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Categoria: Religiões

15 de Dezembro, 2009 Carlos Esperança

As religiões querem a paz!…

Por mais que as religiões reclamem desejos de paz nunca deixam de provocar guerras. A alegada bondade de deus foi, no passado, discutida em batalhas sangrentas entre dois bandos de crentes rivais que queriam impor o único deus misericordioso e verdadeiro. E ainda hoje esse fanatismo se mantém vivo em lutas religiosas de pendor totalitário.

Há vários crimes cometidos por delinquentes – casos de polícia ou de acompanhamento psiquiátrico –, mas o terrorismo tem a marca do nacionalismo, da fé ou de ambos.

Os ateus, cépticos, agnósticos e livres-pensadores não fazem guerras motivados por verdades absolutas, ainda que estas existam. Nunca se travou uma batalha por causa de um teorema ou uma guerra para impor uma lei da física. Morreram e morrem milhões de pessoas por causa da Bíblia ou do Corão e ninguém se agride por causa de um tratado de medicina ou de um compêndio de matemática.

A defesa da lei divina, seja isso o que for, provoca chacinas e dizima povos, mas não há quaisquer desavenças por causa da lei da gravidade entre os que a aceitam e os que a desconhecem.

Em Espanha acabam de ser condenados a penas de oito e meio a catorze anos de cadeia onze terroristas islâmicos que pretendiam fazer explodir o metro de Barcelona. Trata-se de fanáticos intoxicados pela fé e convencidos de que Maomé lhes reservava 70 virgens pela selvajaria. Nem se dão conta do estado em que ficam depois de se explodirem e da repugnância de qualquer mulher em recebê-los aos bocados.

O princípio de Arquimedes não levanta ódios mas os princípios enunciados no Antigo Testamento levam a vingança, o ressentimento e o crime aos fanáticos que acreditam no que está escrito num livro obsoleto e que os clérigos juram ter sido ditado por deus.

Os Estados só podem defender-se do fascismo religioso se prosseguirem uma absoluta neutralidade em relação às religiões e se, à semelhança do comportamento para com as outras associações, vigiarem os pregadores do ódio. A isso chama-se laicidade e é uma condição sine qua non para evitar esta demência da fé e a carnificina em nome de deus.

13 de Dezembro, 2009 Ricardo Alves

Equívocos

O Alfredo Dinis da Companhia dos Filósofos promete esmiuçar os «grandes equívocos do ateísmo contemporâneo». Eu acho muito bem. Aprendo imenso quando me demonstram que estou errado (se o estiver). Mas, como o Alfredo diz que a religião melhora com a crítica (o que é precioso, porque a maioria dos crentes parece não conviver bem com a crítica) talvez seja a ocasião adequada para apontar alguns dos pequenos equívocos das religiões mais populares.

Por exemplo, a ideia de que se não há um «Deus criador», então o universo foi criado por «acaso». Não é verdade:  não há acaso absoluto enquanto houver leis que ordenam o universo; o que os crentes parecem resistir a aceitar é a ausência de propósito ético do universo, e da nossa própria vida fora do sentido que lhe entendermos dar.

Outra: a ideia de que «Deus» não pode ser comprovado nem refutado porque não é «espacio-temporal». É um equívoco imediato: não podemos ter um «Deus» que criou o universo espácio-temporal em que vivemos sem ser, ele próprio, espácio-temporal. E muito menos poderia ser interventor sem intervir-existir no nosso espaço-tempo. Um «Deus» que não pertence ao nosso espaço-tempo não pode ser interventor, e muito menos criador. Nem pode  ser o «Deus» dos cristãos.

E ainda mais uma: a ideia de que os ateus o são porque têm uma «imagem de Deus» incorrecta, nomeadamente, porque têm a imagem de um «Deus» maligno. A questão passa ao lado, porque a «imagem de Deus», se «Deus» existisse, não seria à escolha dos teólogos e dos crentes. Seria uma imagem evidente. E podem perfeitamente conceber uma imagem de um «Deus» bom, humilde, dialogante e afável, que isso não muda nada quanto à questão da existência.

Finalmente, a ideia de que o religioso é uma experiência puramente «interior», inacessível e dificilmente transmissível, e que portanto está para além da análise e da explicação. Aqui, stop. Era assim que eu gostaria que fosse. Mas não é: há alegações extraordinárias, instituições para as defender e tudo o resto. E o problema é mesmo esse.

P.S. É irónico que Alfredo Dinis fale em «cruzada» (ateísta) e em «exterminar a religião»: o objectivo proclamado de quase todas as religiões é converter a humanidade inteira. Mas muitas sabem colocar limites ao seu proselitismo, rejeitando a coacção. Nem sempre foi o caso com a ICAR. E já houve extinção de religiões em Portugal. Por exemplo, o islão e o judaísmo estiveram extintos durante séculos. E não foi o ateísmo o responsável.

11 de Dezembro, 2009 Ricardo Alves

Ser bispo dá direito a prémio?

O «Prémio Pessoa» de 2009 foi atribuído a Manuel Clemente, de quem o grande público não conhece obra «cultural, científica ou artística» que o coloque a par de um José Mattoso, de um José Cardoso Pires, de um Claúdio Torres, de uma Maria João Pires, de um Ramos Rosa, de um Herberto Helder, ou de um Souto Moura, já para não falar de um Gomes Canotilho, de um Sobrinho Simões ou de um António Damásio.
Fica a suspeita de que o júri do referido prémio quis premiar a ICAR. Resta especular porquê.

11 de Dezembro, 2009 Carlos Esperança

Os crentes e o Diário Ateísta

Houve um tempo em que um grupo de crentes vinha aqui, com espírito sofredor, ganhar as indulgências que julgavam necessárias à salvação da alma, seja lá isso o que for, por penitência ou masoquismo, mas com excelente educação.

Os tempos mudaram e aparecem agora alguns devotos a quem as hóstias fazem pior do que cogumelos alucinatórios e a água benta torna raivosos. São medíocres na gramática e nas ideias mas agressivos nas palavras e nos insultos.

Parecem talibãs de Roma, voluntários da al-Qaeda católica, a babar insultos e ruminar ódios para que os ateus imaginem como será o deus que eles criaram à sua imagem e semelhança.  Não precisam de insultar quem vive bem sem o deus deles e o dos outros. Basta que tomem os pingos na posologia certa porque já caíram em desuso os coletes de força e os choques eléctricos.

Nós, ateus, para quem deus não passa de um negócio de contornos duvidosos, que cria crentes raivosos e vingativos, compreendemos o que é o ódio e a impotência de quem ainda sonha com a Inquisição e se vê obrigado a respeitar o pluralismo.

Custa-nos ver bolçados nas caixas de comentários o racismo, o fanatismo, a xenofobia, o espírito de vingança e o insulto soez, mas nada podemos fazer para ajudar quem se habituou a andar de rastos, a viajar de joelhos e a pensar pela cabeça do clero.

O ateísmo não combate crentes. Por isso se admiram de conduzirmos a nossa luta contra livros que os intoxicam, os clérigos que os embrutecem e a religião que os transforma em beatos e energúmenos.

Podem continuar a insultar os ateus. O Diário Ateísta manter-se-á fiel ao respeito pelos princípios da Declaração Universal dos Direitos do Homem e se algum dia os fanáticos que nos insultam virem limitada a liberdade religiosa, lá estaremos na sua defesa com o mesmo entusiasmo com que alguns de nós se têm batido pela liberdade, o pluralismo e a democracia.