Loading

Categoria: Religiões

26 de Fevereiro, 2010 Carlos Esperança

Os manuais dos maus costumes

O Talmude e a Tora, O Antigo e o Novo Testamento, O Corão e a Sunnah (séc. IX) têm em comum o carácter misógino mas diferem em relação ao álcool, à carne de porco e na defesa do véu e da burka. No islão as proibições atingem o fulgor demente, onde até urinar com o jacto virado para Meca é proibido.

Paulo de Tarso moldou o cristianismo. Perseguir era a sua obsessão esquizofrénica sem cuidar do objecto da perseguição. Ouviu vozes na estrada de Damasco e passou a perseguir o que deixara em nome do que abraçou. Juntou a essa tara a vocação pirómana e apelou à queima dos manuscritos perigosos.

Paulo de Tarso odiava o prazer e injuriava as mulheres. Advogou o castigo do corpo e glorificou o celibato, a castidade e a abstinência. É um expoente da patologia teológica, do masoquismo místico e da cegueira beata – um inspirador do Opus Dei.
O cristianismo herdou a misoginia judaica. O Génesis condena radical e definitivamente a mulher como primeira pecadora e causa de todo o mal no mundo.

As três religiões monoteístas defendem a fé e a submissão, a castidade e a obediência, a necrofilia (pulsão da morte, não a parafilia), a castidade, a virgindade e outras santas tolices que conduzem à idiotia e ao complexo de culpa do instinto reprodutor.
A história de Adão e Eva é comum às três religiões monoteístas. Em todas, Deus proíbe a aproximação à árvore da sabedoria e o demónio incita à desobediência.

Aliás, o pecado é definido como a desobediência a Deus, ou seja, à vontade dos padres.
As páginas do Corão apelam constantemente à destruição dos infiéis, da sua cultura e civilização, bem como dos judeus e cristãos (por esta ordem) em nome do mesmo Deus misericordioso que alimenta a imensa legião de clérigos e hordas de terroristas.

Fonte: Traité d’athéologie, Michel Onfray – Ed. Grasset & Fasquelle, 2005

26 de Fevereiro, 2010 Carlos Esperança

Um padre católico e genocida

Padre católico ruandês Wenceslas Munyeshyaka é um genocida que a Igreja protege, à semelhança do que fez com os nazis. Não se pode dizer que é uma coisa do passado, é um crime do presente que deve ser denunciado.

Aqui fica um importante artigo de Le Monde.

Comentário do leitor que me chamou a atenção para o referido artigo:

Seja no passado mais recuado, seja antes e após a II guerra Mundial seja agora com este padre reconhecidamente mandante e executor de genocídio no Ruanda, a ICAR escolhe sempre o mesmo caminho: apoiar, esconder, proteger tudo o que é bandido. (E. C. D.)

20 de Fevereiro, 2010 Carlos Esperança

Bispos não vão à manifestação

Apesar de ninguém ser obrigado a casar com pessoas do mesmo sexo, são esperados numerosos participantes, desejosos de impedir que outros o possam fazer, no desfile de hoje, na Av. da Liberdade, em Lisboa.

Exercem um direito legítimo e indiscutível, além de ser a oportunidade para visitarem a capital com transporte pago, para os que aí rumam de dioceses tão longínquas como a de Bragança.

A Plataforma Cidadania e Casamento que convocou o protesto para as 15H00, com a ajuda de 19 comités regionais, teve a bênção eclesiástica e a divulgação da homofobia percorreu todas as paróquias de Portugal. A manifestação teve apelos nas homilias, nos confessionários e na comunicação social, mas é desolador saber que apenas alguns padres, a quem é vedada a interrupção do celibato, integram a manifestação.

Em Espanha foi diferente. Cardeais e bispos misturaram-se com as sotainas do baixo clero e os vestidos luxuosos da alta sociedade num êxtase de raiva beata e de ódio santo. Em Portugal nem uma só mitra indica o caminho da revolta, nem um só báculo marca o passo desde o Paço à Avenida, nem um único anelão com ametista se exibe aos beiços ansiosos dos devotos.

A Conferência Episcopal aplaude a iniciativa mas recusa comprometer os bispos – esses especialistas em moral familiar – nas vicissitudes da manifestação de êxito incerto e sem apoio divino. As próprias condições meteorológicas podem trocar a devoção pia pelo aconchego dos cafés e das bebidas quentes. Só o Papa se alegra com as intenções.

O céu pode esperar.

19 de Fevereiro, 2010 Ricardo Alves

Hitchens: do ateísmo ao combate ao islamismo

Foi uma excelente iniciativa da Casa Pessoa, a conferência de ontem com Christopher Hitchens. É raro podermos sentir que Portugal não fica de fora do movimento global de ideias.
Hitchens começou com uma citação de Marx, e com algumas memórias, dos anos 70, dos seus contactos com revolucionários africanos de língua portuguesa.
A citação do «ópio do povo», descontextualizada como habitualmente, é reduzida a um bitaite anti-religioso. Na opinião de Hitchens, é mais do que isso: Marx entendia a crítica da religião como o início do processo que liberta o homem para questionar a sua condição.

No início da parte mais formal da sua conferência, Hitchens sublinhou como «Deus» retira o homem da sua liberdade, ao condicionar o seu pensamento ao de um «criador» que estabeleceu o que é certo e errado. Precisou a distinção entre o deísmo (mera fé) do teísmo (que já presume uma religião revelada, com os seus textos dogmáticos e as suas regras normativas inquestionáveis).

Christopher Hitchens é um bom conferencista. Exprime-se com clareza, em frases curtas, leu os clássicos do iluminismo (mais os anglo-saxónicos, todavia), acompanha as descobertas científicas actuais, e trata de questões complexas com frases certeiras, rematadas com o humor altivo típico da sua formação oxfordiana.

Existem, sem dúvida, boas razões para o regresso de um ateísmo combativo: a persistência de irracionalidades supersticiosas que impedem um mundo mais justo; as tentativas renitentes de interferir na política das democracias; e o islamismo radical.

Foi só na parte final da sua intervenção, e em particular no período de perguntas, que Hitchens insistiu mais na questão do islamismo radical enquanto movimento global. Está correcto quando afirma que se trata do único movimento totalitário global em ascensão no mundo actual; e quando acrescenta que boa parte da esquerda europeia renunciou a confrontar esse movimento, com o argumento do «anti-imperialismo»; é injusto quando diz que a Europa, toda, desistiu. Porque, na verdade, muitas correntes políticas na Europa percebem bem o que o extremismo islâmico na Europa significa. A proibição do véu nos serviços públicos, na França de 2004, é um sinal claro de que pelo menos um país ainda entende que o laicismo não se resume à separação entre o Estado e a igreja (católica).

A pretexto de um autógrafo, troquei mais algumas palavras com o homem. Interessava-me sobretudo entender que limites entende que se devem colocar no combate contra o islamismo. Disse-me que Geert Wilders apela aos «sentimentos errados» mas que, se fosse suíço, não saberia como votar no referendo sobre os minaretes («que são a coisa mais bonita no Islão»). Mostrou-se também sensível ao perigo que representam a Arábia Saudita e o Paquistão. A insistência no Irão aparece, portanto, como escusada. E como um alinhamento excessivo com a política externa dos EUA. O que me parece desnecessário.

No fundo, Hitchens ainda tem algo de marxista: a convicção de que é viável uma «guerra permanente» contra os movimentos reaccionários activos no mundo. Mas é lamentável que não tenha retirado a lição do que isso significou no Iraque.

17 de Fevereiro, 2010 Carlos Esperança

Freiras carmelitas e liberdades individuais

A notícia de que as Carmelitas vão poder ligar o televisor para ver o Papa, quando da sua deslocação a Portugal, em Maio próximo, não surpreende quem acompanhe a vida religiosa, mas perturba os que se preocupam com a defesa dos direitos e liberdades individuais.

Não discuto se estas mulheres, que fizeram voto de silêncio, se encontram em clausura de livre vontade, se rezam por convicção e se anulam por vocação. A Irmã Lúcia, a mais antiga reclusa conhecida, morreu com odor a santidade e canonização garantida, depois de ter visto o Sol às cambalhotas, de ter falado com uma senhora muito bela, que lhe revelou segredos para o mundo inteiro, preocupada com a conversão da Rússia, e que, do cimo de uma azinheira da Cova da Iria, lhe pediu para divulgar o terço como o mais eficaz demonífugo.

Não me inquieta que a vidente tenha visitado o Inferno onde viu logo o administrador do concelho de Ourém que, por acaso, não frequentava a missa, nem que tenha previsto que um homem de branco seria baleado e que João Paulo II se tenha considerado o alvo dessa profecia.

O que me preocupa é a clausura, com a exclusiva excepção para votarem, certamente no partido que melhor defenda a família, que lhes é interdita, a obrigatoriedade da reclusão e o voto de silêncio, anormalidades a que podem pretender renunciar mas que a coacção conventual, o corte de laços com a família e com o mundo impedem definitivamente.

Será legítimo, num Estado democrático, a existência de cárceres privados, ainda que sob os auspícios da única religião verdadeira? Não deverá o Estado, à semelhança do que faz com creches e lares da terceira idade, exercer um papel fiscalizador que averigúe as relações de poder dentro desses cemitérios de gente viva, no interior de conventos onde as mais cruéis formas de relacionamento podem existir à margem de qualquer controlo?

Sabemos o que sucedeu na Irlanda com jovens metidas em conventos – por terem sido mães solteiras ou para serem afastadas das heranças –, eram vítimas de maus tratos e de tarefas repetitivas que as alienavam. Depois do julgamento dos tribunais que mandaram encerrar esses antros de violência e piedade cristã, não seria avisado que assistentes sociais, médicos e psicólogos ouvissem as reclusas fora do olhar assustador da madre superiora e do director espiritual?

Num país democrático não pode haver feudos onde a mais leve suspeita de violência se possa levantar e onde o Estado se desinteresse pela vida de quem alienou direitos que a consciência humana e as leis consideram irrenunciáveis.