Loading

Categoria: Religiões

3 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Bento 16 e a virgindade

«O Vaticano deu o primeiro passo para a beatificação da jovem espanhola de 22 anos assassinada em 1992 por Pedro Luis Gallego, que queria violá-la. Se a elevação aos altares acontecer, será a primeira mártir da era moderna, pela defesa da virgindade em nome da fé cristã».

 

Longe de mim acreditar que o actual Papa é um crente. É demasiado culto e inteligente para acreditar na virgindade de Maria, na infalibilidade papal e na transubstanciação da hóstia por acção dos sinais cabalísticos da praxe.

Este Papa é um gestor, um homem de negócios que conhece a clientela e que desistiu da mais sofisticada, para manter a mais primária e rudimentar. Em marketing escolhem-se os segmentos de mercado. Não se discute com um biólogo a capacidade reprodutiva do Espírito Santo nem com um obstetra a virgindade depois de um parto por via baixa.

Os milagres, cada vez mais frequentes e fúteis, não são o número para que se convidem cadáveres ou se aliciem crentes alfabetizados. B16 sabe que as canonizações rendem grossos cabedais ao Vaticano e atraem ouro, jóias e euros para as caixas de esmolas dos taumaturgos quer se trate de um torturador franquista, canonizado por lapso ou de uma descrente como Madre Teresa de Calcutá, desde que fosse cúmplice com o papa no ódio ao preservativo.

A virgindade é uma virtude que a ICAR resolveu estimular no seu santo ódio e nojo ao orgasmo e à sexualidade em geral. Esgotada a lista de franquistas destinados ao altar, é agora a vez de procurar novas minas de santos para manter o entusiasmo dos fiéis.

Marta Obregón foi assassinada numa tentativa de violação. Como a jovem era dada à oração, a violação e o assassínio não mereceram a atenção do Papa. Para ele só contou a heróica renúncia à alegada perda da virgindade. Mais uma santa. O deus do Papa serviu-se de um canalha para fazer uma santa. Com a ajuda de um embusteiro.

2 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

João Paulo II e o ateísmo

Creio que há uma dívida de gratidão dos ateus para com João Paulo II (JP2), dívida que o extinto polaco involuntariamente mereceu.

JP2 era um Papa que acreditava na existência de deus, na navegação celeste de anjos e virgens, suficientemente supersticioso para afiançar que os mortos obravam milagres.

Não passou pela cabeça do crédulo polaco que o ridículo e os escândalos faziam pior à Igreja do que as mentiras que pregava. Acreditar que a santinha de Balazar se alimentou de hóstias consagradas durante mais de uma década, sem comer nem beber e em anúria, seria motivo de interdição das funções, por falta de siso, a quem não tivesse a profissão de santo.

JP2 era o rural poliglota, casto, fiel à ICAR, protegido do Opus Dei e protector da CIA, que acreditou que o comunismo era obra do diabo. Só um rústico podia acreditar que os regimes ditatoriais de esquerda são obra do demo e os de direita fruto da vontade divina.

As suas viagens eram um espectáculo coreografado para atrair multidões e esconder o vazio da Igreja e a mentira de deus. No Vaticano era dos poucos que lia a Bíblia e que acreditava nas suas fábulas.

Foi graças aos espectáculos mediáticos e à crença de que deus existia que promoveu o seu próprio culto. Quanto aos milagres que rubricou e aos numerosos santos que criou, levou o ridículo aos cinco continentes, entusiasmou os crédulos e divertiu os ateus.

JP2 foi um produto do marketing, tão genuinamente convencido de que tinha uma missão divina que se chegou a acreditar que figurava num segredo de Fátima inventado para combater a República e prolongar o obscurantismo português.

Antigamente os santos eram poucos e os milagres fruto da tradição oral. Quando JP2 industrializou a criação de santos e passou a certificar milagres, vulgarizou as mentiras da ICAR e escarneceu os santos antigos que o tempo tinha consagrado.

Fez mais pelo ateísmo o papa polaco a rezar do que os investigadores a divulgarem a ciência.  

1 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

A Espanha e a ICAR

A Espanha, país onde nunca entrou a Reforma mas onde a Contra-Reforma assumiu as mais desvairadas formas de violência, mantém, ainda hoje, bispos maioritariamente reaccionários, nostálgicos do fascismo e dispostos a enfrentar o poder legal.

Curiosamente a Espanha católica com que sonham os bispos é mais anticlerical do que crente. A pungente nota eleitoral do episcopado, em 31 de Janeiro, pedindo aos eleitores para que votassem no partido que «defenda o casamento entre homem e mulher», isto é, no PP, saldou-se por uma derrota que reconduziu o PSOE ao poder.

Rouco Varela, frio cardeal de 71 anos que trocou o funeral do irmão mais velho por um encontro com o Papa, é o velho franquista e entusiasta do Opus Dei que destila ódio de estimação ao PSOE e um azedume pio perante a o processo de secularização espanhola.

O combate político nos jornais católicos, no púlpito e nas ruas de Madrid, em manifestações raivosas contra o PSOE, fizeram dele um dos maiores derrotados das últimas eleições legislativas espanholas.

No dia seguinte à derrota que o humilhou e que contribuiu para a progressiva laicização de Espanha, quando os dados eleitorais já eram irreversíveis, anunciou que rezava por Zapatero e, que «A Conferência Episcopal Espanhola reza para que o Senhor lhe conceda a sua luz e a sua força no desempenho das responsabilidades de que o povo o incumbe, ao serviço da paz, da justiça, da liberdade e do bem comum dos cidadãos».

Quanto às orações bem sabe o rancoroso cardeal da sua ineficácia e quanto à justiça, liberdade e bem comum, respondeu-lhe o eleitorado.

No País dos reis católicos, a igreja que «evangelizou» os índios da América do Sul, que torturou hereges, expulsou judeus e apoiou o assassínio metódico dos republicanos pelos franquistas, é a Igreja que vive da generosidade do Governo, das largas verbas que este lhe concede, com a advertência do PSOE de que «os privilégios não são eternos».

1 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Paraguai – O Vaticano ajoelhou-se

Em decisão inédita, o papa Bento 16 concedeu ao presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, a “perda do estado clerical”, o que permitirá ao ex-bispo assumir o poder, no próximo dia 15, sem violar as leis do Vaticano.

Segundo comunicado lido pelo núncio apostólico no Paraguai, Orlando Antonini, a medida foi tomada “pelo bem do país”. “É a primeira vez que isso é concedido [a um bispo]. Foi aceite porque o povo o escolheu e sua condição clerical é incompatível com a de presidente”, disse Antonini, cuja função corresponde à de embaixador do Vaticano.

31 de Julho, 2008 Carlos Esperança

PEDOFILIA E MISOGINIA

Por

Renato Soeiro

 

Na Austrália, o Papa Bento XVI pediu desculpa às inúmeras vítimas dos crimes de pedofilia praticados por padres e bispos da Igreja Católica daquele país. Já tinha apresentado idênticas desculpas em anterior visita aos Estados Unidos da América, onde esta acção criminosa do clero tinha também alastrado de forma assustadora. Nos mesmos EUA onde há quinze dias se realizou a ordenação de três mulheres como sacerdotes católicas. Não serão reconhecidas pelo Vaticano e arriscam mesmo a excomunhão, já que o machismo fundamentalista dos duros do Vaticano mantém um bloqueio irredutível, absolutamente fora do espírito do nosso tempo. É um sinal forte de uma ideologia em rápido processo de obsolescência, gerindo uma instituição que resiste à mudança, em claro contraste com a mensagem de coragem.

No entanto, a abertura do sacerdócio e da hierarquia da Igreja Católica à participação das mulheres, para além de ser fundamentalmente um acto de elementar justiça, poderia ter como efeito imediato a redução da quantidade de crimes de abuso sexual de crianças

nas igrejas. Mas nem esse problema, que pelos vistos tanto aflige o Santo Padre, parece pesar na decisão. Só homens, ainda por cima homens sem família constituída e com voto formal de eterna castidade, poderão continuar a dirigir os destinos das paróquias e das dioceses.

O que é estranho é que esta igreja de homens, que considera as mulheres indignas de exercer as funções de padre ou de bispo, continue a ser frequentada maioritariamente por mulheres.

Renato Soeiro

31 de Julho, 2008 Carlos Esperança

Símbolos religiosos

 Por

ONOFRE VARELA

O jornal Público (30/7/2008) acaba de dar a notícia de que uma adolescente da comunidade sikh ganhou, no Supremo Tribunal do Reino Unido, o direito de voltar à escola que frequentava no país de Gales ostentando a pulseira de aço, símbolo da religião que partilha com mais 20 milhões de seres em todo o mundo, pela qual tinha sido expulsa. A razão da expulsão prendia-se com a regra interna do colégio que não permitia outros adornos corporais para além do relógio de pulso e brincos simples.

Este caso remeteu-me para as notícias, já não muito frescas, da proibição de entrar em lugares públicos ostentando simbologia religiosa (como em França e Inglaterra) e, por cá, a proibição de se encenar um presépio numa escola pública.

É bem verdade que é preciso laicizar a nossa democracia, e o governo já ensaiou uns passos tímidos nesse sentido com uma resolução governamental de 2007 visando retirar o serviço religioso dos hospitais. Esta atitude — embora lógica — é evidente que choca com a necessidade que os dependentes da “droga-Deus” sentem numa situação de doença, e a ICAR aproveita para defender os seus pontos de vista atacando as atitudes do governo, classificando-as como ateias.

Conciliar o vício do consumo de religião que a Igreja alimenta nas camadas mais desfavorecidas de dinheiro e do resto, com o cumprimento das leis da República, é papel que cabe aos legisladores, mas não é tarefa fácil.

A retirada de símbolos religiosos dos organismos de estado tem de ser feita. É incontestável. Mas terá de contar com legislação adequada, e nunca de um modo que pareça coercivo… porque proibir uma manifestação religiosa é uma atitude tão estúpida quanto a de impor um credo religioso a uma comunidade. Por isso não é uma atitude simpática — nem, tão pouco, inteligente e eficaz —, proibir o acesso a instituições públicas às pessoas que ostentem símbolos religiosos.

Impedir a entrada na sala de aula a uma estudante com a cabeça tapada pelo véu islâmico ou exibindo uma cruz ao peito, é uma atitude tão disparatada como seria impedir a entrada num bar a quem decore a lapela com o emblema do Sporting ou exiba o símbolo do Partido Comunista estampado no peito da camisola.

Tal separação deve existir, naturalmente, no entendimento de cada cidadão como atitude cívica. As escolas não existem, apenas, para ensinarem a ler e a contar. Também têm por missão educar na cidadania, e é nesta educação que a separação das águas políticas e religiosas deve ser feita.

Defendo que nos espaços da responsabilidade do Estado, como tribunais, repartições públicas, escolas e hospitais, não deva existir benzedura inaugural nem sinalética religiosa, como crucifixos e outras imagens, porque tais símbolos têm um lugar próprio para serem exibidos: os altares das igrejas e a casa de cada crente. As escolas, os tribunais e os hospitais prestam ensino, cuidados de saúde e Justiça a todos, sem lhes perguntarem o paladar do iogurte da sua preferência.

Mas impedir a entrada em tais lugares a quem use um adereço decorativo representativo de uma organização legalizada pela sociedade em que está inserido (como uma religião, um clube desportivo ou um partido político), é um acto estúpido, separatista, tresanda a uma intolerância insuportável e acrescenta ao objecto proibido um valor que, realmente, não tem.

É tão estúpido proibir os alunos de fazerem um presépio no Natal ou enfeitarem uma árvore com bolinhas coloridas (numa sociedade onde tais elementos fazem parte da etnografia local), como estúpido será obrigá-los a fazê-lo contra a sua vontade quando tal tarefa não tem intenção pedagógica no entendimento do ensino laico.

A representação do presépio existe desde que Francisco de Assis o inventou, e o seu significado é, basicamente, folclórico e cabe muito bem na decoração das montras dos espaços comerciais. Aliás, simbologia religiosa e comércio, sempre casaram muito bem!…

Proibir tal cenografia no cumprimento de uma manifestação folclórico-religiosa sazonal, como é o Natal, é fomentar a revolta contra a proibição e, consequentemente, a sua transgressão e a exaltação do acto de transgredir… para além de enaltecer a importância do objecto proibido, o que é pior por funcionar em sentido contrário à ideia da proibição. É como proibir os caretos das aldeias brigantinas de saírem à rua a acossarem as jovens namoradeiras, como em tempos salazarengos chegou a ser decretado.

Educar no sentido de produzir cidadãos responsáveis, respeitadores daqueles que têm ideias diferentes das suas, é bem mais difícil do que proibir manifestações que, por preconceito social, religioso ou rácico, não são bem vistas pela comunidade. Esse difícil caminho da Educação é aquele que tem de ser seguido, porque é o mais lógico.

Contrariar isto é usar as mesmas atitudes fundamentalistas dos credos religiosos que a todos vitimizam.

Onofre Varela