som de uma folha a ser rasgada mas, em legenda, o autor garante que a página arrancada pertencia a uma lista telefónica. «Não me cabe a mim, mas aos próprios muçulmanos rasgar os versos de ódio do Corão», acrescentam as mesmas legendas, em que Wilders volta a acusar o Islão de «querer governar, submeter e destruir a civilização ocidental».
Fazendo uma analogia com a derrota do nazismo, em 1945, e do comunismo, em 1989, o deputado da extrema-direita diz ser «agora tempo de a ideologia islâmica ser derrotada», antes de concluir: «Parem a islamização, defendam a liberdade».
Fonte: Público, 27 de Março de 2008.
O primeiro-ministro holandês, Jan Peter Balkenende, rejeitou hoje a interpretação do islão do deputado de extrema-direita Geert Wilders, autor de um filme contra o Corão, divulgado na Internet.«O filme amalgama Islão e violência. Nós rejeitamos esta interpretação», declarou.
Fonte: Agência Lusa, 27 de Março de 2008.
O Conselho dos Direitos Humanos da ONU aprovou a resolução por 21 votos a favor e 10 contra, com a oposição da Europa e Canadá.
A resolução, submetida pelo Paquistão em nome da Organização da Conferência Islâmica, contou com a oposição da União Europeia e 14 abstenções.
No texto lêem-se preocupações com «as declarações nas quais as religiões – nomeadamente o Islão e os muçulmanos – são atacadas, tenham a tendência para se multiplicar nos últimos anos». Menciona ainda os «estereótipos deliberados que visam as religiões, os seus adeptos e pessoas sagrados nos órgãos de comunicação social».
«Lamenta a utilização da imprensa escrita, dos meios audiovisuais e electrónicos», a fim de incitar «aos actos de violência, à xenofobia ou à intolerância» e à «discriminação face ao Islão ou a qualquer outra religião».
O Conselho declarou-se «vivamente preocupado com a intensificação da campanha de difamação das religiões e do perfil étnico e religioso das minorias muçulmanas desde os trágicos acontecimentos do 11 de Setembro de 2001».
Além disso, o Conselho preocupa-se com as «tentativas que tenham por objectivo assimilar o Islão ao terrorismo, à violência e às violações dos Direitos Humanos».
O representante da União Europeia, o embaixador da Eslovénia Andrej Logar, lamentou um texto «unilateral, que se centra apenas no Islão».
Fonte: RTP, 27 de Março de 2008.
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