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Categoria: Religiões

17 de Março, 2018 Carlos Esperança

A ICAR e o preservativo

A Igreja católica embirrou com o preservativo com a mesma obsessão paranoica de Maomé ao toucinho e com o ódio adicional à sexualidade, comum às duas religiões.

Houve quem julgasse que as mentiras arrojadas do arcebispo católico do Maputo contra o preservativo eram declarações exóticas de um fanático à revelia do antro do Vaticano: «Eu conheço dois países na Europa que fabricam preservativos contendo o vírus da sida. Eles querem acabar com os Africanos, é o programa. Se nós não nos prevenirmos, seremos exterminados dentro de um século.»

Estas afirmações não são disparates isolados do mais destacado bispo moçambicano no País que tem quase 18% dos seus 19 milhões de habitantes seropositivos, são um crime contra a humanidade em que se encontra acompanhado pelo cardeal Alfonso Lopez Trujillo, presidente do Conselho Pontifical para a Família no Vaticano (Estado onde os cidadãos estão proibidos de constituir família). Este cardeal avisou os católicos de que todos os preservativos são fabricados secretamente com muitos buracos microscópicos através dos quais o vírus da Sida pode passar. Em vez de pedir emprego numa fábrica de preservativos, na secção do controle de qualidade, dedica-se ao terrorismo verbal.

Rafael Llano Cifuentes, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, explicou durante um sermão o facto de a sua Igreja ser contra o preservativo com um argumento demolidor: «nunca vi um cãozinho usar um preservativo durante uma relação sexual com uma cadela».

Altos membros da ICAR têm dito aos crentes que os preservativos transmitem a SIDA: o cardeal Obando y Bravo da Nicarágua, o arcebispo de Nairobi, no Quénia, e o cardeal Wamala do Uganda. Nenhum deles se distinguiu pela inteligência ou bondade, mas têm em comum a piedade e a devoção ao Papa. Constituem um perigoso grupo de facínoras que contribuem para a propagação da SIDA e para o aumento da mortalidade.

Nos últimos 10 anos, já houve alguns progressos. O atual papa parece ter-se apercebido dos benefícios do preservativo para o combate às doenças sexualmente transmissíveis e abandonou a cruzada contra o latex.

Fonte principal dos nomes dos malfeitores: «deus não é Grande», de Christopher Hichens (2007)

13 de Março, 2018 Carlos Esperança

O clerical-fascismo existiu na Península Ibérica

O fascismo e o nazismo foram fenómenos de natureza secular, mas foi o antissemitismo cristão que os tornou possíveis. Sem a cumplicidade dos bispos protestantes e católicos, nunca a tragédia se poderia ter consumado.

O fascismo sob a forma de genocídio, gratuito e sinistro, em Espanha, e na versão mais regrada, em Portugal, com apenas alguns assassinatos, muitas torturas, discriminações e prisões, foi a lepra que resistiu à derrota do nazi/fascismo em 8 de maio de 1945.

Os regimes opressivos resistiram porque a guerra fria os alimentou na cruzada contra o comunismo, qual muro que o clero reacionário e as polícias políticas ergueram com a bênção das democracias europeias e do percurso hegemónico dos EUA.

O fascismo teve em Espanha um grotesco general, inculto e soez, que deixou à solta os bandos de assassinos franquistas e se permitiu legar a Espanha a forma de regime e um sucessor educado na Falange, a que a Constituição possível retirou o poder absoluto.

Em Portugal um professor inteligente e reacionário, sem mundo e sem modos, um ex-seminarista amoral, foi o protagonista da ditadura fascista. Do lado de lá da fronteira, esteve um cabo de guerra que preservou até ao fim a pena de morte legal numa das suas formas mais cruéis. Do lado de cá, o mesmo medo, atraso e insegurança dominavam o País, mas, em vez das Forças Armadas, a violência foi entregue às polícias e não houve fuzilamentos em massa nem valas comuns.

Os dois biltres foram algozes, nenhum deles deixou saudades, mas ambos mantêm ainda cúmplices de segunda e terceira geração que precisam de vigilância cívica.

Em comum tiveram a estreiteza de vistas, o conservadorismo do catolicismo de Trento e a presunção de eternizarem as ditaduras.

Se na política se distinguiram pela violência, foi nos costumes que se identificaram num mesmo espírito misógino, na violência contra as mulheres, na fiscalização do vestuário e na subordinação que lhe impuseram em relação ao homem.
Portugal e Espanha tiveram um ignóbil passado comum dentro do fascismo.

Deixo aqui amostras do pensamento ibérico, em castelhano, sobre o papel da mulher, tal como o viam os dois patifes, Franco e Salazar, amigos do peito e da hóstia.

Foto de Carlos Esperança.

7 de Março, 2018 Carlos Esperança

O bispo de S. Sebastião

O bispo espanhol de S. Sebastião, José Ignacio Munilla, é um troglodita paramentado e alucinado, que julga os homossexuais perturbados, mas passíveis de cura.

Na catequese, para crianças e jovens, para além destes devaneios piedosos, em que combateu a homossexualidade e o feminismo, foi solidificando o pensamento que agora exprime: «as feministas têm o demónio dentro de si e promovem o holocausto.

Eis uma santa besta!

6 de Março, 2018 Carlos Esperança

Vocações sacerdotais

Depois de uma maratona de padre-nossos e ave-marias um cristão chega exausto ao fim do terço. Antigamente a fé aguentava uma coroa e os joelhos suportavam a novena.

Quando as missas eram em latim, a ignorância aturava o ritual e suportava a liturgia no convencimento de que o Paraíso estava ao dobrar do amém, os paroquianos aturavam o frio do inverno e as delongas da bênção.

Depois de o vernáculo substituir o esoterismo de uma língua morta, os crentes duvidam da salvação da alma a troco da confissão e actos de contrição.

Santa Bárbara deu lugar aos pára-raios, o veterinário substituiu santa Filomena na cura das bestas, a flecha que trespassava S. Sebastião deixou de comover os créus e, para as moléstias do corpo, deixou de invocar-se a divina fauna e passou a recorrer-se ao S.N.S.

A penicilina revelou-se mais eficaz do que o pai-nosso, a aspirina um analgésico mais potente do que as orações e a vacina mais eficaz do que a divina graça. Antidepressivos batem o exorcismo e qualquer médico modesto é melhor do que um santo taumaturgo.

A água benta, com poderes comprovados por séculos de ignorância, foi ultrapassada, primeiro pelos manipulados e depois pela panóplia de drogas que os laboratórios da indústria farmacêutica puseram no mercado.

Face à exiguidade dos milagres e à falta de certificados de garantia, a clientela procura a ciência e manda passear a fé. Não admira que faltem ajudantes aos bispos e quiromantes da divina Providência.

A falta de padres, que o aluguer de brasileiros e polacos vai atenuando, é um bom sinal. O homem escreve direito por linhas tortas de Deus.

4 de Março, 2018 Carlos Esperança

A ICAR e a liturgia

Um bispo que abdique do Palácio Episcopal, dispa a mitra e a capa de asperges, pendure o báculo, aliene o anelão com ametista, dispense os fâmulos, reverências e beija-mãos, venda a custódia e ponha no prego a cruz de diamantes, pode tornar-se um cidadão.

Se o clero desistir do processo alquímico que transforma a água normal em benta, o pão ázimo em corpo e sangue de Jesus e as orações em modo de pagamento de apartamentos no Paraíso, pode recuperar a honestidade que o charlatanismo comprometeu.

Se renunciar às novenas, missas e procissões, ao lausperene e ao te deum, pode reservar as energias para o bem público.

Se a confissão, a terrível arma que viola a intimidade dos casais, a honra dos crentes e a confiança da sociedade, for abolida, deixando ao deus que dizem omnisciente a devassa dos pecados e o sigilo, o mundo fica mais tranquilo.

As religiões são especialistas em idolatrar o passado e mitificá-lo. Fazem piedosas falsificações, inventam documentos e fazem relíquias para embevecer os carentes do divino em busca de uma assoalhada no Paraíso.

O incenso e os sinais cabalísticos prejudicam a reflexão e o livre-pensamento.

2 de Março, 2018 Carlos Esperança

Notas Soltas – Fevereiro_2018

Antissemitismo – Em 1941, em Jedwabne, católicos polacos fecharam num celeiro 340 vizinhos judeus, queimando-os vivos. O ódio religioso levou os bispos cristãos a dar ao regime alemão os registos de batismo para, por exclusão, acharem judeus.

Polónia – Ignorando a cumplicidade autóctone no Holocausto, o recente projeto-lei, que torna ilegal acusar o Estado polaco de cumplicidade, não muda a história nem absolve o passado do País, cuja sintonia com a Alemanha de Hitler não foi apenas residual.

Filipinas – A eleição de um assassino é uma fragilidade das democracias, e o presidente Duterte é o reflexo do país atrasado onde católicos se crucificam na Páscoa e é popular a execução sumária de presumíveis drogados, traficantes e contrabandistas.

Patriarca de Lisboa – O cardeal Clemente defende que casais “em situação irregular”, isto é, que voltaram a casar após o divórcio, tenham uma “vida em continência na nova relação”. É a apologia do mais original dos casamentos, com separação de pessoas.

Espanha – O franquismo fuzilou quase 3.000 pessoas, em Madrid, entre 1939 a 1944, depois da guerra civil, com a cumplicidade do clero. É a dolorosa amostra de centenas de milhares de execuções, pelo maior genocida ibérico da História. Continuam impunes e silenciadas.

Vale dos Caídos – O Governo gastará 1,8 milhões de €€, a restaurar o mausoléu de Franco. Só na comunidade de Cantábria há cerca de 150 valas comuns da Guerra Civil e do pós-guerra, onde o PP e a ICR impedem a exumação dos mortos com funeral digno.

28 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

Amanhã, ao meio-dia, há missa na Universidade de Coimbra

Que o cidadão, Prof. Doutor João Gabriel Monteiro de Carvalho e Silva, tenha a fé que quiser e frequente o templo que entender, é um direito que cabe ao Estado defender.

Pode, como crente, encharcar-se em água benta, empanturrar-se em hóstias, tresandar a incenso, esfolar os joelhos em genuflexões e puir os dedos a passar as contas do rosário, mas não pode, como reitor, anunciar cerimónias litúrgicas de uma confissão particular e transformar-se em muezim romano.

A Universidade pública é, ou devia ser, um templo da sabedoria, mais dado à ciência do que à fé, e não um órgão de propaganda da religião do sr. Reitor.

Que a Universidade católica promova novenas, desobrigas coletivas, peregrinações pias e outras diversões litúrgicas, é um direito de uma escola privada. Que uma Universidade muçulmana respeite o Ramadão, obrigue ao jejum, a cinco orações diárias, com alunos, professores e funcionários virados para Meca, e a urinar em sentido contrário, faz parte da idiossincrasia islâmica.

Já uma Universidade pública, de um país laico, não pode, ao arrepio do espírito da CRP e da laicidade que exige, anunciar as missas por intermédio da sua máxima autoridade académica – o Magnífico Reitor –, na quebra da isenção e neutralidade religiosa de que devia ser o guardião.

Pode o crente, com papel timbrado e a expensas da Universidade de Coimbra, aplainar o caminho do Paraíso, com o proselitismo que o convite encerra, mas não contribui para a decência republicana, laica e democrática que a cidadania exige e a Universidade merece.

O aviso da missa solene comemorativa do Dia da Universidade e de lugares reservados nos cadeirais aos Professores e novos Doutores que confirmem a presença, desde que devidamente paramentados, transforma um reitor em sacristão.

É uma lamentável manifestação beata!