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Categoria: Religiões

4 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Druidismo reconhecido como religião

Um dos maiores progressos das instituições democráticas deve-se á secularização e ao avanço da laicidade, nem sempre pacífico.

As Igrejas começaram por deter o poder temporal e só o perderam quando a repressão política as submeteu. Depois disso nunca mais desistiram de o compartilhar, quantas vezes à custa da vassalagem. A título de exemplo, e no que se refere à Igreja católica, em Portugal, a Concordata não permitia a nomeação de bispos sem o aval do Governo. Retribuindo, a PIDE perseguia quem condenasse a religião protegendo a cúmplice e o seu clero.

Na Europa, as democracias, declaram-se inaptas para reconhecer milagres, estabelecer o diagnóstico diferencial entre as várias religiões, para avaliar qual é a mais verdadeira, e nenhum governante passa certificados sobre o valor da eucaristia ou fornece código de barras para a água benta.

A laicidade faz com que o Estado legisle com absoluto desprezo pelo direito canónico e as Igrejas organizem a liturgia sem necessidade de licença camarária. Por mais que lhes custe não há Igrejas de primeira e de segunda, designações que ficam reservadas para os géneros alimentícios.

Não admira, pois, que o druidismo, culto céltico que venera os espíritos da natureza, seja reconhecido como religião no Reino Unido, como indicou ontem a Comissão das Organizações Caritativas britânicas.

A decisão torna-se relevante porque sendo o Druid Network criado com fins que têm em vista a promoção da religião e o interesse público, pode assim beneficiar de um estatuto fiscal mais vantajoso. E o dinheiro comanda a fé.

O druidismo é o primeiro culto pagão a ser reconhecido como religião no Reino Unido e é difícil não lhe dar razão. O culto dos espíritos é o ganha-pão de qualquer religião e este teve origem na Irlanda e no Reino Unido, tendo vários milhões de seguidores em todo o mundo.

3 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

A escola e o presépio da minha infância_1 (Crónica)

Bem crucificado e suavemente chagado, numa cruz de madeira dependurada na parede, penava um Cristo de bronze em resignada agonia, ladeado à direita por uma fotografia de um homem de bigode, fardado, conhecido por marechal Carmona, e à esquerda por um eterno seminarista, com ar de gato-pingado, que infundia terror – o Professor Salazar.

Na mesma parede, em frente dos alunos, a razoável distância e muitos fungos depois, quedava-se a Senhora de Fátima, poisada numa mísula, alheada da conversão da Rússia e da salvação do mundo. Mais abaixo, à esquerda, ficava o quadro preto e o mapa do corpo humano e, à direita, rasgados, um mapa de Portugal Continental, outro das Ilhas Adjacentes e das Colónias e o mapa-múndi.

O soalho resistia aos buracos, numerosos e amplos, que a humidade e o uso se encarregavam de alargar. As carteiras alinhavam-se em rigorosa geometria com lugares destinados a cerca de quarenta garotos de ambos os sexos distribuídos pela primeira, segunda e quarta classes. Entre quinze a vinte estavam na sala oposta a frequentar a terceira, confiados à senhora Noémia, regente escolar.
Nos dias de chuva subvertia-se a ordem, numa complexa gincana de carteiras, para evitar que os pingos de água que escorriam do tecto acertassem nos tinteiros e salpicassem de azul a roupa das crianças e os tampos de madeira.
No intervalo, meninos e meninas, em amplas correrias e direcções opostas,  procuravam os quintais próximos para se aliviarem dos fluidos que os apoquentavam.

À entrada da escola o presépio anunciava todos os anos o Natal. Na armação de tábuas e pedras cobertas de musgos, um menino de barro, seminu e de perna alçada, jazia em decúbito dorsal sobre uma caminha de palha centeeira. Era o Menino Jesus. De um lado uma virgem colorida, moderadamente recatada e com pouco uso, substituía a que se partira, interessada na companhia do filho que herdara. Do outro, um S. José, a quem a corrosão deixara em pior estado do que o dogma da Imaculada Conceição, parecia um erro de casting, indiferente ao aspecto, perdidas as cores, diluídas as formas, conformado com os olhares e as súplicas, incapaz de operar milagres, resignado com o frio de Dezembro.

O burro e a vaca comportavam-se a preceito, facilmente se adivinhando o gosto por erva se eles e esta fossem verdadeiros.
Os reis magos, eternos almocreves com ar de ladrões de camelos, virados para uma estrela recortada em papel colorido, permaneciam imóveis na lendária caminhada, quais amoladores de tesouras, à espera de fregueses para ganharem o sustento e um presente para o Menino.

As ovelhas que placidamente decoravam a montanha eram figurantes experientes, desinteressadas da importância que acrescentavam ao quadro e do exemplo de submissão que transmitiam. Nem um só carneiro as acompanhava, talvez para lembrar que é na renúncia ao prazer que se encontra a redenção da alma. Apenas um cão e o pastor.

Reflicto hoje sobre a predilecção por musgos, muitos musgos, para cobrir o chão do presépio. Na religião tudo se deve cobrir ou, no mínimo, disfarçar. Talvez esteja na ocultação dos órgãos de reprodução, característica das plantas criptogâmicas, a razão da preferência, a funcionar como metáfora.

Ah! Já me esquecia, pintados de branco, anjos de barro, junto ao caminho de serradura que conduzia à manjedoura, voavam baixinho, com asas quebradas, incapazes de regressar ao Céu. E o algodão em rama imitava os flocos de neve que lá fora rodopiavam ao sabor do vento. Eu gostava do Presépio. Não era o catecismo a aterrorizar-me com o Inferno onde as almas que ali frigiam, em perpétua flutuação no azeite fervente, eram mergulhadas com um garfo de três dentes empunhado pelo diabo.

A minha escola caiu, pelo Natal, ficando de pé uma única parede e a fé das pessoas que atribuíram à protecção divina a ausência de aulas durante a derrocada.

1 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Deus Criminoso ?

Por

C S F

Andavam Adão e Eva pelo paraíso despreocupados, a gozar à fartazana!

Só sendo muito inteligentes podiam usufruir de tudo o que havia.

Tinham uma senão: ignoravam tudo sobre sexo.

É estranha esta situação porque tinham corpos humanos perfeitos, com os órgãos sexuais e tudo no lugar…

Quando deambulavam pelo paraíso viam os chimpanzés e todos os animais a terem relações sexuais, a acariciarem-se, a terem filhos.

Quando comiam alimentos afrodisíacos não deixariam de sentir alguma coisa…

Ao lavarem-se, ao tocarem-se sentiriam certamente sensações fortes dos órgãos dos sentidos, com interacção nos centros de prazer, mesmo dos órgãos sexuais…

Eu acho que privar temporariamente os primeiros homens do sexo já foi um acto criminoso do deus e, por isso, deveria ser condenado e castigado!

Deus foi verdadeiramente sadomasoquista quando tratou desta maneira aquele casal, na fase mais feliz (?) da sua vida…!

Mas ele fez mais: introduziu deliberadamente o diabo no paraíso e não avisou os seus amigos, Adão e Eva!

Aqui está uma deslealdade incomensurável, outro crime que nunca um ser omnisciente e omnipresente deveria ter coragem para cometer!

Não percebo este acto! Então deus teve tanto trabalho a expulsar os diabos do céu e agora utiliza o seu chefe como agente secreto!?

Ainda por cima ordena-lhe que se transforme numa cobra, um ser que, de certeza, não dá confiança a qualquer homem, mesmo que fale muito bem…

É como se  Churchill convidasse Hitler a assassinar um inglês de quem não gostasse, em plena guerra!

Foi o maior crime do universo!

Um verdadeiro pecado mortal!

Devido a ele ficámos sem direito ao paraíso e cheios de sofrimentos inúteis!

Não se sabe se depois do crime consumado deus agradeceu ao seu maior inimigo, chefe dos diabos, e se este continuou a andar pelo paraíso…

Bastava deus dar uma boa lição de educação sexual a Adão e Eva para termos ficado no paraíso!

Acho que deus deve sofrer o maior castigo possível do universo, castigado de modo a não poder fazer mais mal aos homens e aos outros seres do universo, e os homens, por direito, deveriam regressar imediatamente ao paraíso! É da mais elementar justiça!

É um trabalho para os anjos e para os santos!

Desta maneira ficaríamos livres de deus, do Sócrates, do Passos Coelho, do Paulo Portas e de tantos outros (para mais, todos iriam para o Inferno, mais cedo ou mais tarde, de certeza) e seríamos recompensados de todos os sofrimentos que nos têm infligido.

Mas, como se demonstra, o maior culpado é deus!

Malandro!

Nota: O caso dramático de Adão e Eva prova a urgência da introdução da educação sexual nas escolas!

1 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Nova Iorque, Ground zero e a mesquita

Há situações em que o politicamente correcto cria enormidades.

Construir uma mesquita naquele local é politicamente correcto, mas um erro. Porque não é sensato e transmite uma mensagem que é lida de modo diferente por vários visados. Correcto era ser zona de religião zero, para que a religião não fosse confundida com tolerância ou ausência dela.

Nota: Observação pertinente de uma cidadã.

30 de Setembro, 2010 Carlos Esperança

A pena de morte, a religião e Sakineh

Vítima da barbárie

A pena de morte é uma crueldade vergonhosa para os países que a aplicam e que faria tremer a mão do juiz que a assina se não juntasse à ausência de sentimentos humanos a amnésia perante os erros judiciários amplamente comprovados.

Esta impiedade que vigora em numerosos Estados dos EUA, com particular relevo para o Texas, é uma afronta para o humanismo que presidiu à fundação do grande país, um insulto a quem fugiu das guerras religiosas com que o cristianismo quis impor a vontade divina domiciliada no Vaticano.

Quanto mais arreigadas estão as crenças mais bárbaras se tornam as condenações. Nas teocracias a crueldade só rivaliza com a discricionariedade das acusações e a ausência de meios de defesa. É o caso do Irão onde as tradições persas se perderam no pesadelo de uma teocracia xiita.

Face à pressão internacional, foi suspensa a lapidação de Sakineh Mohamadi Ashtiani, a que estava sentenciada por adultério, para ser condenada à forca, por cumplicidade na morte do marido. Se a pressão se mantiver poderá vir a ser decapitada por urinar virada para Meca, depois de ter sofrido 99 chicotadas por eventualmente ter pedido água a um guarda, em pleno dia, da escuridão da cela, durante o Ramadão.

O caso de Sakineh tornou-se uma bandeira que esconde os crimes impunes dos sistemas totalitários, mas não devemos deixar de usá-la. Sem a denúncia, por Voltaire, da tortura a que foi submetido Jean Calas ou da farsa do caso Dreyfus, por Emile Zola, teria ficado esquecido o martírio do primeiro e jamais teria sido reabilitado o capitão Dreyfus.

Quando à arbitrariedade do poder totalitário se junta a maldição da fé, a crença de que um deus qualquer abomina o adultério, a carne de porco, o trabalho no sétimo dia ou outra tolice, sofrem-se as maiores abjecções protegidas pela vontade divina.

Como escreveu Steven Weinberg, Nobel da Física: «…com ou sem ela [religião] haveria sempre gente boa a fazer o bem e gente má a fazer o mal, mas é precisa a religião para pôr gente boa a fazer o mal». Ou, como dizia Pascal: «Os homens nunca fazem o mal tão completa e alegremente como quando o fazem por convicção religiosa».