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Categoria: Religiões

9 de Julho, 2010 Carlos Esperança

As religiões do livro gostam de sangue

Sakineh Mohammadi Ashtiani

Continuarei a defender os crentes, o direito a expressarem a sua fé e a crerem nas coisas idiotas com que os clérigos e os livros santos os intoxicam.

Não condeno quem julga a água benta diferente da outra ou a hóstia consagrada com características distintas das rodelas de pão ázimo; quem julga que deus se baba de gozo a observar os crentes a viajarem de joelhos e espreita pela fechadura dos quartos para saber se um casal se move pela lascívia ou pelo desejo honesto da procriação; quem suborna um santo para curar uma moléstia ou encontrar um emprego; quem jura que o mundo foi criado por Deus e que as tolices que lhe ensinam na catequese são a mais límpida vontade de Deus e a mais pura das verdades.

O que não devo tolerar é a demência misógina das religiões do livro que vêem a mulher como encarnação do mal e um ser inferior ao homem. O que não posso aceitar é que em nome de um livro bárbaro, da Idade do Bronze, perdurem crimes e penas que aviltam o género humano e destroem a civilização.

Em nome dos bons costumes e da paranóia de um deus que, se existisse, merecia cadeia, não podemos deixar morrer, com sida, milhões de seres humanos porque deus embirrou com o látex. Em nome de valores idênticos, que o Iluminismo sepultou, não podemos permitir a morte Sakineh Mohammadi Ashtiani, de 43 anos, que, após 99 chicotadas, confessou o crime de adultério.

Segundo o profeta, que todos os hipócritas e cobardes dizem que tenho a obrigação de respeitar, essa mulher deve ser enterrada na areia, com a cabeça de fora, enquanto as pedras, arremessadas por crentes, lhe desfazem lentamente o rosto, com a luz dos olhos a extinguir-se lentamente, num martírio atroz.

Parece que a pressão internacional levou, desta vez, o Líder Supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, a conceder um acto de misericórdia: substituir a lenta agonia das pedras pelo enforcamento.

Diz o jornalista Ferreira Fernandes, num desolado sarcasmo: « Irão sai (num caso) da Idade da Pedra».

Querem que me cale, que diga que Deus é grande e que os profetas são honrados? Vão para o raio que os parta. Ainda não há melhor justiça do que a dos homens civilizados. Deus é infinitamente pior. Tal como os bandos que lhe satisfazem as vontades.

7 de Julho, 2010 Carlos Esperança

Bélgica – Caso Dutroux e ICAR

Caso Dutroux:

Que faziam as fotos das vítimas no seio da Igreja católica belga?

O assunto causa grande burburinho, neste momento, na Bélgica. Depois do fim de Junho a polícia investiga ao próprio sede da Igreja católica sobre assuntos de pedofilia.

O antigo primaz da Igreja belga, cardeal Godfried Danneels, foi ouvido ontem como testemunha em presumíveis casos de abusos sexuais cometidos por padres.

Este cardeal já havia sido acusado de ter tido conhecimento de abusos sexuais e de nada ter feito para lhes pôr termo.

3 de Julho, 2010 Carlos Esperança

Igreja, fé e tolerância

Quantos dos que se refugiam no anonimato e defendem deus, como se existisse, seriam capazes de permitir aos ateus que escrevessem em espaço seu? Quantos avençados do divino enjeitariam a censura que a Igreja católica praticou até ao Vaticano II e as outras religiões monoteístas ainda mantêm?

Algum clérigo aceitaria que um ateu discutisse as suas homilias na igreja onde celebra a missa ou nas madraças onde apela à guerra santa, e, naturalmente, fazem a apologia do seu deus?

O Diário Ateísta tem permitido que fanáticos, a coberto do anonimato, insultem quem mantém vivo um espaço que assegura a pluralidade num país beato onde a Igreja apoiou uma ditadura de 48 anos, foi miguelista contra os liberais e monárquica contra os republicanos.

São sobretudo os fanáticos quem se indignam quando lhes lembram o anti-semitismo do Novo Testamento e os milhões de judeus que a sua Igreja assou ou expulsou dos países onde o despotismo teve a sua bênção.

Resta-me a consolação de saber que o seu deus não pode espreitar pelo buraco de todas as fechaduras nem ter capacidade para registar num caderno todos os pecados que mais de sete mil milhões de habitantes cometem, de acordo com livros pouco recomendáveis a que chamam santos.

Se o deus que inventaram para amedrontar a humanidade se dedicasse a evitar a fome, os cataclismos e as guerras, talvez merecesse consideração. O deus que aqui defendem os cruzados, nas caixas de comentários, é um delinquente psicótico que deve ser combatido em nome da higiene pública.

2 de Julho, 2010 Carlos Esperança

O Diário Ateísta e os salafrários de deus

Há quem não entenda que em matéria de convicções contam os direitos e liberdades individuais e não os desvarios e violências de um deus que os homens primitivos criaram à sua imagem e semelhança.

Há quem, a coberto do anonimato e da indulgência dos ateus, venha bolçar inanidades em português medíocre, e com um ódio torpe, às caixas de comentários dos posts que aqui se publicam.

Há quem julgue que a falta de educação e a raiva são o passaporte para o Paraíso que lhes reserva um deus violento criado na Idade do Bronze. Apagar o vómito de fanático é um acto que está à distância de um clic, mas os ateus relevam quem foi envenenado pela fé e intoxicado pelo clero.

Impede-nos o respeito por crentes, que se identificam e discutem de boa fé, que usemos para os anónimos a mesma  linguagem e insultos que aprenderam nas sarjetas do ódio madraças e sacristias.

Dificilmente alguém tem um passado tão negro e longo no combate à liberdade como as religiões monoteístas, o que não faz dos crentes malfeitores mas faz dos prosélitos gente pouco recomendável.

A sanha dos intoxicados pela fé lembram as catequistas da minha infância, tementes a deus e ignorantes, que diariamente semeavam o ódio aos ateus, comunistas, judeus e hereges no coração de crianças de seis ou sete anos. Eram beatas cujo analfabetismo não as impedia de debitar as aleivosias que o padre lhes ensinava.

Num mundo onde a tolerância e a diversidade deviam ser o paradigma da convivência cívica, aparecem solípedes à solta, que podem ser enfermeiros ou professores, cobardes que ocultam a identidade, sectários que uivam hinos ao seu deus e zurram ameaças aos que seguem a sua consciência.

Continuaremos a deixa-los usar a linguagem ao nível do deus em que acreditam.

1 de Julho, 2010 Carlos Esperança

Papa cria organismo de combate à secularização

O papa Bento XVI vai instituir no Vaticano um órgão para combater a secularização e «reevangelizar» países ricos e desenvolvidos do Ocidente, segundo ele ameaçados pelo «eclipse de um sentido de Deus».

Se não recorrerem à violência sectária, é tão legítimo o Papa combater a secularização como todos os livres-pensadores, ateus, cépticos e agnósticos, a evangelização. A luta pelas ideias em que se acredita é uma conquista do Iluminismo, herança da Revolução Francesa, paradigma das democracias.

É igualmente lícito crer, descrer ou ser contra as crenças, desde que sejam respeitadas a legalidade democrática e a dignidade humana. É por isso que o Diário Ateísta combate as crenças, pela desconfiança na sua bondade, mas não deixará de defender o direito a que todos os homens e mulheres as possam praticar e divulgar.

O mundo civilizado sabe no que deu o processo de reevangelização islâmica começada com o Aiatolá Khomeini de quem Bento XVI é um avatar. Os assassínios em nome da fé, seja qual for o objecto da fé, não podem ser tolerados. Ninguém negará a violência que grassa, por todo o mundo, em nome de deuses que nunca fizeram prova de vida.

A demência islâmica, apostada em converter o mundo ao seu deus – o único verdadeiro –, é semelhante ao despotismo sionista e ao furor obscurantista de Bento XVI. Não é por acaso que o jovem das juventudes hitlerianas foi o ideólogo do Vaticano no tempo de JP2, um papa rural e supersticioso, que criou a indústria das canonizações e desatou a reconhecer milagres feitos por cadáveres com séculos de defunção.

Este pontífice, continua o negócio, com obstáculos no caminho, e sem renunciar a fazer da fé um instrumento de proselitismo obscurantista e agressivo. A sua interferência nos assuntos internos dos países onde tem apoios prova a obsessão pelo poder. Que queira salvar a alma, seja isso o que for, é um direito que lhe assiste; insistir em salvar a alma dos que não querem é um abuso a que é preciso pôr cobro.

B16 está disposto a aliar-se ao diabo para conter a liberdade que os países democráticos conquistaram. É preciso estar atento às suas arremetidas contra os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos dos países livres.

Mais uma vez, pergunto: O que terá levado o Vaticano, o arcebispo de Cantuária e o rabino supremo de Israel a tomarem uma posição favorável ao aiatola Khomeini quando, na sua pia demência, condenou à morte Salman Rushdie pelo abominável crime de…ter escrito um livro?