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Categoria: Religiões

22 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Momento zen de segunda

João César das Neves virou ateu

Na homilia de hoje, no DN, João César das Neves começa por apelar a uma espécie de Declaração Universal dos Direitos de Deus e acaba numa pungente exteriorização de ateísmo.

Entre os desvarios místicos do prólogo e a decepção ateísta do remate da prédica “Deve ser horrível ser Deus”, há as lucubrações beatas de um crente que se esgotou, que, de tanto erguer as mãos para o Céu, as viu mirrar, de tanto implorar sem ser atendido, se vê perdido no mar da incerteza, duvidando de Deus mas com fé inquebrantável no Papa.

Começa por perguntar: «Já pensaram na pachorra que é preciso para ser Deus? Lidar com toda a humanidade ao mesmo tempo deve ser horrível. É que Deus tem de conviver com todo o tipo de pessoas». (Incluindo as que não tomam banho).

Depois, queixa-se do desprezo a que o seu Deus é votado: “Muitos não Lhe ligam nenhuma. Aproveitam tudo o que Ele lhes dá, sem sequer uma palavrinha para agradecer aquilo que, afinal, é tudo o que eles têm e são. Por vezes até exigem mais, invocando direitos inalienáveis”. (Nem um cabritinho lhe dão, os ingratos).

JCN é a réplica profana da Madre Teresa de Calcutá. Cansado de pregar aos ímpios, foi-se desiludindo com o silêncio de Deus, perturbado com a sua ausência e, numa síntese entre a superstição e a razão, acabou a desabafar:

«Ser Deus é tão horrível que, se Ele viesse a este mundo, as coisas iam correr mal de certeza». (Pior, ainda)?

JCN sabe que não vem, mas deve ser desolador, depois de uma vida de crente, ter de confessar que Deus não habita este mundo (o único que existe) e que não virá. É deste vazio que nascem as seitas que ameaçam: «Vem aí»!

21 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

ICAR – Isolada de outras igrejas cristãs

Mulheres ameaçam deixar Igreja Católica se Vaticano não lhes reconhecer a igualdade

A aceitação do sacerdócio e do bispado feminino entre os protestantes e anglicanos deixa a Igreja Católica diante de uma pergunta: até quando o Vaticano poderá continuar ignorando o fato da emancipação feminina e da igualdade dos sexos?

De quanto tempo a Igreja vai precisar para mudar o olhar que os santos padres – desde santo Agostinho a santo Tomás de Aquino – atiraram sobre a mulher, esse ser que, assim como Aristóteles, também eles julgaram inferior, submisso, de natureza defeituosa, incompleta, “imbecilitas”, impura?

20 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Juntos contra quem?

A mensagem divulgada ontem pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso por ocasião do fim do Ramadão foi bem aceite pela comunidade muçulmana. A mensagem tem como tema “Cristãos e muçulmanos: juntos pela dignidade da família”.

As religiões guerreiam-se entre si, mas unem-se contra os infiéis. Pior do que uma religião, para as liberdades, só duas ou mais religiões. Não se trata de um acto de paz, é uma declaração de guerra contra a laicidade, unidas pelo ódio à liberdade.

Não sei o que entende por família o Pontifício Conselho, o que pensa da poligamia essa associação misógina e o que pensa dos castigos corporais infligidos pelos homens às mulheres, permitidos pelo Islão.

Sei o suficiente para afirmar que o antro do Vaticano continua a considerar a mulher como portadora do «pecado original», exceptuando a mãe de Cristo a quem inventou uma pomba para fazer sexo sem malícia e procriar.

Sei o suficiente do Islão para conhecer como são tratadas as mulheres, por vontade do Profeta, e como se esmeram os biltres que pregam nas mesquitas europeias a ensinarem como lhes bater sem deixar marcas.

Gostava que o Pontifício Conselho se pronunciasse sobre a lapidação para o adultério (feminino, claro) e a decapitação para a apostasia.

Penso que em questões de família é melhor ouvir quem a constitui do que a ICAR.

19 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Pio 12 deve ser canonizado. A inquisição também foi santa.

 O papa Bento 16 defendeu enfaticamente na quinta-feira o seu antecessor Pio 12 da acusação de não se ter empenhado para ajudar os judeus. Deve ter confundido o empenhamento posto na protecção dos carrascos nazis e na sua deslocação para a América do Sul.

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Pio 12 não foi um celerado que arrancasse olhos aos sérvios, um carrasco que estivesse nos campos de concentração a assassinar judeus, um biltre que usasse as próprias mãos para despachar hereges a caminho do Inferno.

Pio 12 foi apenas um Papa católico, amigo da ordem e da paz, anti-semita como os seus pios antecessores e anticomunista como os sucessores. Foi com muita mágoa – dizem os panegiristas de serviço –, que assistiu em silêncio ao extermínio dos judeus e, depois da guerra, para compensar, converteu conventos e seminários em refúgios nazis, enquanto a diplomacia do Vaticano arranjava passaportes para a América do sul.

Não se pode condenar Pio 12 pelo anti-semitismo. É um dever que o Novo Testamento impõe, é o culto de uma tradição que alimentou as fogueiras do santo Ofício e um preito de gratidão a todos os santos que perseguiram judeus e moiros e dilataram a fé.

Pio 12 apenas queria celebrar concordatas com os Estados fascistas, proteger as famílias cristãs dos malefícios do divórcio e assegurar às crianças o ensino obrigatório da sua fé. Haverá odor que mais agrade a Deus do que o de um herege a ser queimado? Ou maior delícia do que a tortura de quem siga uma religião falsa?

Claro que Pio 12 deve ser canonizado. Quantos biltres o não foram já? O problema que lhe complica a vida é não ser incluído em levas de centenas e, na sua singularidade, ter ainda quem se lembre de que o Vaticano foi um antro de conivência com o fascismo.

Mas não aconteceu o mesmo com JP2, um papa que fazia milagres em vida, apesar de só os mortos terem alvará para o negócio?

 

Ora, canonize-se o cadáver. Com os anos que já leva de morto, há muito que não fede.

a) Carlos Esperança