22 de Outubro, 2009 Carlos Esperança
Irão – O ataque aos Guardas da Revolução
Por que motivo não senti a mínima pena ou o mais leve desgosto pelo atentado contra a elite militar de Teerão? Como Guerra Junqueiro, perante o regicídio, “lamento de olhos enxutos a execução” e há, nesta citação contida, uma dissimulação porque senti no feito impiedoso, na demência suicida dos algozes, a execução de uma sentença.
Não vou ao ponto de sentir aquela euforia imbecil que percorreu a rua islâmica quando as Torres de Nova York foram derrubadas. Não sinto aquele regozijo fanático com que na Idade Média se assistia ao churrasco dos hereges ou, ainda agora, nas teocracias se delira com a lapidação de uma adúltera, mas aceito que os agentes do terror teocrático mereçam prematuramente as setenta virgens que os suicidas lhes destinaram, apesar da minha aversão à pena de morte.
Tenho, pelos Guardas iranianos, o mesmo afecto que dispensava à PIDE e o asco que ainda guardo de Rosa Casaco. Sei que uma pessoa de bem não deve confessar regozijo pelo atentado a Carrero Blanco, à saída da missa, bem rezado e comungado, ou pelo feito heróico da cadeira que puniu Salazar, mas os estados de alma não são fruto da razão nem os biltres que amordaçam o povo, intoxicados por um livro, merecem compaixão.
Não percebo, aliás, que uma certa esquerda europeia defenda um multiculturalismo em que a opressão da mulher possa ser enquadrada numa tradição cultural, ou transija com a poligamia, sem que a poliandria goze de igual direito. Há parâmetros que diferenciam a civilização da barbárie e não são as normas do Corão, da Bíblia ou da Tora que podem servir de padrão civilizacional.
A escalada agressiva das Igrejas, o proselitismo doentio e a desvairada obsessão de cada religião a impor o seu deus privativo, aos crentes de outro deus ou a quem o dispensa, é um retrocesso civilizacional perigoso.
Pobre Europa, se esquecer o sangue vertido nas guerras religiosas e renegar a laicidade para agradar ao Papa ou aquietar o ódio pregado nas mesquitas.