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Categoria: Religiões

10 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

José Saraiva Martins – o Cardeal que mais santos criou

Nunca um santo criou um só cardeal e jamais um só cardeal criou tantos santos.

A entrevista do cardeal Saraiva Martins (JSM), ao Diário de Notícias de hoje, é uma peça de antologia distribuída por quatro páginas da edição impressa.

Não se sabe onde termina o ingénuo pesquisador de milagres, supersticioso e crente, semelhante ao caçador de gambozinos, e onde começa o frio contabilista da empresa que lhe confiou o marketing da santidade.

Engana-se quem vê no ar rústico do velho cardeal um homem tolerante e aberto ao mundo, um homem que já não se lembra em quem votou no último conclave mas tem bem presente que os padres devem aconselhar os fiéis sobre os partidos políticos em que devem votar.

JSM quer esquecer a cumplicidade da sua Igreja com Salazar mas gosta de recordar que o preservativo nunca deve ser usado. Fala dos beatos e santos que promoveu em doses industriais, dos milagres que inventou e do negócio das canonizações sem se dar conta que Portugal mudou. Sabe de cor o nome de todos os bem-aventurados portugueses que ajudou a içar aos altares.

Só com Bento XVI já criou 555 beatos e 14 santos o que significa uma clara aceleração do veículo que conduz à santidade depois das beatificações em série do antecessor – 1887, entre beatos e santos.

São quatro páginas inteiras de uma entrevista que há quarenta anos alvoroçava o Portugal rural e beato de Salazar mas que hoje deixa um sorriso de incredulidade em quem o lê, que diz acreditar na santidade de Alexandrina da Costa, a bem-aventurada que viveu 13 anos sem comer nem beber, em anúria, apenas com uma hóstia consagrada por dia.

Fala de Fátima como se as «aparições» não fossem uma forma de combater a República, mais tarde reciclada para o combate ao comunismo, como se as azinheiras fossem plataformas de aterragem da Virgem e a Cova da Iria um anjódromo feito à medida para o Paraíso organizar viagens ao concelho de Ourém para enviar recados através de três inocentes pastorinhos.

JSM é uma figura medieval no pensamento mas astuto na defesa dos milagres. Quando a ciência não explica, é milagre… e reconhece que o Vaticano se preocupa em distribuir os santos e os milagres de forma equitativa pelos países católicos embora os emolumentos não sejam baratos.

A Espanha ficou a ganhar por causa dos mártires da Guerra Civil mas – embora não o diga – isso foi um privilégio para promover a vitória do PP e apelar à Espanha franquista contra o PSOE, tentativa gorada para desespero do cardeal Rouco Varela.

Homofóbico, reaccionário e fiel às mais ortodoxas posições do Vaticano, admitindo que ele próprio pudesse ter sido papa, não esconde o medo do Islão e o perigo das alterações demográficas na Europa que podem tornar hegemónica a religião concorrente.

Este cardeal nascido numa aldeia do distrito da Guarda, em Portugal, que presidiu no último 13 de Maio a uma peregrinação contra o ateísmo, nunca mudou. Há anos afirmou que «Não há coisa mais bonita do que ver os homens de joelhos ou deitados».

10 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

DA feito pelos leitores. Deus não quis…

A paranóia religiosa e o obscurantismo não têm limites. Nem podem ter, já que estão intimamente ligados.
O “Jornal de Notícias” de hoje (2007/08/10)
chama à primeira página, na sua edição impressa, uma reportagem acerca da violência doméstica, com o subtítulo “Deus não quis que eu morresse”. Remete o leitor para o interior do jornal.
A folhas tantas, uma tal “Margarida” (nome fictício) revela factos que já não deviam existir num país que se pretende civilizado. Agressões diárias e violentas, por parte do marido. Enfim, nada de especial, nada a que não estejamos habituados. Acaba por, até, nem ter as honras de notícia, embora esta se justifique por estarmos na chamada “silly season” ou, em português decente, estação parva,
Mas, a certa altura do deu depoimento, “Margarida” desabafa (julgo que em tom agradecido, mas isso sou eu a julgar):
“Tenho consciência de que se ele não me matou foi mesmo porque Deus não quis, porque o homem às vezes parecia o demónio em pessoa…”,
Vamos ler devagar, porque esta frase tem pano para mangas. “Deus não quis” que o marido a matasse; mas não mexeu um dedo para evitar a dose diária de agressões. Teve poder para evitar a morte, mas não o usou para evitar as agressões. Ou seja, presume-se que “não quis” que a “Margarida” morresse, mas “quis” (por omissão) que o marido a agredisse diariamente. Pelo menos, permitiu. Isto porque Deus tinha conhecimento dos arraiais diários de pancada, a julgar pela expressão” se ele não me matou foi mesmo porque Deus não quis”.
No Alto Douro, mais concretamente na região de Vila Real, corre um ditado que diz Matar, só Deus e os de Abaças – mas com licença dos de Guiães. O que me leva a presumir que o marido não era de Abaças nem tinha pedido licença aos de Guiães. E Deus não quis deixar os créditos por mãos alheias. Tareia diária, vá lá… Matar??? Náááá! Só Ele e os de Abaças (mas com licença dos de Guiães, para que conste). Suponho, aliás, que Deus, na Sua infinita sabedoria, não quis contradizer as
sábias palavras de um clérigo nosso conhecido (ver aqui).
Com deuses destes, para que serve o Demónio? Não seria melhor mandá-lo para o desemprego?

José Moreira in «À moda do Porto»

9 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Grécia – laicidade difícil. Escreve um leitor

As teocracias são assim. Ditatoriais e limitadas à sua exclusividade.
Embora digam, as monoteístas, que só há um deus, e isso poderia significar a concordância para apurarem os pontos em comum e deixarem de fazer guerras hediondas e com vítimas laicas e outras, do clero ou monges, todas escusadas, que depois são nomeadas sacrificiais, mártires e abençoadas no conceito que habitam a eternidade celestial…
Não podem fugir a isso: obrigar crentes e muitos dos não crentes, às obrigações da aprendizagem dos seus credos, nas escolas, a expensas do estado, o que aumenta em muito o leque da sua influência, detectando onde podem minar consciências e, por outro lado, de algum modo, exercendo a “santa” lavagem cerebral… O clero e apaniguados vêm aumentados os seus réditos, o seu poder económico, mas, de facto, o que mais querem é a influência directa sobre as gentes num garrote permanente!
Deus é um fito emblemático (todo poderoso) mas quem se vai governando são os credos na figura das suas igrejas.
Quem tem o poder, sendo crente apaniguado, como pode defender o laicismo e entender a sua importância social e estruturante duma democracia autêntica?
É necessário lutar por isso sobretudo num estado que se diz democrático!

a) GT

6 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

O islão é uma religião de paz

Nota: Os ateus, não obstante as objecções que todas as religiões lhes merecem, não podem deixar de solidarizar-se com todas as vítimas do ódio religioso em especial pelas que menos o cultivam, como é o caso dos baha’is.

6 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Proselitismo e amnésia

As vozes da Igreja do silêncio
Sobrevivência da Igreja na China pode ser considerada como um “milagre”, mas é ultrapassado pelo seu crescimento quase imparável, nos nossos dias

Comentário: A ICAR já esqueceu as perseguições que fez, as Cruzadas, a Inquisição e a evangelização dos índios.

5 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Turquia – A democracia suspensa do véu

Não há exemplo histórico de um credo que tenha sido arauto da liberdade, mas sobram provas da violência com que contrariaram, em nome de Deus, as liberdades individuais. Não é, pois, apanágio do Islão a superstição, o espírito misógino e o ódio visceral que o seu clero vota à liberdade individual e à modernidade.

Uma civilização decadente, patriarcal e regulada pelo clero, atribui aos infiéis a pobreza e o atraso e, perante o repto da modernidade, excita-se a cumprir os cinco pilares da fé, matando e morrendo, no convencimento de que Deus é grande e Maomé o seu profeta.

As democracias conhecem os conflitos religiosos e a crueldade prosélita a que tiveram de pôr termo, mas depressa esqueceram o passado próprio, numa cumplicidade suicida, para, em nome do multiculturalismo, tolerarem o fim do pluralismo religioso nas terras onde o Islão deita raízes. Os lucros sobrepõem-se aos Direitos do Homem porque os primeiros agradam a banqueiros, agiotas e comerciantes e os segundos a filósofos, humanistas e sonhadores.

A Turquia, que não é árabe, onde a islamização vai corroendo as bases do país laico que a clarividência e a impiedade de Ataturk impuseram, tem hoje um primeiro-ministro e um presidente que desafiam a Constituição (de que militares e juízes são guardiães) ora abolindo a interdição do véu islâmico nas universidades, ora afrontando a laicidade com as próprias mulheres que, numa atitude provocatória, exibem em público o adereço pio.

Claro que é difícil, em nome da liberdade, defender uma proibição, combater em nome da laicidade um adorno que, na aparência, é da vontade de quem o usa, mas a prática já provou que o direito que hoje reclamam é o dever que amanhã querem impor.

Se os livros sagrados passassem no crivo do Código Penal, há muito que os pregadores seriam afastados do púlpito e levados do templo para a prisão. Em plena Europa, tal como fizeram os papas com as cruzadas, há hoje clérigos a pregar a guerra santa contra os infiéis, todos os que rejeitamos a crueldade, a violência e o ódio que o Corão destila.

É bom recordar a quem transige com a lapidação de mulheres, a desigualdade de género e a decapitação de hereges que na Turquia, com 71 milhões de habitantes, já fugiram de Istambul, ex-Constantinopla, os últimos descendentes dos Bizantinos. No leste, a Igreja Ortodoxa síria está praticamente extinta, com os últimos mosteiros a serem evacuados e os cristãos que fugiram a denunciar os «impostos de protecção», a expropriação das terras e, até, assassínios.

Com a Constituição laica, assassinam-se juízes que a defendem, com a «compreensão» do primeiro-ministro, e os cristãos, particularmente os arménios, são marginalizados. Aliás, qualquer religião corre o risco de extinção onde outra conquiste o aparelho do Estado. É isto que não vêem os cegos de qualquer religião, os que falam de diálogo para melhor prepararem a guerra, os que dizem defender a paz enquanto treinam terroristas.

Na Turquia, o véu é o manto diáfano que esconde a teocracia e destrói o Estado laico.