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Categoria: Religiões

4 de Agosto, 2010 Carlos Esperança

A Efigénia ficou doente_1 (Crónica)

A minha vizinha Efigénia (pseudónimo que uso para evitar agravar-lhe o mal), amiga da missa e da hóstia, ficou doente em 2007 e nunca mais se recompôs.

No período que precedeu o Referendo da IVG papou a missa diária, deixou queimar o arroz e a massa três vezes, vazou-lhe a sopa outras tantas e pegou fogo o fogão quando se distraiu a rezar a salve-rainha. Até o bolo de chocolate que fizera para o filho, que vinha de fim-de-semana, se lhe reduziu a carvão quando debitava o terço no oratório do quarto.

A D. Efigénia já me disse que era uma pena eu não ir à missa, tão boa pessoa, até reza pela minha conversão e não desanima de ver-me subir as escadas da igreja da paróquia, entregue a uns frades depois de começarem a escassear os padres seculares.

A D. Efigénia nunca pensou perder o Referendo, era pela vida, sabia que a Senhora de Fátima andava a desfazer-se em lágrimas de sangue, espécie de menstruação ocular, e que não permitiria que as forças do mal vencessem.

Aliás, ela bem sabe como os portugueses são atreitos ao medo do Inferno, embora este tenha sido abolido, e como sentem a falta das cantorias e do padre no funeral. Sorria feliz com o Cânone 1331 que excomungaria os que votassem SIM no Referendo: «não poderiam casar, baptizar-se nem ter um funeral religioso».

Julgava a boa da D. Efigénia que o medo era suficiente para dar a vitória à Senhora de Fátima, ao seu amado filho, ao pai do Céu e a todos os que se preocupam com pecados.

Quando viu que 2.338.053 desprezaram as suas orações, missas, novenas, terços e outros pios demonífugos começou a cismar que Deus não existe, a senhora de Fátima é uma burla, os anjos não voam, rastejam, e os padres são funcionários de uma empresa cujos produtos não têm certificado de garantia nem prazo de validade.

A D. Efigénia, continua a benzer-se, mas até julga que alguns defensores do Não são proprietários de clínicas clandestinas e que a despenalização do aborto lhes vai acabar com o negócio.

Entre a salvação da alma e a reflexão, a D. Efigénia hesita e aflige-se, adoece e cisma, mas nunca mais rezou um pai-nosso. Diz que tem muitos na conta e não resultaram. Finalmente, convenceu-se de que o aborto não é um sacramento e pode ser feito sem a ajuda do padre.

29 de Julho, 2010 Ricardo Alves

O jogo «Fátima»

Está na internet o jogo «Fátima». O objectivo é guardar o número máximo de ovelhinhas, mas há que ter cuidado com as «aparições» da «Senhora de Fátima», que pode distrair os jogadores obrigando-os a rezar.

Divertimento aconselhado a católicos e ateus.

28 de Julho, 2010 Carlos Esperança

Carta a Salazar nos 40 anos do seu passamento

Meu velho ditador:

Se pudesses ouvir, claro que não podes, e tu sabias que não havia vida para além da que tiveste, ouvirias o clamor das famílias dos que sofreram em Caxias, Aljube, Peniche, Tarrafal, S. Nicolau ou Timor.

Fez ontem 40 anos que morreste com 40 anos de atraso. Alguns fascistas ainda te evocam com nostalgia. Há sempre alguém que recorda um crápula, os que não têm memória ou os que odeiam a liberdade. Acontece o mesmo com Estaline, Mao, Franco e Mussolini, este mesmo, de quem tinhas uma foto na tua secretária de trabalho.

Tu não tinhas coração, eras um hipócrita abrigado à sombra de uma Igreja que protegeu todos os fascismos, um facínora que se escondia atrás da polícia política que aprendeu a torturar na Alemanha nazi, um demente com horror a eleições, pavor ao progresso e aversão ao povo. A censura era o teu colete anti-bala, as polícias a guarda pretoriana e os padres os agentes de propaganda.

Viveste a obsessão dos medíocres e conseguiste tornar-te ainda mais vil com a mania do poder que exerceste com violência, enquanto a PIDE assassinava e os esbirros aturdiam um povo que amordaçaste com a censura, o analfabetismo, os tribunais Plenários e uma multidão de cúmplices de todas as idades e condições. A Irmã Lúcia não deixou de dizer a Cerejeira que foste o homem escolhido pelo deus do cardeal para seres algoz da pátria.

A guerra colonial foi uma paranóia pessoal que levou a morte a centenas de milhares de pessoas. Ainda hoje não se fala dela, por remorso uns, por vergonha outros, quase todos por um trauma que ficou de 13 anos da guerra injusta, inútil e criminosa que o cardeal Cerejeira dizia ser em defesa da pátria e da civilização cristã..

Há quem deseje minimizar os crimes, dizendo que ignoravas que a PIDE assassinou Humberto Delgado quanto atribuíste o crime ao Partido Comunista, ou José Dias Coelho, abatido na Rua dos Lusíadas, quando puseste a circular que se tratava de ajuste de contas entre membros do seu partido.

Eras um farsante, o tirano que nunca saiu do país, o carrasco do povo a quem negaste o acesso ao ensino e à liberdade. Evocar o 40.º aniversário da tua morte é lamentar que tenhas morrido impune, que tivesses à tua volta a corja de imbecis e cúmplices que iam ao hospital da Cruz Vermelha encenar reuniões do Conselho de Ministros para que pudesses crer que ainda eras o algoz vitalício da pátria que desonraste.

Da tua herança resta o medo e a cobardia, o atraso e o servilismo, o gosto pela delação e a memória dos crimes que cometeste. E a eterna gratidão a uma cadeira. E o desprezo pela Igreja que foi tua cúmplice.

27 de Julho, 2010 Ricardo Alves

Novos embustes de Fátima

Em Fátima, para o espectáculo de 13 de maio em que a estrela principal era Ratzinger, a organização anunciou que previa um grandioso meio milhão de pessoas. No dia 14 de maio, corrigiram: teriam estado presentes 350 mil pessoas. Agora, sabe-se que uma contagem a partir das fotografias estima o número de pessoas presentes entre 35 mil e 40 mil.

Fora concedida tolerância de ponto, naquele dia, a 740 mil pessoas.

25 de Julho, 2010 Carlos Esperança

A ICAR e a demagogia

O bispo Carlos Azevedo, em busca da púrpura e do solidéu vermelho, atrai o ridículo e a demagogia para agradar à sua Igreja, favorecida com privilégios que o pudor obrigaria a enjeitar.

Ao desafiar os políticos católicos a abdicarem de 20% do salário a favor de um fundo social que aumentaria os recursos com que a ICAR exerce o seu enorme poder sobre as populações mais desfavorecidas, o Sr. bispo esqueceu  os banqueiros católicos que têm a graça de receber o triplo do vencimento do Presidente da República, após alguns anos a cuidar do vil metal em instituições financeiras. Esqueceu igualmente os recursos que vão de Fátima para Roma e os católicos que amontoam reformas como quem acumula indulgências.

Podia o influente prelado sugerir, nesta época de crise por que passamos, a abolição das isenções e benefícios fiscais que a Lei da Liberdade Religiosa concede à Igreja de forma injusta e imoral. Mas a demagogia manda que se ataquem os políticos porque desperta os instintos mais primários que sobreviveram à ditadura salazarista de que a Igreja católica foi cúmplice.

Enquanto persistirem os benefícios fiscais da ICAR e as pessoas obcecadas pelo Paraíso deixarem bens à Igreja, o poder do clero aumenta e a dependência das pessoas em relação às instituições eclesiásticas não deixa de se fazer sentir. Uma sociedade mais laica, fraterna e igualitária é uma exigência ética que dispensa as sugestões dos bispos e a ganância do clero.

25 de Julho, 2010 Carlos Esperança

Se não fossem guardiães da moral…

Padres vão a bares gay

A Igreja Católica enfrenta um novo escândalo sexual. Segundo a revista ‘Panorama’, propriedade do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, alguns padres e seminaristas de Roma misturam a vida religiosa com festas nocturnas em bares gay.

23 de Julho, 2010 Fernandes

A Igreja e a ditadura franquista

Como é sabido, a Igreja Católica exige o monopólio do mercado da fé, quando se encontra em maioria, e igualdade quando se encontra em minoria.

Na sua mensagem às cortes em 23 de Outubro de 1953, Franco definiu a base doutrinal da concordata: «Conceber a Igreja como sociedade perfeita, livre e independente, não é mais do que reconhecer as prerrogativas com que as dotou o seu Divino Fundador.» Este não era mais do que o reconhecimento implícito da supremacia da Igreja Católica.

O 2º artigo e seguintes, elucidam-nos sobre as consequências desta doutrina,  e enumeram as exorbitantes concessões económicas: «O Estado assumirá a construção e conservação de templos e seminários, comparticipará e cuidará dos mosteiros, colaborará no financiamento dos organismos de assistência para clérigos enfermos ou inválidos, e atribuirá uma pensão honrosa aos bispos reformados. Assumirá as despesas inerentes à criação das novas paróquias e dioceses e dos edifícios religiosos. Concederá ainda subvenções a ordens e institutos religiosos eclesiásticos de carácter missionário, assegurará a “assistência religiosa” nos centros e organismos sociais e forças armadas, e concederá outros privilégios no ensino público, meios de comunicação, na legislação canónica matrimonial e outros mais».

Neste Oásis de abundância, e já em vésperas do Concílio Vaticano II o Cardeal Quiroga Palacios, protótipo do prelado franquista, declarava: «A Igreja considera a colaboração Igreja-Estado, como “normal”, e olha-a como um ideal para o povo, […] só em circunstâncias excepcionais se pode admitir a separação entre estes dois poderes, como um mal menor».

Só após o Concílio Vaticano II, em Junho de 1967, é aprovada a Ley de Regulación del Ejericio Civil de la Libertad Religiosa.

O progressivo envelhecimento do Ditador, o esgotamento ideológico do regime, os crescentes ventos de liberdade reclamados pelos cidadãos e perante a insegurança na sucessão de Franco, a Igreja decide lançar-se numa paulatina “operação de afastamento”, do regime, típica da multi-secular tradição de oportunismo político e de ambiguidade ideológica que a caracterizam.

A reviravolta dos anos 60, as experiências dos “sacerdotes-obreros”, as manifestações de rua do Maio de 68 e alguns factores mais, galvanizaram os ânimos dos mais sensíveis. A verdade é que o almirante Carrero Blanco chegou a expressar a sua indignação, perante a ingratidão da Igreja, e passou-lhe factura detalhada das dívidas por esta contraídas durante mais de três décadas com o Estado. Mas Franco, no seu discurso de fim de ano apressou-se a dissipar todo o risco de enfrentamento.

Em Setembro de 1971 a Assembleia Conjunta de Bispos e Sacerdotes aprova o documento: “La Iglesia y la Comunidad” onde expressam um cauteloso propósito de emenda sobre a escandalosa presença de eclesiásticos nos órgãos do Estado (ditatorial).

Formalmente tudo seguiu igual pois a Igreja não renunciou a nenhum dos privilégios que conseguira no calor da guerra fratricida conduzida debaixo do signo da cruz. Assim o incontestado domínio da Igreja em todas as áreas da vida pública espanhola, permaneceu intocável.

Inicia então o processo de transição política que poderá classificar-se como frustrante. Em vez da renovação que implicava substituição daqueles que haviam encarnado o regime ditatorial, assiste-se a uma “fusão” dos novos dirigentes democráticos com os velhos franquistas, predominando a mentalidade, os interesses e as pessoas do velho regime.

O processo de “transição” tratou de transformar uma ditadura exausta e uma Igreja comprometida; numa democracia, lavando a cara e a história com a palavra “consenso” e as suas anestésicas virtudes. G. Morán escreveu na altura: « Desde os primeiros dias de 1976 que se inicia um processo de “desmemorização” colectiva. Não de esquecimento, senão de algo mais perigoso e voluntário, a capacidade de se tornar “desmemorizado”.

*fonte: Ojea, Gonzalo Puente. – Elogio del Ateísmo