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Categoria: Religiões

18 de Agosto, 2010 Carlos Esperança

A islamofobia é uma forma de racismo

Os EUA dividem-se entre os que concordam com a aprovação, no final de Julho, do projecto de construção de um centro muçulmano próximo ao chamado Marco Zero, em Nova York, e os que a abominam. Recorde-se que foi nessa zona que ficaram reduzidas a escombros as Torres Gémeas que serviram de túmulo a milhares de pessoas, vítimas da demência fanática da Al-Qaeda, em 11 de Setembro de 2001.

Apesar da proibição de religiões concorrentes nos países onde o islão tornou decadente uma civilização outrora pujante, não podem os países democráticos proceder de igual modo nem um Estado de direito julgar as intenções de quem não tem qualquer acusação ou antecedentes criminais.

Assim, Obama revelou uma vez mais coragem e coerência, que o tornam uma referência ética e política, ao defender a construção do centro islâmico, enquanto Ibrahim Hooper, director de comunicação do Conselho de Relações Islâmicas Americanas (CAIR), se queixa do aumento das manifestações xenófobas contra o Islão.

Mandaria o bom senso que o líder islâmico tivesse avaliado os sentimentos, certamente primários, dos que se opõem à decisão que a ética, o direito e a liberdade não podem impedir. Mandaria a reciprocidade que escrevesse aos líderes dos países onde se aplica a sharia a denunciar o seu carácter terrorista. Mandaria o respeito pelo estado laico que renunciasse ao carácter prosélito da sua religião e à pregação dos versículos terroristas, xenófobos, misóginos e homofóbicos que os crentes, na sua simplicidade, acreditam que o arcanjo Gabriel ditou em árabe a Maomé, com a mesma convicção com que Bush cria que a Bíblia tinha sido ditada a Moisés, em inglês.

O proselitismo dos que não se contentam em conquistar o Paraíso, e querem obrigar os outros, é um detonador de ódios e guerras que urge prevenir.

16 de Agosto, 2010 Carlos Esperança

Origem dos fascismos (3) – Fim

Por

C S F

JAPÃO PEARL HABOUR 1945

A tríade do Eixo incluía o Império do Japão – que tinha não apenas uma pessoa religiosa como chefe de Estado, mas uma verdadeira divindade.
A heresia de acreditar que o imperador Hirohito era deus nunca foi denunciada em qualquer púlpito alemão ou italiano ou por qualquer sacerdote.
No nome sagrado do imperador ridiculamente sobrevalorizado, vastas regiões da China, da Indochina e do Pacífico foram conquistadas, roubadas e escravizadas.
Também em seu nome milhões de japoneses foram martirizados e sacrificados.
O culto deste deus-rei poderia ter levado o povo japonês a recorrer ao suicídio se a vida do imperador fosse ameaçada no fim da guerra.
Os americanos decidiram mantê-lo no trono, apenas permitindo ser considerado imperador e nunca deus.

ESPANHA FRANCO
Em Espanha, o general Franco foi autorizado a dar o nome honorífico de La Crujada, ou «a cruzada», à sua invasão do país e à destruição da república democrática.
Tratava-se de um regime fascista-católico.

PORTUGAL

O regime fascista português foi construído com base na Igreja Católica, contra o republicanismo mais progressivo, o socialismo e o comunismo.
Salazar e o cardeal Cerejeira tinham tido a mesma formação e militado nas mesmas organizações, sobretudo confessionais e monárquicas.
O fascismo português manifestou-se claramente enquanto o Eixo parecia ter possibilidades de ganhar a Guerra.
A dependência económica de países como a Grã-Bretanha, levou Salazar a encenar uma “neutralidade”, tendo-se associado aos Aliados, apenas quando a derrota do Eixo era evidente.

HUNGRIA ALMIRANTE HORTHY

O golpe militar de extrema-direita na Hungria, liderado pelo almirante Horthy, foi calorosamente apoiado pela igreja.

ESLOVÁQUIA
O regime nazi fantoche na Eslováquia era liderado pelo padre Tiso.

ÁUSTRIA 1938 1945

O cardeal da Áustria proclamou o seu entusiasmo pela invasão de Hitler ao seu país na altura do Anschluss, anexação da Áustria pela Alemanha em 13 de Março de 1938.

FRANÇA CASO DREYFUS A 1945

Em França, a extrema-direita adoptou a divisa de «Meilleur Hitler Que Blum» – por outras palavras, é preferível ter um ditador racista alemão do que um judeu socialista francês eleito.
Organizações fascistas católicas como a Action Française, de Charles Maurras e a Croix de Feu fizeram uma campanha violenta contra a democracia francesa, na sequência das campanhas políticas que empreendeu desde a absolvição do capitão judeu Alfred Dreyfus em 1899.
Após a invasão da França pelos alemães, estas forças colaboraram na perseguição e assassinato de judeus franceses, bem como na deportação para trabalhos forçados de um vasto número de outros franceses.
O regime de Vichy cedeu ao clericalismo, apagando o lema de 1789 – Liberté, Egalité, Farternité – da moeda nacional e substituindo-o pelo lema do ideal cristão de Famille, Travail, Patrie.

INGLATERRA ATÉ CONFLITO COM A ALEMANHA

Mesmo num país como a Inglaterra os fascistas contaram com poderosos mentores (como membro da aristocracia e da casa real) também devido à militância de intelectuais católicos como T. S. Eliot e Evelyn Waugh.

IRLANDA CATÓLICOS ATÉ 1945

Na vizinha Irlanda, o movimento Blue Shirt do general O’Dufly (que enviou voluntários para lutar ao lado de Franco em Espanha) era pouco mais do que uma dependência da Igreja Católica.
Em Abril de 1945, ao ouvir a notícia da morte de Hitler, o presidente Eamon de Valera colocou a sua cartola, mandou pedir a carruagem estatal e dirigiu -se à embaixada em Dublin para apresentar os seus pêsames oficiais.

NAÇÕES UNIDAS

Por causa da adopção do fascismo ou por terem sido dele apoiantes, os  Estados dominados pelo catolicismo, desde a Irlanda até Espanha e Portugal, não puderam ser escolhidos para fazer parte das Nações Unidas quando a organização foi criada.

CONCLUSÃO

A igreja fez esforços para se desculpar por tudo isto, mas a cumplicidade com o fascismo é uma marca indelével na sua história e não foi um compromisso a curto prazo ou precipitado mas uma aliança activa que só se quebrou depois de o período fascista ter passado à História.

15 de Agosto, 2010 Carlos Esperança

Ameaça de bomba no Santuário de Lourdes

O terrorismo religioso é hoje uma das maiores ameaças à liberdade e à democracia, uma fonte de terror e manifestação de intolerância que os Estados não podem consentir.

A ameaça de bomba no Santuário de Lourdes, que move cada vez menos peregrinos, é o sinal de que a onda racista que percorre a França tende a agravar-se. A extrema-direita francesa, que encontra no catolicismo romano o cimento da sua coesão, vê na ameaça a forma de continuar a cruzada contra o Islão (quem sabe se não foi a autora do boato) e os muçulmanos uma forma de reforçarem o comunitarismo que impede a integração na República e acicata o ódio contra a laicidade.

Os santuários marianos são locais de idolatria à suposta virgem Maria e a forma mais eficaz de mobilizar os crentes que resistem à superstição alimentada por milagres. Lançar o pânico é acordar a fé que a modernidade remeteu para a mitologia. O medo alimenta a desconfiança e fortalece o ódio que une católicos fundamentalistas e muçulmanos na demência de submeterem o mundo a uma só religião e de o resgatarem de agnósticos, ateus, racionalistas, cépticos e livres-pensadores.

As religiões não podem estar ao abrigo do código penal nem da vigilância policial. Que os crentes aspirem ao Paraíso é um direito inalienável. Que impeçam os outros de seguir outro caminho é um caso de polícia que os Estados não podem descurar.

As leis da República são para respeitar pelos crentes, descrentes e anti-crentes. Todos têm iguais deveres perante a sociedade. A devoção é um assunto do foro particular que tem de ser respeitada mas não pode continuar como detonador do ódio e pretexto para novas guerras religiosas.

15 de Agosto, 2010 Carlos Esperança

Origem dos fascismos (2)

Por

C S F

ALEMANHA NAZI HITLER 1933 1945

O caso da rendição da igreja ao nacional-socialismo alemão ainda é mais condenável.
Apesar de partilhar dois princípios importantes com o movimento e Hitler – do anti-semitismo e do anticomunismo – o Vaticano percebeu que o nazismo também representava um desafio por pretender substituir o cristianismo por rituais de sangue pseudonórdicos e por mitos raciais, baseados na fantasia da superioridade ariana. Defendia também uma atitude exterminadora perante os doentes, os inaptos e os loucos e começou bastante cedo a aplicar esta política não aos judeus mas aos alemães.

O papa Pio XI teve receio do nazismo. Durante a primeira visita de Hitler a Roma, por exemplo, o papa saiu da cidade e foi para o retiro papal em Castelgandolfo. Este papa doente foi neutralizado durante a década de 30 pelo seu secretário de Estado, Eugenio Pacelli.
Pelo menos uma encíclica papal, que expressava, pelo menos, um tom de preocupação relativamente aos maus-tratos infligidos aos judeus europeus, foi preparada pelo papa mas suprimida por Pacelli.

Pacelli passou a ser o papa Pio XII, que sucedeu no cargo após o falecimento do seu antigo superior em Fevereiro de 1939. Quatro dias após a sua eleição pelo Colégio dos Cardeais o papa compôs a seguinte carta para Berlim:
Ao Ilustre Herr Adolf Hitler Chanceler do Reich Alemão! No início do Nosso Pontificado queremos garantir-lhe que continuamos devotados ao bem-estar espiritual do povo alemão, que foi confiado à sua liderança.

Durante os muitos anos que Nós passámos na Alemanha, fizemos tudo o que estava ao Nosso alcance para estabelecer relações harmoniosas entre a Igreja e o Estado. Agora que as responsabilidades da Nossa função pastoral aumentaram as Nossas oportunidades, muito mais ardentemente queremos rezar para alcançar esse objectivo. Que a prosperidade do povo alemão e o seu progresso em todos os domínios possam, com a ajuda de Deus, tornar-se realidade!

O Vaticano passou os cinquenta anos seguintes à queda do nazismo a tentar em vão justificar a sua passividade e inacção ou a pedir desculpa pelas suas atitudes. Decidir não fazer nada é, em si, uma política e uma decisão, e foi claro o alinhamento da igreja com o nazismo seguindo uma realpolitik de acomodação a ele. O primeiro acordo diplomático efectuado pelo Governo de Hitler foi consumado no dia 8 de Julho de 1933, alguns meses após a tomada do poder, e assumiu a forma de um tratado com o Vaticano.

Em troca do controlo incontestado da educação de crianças católicas na Alemanha, do abandono da propaganda nazi contra os abusos infligidos em escolas e orfanatos católicos e da concessão de outros privilégios à igreja, a Santa Sé deu instruções ao Partido de Centro Católico para se dissolver e ordenou aos católicos para se absterem de qualquer actividade política em todos os assuntos que o regime decidisse definir como proibidos.
Na primeira reunião o seu governo após a assinatura desta capitulação, Hitler anunciou que estas novas circunstâncias seriam «especialmente importantes na luta contra o povo judeu a nível internacional».

Os vinte e três milhões de católicos que viviam no Terceiro Reich, muitos dos quais revelaram grande coragem individual ao resistir à ascensão do nazismo, tinham sido eliminados enquanto força política. Daí em diante, os registos paroquiais foram disponibilizados ao Estado nazi para que se estabelecesse quem era racialmente puro para sobreviver à perseguição, segundo as leis de Nuremberga.

Mas nenhuma das igrejas protestantes foi tão longe como a hierarquia católica que ordenou uma celebração anual em honra do aniversário de Hitler, com início a 20 de Abril de 1939, ano em que houve uma mudança de papa. De acordo com instruções papais, o cardeal de Berlim transmitia regularmente «as maiores felicitações ao Führer em nome dos bispos e dioceses da Alemanha», sendo esta aclamação acompanhada pelas «orações fervorosas que os católicos alemães enviam para o céu nos seus altares». A ordem foi acatada e cumprida fielmente. 25 por cento dos SS eram católicos praticantes e que nenhum católico foi ameaçado de excomunhão por participar em crimes de guerra. Joseph Goebbels foi excomungado, mas mais cedo, por ter cometido o crime de casar com uma protestante.

Os católicos devem reflectir se deus decidiu providencialmente a morte de um papa que afirmava a sua neutralidade para com o nazismo e a sua sucessão por um papa pró-nazi, alguns meses antes de Hitler invadir a Polónia e dar início à Segunda Guerra Mundial.
A consequência desta rendição política dos católicos foi a subordinação ao nazismo dos protestantes alemães, que procuraram impedir um estatuto especial para os católicos estabelecendo o seu próprio compromisso com Hitler.

A conivência do Vaticano com os nazistas o continuou mesmo depois da guerra, quando criminosos nazis procurados foram transferidos para a América do Sul pela «linha das ratazanas». Foi o próprio Vaticano, com a sua capacidade de conceder passaportes, documentos, dinheiro e contactos, que organizou a rede de fuga e também o necessário abrigo e auxilio no continente americano, utilizando as instalações religiosas e a disponibilidade dos governos de países como a Espanha e a Argentina.

Também envolveu a colaboração com ditaduras de extrema-direita no hemisfério sul, muitas das quais estavam organizadas segundo o modelo fascista (Peron, etc.). Torturadores e assassinos fugitivos como Klaus Barbie arranjaram muitas vezes carreiras seguras como servidores desses regimes, que, até começarem a ruir nas últimas décadas do século XX, também desfrutaram, por sua vez, de um relacionamento de apoio do clero católico local.
A ligação da igreja ao fascismo e ao nazismo prolonga-se muito para além do Terceiro Reich.

Muitos cristãos deram as suas vidas para proteger os seus semelhantes, mas é irrelevante as iniciativas das hierarquias nessa actividade.
É de homenagear a memória dos poucos crentes, como Dietrich Bonhoeffer e Martin Niemoller, que agiram de acordo apenas com a sua consciência.

O papado demorou até à década de 80 para encontrar um candidato à santidade no contexto da «solução final» e mesmo então só conseguiu identificar um padre bastante ambivalente que – após uma longa história de anti-semitismo político na Polónia – se tinha, aparentemente, comportado de uma forma nobre em Auschwitz.

Tinha nomeado anteriormente um austríaco chamado Franz Jagerstatter mas não preenchia as condições. Recusara-se a fazer parte do exército de Hitler com o fundamento de que estava obrigado a obedecer à ordem superior de amar o próximo, mas enquanto estava na prisão e poderia incorrer na pena de morte recebeu a visita dos seus confessores, que lhe disseram que deveria obedecer à lei.

Extraído (com alterações e acrescentamentos) de deus não é Grande de Christopher Hitchens 2007

14 de Agosto, 2010 Carlos Esperança

Origem dos fascismos (1)

Por

C S F

Nascidos da miséria e humilhação da Primeira Guerra Mundial, os movimentos fascistas eram a favor da defesa dos valores tradicionais contra o bolchevismo e apoiavam o nacionalismo e a piedade. Adoptaram uma ideologia inspirada na dos seus adversários, nos aspectos em que estes tinham tido êxito, de modo a melhor os combater.
Surgiram primeiro e mais fortes em países católicos.
A igreja viu o comunismo como um adversário letal. Até porque os judeus ocupavam cargos importantes no partido de Lenine.

Na Europa do Sul, a igreja foi um aliado de confiança na integração dos regimes fascistas em Itália, Espanha, Portugal e Croácia.

ITÁLIA MUSSOLINI 1929 1945

Benito Mussolini, logo que conquistou o poder em Itália em 1929, assinou um tratado oficial com o Vaticano, conhecido como Pacto de Latrão.
O catolicismo tornou-se a única religião reconhecida em Itália, com poderes monopolistas sobre questões como nascimento, casamento, morte e educação, e em troca incitou os seus fiéis a votarem no partido de Mussolini.
O papa Pio XI descreveu II Duce (o líder») como «um homem enviado pela providência».
A igreja dissolveu os partidos centristas católicos laicos e ajudou a patrocinar um pseudopartido chamado «Acção Católica» que foi estabelecido em outros países.

O Vaticano apoiou e recusou-se a criticar a tentativa de Mussolini para recriar uma caricatura do Império Romano com as suas invasões da Líbia, Abissínia (actualmente Etiópia) e Albânia: territórios povoados por não cristãos ou por cristãos orientais.

Como uma das justificações para a utilização de gás venenoso e outras medidas criminosas na Abissínia, Mussolini até referiu a persistência dos habitantes na heresia do monofisismo: um dogma da encarnação que tinha sido condenado pelo papa Leão e pelo Concílio de Calcédon em 451.

Nota: Extraído (com alterações e acrescentamentos) de «deus não é Grande» de Christopher Hitchens – 2007

13 de Agosto, 2010 Ricardo Alves

Os dilemas que o Islão coloca

Construir uma mesquita tão próxima do local em que se ergueram as «torres gémeas» demonstra alguma falta de sensibilidade, mas a liberdade de construir locais de culto deve ser tão ampla quanto possível.

13 de Agosto, 2010 Carlos Esperança

Crença, jejum e abstinência

Quem está familiarizado com as crenças religiosas sabe que o deus privativo de cada fé rejubila com os jejuns e, sobretudo, com a castidade dos devotos, para além da cólera que o assalta quando vê nus os ombros ou os joelhos de uma mulher.

É de crer que os homens que criaram Deus se esqueceram de lhe arranjar companhia e o castraram para lhe evitar aquelas doces tentações que fazem as delícias humanas. Eram membros de tribos patriarcais onde a dureza da vida lhes deixava parca disposição para o amor.

O Ramadão, que uma das crenças mais divulgadas considera o «mês da purificação e da oração», impede a ingestão de quaisquer alimentos, sólidos ou líquidos, bem como o gozo sexual, do nascer ao pôr-do-sol. E os crentes, por fé ou medo, por vontade própria ou pavor de represálias, por tradição ou terror de denúncia aos clérigos, lá se aguentam na abstinência que – ao contrário do que lhes prometem –, não assegura qualquer vaga no Paraíso, nem o deboche e rios de mel para os bons muçulmanos do sexo masculino.

O Deus que a geografia, a ancestralidade e os constrangimentos sociais impõem a estes infelizes, é um idiota que odeia o álcool e a carne de porco como lhe podia ter dado para abominar os figos, as tâmaras ou a maçã raineta.

Não se julgue, porém, que a tolice é privativa de uma religião e não apanágio de todas. O Vaticano que inveja a demência colectiva que obriga os crentes a viajar de joelhos, a fazer jejuns e a passar o tempo a matar infiéis ou a rezar, vê com nostalgia o abandono do jejum, o desprezo da castidade e o desinteresse sobre o vestuário feminino que torna as mulheres apetecidas e eleva os níveis hormonais independentemente do género.

Por que razão temos de respeitar crenças que tornam infelizes e fazem sofrer os crentes? Temos obrigação de as desmascarar para que os crentes decidam em liberdade se devem continuar escravos ou livres. Só essa decisão merece respeito, não as idiossincrasias de um Deus que abomina o prazer, o amor e a felicidade.

12 de Agosto, 2010 Carlos Esperança

O adultério, a religião e a justiça

O recente fuzilamento de uma viúva afegã, grávida, sob a alegação de adultério, é de tal modo repulsivo que não pode deixar alheados os povos civilizados. O crime foi, aliás, precedido de duzentas chicotadas, uma tortura cuja crueza revolta e envergonha pessoas civilizadas.

A repressão sexual é uma perversão comum aos três monoteísmos e a forma de domínio mais comum, sendo as mulheres as vítimas predilectas do carácter misógino do deus do Antigo Testamento.

Sempre que as Igrejas conseguem influenciar o poder secular aparecem as penas contra o adultério. O caso de Camilo Castelo Branco, preso por adultério, está ainda presente em todos os que preferem a literatura profana aos livros pios. Só a laicidade consegue pôr cobro à demência beata que devora o clero dos monoteísmos abraâmicos.

A violência da fé não se satisfaz em fazer de cada crente um capacho do seus deus, é um instrumento de repressão, violência e sofrimento sobre quem teve a fatalidade de nascer na sua zona de influência.

A Tora (seis séculos a. C) e o Talmude (200 d. C. + 500 d. C., o Antigo e o Novo Testamento, O Corão (632) e a Sunnah (séc. IX) têm em comum o carácter misógino mas diferem em relação ao álcool, à carne de porco e na defesa do véu e da burka. No islão as proibições atingem o fulgor demente, onde até urinar com o jacto virado para Meca é proibido.

Hoje, o mais violento e implacável dos monoteísmos é o islão. Não há desculpas que possam justificar os horrores cometidos pela sharia. A tradição serviu quase sempre como álibi para os piores crimes e os maiores desvarios. É altura de combater no campo cultural as crenças que envenenam os fiéis e desgraçam os que vivem na área da sua influência.